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sábado, 2 de maio de 2020

Livros Escondidos da Bíblia São Encontrados e Despertam os Cristãos.


APÓCRIFOS DA BÍBLIA


Apócrifos da Bíblia. Livros ocultados da bíblia sagrada. Todo cristão deveria saber disso!

O meu povo padece por falta de conhecimento. Oseias 4:6

Mas porque se o povo  a bíblia, como falta o conhecimento??

Você já se se questionou quem foi que escreveu a bíblia?

E se ao escrever a bíblia eles resolvessem escrever algo a mais ou a menos?
e Se eles quisessem esconder algumas coisas para beneficio próprio ou para esconder a realidade a fim de ter o domínio do conhecimento?


Pois é, é exatamente isso que aconteceu, os livros da bíblia eram muitos na época em foi escritas,e não caberiam todos em um único livro, então ao invés de criarem vários livros separados, resolveram colocar tudo em um único livro para poderem colocar somente os livros que eles quisessem e depois dar a desculpa de que não coube tudo em um livro só, mas na verdade o que eles queriam era esconder o conhecimento e manipular a humanidade com seus conhecimento. 


Porém as coisas sairão do controle e a humanidade acabou descobrindo os livros que eles ocultaram da bíblia por muito tempo, ou você acha que Deus iria deixar isso barato, nada fica em oculto debaixo do céu , Hebreus 4:13-15, Então para dar uma explicação e calar a boca do povo cristão, eles disseram que esses livros ou  pergaminhos encontrados depois, não foram incluídos na bíblia por não serem livros inspirados por Deus e seus anjos, o que não e verdade. 


Esses Livros são os chamados apócrifos da bíblia, são na realidade os livros que eles tiraram da bíblia e esconderam por muitos anos.
Esses livros revelam muitas coisas e respondem muitas duvidas sobre a criação do ser humano e do universo que não foram incluídos na bíblia tradicional.
Mas agora temos acesso a maioria desses livro perdidos, e você pode ler todos eles aqui, ou baixa-los para ler depois.
Busque o conhecimento e deixe de padecer, pare de ser enganado!
O meu povo padece por falta de conhecimento. Oseias 4:6
Analisais todas as coisas e retenha o que é bom!
Tessalonicenses 5:21-24

Baixe os livros aqui

ou  leia abaixo...






 Introdução

Pseudo-Epígrafo de Gênesis - Livro de Melquisedeque De acordo com as revelações do rolo, o jardim do Éden é o lugar santíssimo do Santuário Celeste; Ocupava esse lugar de honra muito antes da criação do homem, num tempo em que somente havia harmonia e paz no Universo. Junto ao trono de Yahwéh, no Éden, vivia um querubim cobridor, ungido como o modelo da perfeição; ele era cheio de sabedoria . Esse anjo, valendo-se do livre-arbítrio, afastou- se dos caminhos da justiça e do amor, tornando-se líder de uma grande rebelião que arrastou um terço das estrelas do céu; Seu intento era apossar-se do domínio de todo o Universo, banindo a presença do Criador de Sião (Ezequiel 28:12- 15; Isaías 14: 12- 15). O fato de Deus não entregar-lhe o trono, fez com que levantasse muitas acusações contra o Seu governo, fazendo-o parecer um Ser tirano. Em resposta às
acusações de Seus adversários, Yahuah dirigiu-se ao abismo que mantinha oculto desde o princípio o planeta terra, ainda sem forma e vazio, e transformou-o numa nova terra, cheia de vida e luz. Depois de dar forma a Terra, plantou o Senhor nela o jardim do Éden, entregando-o aos cuidados do ser humano. A partir daquele momento, Yahuah não mais reinaria em Sião, sem o consentimento e participação do homem. A partir daquele dia, a imagem de Yahuah, seria revelada perante todo o Universo, por meio da humanidade. O homem que, pela fidelidade ao Criador, deveria dar a ele o direito de reinar com justiça em Sião, caiu em tentações, entregando nas mãos dos adversários de Deus o reino. O Universo continuaria para sempre nas mãos dos inimigos, não houvesse o Criador idealizado um plano de resgate. Por meio desse plano, tudo aquilo que foi perdido com a queda de Adão e sua companheira, haveria de ser recuperado por meio da vitória do Messias e de seu povo. De acordo com as revelações do quarto rolo, no dia em que Adão e Eva foram conduzidos para fora do jardim do Éden, iniciou não somente o exílio humano, como também de Yahuah. Ele somente voltaria a reinar em Sião, quando o Messias completasse a obra da purificação e restauração de todas as assolações causadas pelas transgressões humanas (Isaías 52: 8; Zacarias 8:2). Quanto ao jardim do Éden, é dito que ele permaneceu sobre a terra até por ocasião do
dilúvio, quando num ato de justiça o Criador arrebatou-o para o seu lugar de origem, ao norte da Jerusalém Celeste. Ali, permaneceria vazio por muito tempo, protegido por um exército de querubins, representado simbolicamente pelos desenhos de anjos na cortina que fazia separação entre os dois compartimentos no tabernáculo em Israel.


ÍNDICE
1) Apresentação
2) Listagem de Livros Apócrifos
3) Gênese Apócrifo (1QapGen)
4) Livro de Melquisedeque
5) Livro das Semanas de Enoch
6) Oração de Manassés
7) Salmo 151
8) A História de José, O Carpinteiro
9) O Proto-Evangelho de Tiago
10) Evangelho de Tomé
11) Evangelho de Bartolomeu
12) Evangelho de Pedro
13) Evangelho de Felipe
14) Evangelho de Maria Madalena
15) Pistis Sophia
16) A Sophia de Jesus
17) Epístola do Rei Abgaro
18) Relatório de Poncio Pilatos
19) Sentença de Poncio Pilatos
20) Atos de João
21) Epístola aos Laodicences
22) Primeira Carta de São Clemente

Listagem
De
Livros Apócrifos
ANTIGO TESTAMENTO
1. Apocalipse de Adão
2. Apocalipse de Baruc
3. Apocalipse de Moisés
4. Apocalipse de Sidrac
5. As Três Estelas de Seth
6. Ascensão de Isaías
7. Assunção de Moisés
8. Caverna dos Tesouros
9. Epístola de Aristéas
10. Livro dos Jubileus
11. Martírio de Isaías
12. Oráculos Sibilinos
13. Prece de Manassés
14. Primeiro Livro de Adão e Eva
15. Primeiro Livro de Enoque
16. Primeiro Livro de Esdras
17. Quarto Livro dos Macabeus
18. Revelação de Esdras
19. Salmo 151
20. Salmos de Salomão (ou Odes de Salomão)
21. Segundo Livro de Adão e Eva
22. Segundo Livro de Enoque (ou Livro dos Segredos de Enoque)
23. Segundo Livro de Esdras (ou Quarto Livro de Esdras)
24. Segundo Tratado do Grande Seth
25. Terceiro Livro dos Macabeus
26. Testamento de Abraão
27. Testamento dos Doze Patriarcas
28. Vida de Adão e Eva
NOVO TESTAMENTO
1. A Hipostase dos Arcontes
2. (Ágrafos Extra-Evangelhos)
3. (Ágrafos de Origens Diversas)
4. Apocalipse da Virgem
5. Apocalipse de João o Teólogo
6. Apocalipse de Paulo
7. Apocalipse de Pedro
8. Apocalipse de Tomé
9. Atos de André
10. Atos de André e Mateus
11. Atos de Barnabé
12. Atos de Filipe
13. Atos de João
14. Atos de João o Teólogo
15. Atos de Paulo
16. Atos de Paulo e Tecla
17. Atos de Pedro
18. Atos de Pedro e André
19. Atos de Pedro e Paulo
20. Atos de Pedro e os Doze Apóstolos
21. Atos de Tadeu
22. Atos de Tomé
23. Consumação de Tomé
24. Correspondência entre Paulo e Sêneca
25. Declaração de José de Arimatéia
26. Descida de Cristo ao Inferno
27. Discurso de Domingo
28. Ditos de Jesus ao rei Abgaro
29. Ensinamentos de Silvano
30. Ensinamentos do Apóstolo Tadeu
31. Ensinamentos dos Apóstolos
32. Epístola aos Laodicenses
33. Epístola de Herodes a Pôncio Pilatos
34. Epístola de Jesus ao rei Abgaro (2 versões)
35. Epístola de Pedro a Filipe
36. Epístola de Pôncio Pilatos a Herodes
37. Epístola de Pôncio Pilatos ao Imperador
38. Epístola de Tibério a Pôncio Pilatos
39. Epístola do rei Abgaro a Jesus
40. Epístola dos Apóstolos
41. Eugnostos, o Bem-Aventurado
42. Evangelho Apócrifo de João
43. Evangelho Apócrifo de Tiago
44. Evangelho Árabe de Infância
45. Evangelho Armênio de Infância (fragmentos)
46. Evangelho da Verdade
47. Evangelho de Bartolomeu
48. Evangelho de Filipe
49. Evangelho de Marcião
50. Evangelho de Maria Madalena (ou Evangelho de Maria de Betânia)
51. Evangelho de Matias (ou Tradições de Matias)
52. Evangelho de Nicodemos (ou Atos de Pilatos)
53. Evangelho de Pedro
54. Evangelho de Tome o Dídimo
55. Evangelho do Pseudo-Mateus
56. Evangelho do Pseudo-Tomé
57. Evangelho dos Ebionitas (ou Evangelho dos Doze Apóstolos)
58. Evangelho dos Egípcios
59. Evangelho dos Hebreus
60. Evangelho Secreto de Marcos
61. Exegese sobre a Alma
62. Exposições Valentinianas
63. (Fragmentos Evangélicos Conservados em Papiros)
64. (Fragmentos Evangélicos de Textos Coptas)
65. História de José o Carpinteiro
66. Infância do Salvador
67. Julgamento de Pôncio Pilatos
68. Livro de João o Teólogo sobre a Assunção da Virgem Maria
69. Martírio de André
70. Martírio de Bartolomeu
71. Martírio de Mateus
72. Morte de Pôncio Pilatos
73. Natividade de Maria
74. O Pensamento de Norea
75. O Testemunho da Verdade
76. O Trovão, Mente Perfeita
77. Passagem da Bem-Aventurada Virgem Maria
78. Pistis Sophia
79. Prece de Ação de Graças
80. Prece do Apóstolo Paulo
81. Primeiro Apocalipse de Tiago
82. Proto-Evangelho de Tiago
83. Retrato de Jesus
84. Retrato do Salvador
85. Revelação de Estevão
86. Revelação de Paulo
87. Revelação de Pedro
88. Sabedoria de Jesus Cristo
89. Segundo Apocalipse de Tiago
90. Sentença de Pôncio Pilatos contra Jesus
91. Sobre a Origem do Mundo
92. Testemunho sobre o Oitavo e o Nono
93. Tratado sobre a Ressurreição
94. Vingança do Salvador
95. Visão de Paulo
ESCRITOS DE QUMRAN
1. A Nova Jerusalém (5Q15)
2. A Sedutora (4Q184)
3. Antologia Messiânica (4Q175)
4. Bênção de Jacó (4QPBl)
5. Bênçãos (1QSb)
6. Cânticos do Sábio (4Q510-4Q511)
7. Cânticos para o Holocausto do Sábado (4Q400-4Q407/11Q5-11Q6)
8. Comentários sobre a Lei (4Q159/4Q513-4Q514)
9. Comentários sobre Habacuc (1QpHab)
10. Comentários sobre Isaías (4Q161-4Q164)
11. Comentários sobre Miquéias (1Q14)
12. Comentários sobre Naum (4Q169)
13. Comentários sobre Oséias (4Q166-4Q167)
14. Comentários sobre Salmos (4Q171/4Q173)
15. Consolações (4Q176)
16. Eras da Criação (4Q180)
17. Escritos do Pseudo-Daniel (4QpsDan/4Q246)
18. Exortação para Busca da Sabedoria (4Q185)
19. Gênese Apócrifo (1QapGen)
20. Hinos de Ação de Graças (1QH)
21. Horóscopos (4Q186/4QMessAr)
22. Lamentações (4Q179/4Q501)
23. Maldições de Satanás e seus Partidários (4Q286-4Q287/4Q280-4Q282)
24. Melquisedec, o Príncipe Celeste (11QMelq)
25. O Triunfo da Retidão (1Q27)
26. Oração Litúrgica (1Q34/1Q34bis)
27. Orações Diárias (4Q503)
28. Orações para as Festividades (4Q507-4Q509)
29. Os Iníqüos e os Santos (4Q181)
30. Os Últimos Dias (4Q174)
31. Palavras das Luzes Celestes (4Q504)
32. Palavras de Moisés (1Q22)
33. Pergaminho de Cobre (3Q15)
34. Pergaminho do Templo (11QT)
35. Prece de Nabonidus (4QprNab)
36. Preceito da Guerra (1QM/4QM)
37. Preceito de Damasco (CD)
38. Preceito do Messianismo (1QSa)
39. Regra da Comunidade (1QS)
40. Rito de Purificação (4Q512)
41. Salmos Apócrifos (11QPsa)
42. Samuel Apócrifo (4Q160)
43. Testamento de Amran (4QAm)
OUTROS ESCRITOS
1. História do Sábio Ahicar
2. Livro do Pseudo-Filon
GÊNESE APÓCRIFO
Pseudo-Epígrafo de Gênesis - Livro de Melquisedeque
De acordo com as revelações do rolo, o jardim do Éden é o lugar santíssimo do Santuário Celeste;
Ocupava esse lugar de honra muito antes da criação do homem, num tempo em que somente havia
harmonia e paz no Universo. Junto ao trono de Yahwéh, no Éden, vivia um querubim cobridor, ungido
como o modelo da perfeição; ele era cheio de sabedoria . Esse anjo, valendo-se do livre-arbítrio, afastouse
dos caminhos da justiça e do amor, tornando-se líder de uma grande rebelião que arrastou um terço das
estrelas do céu; Seu intento era apossar-se do domínio de todo o Universo, banindo a presença do Criador
de Sião (Ezequiel 28:12- 15; Isaías 14: 12- 15).
O fato de Deus não entregar-lhe o trono, fez com que levantasse muitas acusações contra o Seu governo,
fazendo-o parecer um Ser tirano. Em resposta às acusações de Seus adversários, Yahwéh dirigiu-se ao
abismo que mantinha oculto desde o princípio o planeta terra, ainda sem forma e vazio, e transformou-o
numa nova terra, cheia de vida e luz.
Depois de dar forma a Terra, plantou o Senhor nela o jardim do Éden, entregando-o aos cuidados do ser
humano. A partir daquele momento, Yahwéh não mais reinaria em Sião, sem o consentimento e
participação do homem. A partir daquele dia, a imagem de Yahwéh, seria revelada perante todo o
Universo, por meio da humanidade.
O homem que, pela fidelidade ao Criador, deveria dar a ele o direito de reinar com justiça em Sião, caiu
em tentações, entregando nas mãos dos adversários de Deus o reino. O Universo continuaria para sempre
nas mãos dos inimigos, não houvesse o Criador idealizado um plano de resgate. Por meio desse plano,
tudo aquilo que foi perdido com a queda de Adão e sua companheira, haveria de ser recuperado por meio
da vitória do Messias e de seu povo.
De acordo com as revelações do quarto rolo, no dia em que Adão e Eva foram conduzidos para fora do
jardim do Éden, iniciou não somente o exílio humano, como também de Yahwéh. Ele somente voltaria a
reinar em Sião, quando o Messias completasse a obra da purificação e restauração de todas as assolações
causadas pelas transgressões humanas (Isaías 52: 8; Zacarias 8:2).
Quanto ao jardim do Éden, é dito que ele permaneceu sobre a terra até por ocasião do dilúvio, quando
num ato de justiça o Criador arrebatou-o para o seu lugar de origem, ao norte da Jerusalém Celeste. Ali,
permaneceria vazio por muito tempo, protegido por um exército de querubins, representado
simbolicamente pelos desenhos de anjos na cortina que fazia separação entre os dois compartimentos no
tabernáculo em Israel.
A Criação do Universo
Antes que existisse uma estrela a brilhar, antes que houvesse anjos a cantar, já havia um céu, o lar do
Eterno, o único Deus. Perfeito em sabedoria, amor e glória, viveu o Eterno uma eternidade, antes de
concretizar o Seu lindo sonho, na criação do Universo.
Os incontáveis seres que compõem a criação foram, todos, idealizados com muito carinho. Desde o
ínfimo átomo às gigantescas galáxias, tudo mereceu Sua suprema atenção.
Movendo-Se com majestade, iniciou Sua obra de criação. Suas mãos moldaram primeiramente um mundo
de luz, e sobre ele uma montanha fulgurante sobre a qual estaria para sempre firmado o trono do
Universo. Ao monte sagrado Deus denominou: Sião.
Da base do trono, o Eterno fez jorrar um rio cristalino, para representar a vida que d'Ele fluiria para todas
as criaturas.
Como sala do trono, criou um lindo paraíso que se estendia por centenas de quilômetros ao redor do
monte Sião. Ao paraíso denominou: Éden.
Ao sul do paraíso, em ambas as margens do rio da vida, foram edificadas numerosas mansões adornadas
de pedras preciosas, que se destinavam aos anjos, os ministros do reino da luz.
Circundando o Éden e as mansões angelicais, construiu Deus uma muralha de jaspe luzente, ao longo da
qual podiam ser vistos grandes portais de pérolas.
Com alegria, o Eterno contemplou a Capital sonhada.
Carinhosamente, o grande Arquiteto a denominou: Jerusalém, a Cidade da Paz.
Deus estava para trazer à existência a primeira criatura racional. Seria um anjo glorioso, de todos o mais
honrado. Adornado pelo brilho das pedras preciosas, esse anjo viveria sobre o monte Sião, como
representante do Rei dos reis diante do Universo.
Com muito amor, o Criador passou a modelar o primogênito dos anjos. Toda sabedoria aplicou ao formá-lo,
fazendo-o perfeito. Com ternura concedeu-lhe a vida; o formoso anjo, como que despertando de um
profundo sono, abriu os olhos e contemplou a face de seu Autor.
Com alegria, o Eterno mostrou-lhe as belezas do paraíso, falando-lhe de Seus planos, que começavam a
se concretizar. Ao ser conduzido ao lugar de sua morada, junto ao trono, o príncipe dos anjos ficou
agradecido e, com voz melodiosa, entoou seu primeiro cântico de louvor.
Das alturas de Sião, descortinava-se, aos olhos do formoso anjo, Jerusalém em sua vastidão e esplendor.
O rio da vida, ao deslizar sereno em meio à Cidade, assemelhava-se a uma larga avenida, espelhando as
belezas do jardim do Éden e das mansões angelicais.
Envolvendo o primogênito dos anjos com Seu manto de luz, o Eterno passou a falar-lhe dos princípios
que haveriam de reger o reino universal. Leis físicas e morais deveriam ser respeitadas em toda a
extensão do governo divino.
As leis morais resumiam-se em dois princípios básicos: amar a Deus sobre todas as coisas e viver na
fraternidade com todas as criaturas. Cada criatura racional deveria ser um canal por meio do qual o Eterno
pudesse jorrar aos outros vida e luz. Dessa forma, o Universo cresceria em harmonia, felicidade e paz.
Depois de revelar ao formoso anjo as leis de Seu governo, o Eterno confiou-lhe uma missão de grande
responsabilidade: seria o protetor daquelas leis, devendo honra-las e revela-las ao Universo prestes a ser
criado. Com o coração transbordante de amor a Deus e aos semelhantes, caber-lhe-ia ser um modelo de
perfeição: seria Lúcifer, o portador da luz.
O príncipe dos anjos; agradecido por tudo, prostrou-se ante o amoroso Rei, prometendo-Lhe eterna
fidelidade.
O Eterno continuou Sua obra de criação, trazendo à existência inumeráveis hostes de anjos, os ministros
do reino da luz. A Cidade Santa ficou povoada por essas criaturas radiantes que, felizes e gratas, uniam as
vozes em belíssimos cânticos de louvor ao Criador.
Deus traria agora à existência o Universo que, repleto de vida, giraria em torno de Seu trono firmado em
Sião. Acompanhado por Seus ministros, partiu para a grandiosa realização.
Depois de contemplar o vazio imenso, o Eterno ergueu as poderosas mãos, ordenando a materialização
das multiformes maravilhas que haveriam de compor o Cosmo. Sua ordem, qual trovão, ecoou por todas
as partes, fazendo surgir, como que por encanto, galáxias sem conta, repletas de mundos e sóis - paraísos
de vida e alegria -, tudo girando harmoniosamente em torno do monte Sião.
Ao presenciarem tão grande feito do supremo Rei, as hostes angelicais prostraram-se, fazendo ecoar pelo
espaço iluminado um cântico de triunfo, em saudação à vida. Todo o Universo uniu-se nesse cântico de
gratidão, em promessa de eterna fidelidade ao Criador.
Guiados pelo Eterno, os anjos passaram a conhecer as riquezas do Universo. Nessa excursão sideral,
ficaram admirados ante a vastidão do reino da luz. Por todas as partes encontravam mundos habitados por
criaturas felizes que os recebiam em festa. Os anjos saudavam-nos com cânticos que falavam das boas
novas daquele reino de paz.
Tão preciosa como a vida, a liberdade de escolha, através da qual as criaturas poderiam demonstrar seu
amor ao Criador, exigia um teste de fidelidade. Com o propósito de revelá-lo, o Eterno conduziu as hostes
por entre o espaço iluminado, até se aproximarem de um abismo de trevas que contrastava com o imenso
brilho das galáxias. Ao longe, esse abismo revelara-se insignificante aos olhos dos anjos, como um
pontinho sem luz; mas à medida de sua aproximação, mostrou-se em sua enormidade. O Criador, que a
cada passo revelava aos anjos os mistérios de Seu reino, ficou ali silencioso, como que guardando para Si
um segredo. As trevas daquele abismo consistiam no teste da fidelidade. Voltando-Se para as hostes, o
Eterno solenemente afirmou:
-"Todos os tesouros da luz estarão abertos ao vosso conhecimento, menos os segredos ocultos pelas
trevas. Sois livres para me servirem ou não. Amando a luz estareis ligados à Fonte da Vida".
Com estas palavras, fez Deus separação entre a luz e as trevas, o bem e o mal. O Universo era livre para
escolher seu destino.
O tão acalentado sonho do Criador se concretizara. Agora, como Pai carinhoso, conduzia as criaturas
através de uma eternidade de harmonia e paz. Em virtude do cumprimento das leis divinas, o Universo
expandia-se em felicidade e glória.
Havia um forte elo de amor, que a todos unia fortemente. Os seres racionais, dotados da capacidade de
um desenvolvimento infinito, encontravam indizível prazer em aprender os inesgotáveis tesouros da
Sabedoria divina, transmitindo-os aos semelhantes. Eram como canais por meio dos quais a Fonte da
Eterna Vida nutria a todos de amor e luz.
Em Jerusalém, os ministros do reino reuniam-se ante o soberano Rei, sempre prontos a cumprir os Seus
propósitos. Era através de Lúcifer que o Eterno tornava manifesto os Seus desígnios. Depois de receber
uma nova revelação, ele prontamente a transmitia às hostes angelicais. Estas, por sua vez, a
compartilhavam com a criação. Em célere vôo os anjos rumavam para as terras planetas capitais, onde,
em grandes assembléias, reuniam-se os representantes dos demais mundos.
Em muitas dessas assembléias, Lúcifer fazia-se presente, enchendo os participantes de alegria e
admiração. Perfeito em todas as virtudes, ele os cativava com sua simpatia. Nenhum outro anjo conseguia
revelar como ele os mistérios do amor do Eterno.
O Universo, alimentando-se da Fonte da Vida, expandia-se numa eternidade de perfeita paz. A obediência
às leis divinas era o fundamento de todo progresso e felicidade. Ainda que conscientes do livre-arbítrio,
jamais subira ao coração de qualquer criatura o desejo de se afastar do Criador. Assim foi por muito
tempo, até que tal problema irrompeu na vida daquele que era o mais íntimo do Eterno.
Lúcifer, que dedicara sua vida ao conhecimento dos mistérios da luz, sentiu-se aos poucos atraído pelas
trevas. O Rei do Universo, aos olhos de quem nada pode ser encoberto, acompanhou com tristeza os seus
passos no caminho descendente que leva à morte. A princípio, uma pequena curiosidade levou Lúcifer a
se aproximar daquele abismo profundo. Contemplando-o, ele começou a indagar o porquê de não poder
compreender o seu enigma.
Retornando a seu lugar de honra, junto ao trono, prostrou-se ante o divino Rei, suplicando-Lhe:
- Pai, dá-me a conhecer os segredos das trevas, assim como me revelas a luz.
Ante o pedido do formoso anjo, o Eterno, com voz expressiva de tristeza, disse-lhe:
- Meu filho, você foi criado para a luz, que é vida.
Convencendo-se de que o Criador não lhe revelaria os tesouros das trevas, Lúcifer decidiu compreender
por si mesmo o enigma. Julgava-se capacitado para tanto.
Só Deus sabia o que se passava no coração de Lúcifer. O anjo, que fora criado para ser o portador da luz,
estava divorciando-se em pensamentos do bondoso Criador que, num esforço de impedir o desastre,
rogava-lhe permanecer a Seu lado.
Uma tremenda luta passou a travar-se em seu íntimo. O desejo de conhecer o sentido das trevas era
imenso, contudo, os rogos daquele amoroso Pai, a quem não queria também perder, o torturavam. Vendo
o sofrimento que sua atitude causava ao Criador, às vezes demonstrava arrependimento, mas voltava a
cair.
Antes de criar o Universo, Deus já previra a possibilidade de uma rebelião. O risco de conceder liberdade
às criaturas era imenso, mas, sem este dom, a vida não teria sentido.
Ele queria que a obediência fosse fruto de reconhecimento e amor, por isso decidiu correr o grande risco.
Ainda que prosseguisse na busca do sentido das trevas, Lúcifer não pretendia abandonar a luz. Esforçavase
para chegar a uma combinação entre essas partes que, no reino do Eterno, coexistiam separadas.
Finalmente, com um sentimento de exaltação, concebeu uma teoria enganosa, que pretendia apresentar ao
Universo como um novo sistema de governo, superior ao governar do Eterno. Denominou sua Lei "a
ciência do bem e do mal".
Estruturada na lógica, a ciência do bem e do mal revelou-se atraente aos olhos de Lúcifer, parecendo
descerrar um sentido de vida superior àquele oferecido pelo Criador, cujo reino possibilitava unicamente
o conhecimento experimental do bem. No novo sistema, haveria equilíbrio entre o bem e o mal, entre o
amor e o egoísmo, entre a luz e as trevas.
Ao longo do tempo em que amadurecera em sua mente a ciência do bem e do mal, Lúcifer soube guardar
segredo diante do Universo. Continuava em seu posto de honra, cumprindo a função de Portador da Luz.
Contudo, por mais que procurasse fingir, seu semblante já não revelava alegria em servir ao Eterno.
O divino Rei, que sofria em silêncio, procurava, por meio de Suas revelações de amor, preparar as
criaturas racionais para a grande prova que se aproximava. Sabia que muitos dariam ouvido à tentação,
voltando-Lhe as costas. A noite da provação faria sobressair, contudo, os verdadeiros fiéis - aqueles que
serviam ao Criador não por interesse, mas por amor.
Ao ver que a hora da prova chegara, e que Lúcifer estava pronto para traí-Lo diante do Universo, o
Eterno, que jamais cessara de revelar os tesouros de Sua sabedoria, tornou-se silencioso e contemplativo.
O silêncio fez reviver no coração das hostes a lembrança daquela primeira excursão sideral, quando,
depois de lhes mostrar as riquezas do reino da luz, Deus tornou-se silencioso ante aquele abismo.
Lembram-se de Suas palavras: "Todos os tesouros da luz estarão abertos ao vosso conhecimento, menos
os segredos ocultos pelas trevas. Sois livres para me servirem ou não. Amando a luz estareis ligados à
Fonte da Vida".
Lúcifer, que passara a cobiçar o trono de Deus, indagou-Lhe o motivo de Seu silêncio. O Criador,
contemplando-o com infinita tristeza, disse-lhe: "É chegada a hora das trevas. Você é livre para realizar
seus propósitos".
Vendo que o momento propício para a propagação de sua teoria havia chegado, Lúcifer convocou os
anjos para uma reunião especial. As hostes, desejosas de conhecer o significado do silêncio do Pai,
tomaram seus lugares junto ao magnífico anjo, que sempre lhes revelara os tesouros do reino da luz.
Lúcifer começou seu discurso exaltando, como de costume, o governo do Eterno. Num amplo retrospecto,
lembrou-lhes as grandiosas revelações que os enriquecera em toda aquela eternidade.
O silêncio divino, apresentou-o como sendo a indicação de que o Universo alcançara a plenitude do
conhecimento oriundo da luz. Silenciando, o Eterno abria-lhes caminho para o entendimento de mistérios
ainda não sondados, mantidos até então além dos limites de Seu governo.
Surpresas, as hostes tomaram conhecimento da experiência de Lúcifer sobre as trevas. Com eloqüência,
ele falou-lhes da ciência do bem e do mal, indicando-a como o caminho das maiores realizações.
O efeito de suas palavras logo se fez sentir em todo o Universo. A questão era decisiva e explosiva,
gerando pela primeira vez discórdia. Os seres racionais, em sua prova, tinham de optar por permanecer
somente com o conhecimento da luz, o qual Lúcifer afirmava haver chegado ao seu limite, ou se
aventurar no conhecimento da ciência do bem e do mal. No começo, os anjos debateram-se diante da
questão, sendo logo depois todo o Universo posto à prova. Dir-se-ia que a ciência do bem e do mal
haveria de arrebanhar a maior parte das criaturas, mas, aos poucos, muitos que a princípio se empolgaram
com a teoria, despertaram para a ilusão da mesma, reafirmando sua fidelidade ao reino da luz. Ao fim
desse conflito, que se arrastou por longo tempo, revelou-se um terço das estrelas do céu ao lado de
Lúcifer, e as restantes, ainda que abaladas pela prova ao lado do Eterno.
A ciência do bem e do mal fora apregoada por Lúcifer como um novo sistema de governo. Mas como
exercê-lo, se o Eterno continuava reinando em Sião? O conselho, formado pelos anjos rebeldes, passou a
tratar disso. Decidiram, finalmente, solicitar-Lhe o trono por um tempo determinado, no qual poderiam
demonstrar a excelência do novo sistema de governo. Caso fosse aprovado pelo Universo, o novo sistema
se estabeleceria para sempre; caso contrário, o domínio retornaria ao Criador.
Foi assim que Lúcifer, acompanhado por suas hostes, aproximou-se d'Aquele Pai sofredor, fazendo-Lhe
tal pedido.
O Eterno não era ambicioso, apenas queria bem às Suas criaturas. Se a ciência do bem e do mal
consistisse realmente num bem maior, não Se oporia à sua implantação, cedendo o trono a seus
defensores. Mas Ele sabia que aquele caminho conduziria à infelicidade e à morte.
Movido por Seu amor protetor, o Criador desatendeu o pedido das hostes rebeldes, que se afastaram
enfurecidas.
Lúcifer e suas hostes passaram a acusar o divino Rei, proclamando ser o seu governo de tirania.
Afirmavam ser sua permanência no trono a mais patente demonstração de Sua arbitrariedade. Não lhes
concedera liberdade de escolha? Por que neutralizá-la agora, impedindo-os de pôr em prática um sistema
de governo superior?
As acusações das hostes rebeldes repercutiram por todo o Universo, fazendo parecer que o governo do
Eterno era injusto.
Isto trouxe profunda angústia àqueles que permaneciam fiéis ao reino da luz. Não sabendo como refutar
tais acusações, essas criaturas, emudecidas pela dor moral, ansiavam pelo momento em que novas
revelações procedentes do Criador pudessem aclarar-lhes os mistérios desse grande conflito.
As acusações e blasfêmias das hostes rebeldes alcançavam o ponto culminante quando o Eterno, num
gesto surpreendente, ergueu-se de Seu trono, como que pronto a deixá-lo. Os infiéis, na expectativa de
uma conquista, aquietaram-se, enquanto um sentimento de temor penetrava no coração dos súditos da luz.
Entregaria Ele o domínio de toda a criação, para livrar-Se das vis acusações? De acordo com a lógica a
partir da qual Lúcifer fundamentava seus ensinamentos, não restava outra alternativa ao Criador. Nesta
tremenda expectativa, o Universo acompanhava os passos de Deus.
Num gesto de humildade, o Criador despojou-Se de Sua coroa e de Seu manto real, depondo-os sobre o
alvo trono. Em Seu semblante não havia expressão de ressentimento ou ira, mas de infinito amor e
tristeza.
Com solenidade, o Eterno proclamou que o momento decisivo chegara, quando cada criatura deveria selar
sua decisão ao lado da luz ou das trevas. Numa ampla revelação, alertou para as conseqüências de um
rompimento com a Fonte da Vida.
Lúcifer e seus seguidores estavam conscientes da seriedade daquele momento.
Vendo que o Trono permanecia vazio, Lúcifer e suas hostes, dominados pela cobiça, romperam
definitivamente com o Criador.
Ao ver um terço dos súditos transpor as divisas da eterna separação, Deus deixou extravasar a dor
angustiante que por tanto tempo martirizava Seu coração, curvando-Se em inconsolável pranto.
Contemplando Seus filhos rebeldes, ergueu a voz numa lamentação dolorosa: "Meus filhos, meus filhos!
Já não posso chamá-los assim! Queria tanto tê-los nos braços meus! Lembro-Me quando os formei com
carinho! Vocês surgiram felizes e perfeitos, em acordes de esperança em eterna harmonia!
Vivi para vocês, cobrindo-os de glória e poder! Vocês foram a minha alegria! Por que seus corações
mudaram tanto? O que mais poderia eu ter feito para fazê-los permanecer comigo? Hoje minh'alma
sangra em dor pela separação eterna! Como olharei para os lugares vazios onde tantas vezes rejubilantes
ergueram as vozes em hosanas festivas, sem me vir à mente um misto da felicidade e dor?! Saudade
infinita já invade o meu ser, e sei que será eterna! Hoje o meu coração rompeu e quebrou-se; as cicatrizes
carregarei para sempre!
Depois de proclamar em pranto tão dolorosa lamentação, o Eterno, dirigindo-Se a Lúcifer, o causador de
todo o mal, disse:
"Você recebeu um nome de honra ao ser criado. Agora não mais o chamarão Lúcifer, mas Satã, O Senhor
das Trevas".
Depois de lamentar a perdição das hostes rebeldes, o Eterno, em lentos passos, ausentou-se do jardim do
Éden, lugar do trono Universal.. Onde seria agora a Sua morada....
As hostes fiéis acompanharam reverentes os Seus misteriosos passos de abandono, que pareciam
descerrar um futuro difícil, de sofrimentos e humilhações. Ocupariam os rebeldes o divino trono,
profanando-o como domínio do pecado? Esta indagação torturava o coração dos súditos do Eterno.
Deixando Sua amada Cidade, o Senhor da luz conduziu-Se, em meio às glórias do Universo, em direção
do abismo imenso, a respeito do qual silenciara até então. Ali deteve-Se mais uma vez, emudecido,
enquanto parecia ler nas trevas um futuro de grandes lutas. Ante o sofrimento do Eterno, expresso na
tristeza de Seu semblante, os fiéis puderam finalmente compreender o significado daquele misterioso
abismo: consistia numa representação simbólica do reino da rebeldia.
Na face entristecida de Deus manifestou-se, por fim, um brilho que aos fiéis animou. Erguendo os
poderosos braços ante as trevas, ordenou em alta voz: "Haja luz."
Imediatamente, a luz de Sua presença inundou o profundo abismo e, triunfando sobre as trevas, revelou
um mundo inacabado, coberto por cristalinas águas. Com esse gesto, iniciava o Eterno uma grande
batalha pela reivindicação de Seu governo de luz; batalha do amor contra o egoísmo; da justiça contra a
injustiça; da humildade contra o orgulho; da liberdade contra a escravidão; da vida contra a morte.
Batalha que, sem trégua, se estenderia até que, no alvorecer almejado, pudesse o divino Rei retornar
vitorioso ao santo monte Sião, onde, entronizado em meio aos louvores dos remidos, reinaria para sempre
em perfeita paz. As trevas, em sua fuga, apontavam para o aniquilamento final da rebeldia.
As águas abundantes que cobriam aquele mundo, até então oculto, simbolizavam a vida eterna que para
os fiéis seria conquistada pelo amor que tudo sacrifica.
O mundo revelado era a Terra. Visitada pelas trevas e pela luz, ela seria o palco da grande luta.
Rejubilavam-se os fiéis ante o triunfo da luz naquele primeiro dia, quando as trevas em sua fúria rolaram
sobre o planeta, sucumbindo-o em densa escuridão. A luz, que parecia vencida, renasceu vitoriosa num
lindo alvorecer.
Ao raiar a luz do segundo dia, o Eterno ordenou: "Haja uma expansão no meio das águas, e haja
separação entre água e águas."
Imediatamente, o calor de Sua luz fez com que imensa quantidade de vapor se elevasse das águas,
envolvendo o planeta num manto de transparência anil. Surgiu assim a atmosfera, com sua mistura
perfeita de gases que seriam essenciais à vida que em breve coroaria o planeta. O Criador, contemplando
a expansão, denominou-a "céus".
A atmosfera, que cheia de brilho envolvia a Terra, sombreou-se ao sobrevir o crepúsculo de um outro
entardecer.
Ao serem vencidas as trevas no terceiro dia, o Criador prosseguiu Sua obra, fazendo surgir os imensos
continentes que ainda estavam sob a superfície das águas. Com as mãos erguidas ordenou: "Ajuntem-se
as águas debaixo dos céus num lugar e apareça a porção seca."
Em pronta obediência, as cristalinas águas cederam sua posição superior à porção seca que se ergueu,
sobrepondo-se a elas.
Nas regiões baixas da Terra, as águas continuariam refletindo o brilho celeste, sendo um refrigério para as
criaturas sedentas.
Nesse gesto de humildade, as águas prefiguravam o Criador, que na grande luta desceria ao mais
profundo abismo para fazer renascer nas almas sedentas a vida eterna. Contemplando a face daquele
novo mundo, o Eterno denominou a parte seca "terra", e ao ajuntamento das águas chamou "mares".
Com Sua poderosa voz prosseguiu, ordenando: "Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore
frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nela sobre a terra."
Em obediência ao mando divino, a superfície sólida do planeta revestiu-se de toda sorte de vegetação:
lindos prados a florir, campos verdejantes entrecortados por rios cristalinos, florestas sem fim.
Enquanto com admiração as hostes contemplavam as belezas daquela criação, surpreenderam-se ao
reconhecer sobre o novo planeta o jardim do Éden, lugar do trono divino. O Eterno, pelo poder de Sua
palavra, o havia transferido para o seio daquele mundo especial, onde em justiça seria confirmado o
governo do Universo.
Contemplando Sua obra, o Criador com felicidade exclamou: "Eis que tudo é muito bom." As hostes fiéis
agora podiam compreender melhor a importância da luz divinal. Sua ausência havia ofuscado, naquela
noite, as belezas de Sião. Nesse novo dia, o Criador expressaria o Seu grande poder, dando à Terra
luminares que a encheriam de luz e calor. Esses luminares permaneceriam para sempre como símbolos da
presença espiritual do Eterno, que é a fonte de toda a luz.
Contemplando o espaço escuro e vazio que se estendia ao redor da Terra, com potente voz ordenou: "Haja
luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; sejam eles para sinais e para
tempos determinados, para dias e anos. E sejam para luminares na expansão dos céus para alumiarem a
Terra."
Imediatamente, o espaço tornou-se radiante pelo brilho do sol e pelo reflexo de planetas e estrelas. Ante
esta demonstração de poder, as hostes fiéis curvaram-se em reverente adoração.
No quarto dia, o Eterno criou os mundos de nosso sistema solar não para serem habitados como a Terra,
mas para o equilíbrio do sistema. Encheriam também o céu de fulgor, abrandando as trevas das noites
terrenas.
Volvendo os olhos para a Terra, as hostes alegraram-se por vê-la radiante em cores. Bem próximo dela
podia-se ver a Lua que, com seu reflexo prateado, afugentaria as profundas sombras noturnas.
Envolvidos por esse cenário encantador, os filhos da luz, rejubilantes, saudaram o alvorecer do quinto dia,
que seria de muitas surpresas. O Eterno tornaria a Terra festiva pela presença de infindáveis espécies de
animais irracionais que habitariam toda a superfície do planeta. Essa criação teria continuidade no sexto
dia. Erguendo as poderosas mãos, o Criador, olhando primeiramente para as cristalinas águas, ordenou:
"Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente."
De imediato, as águas tornaram-se ondulantes pela presença de incontáveis espécies de répteis . Desde os
seres microscópicos até as grandes baleias, todos surgiram em completa harmonia, refletindo em sua
natureza o amor do Criador.
Pousando os olhos sobre a atmosfera anil que repousava sobre as verdejantes florestas, o Eterno
continuou: "Voem as aves sobre a face da expansão dos céus".
Mediante Sua ordem, os Céus encheram-se de pássaros coloridos que, voando em todas as direções,
tinham no coração um cântico de gratidão pela vida. Esse cântico encheu o ar, misturando-se com o
perfume das matas floridas.
Contemplando com prazer Suas criaturas terrenais, o Eterno abençoou-as dizendo: "Frutificai e
multiplicai-vos e enchei as águas nos mares, e as aves se multipliquem na Terra."
Alvorecer do sexto dia. Erguendo os potentes braços, o Eterno ordenou: "Produza a Terra alma vivente
conforme a sua espécie: gado, répteis e bestas-feras da terra, conforme a sua espécie."
Sua voz poderosa foi prontamente ouvida e, nas florestas e campos, pôde-se ver o resultado de Seu poder
criador. Animais de todas as espécies despertaram numa existência feliz, em meio a um paraíso de
perfeita paz.
Movendo-Se com majestade, o Eterno baixou às glórias do novo mundo, dirigindo-Se ao jardim do Éden,
lugar do divino trono. Os anjos da luz acompanharam-nO reverentes, detendo-se qual nuvem sobre os
céus do paraíso. Todo Universo observava com profundo interesse o desdobramento dos atos do Criador,
em resposta às acusações de seus inimigos.
O momento era decisivo. Tudo indicava que o Eterno demonstraria não ser tirano nem egoísta, coroando
alguém sobre o monte Sião. Satã e seus seguidores não duvidavam de que o reino lhes seria entregue e
reinariam vitoriosos no seio daquele antigo abismo, onde as trevas e a luz agora se entrelaçavam. Os
súditos da luz estremeceram ante essa perspectiva.
Junto à fonte do rio da vida, o Eterno curvou-Se solenemente e, com os elementos naturais da Terra,
começou a moldar, com muito carinho, uma criatura especial. Depois de alguns instantes, estava
estendido diante do Criador o corpo, ainda sem vida, do primeiro homem. O Eterno contemplou-o e, após
acariciar-lhe a face fria e descorada, soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida e o homem começou a viver.
Como que despertando de um sono, o homem abriu os olhos e contemplou a face meiga de Seu Criador
que, sorrindo, beijou-lhe a face agora corada e cheia de vida. Emocionou-se ao ouvir o Eterno dizer-lhe
com voz suave e cheia de afeição:
"Meu filho, meu querido filho!" Por ter nascido do solo, o primeiro homem recebeu o nome de Adão.
As hostes fiéis que admiradas testemunhavam a grandiosa realização divina, emocionadas ante o gesto
humano, prostraram-se também em reverente adoração. Uniram então as vozes num cântico de júbilo em
saudação àquela criatura especial, que despertava para a vida num momento tão decisivo para o Universo.
Com o coração cheio de felicidade, Adão uniu-se aos anjos em seu cântico de louvor. Sua voz, ao ecoar
pelos arredores floridos, misturou-se ao canto das aves e ao mugir de animais que se aproximavam em
festa.
Num passeio de surpresas inesquecíveis, Adão foi conscientizado das belezas de seu lar. Com admiração,
contemplou o monte Sião, donde jorrava o rio da vida, numa cascata de luz.
Com intensa alegria, Adão tomava conhecimento das infindáveis espécies de animais que povoavam o
jardim. Todos eram mansos e submissos e viviam em perfeita harmonia e felicidade.
Observando os animais, Adão percebeu que eles desfrutavam de um companheirismo especial. Via por
toda parte casais felizes que viviam um para o outro. Seus pensamentos voltaram-se para o Seu
Companheiro. Olhou ao derredor e ficou surpreso por não vê-Lo. O Eterno havia Se ocultado
propositalmente, tornando-Se invisível.
Adão sentia-se solitário em meio àquele paraíso. Com quem partilharia sua felicidade e seu amor? Havia
ali os animais, mas eles eram irracionais, não podendo compartilhar de seus ideais. Nascia em seu
coração, ao caminhar solitário naquele entardecer, um desejo ardente de encontrar alguém que pudesse
estar sempre a seu lado.
Enquanto Adão olhava para as distantes colinas na esperança de ver alguém, o Eterno apresentou-Se ao
seu lado e disse-lhe:
"Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma companheira."
Adão ficou feliz ao ouvir do Criador essa promessa, justamente no momento em que tanto ansiava ter
alguém para estar sempre visível a seu lado.
Tomado por um profundo sono, Adão reclinou-se no peito de seu amoroso Criador que, com carícias, o
fez adormecer. Em seu subconsciente surgiram os primeiros sonhos:
Contempla o olhar meigo do Eterno; ouve o som harmonioso da música angelical; descobre as maravilhas
ao derredor: o monte Sião com seu arco-íris; o rio da vida; os prados em flor; os animais que o saúdam
em festa. Repetem-se em seus sonhos as cenas que o envolveram em seu anseio; olha ao derredor na
esperança de encontrar seu companheiro, mas não o vê. Sente-se solitário em seu sonho, e isso o faz
procurar alguém com quem possa compartilhar sua existência. Seu olhar estende-se por campinas
verdejantes, divisando ao longe colinas floridas. Enquanto caminha esperançoso, sente a brisa mansa a
afagar-lhe os cabelos macios. Conversa com a brisa: "Brisa, você parece ser quem tanto procuro; você me
afaga os cabelos; beija minha face; você tem o perfume das verdes matas. Se eu pudesse ver sua face,
beijá-la-ia; se eu pudesse tocar os seus cabelos, faria longas tranças e as enfeitaria com as flores do nosso
jardim!"
Após caminhar em sonho pelos prados do paraíso, Adão deteve-se enquanto contemplava a paisagem ao
redor. Admirou-se por não ver o efeito da brisa nos ramos floridos. Mas como, se a sentia calidamente no
rosto? Começou então a despertar de seu sonho. Ainda com os olhos fechados lembrou-se do momento
em que, sonolento, recostara-se no peito do Eterno. Seria a brisa o afago de Suas mãos? Com esta
indagação abriu os olhos e emocionou-se ao contemplar uma linda mulher que, com as mãos perfumadas,
acariciava-lhe a face com amor. Era a brisa de seu sonho; a promessa de um Criador que só queria fazê-lo
feliz.
Agora Adão era completo, pois tinha Eva, que era carne de sua carne e ossos de seus ossos. Tomando-a
pela mão, Adão convidou-a para um passeio de surpresas inesquecíveis. Mostraria à sua companheira as
belezas de seu lar.
Sensibilizada Eva detinha-se a cada passo, atraída pelas flores que exalavam suaves perfumes; pelos
pássaros que gorjeavam alegres cantos; pelos animais que os seguiam submissos; pela vegetação de ricos
matizes; pelas águas cristalinas do rio da vida que jorravam em cascata do monte Sião. Tudo no paraíso
era perfeito e belo, mas nada se igualava ao ser humano, criado à imagem de Deus. Voltaram-se um para o
outro em admiração e carícias. Embalados por esse amor, permaneceram até o entardecer. Com deleite, o
jovem casal passou a contemplar o sol poente que, através de rosados raios, coloria o céu em lindo
arrebol.
Era o sexto dia que chegava ao seu final, dando lugar às horas de um dia especial: o sábado. Esse dia, em
seu significado, seria solene para todos os súditos do Eterno, pois seu alvorecer traria a vitória para o
reino da luz.
Indagavam o sentido das trevas quando, por entre as ramagens, viram um lindo luar, cujos raios prateados
banhavam a natureza em suave luminosidade. Todo o céu estava iluminado pelo fulgor das estrelas.
Admirados, descobriram que a noite somente era trevas quando se olhava para baixo. Adão e Eva em sua
inocência não sabiam que aquela noite simbolizava o futuro sombrio da humanidade. Quando o
compreendessem, ficariam confortados ao contemplar o fulgor dos céus: o luar falaria de esperança e as
estrelas cintilantes testemunhariam o interesse das hostes da luz em aclarar-lhes as trevas morais, dando
alento aos pecadores. Mas seriam iluminados apenas aqueles que, desviando os olhos da Terra,
contemplassem os altos céus.
Após contemplar por algum tempo o céu em sua luminosidade, o casal, lembrando-se das belezas do
paraíso, volveu os olhos, buscando divisá-las. Estavam, porém, ocultas em meio às sombras. Quanto
almejavam o alvorecer, pois somente ele traria consigo o paraíso!
Ante o anseio do coração humano, o Eterno surgiu em meio às trevas, devolvendo ao casal a alegria de se
encontrar novamente num jardim colorido.
Banhados em suave luz, caminhavam agora por prados verdejantes e floridos. o brilho do Criador
despertava a natureza por onde passavam, colorindo e alegrando tudo em derredor. O casal, admirado,
aprendeu que ao lado do Eterno poderiam ter um paraíso em plena noite.
Sentindo-se sonolentos, Adão e Eva recostaram-se no colo do amoroso Pai, que os faz adormecer
docemente, esperançosos de um despertar feliz. Deitando-os sobre a relva macia, o Eterno elevou-Se indo
para junto das hostes contemplativas. Voltaria a manifestar-Se ao alvorecer, fazendo o casal despertar para
o mais solene acontecimento, que reduziria a pó as vis acusações dos inimigos.
A noite escura e fria, através de suas longas horas, parecia zombar da luz. Ofuscaria para sempre as
belezas da criação? Oh, jamais! O sol não recuaria ante a imponência das trevas; surgiria em breve como
um libertador, arrebatando com seus cálidos raios a natureza das frias garras, dando-lhe vida e cor.
Num último desafio, as trevas tornaram-se densas nas horas que antecederam o alvorecer. A noite
arregimentava suas forças para lutar pelo domínio usurpado.
Finalmente, surgiu no leste um lampejo que parecia falar de esperança em um novo dia. O céu aos poucos
tornou-se colorido de um vermelho vivo. As trevas impotentes recuaram ante a força crescente da luz e
foram consumidas em sua fuga. A natureza começou a despertar da longa noite, refletindo em seu seio os
saudosos raios. Flores abriram-se, exalando perfumes de alegria; animais e aves, silenciados pela noite,
uniram as vozes num cântico triunfal em saudação ao alvorecer daquele dia grandioso. A negra noite
chegara ao fim, dando lugar à luz do dia sonhado - dia que para Deus tinha um sentido especial, pois
prefigurava a final vitória de Seu reino sobre o domínio da rebeldia.
O Eterno agora despertaria Seus filhos humanos que, banhados pela luz de Sua presença, haviam
adormecido na esperança de um alvorecer feliz. Numa marcha festiva, todas as hostes santas, com
cânticos de vitória, acompanharam-nO rumo ao paraíso banhado em luz. Quando já estavam próximos, o
Criador deteve-Se contemplando o casal adormecido, e exclamou suavemente: "Acordem meus filhos."
Sua voz penetrou nos ouvidos de Adão e Eva, despertando-os para a mais feliz comunhão. Quão depressa
raiara a acalentada manhã, trazendo em sua luz o doce paraíso, perdido naquela noite! Com alegria o
casal saudou o divino Criador, unindo-se aos anjos em antífonas triunfais.
O Universo vivia um momento deveras solene. Naquela manhã festiva, o Eterno haveria de revelar a
grandeza de Seu caráter, que é justiça e amor. As acusações de que Seu governo era de egoísmo e tirania
seriam refutadas.
Aos olhos de todas as criaturas racionais do vasto Universo, Deus conduziu o jovem casal ao monte Sião,
lugar do divino trono. Ali, ante o estremecimento das hostes emudecidas, o Criador, num gesto
surpreendente, cobriu o homem com o manto real, colocando sobre sua cabeça a coroa que fora cobiçada
por Lúcifer.
Movidos por profunda gratidão pela suprema honra conferida, Adão e Eva prostraram-se reverentes,
depondo aos pés do Criador sua coroa preciosa, em sinal de submissão. Seguiu-se a esse gesto humano
um brado de vitória que sacudiu toda a Criação. Os filhos da luz, que por tanto tempo haviam sofrido
afrontas e humilhações ante as constantes acusações das hostes rebeldes, exaltaram em retumbante louvor
o Deus bendito, que em Sua obra de justiça desmentira os inimigos, revelando Seu caráter de humildade,
desprendimento e amor.
Tendo constituído o homem como o senhor de toda a criação, o Eterno, com voz solene, passou a
conscientizá-lo da grandiosidade de sua missão. Como um guardião, deveria cuidar do paraíso, mantendo
límpida a fonte do rio da vida. As leis da justiça e do amor, fundamentos do reino da luz, deveriam ser
honradas. Como um cetro racional, caberia ao homem, em gesto de reconhecimento e gratidão, aceitar
livremente o governo d'Aquele que o criou.
As hostes, que maravilhadas testemunhavam a revelação do desprendimento divino, compreenderam que
o Senhor da Luz não governaria mais o Universo, a não ser com o consentimento humano. O homem,
pela vontade do Eterno, fora feito o árbitro da criação; em seu glorioso ser, feito à imagem do Criador,
resplandecia o selo do eterno domínio.
Após revelar ao casal a infinita honra e responsabilidade de sua missão, o Criador conscientizou-o do
conflito espiritual que se travava pela conquista do domínio universal: Lúcifer, que por incontáveis eras
servira ao divino Rei em Sião, havia sido corrompido pelo orgulho e pelo egoísmo, sendo seguido por um
terço das hostes racionais; buscavam agora destronar o Eterno, desonrando-O com vis acusações. Tendo
revelado ao ser humano a dolorosa situação em que o Universo se encontrava, o Eterno, num gesto
solene, mostrou-lhe duas altaneiras árvores que, carregadas de grandes frutos, se erguiam em ambas as
margens do rio que nascia do trono. A que se elevava à direita revelou o Senhor ser a árvore da vida
monumento do reino da luz. A que se erguia à outra margem revelou ser a árvore da ciência do bem e do
mal - símbolo da rebeldia.
Comendo do fruto da árvore da vida, o homem manifestaria sua submissão ao Criador, que é Fonte de
vida e luz. Comer da outra árvore seria entregar ao inimigo o domínio de Sião. O inevitável resultado
desse passo seria a morte eterna, não somente para o ser humano, mas para toda a criação, que se
reduziria ao caos sob a fúria da rebeldia.
Após contemplar demoradamente as duas altaneiras árvores, que externavam em seus frutos tão infinita
responsabilidade, Adão prostrou-se ante o Criador, dizendo: "Digno és Senhor de reinar sobre o Universo,
pois pela Tua sabedoria, amor e poder todas as coisas foram criadas e subsistem."
O sábado, emblema do triunfo divino, encheu-se de louvor. Todos os filhos da luz uniram-se ao ser
humano no mais harmonioso cântico de exaltação Àquele cuja grandeza é sem par. Foi com espanto que
Satã e seus seguidores testemunharam a grandiosa realização do Eterno. Presenciaram com amargura a
alegria dos fiéis ante a coroação do homem- acontecimento que lançara por terra as fortes acusações que
eles haviam levantado contra o governo divino. Cheios de frustração e ira, consideravam agora sua triste
condição. Quão terrível e humilhante era-lhes o pensamento de verem seus planos de rebeldia
desfazerem-se diante do Criador, semelhantes às sombras daquela noite. Se pudessem, pensavam,
encheriam o sábado de trevas, banindo da mente dos súditos do Eterno qualquer esperança de vitória.
Finalmente, em suas considerações, Satã e seus liderados compreenderam que lhes restava uma
oportunidade: no meio do jardim do Éden, nas alturas de Sião, elevava-se, junto ao rio da vida, a árvore
da ciência do bem e do mal. Bastaria um gesto humano, nada mais, e teriam sob seu poder, para sempre, o
domínio cobiçado. Mas como seduzi-lo?
Animado ante a perspectiva de uma conquista, Satã procurou, com engenhosidade, arquitetar um plano de
abordagem. Sabia que, se falhasse em sua tentativa, todas as esperanças de triunfo ter-se-iam diluído,
desfazendo-se todos os seus sonhos de aventura. Concluiu que o engano haveria de ser sua poderosa
arma. Não fora através dele que conseguira dominar um terço das hostes celestes?! Aguardaria, portanto,
um momento propício para armar sua cilada.
No Éden pairava uma perfeita paz. Por todos os lados os passarinhos faziam ouvir seus alegres trinos em
louvor constante ao Criador. Toda a natureza a florir parecia proclamar um reino de eterna alegria. Os
animais sempre submissos ao homem, o senhor daquele paraíso encantador.
Tudo era felicidade para o casal; mas esta tornava-se mais intensa na viração daqueles dias primaveris. O
arrebol, que com sua beleza coloria o céu prenunciando as escuras noites, anunciava-lhes também o
momento da visita diária do Eterno. Juntos, sob a luz de Sua presença, passavam longo tempo em
conversação. Com ânimo, o casal contava ao Senhor as surpreendentes maravilhas que iam descobrindo a
cada dia na natureza. Deus, com carinho, descerrava-lhes o significado de cada ser.
Como Ele fora bom, trazendo-os à existência e concedendo-lhes um lar tão cheio de delícias! Ao
despertarem para as alegrias de cada dia, vinham-lhes à lembrança as carícias e o doce canto do Eterno,
que os fazia adormecer todas as noites.
A vida de Adão e Eva no Éden não era de ociosidade. A eles foi recomendado o cuidado do jardim. Sua
ocupação não era cansativa, ao contrário, era agradável e revigorante. O Criador indicara o trabalho como
uma fonte de benefícios para o homem, a fim de ocupar-lhe a mente e fortalecer-lhe o corpo,
desenvolvendo-lhe todas as faculdades. Na atividade mental e física, o homem encontrava um elevado
prazer.
Era comum ao jovem casal receber visitas de seres celestes. Aos visitantes sempre tinham novidades a
relatar e perguntas a fazer. Passavam longo tempo ouvindo deles sobre as maravilhas do reino de luz.
Através desses visitantes, Adão e Eva passaram a ter amplo conhecimento da rebelião de Lúcifer e de
suas eternas conseqüências. Aos visitantes, Adão e Eva sempre pediam que lhes ensinassem os
harmoniosos cânticos celestiais. Como se deleitavam ao unirem as vozes ao coro angelical!
Em Sua onisciência, Deus tinha conhecimento do terrível intento do inimigo. Convocando as Suas hostes
principais, revelou-lhes com pesar o iminente perigo que pairava sobre o Universo. Satã haveria de armar
uma cilada, a fim de levar o homem a comer da árvore da ciência do bem e do mal. Ante essa revelação,
os filhos da luz ficaram temerosos, pois conheciam a tremenda facilidade de Satã em enlaçar criaturas
inocentes e atirá-las em suas malhas de morte.
No solene concílio, sem a autorização de Deus, decidiram enviar, com urgência, mensageiros para
advertirem o homem do grande perigo. Dois poderosos anjos foram encarregados dessa decisiva missão.
Imediatamente, os mensageiros comissionados irromperam pelos portais de Jerusalém, alcançando o seio
do espaço infinito.
Em instantes, transpuseram imensidões, cruzando todo o universo.
Podiam agora divisar a pouca distância o Jardim do Éden, onde o destino do Universo estava para ser
decidido.
Adão e Eva viram então no límpido céu o sinal da aproximação dos visitantes celestes e a eles ergueram
os braços numa alegre saudação. Adão e Eva admiraram-se, porém, por não verem no semblante deles a
mesma alegria. Os visitantes traziam na face uma expressão de anseio que eles não podiam entender.
Tentaram mudar-lhes a triste feição, contando-lhes as novas descobertas feitas no paraíso. Os
mensageiros, todavia, não tendo tempo disponível como outrora, interromperam-nos com palavras de
advertência. Satã haveria de armar-lhes uma cilada, a fim de levá-los a comer do fruto da árvore da
ciência do bem e do mal. Se dessem ouvi dos à tentação, fariam sucumbir toda a criação no abismo de um
eterno caos.
Os anjos lembraram-lhes que o reino lhes fora confiado como um sagrado depósito, devendo, em uma
vida de fidelidade, honrar Aquele que por amor esvaziou-Se, colocando-Se numa posição de hóspede do
ser humano. Adão e Eva deveriam ser firmes ante as insinuações do inimigo, pois assim selariam a eterna
vitória do reino da luz.
Falando-lhes da feliz recompensa que se seguiria ao seu triunfo, os anjos revelaram que era plano de Deus
a transferência de Jerusalém Celeste para a Terra. Ali, novamente acoplada ao paraíso, permaneceria para
sempre. E o homem, submisso ao Criador, reinaria pelos séculos sem fim sobre o monte Sião, em meio
aos louvores das hostes universais.
Mas tudo isso dependia inteiramente do posicionamento humano frente às tentações do inimigo, que faria
de tudo para arrebatar-lhe o reino.
Adão e Eva ficaram temerosos ao conhecerem os planos de Satã, mas foram consolados ao sabere que ele
não poderia fazer-lhes nenhum mal, forçando-os a comer do fruto proibido. Se, porventura, procurasse
intimidá-los com seu poder, todas as hostes do Eterno viriam em seu socorro.
Os mensageiros da luz concluíram sua missão recomendando ao casal permanecerem vigilantes, tendo
sempre em mente a responsabilidade que sobre eles repousava.
Adão e Eva, agradecidos pelas advertências dos anjos, uniram as vozes num cântico de promessa em uma
eterna vitória.
Estavam certos de que jamais abandonariam o bendito Criador, ouvindo a voz do tentador. Animados ante
a promessa humana, os dois mensageiros retornaram ao seio da Jerusalém Celeste onde, junto às hostes
santas, aguardariam com anseio o anelado triunfo.
Satã viu aproximarem-se do paraíso os mensageiros e ouviu o canto do homem prometendo uma eterna
vitória. Esse cântico fez com que sua inveja e ódio aumentassem de tal maneira que não os pôde conter.
Disse então a seus seguidores que em breve faria silenciar aquela voz.
As hostes rebeldes ficaram curiosas para conhecer os planos de seu chefe, mas foram por ele advertidas
de que deveriam aguardar até que tudo ficasse para sempre decidido. Se o homem ouvisse sua voz,
comendo do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, seria vitorioso, possuindo para sempre o domínio
do Universo. Caso o homem resistisse, permanecendo fiel ao Criador, já não haveria qualquer esperança
para eles.
O paraíso parecia estar envolvido por uma eterna segurança, mas no semblante do homem podia ser vista
uma expressão de temor. Desde a partida dos anjos, Adão e Eva permaneciam silenciosos, meditando com
reverência sobre a tremenda responsabilidade de sua missão. Pensavam na seriedade daquela iminente
prova que haveria de selar o seu futuro e o de toda a Criação.
Animados, contudo, ante o pensamento da vitória, uniram mais uma vez as vozes num cântico que
expressava a certeza do triunfo anelado.
Satã, que observava atentamente o casal, percebeu estar chegando a sua oportunidade. Aproximou-se de
forma invisível do paraíso, e ficou esperando o melhor momento.
Inconsciente da presença do inimigo, o casal continuava em sua desprendida alegria. No semblante
transtornado de Satã estampou-se um maldoso sorriso, ao presenciar um descuido do casal: em sua
exaltação, haviam afastando-se um do outro. O astuto inimigo, não perdendo tempo, apossou-se de uma
serpente, a mais bela do paraíso, fazendo-a aproximar-se graciosamente de Eva.
Eva, que assentada no gramado brincava com os animais, percebeu a presença da atraente serpente, cujo
corpo refletia as cores do arco-íris. Ficou admirada ao vê-la colher flores e frutos do jardim, depositandoos
a seus pés. Agradecida, tomou-a nos braços, dedicando-lhe afeto.
Tendo conquistado a afeição da mulher, Satã, em sua astúcia, começou a atraí-la para junto da árvore da
ciência do bem e do mal. Sem se dar conta do perigo, Eva acompanhou a serpente até a árvore da prova.
Ali, tendo nos braços o inimigo velado, acariciou-o e disse-lhe palavras de carinho. Tendo nos olhos o
brilho da sedução, a serpente pôs-se a falar. Suas palavras eram cheias de sabedoria e ternura e sua voz
como a de um anjo. Eva mal pôde crer no que via. Sua alegria tornou-se imensa por ter nos braços uma
criatura tão fantástica. Passaram a conversar sobre muitas coisas: o amor; as belezas do jardim; o poder
do Criador. Eva ficou admirada ante o conhecimento tão vasto da serpente, que discorria com maestria
sobre qualquer assunto. Envolvida por essa experiência, Eva esqueceu-se completamente de seu
companheiro. Nem sequer passavam pela sua mente as advertências dos anjos.
Subitamente o coração de Adão pulsou forte por não ver Eva a seu lado. Ergueu então a voz num grito
ansioso. Sua voz, ecoou pelo paraíso, contudo, não trouxe consigo uma resposta. O silêncio quase o
sufocou. Em sua aflição pôs-se a correr de um lado para outro, procurando-a, em vão. Nessa ansiosa
busca, sentiu a brisa afagar-lhe os cabelos e recordou seu primeiro sonho. Essa lembrança, no entanto,
desfez-se ante o pensamento do perigo que os ameaçava.
Com a mente tomada por um grande senso de culpa, Adão apressou o passo na aflitiva procura. Onde
estaria a sua amada? Mais uma vez ergueu a voz num grito ansioso que repercutiu por todo jardim: "Eva,
onde você está?" Aguardou uma resposta, mas ouviu somente um eco vazio que o desesperou.
Lembrou-se da árvore da ciência do bem e do mal; ali era o único lugar que não fora procurado.
Com a serpente em seus braços, Eva interrogou-a a respeito de muita coisa. Maravilhou-se ao perceber
que a serpente a sobrepujava grandemente em conhecimento. Cheia de curiosidade, perguntou à serpente:
- Onde está a fonte de seu tão grande saber? Responda-me, pois quero também possuí-la.
Sem perder tempo, Satã, apontando para a árvore da ciência do bem e do mal, respondeu:
- Ali está a fonte de todo meu saber.
Ele conta então uma mentirosa história: disse que era uma serpente como as demais, comendo dos frutos
do paraíso. Provando certo dia daquele fruto especial, recebeu, como que por encanto, todas as virtudes.
Olhando para a árvore da ciência do bem e do mal, Eva ficou surpresa e confusa. Privaria o Criador em
seu amor algo tão bom às suas criaturas?! Vendo-a surpresa, Satã perguntou:
- É assim que Deus disse: Não comereis de todas as árvores do jardim?
Eva, inquieta, respondeu:
- Dos frutos das árvores do jardim comemos, mas do fruto dessa árvore que você diz ser fonte de
sabedoria, disse Deus: "Não comereis dele, para que não morrais."
A serpente em tom de desdém disse:
- Isso é falso. Se fosse assim, eu teria morrido. Certamente o Eterno os proibiu de comer dessa árvore
para impedir que o homem venha a se tomar como Ele, conhecendo todas as coisas.
As palavras sedutoras da serpente causaram confusão na mente de Eva. Em quem confiaria? Tinha em
mente a lembrança da ordem do Criador e de sua sentença, mas ao mesmo tempo tinha diante de si uma
prova palpável que O contradizia.
Num desafio, a serpente colheu frutos da árvore proibida e passou a saboreá-los. Colocando um fruto nas
mãos da mulher, incentivou-a a comer, dizendo:
- Não disse o Eterno que se alguém tocasse nesse fruto morreria?
Em Jerusalém havia grande comoção. Poderosos anjos apresentaram-se diante do Criador, solicitando
permissão para esmagarem o covarde inimigo, oculto naquela serpente. O Eterno, contudo, impediu-lhes
tal ação. Deviam respeitar o livre-arbítrio concedido ao homem, podendo ele manifestar sua escolha sob a
tentação do inimigo.
Os filhos da luz sofriam imensamente ao verem a mulher duvidando dAquele que tão bondosamente lhes
dera a vida e a oportunidade de reinarem naquele paraíso. Como poderia duvidar de quem lhes dedicava
tanto amor?!
Eva vacilava em sua convicção ao contemplar o fruto em suas mãos. Seu brilho, seu encanto, uma forte
magia atraia aquele fruto a sua boca. Por alguns momentos o futuro pareceu-lhe sombrio e aterrador, mas
venceu esse sentimento, pensando nas glórias que haveria de conquistar ao comer aquele fruto. Ainda um
tanto indecisa, ergueu vagarosamente as mãos até tocar o fruto com os lábios.
Os súditos do reino da luz, estremecidos, inclinaram-se tomados por grande espanto. Parecia quase
impossível, àquela altura, a mulher voltar atrás.
Enquanto pálidos os fiéis indagavam sobre uma possível esperança, presenciaram com horror a terrível
decisão de Eva: resolvera romper para sempre com o Criador, tornando-se cativa da morte.
O Eterno, que em silêncio e dor contemplava aquela cena de rebelião, curvou a fronte.
Os fiéis, que em pânico julgavam-se vencidos, foram conscientizados de que nem tudo estava perdido. Se
Adão resistisse à tentação, permanecendo fiel ao Eterno, ele selaria a grande vitória. Eva, que fora vítima
de um engano, poderia ser conscientizada de seu erro, sendo favorecida com o perdão divino.
Quando Adão em sua angustiosa corrida alcançou o lugar da árvore, já era tarde demais. Assentada junto
ao rio, Eva saboreava despreocupadamente o fruto proibido. Adão estremeceu. Seria mesmo o fruto da
prova? Num gesto de esperança olhou para a árvore da ciência do bem e do mal, mas em pranto
reconheceu a triste condenação. Cheio de tristeza contemplou sua esposa, mas não encontrou palavras
para despertá-la para tão amarga realidade. Em completo desespero, ergueu a voz numa dolorosa
exclamação:
"Eva, Eva, o que você está fazendo!"
Ao comer do fruto proibido, a mulher foi tomada por emoções que a fizeram imaginar haver alcançado
uma esfera superior de vida. Ao ouvir a voz de seu esposo, ainda tomada pelas ilusórias emoções, ergueu
a fronte estampando um sorriso, mas surpreendeu-se ao vê-lo chorando.
Com profunda amargura, Adão procurou saber a razão que a levara a rebelar-se contra o Eterno. Eva,
prontamente, passou a contar-lhe a fantástica história da sábia serpente.
Satã sabia que essa história de serpente jamais convenceria o homem a comer do fruto da árvore proibida.
Precisava encontrar uma maneira sutil de levá-lo a selar sua sorte seguindo os passos de sua esposa.
Tendo Eva sob seu poder, resolveu fazer dela o objeto tentador. Aguardaria o momento oportuno para
enlaça-lo.
No dia em que dela comerdes, certamente morrereis. A lembrança desta sentença deixava Adão muito
aflito. A expectativa de ver sua amada perecendo em seus braços, era demais para suportar. Esta aflição,
contudo, foi diminuindo, ao ver que ela continuava feliz e carinhosa ao seu lado, como se nenhum mal lhe
houvesse acontecido. Aliviado, Adão voltou a sorrir, correspondendo aos afetos de sua companheira.
Rendia-se às mais doces emoções, longe de saber que era o inimigo quem o envolvia naqueles abraços.
Nesse momento de enlevo, Eva começou a falar-lhe de sua experiência com a ciência do bem e do mal.
Falou-lhe dos tesouros da sabedoria que lhe haviam sido abertos. Em seu novo reino, viveria muito feliz.
Entretanto, essa felicidade seria incompleta sem a participação de seu esposo. Falou-lhe da
impossibilidade de retroceder em seus passos, e insistiu para que ele a seguisse.
Depois de falar-lhe de sua decisão, Eva, com um doce sorriso, estendeu-lhe as mãos contendo um fruto,
pedindo-lhe que o comesse numa demonstração de seu amor por ela.
Com a voz tentadora em seus ouvidos, Adão assentou-se no gramado em profunda reflexão. Sua face
tornou-se novamente pálida e suas mãos trêmulas. Temia rebelar-se contra o Criador, mas ao mesmo
tempo compreendia que não conseguiria viver separado de sua companheira, a quem amava com infinito
amor. Eva era carne de sua carne, a extensão de seu ser.
Sentia-se angustiado ao ter de tomar uma decisão tão séria.
A palidez do rosto de Adão refletiu-se no semblante de todos os fiéis ao Eterno. Ouviram a insinuação do
inimigo e perceberam com horror a vacilação do homem. A indecisão de Adão deixava-os desesperados.
Obedecesse ele àquela proposta de Satã, toda felicidade seria eternamente banida. Nas decisões do ser
humano estava o destino de todo o Universo.
Depois de intensa luta íntima, Adão olhou para sua companheira; a ela unira-se em promessas de uma
eterna entrega. Não a deixaria só agora. Partilharia com ela os resultados da rebelião. Tomou então das
mãos de Eva um fruto e, num gesto apressado, levou-o à boca.
Procurando abafar a voz de sua consciência, que lhe falava de uma eterna perdição, Adão lançou-se nos
braços de sua esposa, desfrutando o alto preço de sua rebelião.
Satã, com brados de triunfo, deixou o paraíso, voando rapidamente para junto de suas inumeráveis hostes,
que aguardavam ansiosas o resultado de tão arriscada tentativa. Ao saberem da desgraça humana, uniramse
numa estrondosa festa. Sentiam-se seguros. Sião agora lhes pertencia por direito, podendo lá
estabelecer um reino eterno, jamais sendo molestados pelas leis do Eterno.
Em todo o Universo os filhos da luz sofriam e pranteavam a derrota. Nunca houvera tanta tristeza e horror
ante o futuro. As vozes que viviam a entoar louvores ao Criador proferiam agora lamentações.
O Eterno, antes mesmo de criar o Universo já havia previsto esse triunfo da rebeldia e, em Sua sabedoria
e amor, idealizara um plano de resgate. Ordenou que Seus mais poderosos anjos circundassem
imediatamente o jardim do Éden, impedindo que Satã tomasse posse do monte Sião. Consoladas ante a
manifestação divina, as potentes criaturas, em pronta obediência, romperam o espaço infinito,
circundando em instantes o paraíso, no seio do qual o ser humano, já transtornado pelo pecado, vivia o
negror de uma noite que seria longa e cruel.
Sendo a autoridade do Eterno fundamentada na justiça, de que maneira poderia justificar Suas ações
diante dos inimigos? Não entregara por Sua vontade o reino ao homem, e esse por livre escolha não o
submetera a Satã? Enquanto surpresas as criaturas racionais consideravam as ações decisivas de Deus,
ouviram Sua potente voz que, repercutindo por toda a criação,trazia a revelação do grande mistério -
revelação tão maravilhosa que a partir daquele momento, por toda a eternidade, ocuparia a mente dos
fiéis, sendo tema para as mais doces meditações.
O Eterno falou primeiramente sobre a terrível condenação que pendia sobre o homem e toda a criação.
Disse que, ao se desligar da Fonte da Vida, o homem havia se precipitado em tão profundo abismo que
não poderia ser alcançado pelo Seu braço de justiça e poder. Humilhado e torturado pelas garras do
inimigo, não restava ao homem outra sorte além da morte - fruto doloroso de sua espontânea rebelião.
Considerando a situação humana, as hostes da luz não viam possibilidades de triunfo. Sabiam que só o
homem poderia retomar o domínio do inimigo, devolvendo-o ao Criador. Mas o ser humano, eternamente
escravizado em sua natureza, seria incapaz de tal vitória.
Com voz melodiosa e cheia de ternura, Deus revelou o plano da redenção, dizendo: "Na verdade, o
homem colherá o fruto de sua rebelião numa terrível morte. Não posso, com o meu poder, mudar-lhe a
sorte. Se assim agisse, seria injusto diante de meu decreto. Mas farei cair toda a condenação sobre um
Substituto que surgirá na descendência humana. Esse Homem não trará em suas mãos as algemas da
morte, sendo inocente e incontaminado em Sua natureza. Como representante da raça humana, enfrentará
Satã e o vencerá. Após triunfar nessa batalha, provando que o amor é mais forte que o egoísmo, que a
verdade é mais forte que a mentira, que a humildade é mais poderosa que o orgulho, o fiel Substituto
erguerá as mãos vitoriosas não para saudar a grande conquista, mas para tomar das mãos da humanidade
escravizada a taça de sua condenação. Sorverá assim, submisso, o cálice da eterna morte. Esse imenso
sacrifício abrirá aos seres humanos uma oportunidade de serem redimidos, voltando aos braços do
Criador, juntamente com o domínio perdido."
As hostes, surpresas ante a revelação do Eterno, indagaram a identidade d'Esse Substituto. O Criador,
com um sorriso amoroso, disse-lhes:
"Parte de Mim será esse Homem. O Meu Espírito repousará sobre uma virgem, e nela será gerado um
Filho Santo. Esse menino será divino e humano. Em sua humanidade, ele será submisso à divindade que
n'Ele habitará. Os remidos verão n'Ele o Pai da Eternidade, o Criador e Redentor, o Rei dos reis. O Seu
nome será Yoshua (nome hebraico que traduzido significa o Eterno salva)."
Assumindo a natureza humana, Deus poderia pagar o resgate, morrendo em lugar dos pecadores.
As hostes da luz ficaram emudecidas ao conhecer o plano do Criador. O pensamento de verem-nO
submeter-Se a tão penoso sacrifício, a fim de redimir o domínio perdido, era demais para suportarem. Não
havia, contudo, outra esperança de vitória, a não ser através dessa amorosa entrega.
Após desfrutar o pecado, o jovem casal sentiu-se mal. Inicialmente sentiram um grande vazio no coração,
que logo foi preenchido pelo remorso e pela tristeza. Perceberam que, inspirados pela cobiça, haviam
selado sua triste sorte e a de toda a criação. Parecia-lhes ouvir ao longe o gemido de um Universo
vencido.
O sol, que os enchera de vida e calor naquele dia, ocultava-se no horizonte, anunciando-lhes uma negra
noite. O arrebol, que até ali anunciara-lhes o feliz encontro com o Criador, parecia envolve-los numa
sentença de que jamais despertariam para um novo dia. Com o olhar voltado para o frio solo, vinha-lhes à
lembrança a sentença: "No dia em que dela comerdes, certamente morrereis." Desesperadas lágrimas
rolavam em seus rostos ao aguardarem o trágico fim.
Ao considerar o motivo de sua rebelião, Adão começou a recriminar sua esposa por ter dado ouvidos à
serpente. Eva, por sua vez, procurando desculpar-se, lançou a culpa sobre o Criador, dizendo: "Por que o
Eterno permitiu que a serpente me enganasse?!"
O amor que reinava no coração humano desaparecia, dando lugar ao orgulho e ao egoísmo, que se
fundiam em ressentimentos e ódio. Sua natureza já não era pura e santa, mas corrompida e cheia de
rebeldia. Tudo estava mudado. Mesmo a brisa mansa que até ali os havia banhado em carícias
refrescantes, enregelava agora o culposo par. As árvores e os canteiros floridos, que eram seu deleite,
consistiam agora em empecilhos ao caminharem sem rumo naquela noite.
O propósito de Satã em encher o sábado de trevas parecia haver se cumprido. Naquela noite, não existia
sequer o reflexo prateado do luar para falar-lhes de esperança. As estrelas cintilantes, suspensas no escuro
céu, estavam ofuscadas pela dor.
Baixavam sobre o mundo as trevas de uma longa noite de pecado - sombras sob as quais tantos se
arrastariam sem esperança de um alvorecer.
A noite já ia alta e as trevas pareciam envolver o triste casal em eternas sombras quando surgiu
repentinamente um brilho no céu, que ia aumentando à medida que se aproximava da Terra. O casal
estremeceu, pois sabia que era o Criador que vinha dar-lhes o castigo. Vencidos pelo pânico, puseram-se a
correr, distanciando-se do monte Sião, o lugar da vergonhosa queda. Justamente para ali viram o Criador
dirigir-Se. Eles, que sempre corriam ao encontro do amoroso Pai, atraídos por Sua luz, fugiam agora
desesperados em busca de lugares escuros, de densa floresta.
O Eterno, movido por infinito amor, passou a seguir os passos do casal fugitivo. Como tudo se
transformara! Seus filhos não conseguiam mais ver n'Ele um Pai de amor, mas alguém que, irado,
buscava castigá-los.
Movido por forte anseio de abraçar Seus filhos humanos, Deus fez ecoar a voz numa indagação: "Adão,
onde vocês se encontram?" Sua voz, ao soar em meio às trevas, trazia consigo somente um eco vazio.
Quantos, enganados por Satã, fugiriam de Sua presença no decorrer da longa noite de pecado, julgando-
No um Senhor tirano, que vive buscando falhas e fraquezas nos pecadores, a fim de castigá-los! O
Criador, todavia, não desistiria de procurá-los pelos vales sombrios do reino da morte, até conquistar um
povo arrependido.
Adão e Eva, exaustos pela pressurosa fuga, esconderam-se por entre a folhagem de um pé de figueira.
Reconhecendo sua nudez, procuraram fazer aventais cosendo aquelas folhas. Vestidos assim, julgaram
poder livrar-se do sentimento de vergonha ante o Criador.
O Eterno, aproximando-Se do local onde o casal se escondia, perguntou:
- Adão, onde estão vocês?
Não podendo mais se ocultar de Deus, Adão ergueu-se juntamente com sua companheira e, cabisbaixos,
apresentaram-se ao Criador, prostrando-se trêmulos a Seus pés. Não conseguiram encará-Lo mais, devido
ao senso de culpa.
O Criador, carinhosamente, tomou-os pelas mãos, erguendo-os do chão, e, com expressão de tristeza no
semblante, perguntou-lhes:
- Por que vocês fugiram de Mim? Acaso comeram do fruto da árvore da ciência do bem e do mal?
Adão, todo trêmulo, com voz entrecortada de temor, respondeu:
- A mulher que me deste por companheira, ela deu-me o fruto e eu comi.
Com esta resposta, Adão procurava desculpar-se, lançando a culpa sobre sua companheira.
Voltando-Se para Eva, o Eterno indagou-lhe:
- Por que você fez isso?
Eva prontamente respondeu-Lhe:
- Aquela serpente me enganou e eu comi.
Ambos não queriam reconhecer a culpa, lançando-a sobre outrem. Em suma, atribuíam ao Criador a
responsabilidade por todo o mal praticado: "Por que concedera-lhes o livre-arbítrio? Por que criara a
mulher? Por que criara a serpente?"
Deus observava Seus filhos que, tímidos e desconcertados, permaneciam diante de Si. Com profunda
tristeza, Ele previu que essa seria a experiência de incontáveis seres humanos no decorrer da história.
Quantos haveriam de se perder por não reconhecerem a própria culpa! Quantos procurariam justificar-se,
lançando seus erros sobre os outros e até mesmo sobre o Criador!
Com palavras brandas, o Eterno procurou fazê-los reconhecer sua culpa. Somente reconhecendo sua
necessidade, poderiam ser ajudados.
Olhando para as frágeis vestes tecidas por mãos pecadoras, disse ao casal:
- Filhos, essas vestes são insuficientes, logo secando se desfarão. Vocês precisam de vestes duradouras,
que possam cobrir vossa nudez, livrando-vos da condenação. Se vocês quiserem, Eu posso dar-lhes
essa veste.
Ante as palavras bondosas do Criador, que traziam esperança, o casal prostrou-se arrependido, despindose
de suas ilusórias vestes, símbolos de seu fracasso. Almejavam agora as vestes da salvação, prometidas
pelo divino Pai.
Depois de contemplar Seus filhos que, arrependidos, jaziam a Seus pés, o Eterno tomou-os
carinhosamente pelas mãos e os levantou. Alegrava-Se em poder revelar ao homem caído o plano da
redenção.
Deus passou a descerrar-lhes primeiramente os amargos resultados de sua queda, dizendo: "Filhos, vocês
selaram o destino de toda a criação nas garras da morte. A desarmonia já permeia a natureza, procurando
destruir nela todas as virtudes. O abismo no qual vocês imergiram pela desobediência é por demais
profundo para que possam ser alcançados pelo meu poderoso braço. Assim, desligado da Fonte da Vida,
não resta mais ao ser humano outra sorte além da morte."
Depois de proferir estas palavras que revelavam uma triste sorte, o Eterno convidou o casal a segui-Lo.
Cabisbaixos, Adão e Eva, em pranto, seguiram o Criador em Seus passos de justiça, que encaminhavamnos
ao lugar da vergonhosa queda, onde supunham encontrar o doloroso fim.
Enquanto caminhavam, contemplavam através das lágrimas as belezas adormecidas banhadas pela luz de
Deus. Viam os inocentes animais, que não tinham consciência da grande dor. Subitamente, o casal se
deteve, vencido por intenso pranto; seus vacilantes passos os haviam levado para junto de um cordeiro, o
animalzinho mais querido. Seus olhinhos de meiguice haveriam também de se apagar!
Enxugando-lhes as lágrimas, o Eterno ordenou-lhes tomar nos braços o inocente cordeiro.
Envolvendo-o junto ao peito, acompanharam silenciosamente os passos do Criador, até alcançarem o topo
do monte Sião, lugar da vergonhosa queda. Contemplando ali os restos dos rubros frutos, com ímpeto lhes
veio à mente a lembrança da sentença divina: "No dia em que dela comerdes, certamente morrereis."
O terrível momento chegara. O homem culpado deveria sorver o amargo cálice da morte, sucumbindo
sem esperança.
Consciente de sua perdição, o casal percebeu, com horror, que as mãos que os trouxeram para a vida
empunhavam agora um cutelo pontiagudo de pedra. Trêmulos, prostraram-se e esperaram pelo
cumprimento da justa sentença.
Enquanto emudecidos pelo medo, Adão e Eva aguardavam o golpe que os reduziria a pó, sentiram o
toque macio das mãos divinas que os erguiam para uma nova vida. A condenação, contudo, haveria de
recair sobre um substituto.
Colocando nas mãos de Adão o cutelo, o Criador lhe disse:
- O cordeiro morrerá em lugar de vocês.
Adão deveria sacrificá-lo.
Assustado ante a ordem de Deus, o casal, em pranto, pôs-se a clamar:
- Senhor, o cordeirinho não, ele é inocente!
Com expressão de justiça, o Eterno acrescentou:
- Se ele não morrer, vocês não poderão ter as vestes das quais falei.
Ante a insistência do Criador, Adão, todo tremulo, num esforço doloroso, cravou no peito do cordeirinho
aquela aguda pedra.
O golpe foi fatal, e o animalzinho, vertendo seu precioso sangue, mergulhou nas trevas de uma noite sem
fim.
Contemplando o cordeirinho inerte sobre a relva ensangüentada, o casal ergueu a voz e chorou.
Começavam a compreender a enormidade de sua tragédia. Quão terrível era a morte! Ela, em seu poder,
apagara toda a luz dos olhos do inocente animal.
Inclinando-Se silenciosamente sobre o corpo inerte do cordeiro, o Eterno tirou-lhe a pele revestida de
branca lã e com ela fez túnicas para cobrir a nudez do casal. Após vesti-los perguntou-lhes com carinho:
- Vocês entenderam o sentido de tudo isto?
Em profunda reflexão, por entre soluços de reconhecimento e gratidão, o casal exclamou:
- Ele morreu em nosso lugar, para dar-nos suas vestes!
Adão e Eva, embora compreendessem aquela realidade física, estavam longe de entender o significado
daquele acontecimento.
A eles o Criador revelaria o mistério do divino amor.
Com expressão de infinita misericórdia, Deus passou a revelar ao ser humano o sentido daquele doloroso
sacrifício, dizendo:
"O inocente cordeirinho, que hoje padeceu, simboliza um homem que haverá de nascer. Em seus olhos
haverá a mesma meiguice, o mesmo amor. Revestido por uma vida justa, como a branca lã que cobria o
cordeiro, esse homem crescerá como um renovo sobre a Terra, não tendo nas mãos as algemas do pecado.
Em sua aparência, esse homem não trará a pompa de um rei, por isso será desprezado por muitos. Será
um homem de dores, pois cairá sobre si o peso de todas as provações. Em sua fidelidade ao reino da luz,
esse homem lutará contra o inimigo usurpador, vencendo-o finalmente. Após triunfar em suas lutas,
tomará sobre si o fardo de vossa condenação que lhe causará uma terrível morte. Ele será traspassado por
causa da vossa rebelião e moído pelas vossas iniqüidades. Será oprimido e humilhado, mas não abrirá a
sua boca, como o cordeirinho que hoje entregou-se pacificamente. Sucumbindo na morte, ele vos
concederá os méritos de sua vitória. Envolvidos por suas vestes de justiça, estareis livres da condenação.
A vida eterna alcançareis assim, mediante o sacrifício desse homem justo que haverá de nascer.
Adão e Eva, que num misto de gratidão e dor ouviram a revelação de tão grande salvação, indagaram
reverentes a respeito desse homem especial que em sua descendência haveria de surgir, a fim de cumprir
tão imenso sacrifício."
O Criador, olhando-os ternamente, movido por um amor que supera mesmo a morte, os envolveu num
carinhoso abraço e revelou:
- De Meu sofrimento surgirá este Homem!
- Nós somos merecedores da morte Senhor, mas Tu és inocente e não deves sofrer em nosso lugar!
Enxugando-lhes as lágrimas, o Eterno com ternura lhes falou:
- Meus filhos, Eu os amo com um eterno amor. Após sorver o cálice da eterna morte, Este Homem
retomará a vida e subirá ao céu. Intercederei ali pelo homem perdido, concedendo a todos aqueles
que, arrependidos, aceitarem meu sacrifício, as vestes de minha vitória. Juntos, triunfaremos
finalmente sobre o reino do pecado que se desfará em cinzas sob nossos pés. Criarei então um novo
Céu e uma nova Terra, onde unicamente a justiça e o amor reinarão. Viveremos assim para sempre,
num reino de perfeita harmonia e paz.
O Criador, que acompanhado pelo casal permanecia ainda sobre o monte Sião, concluiu Suas revelações
dizendo: "O jardim do Éden ficará agora vazio. O ser humano, durante a longa noite de pecado, vagueará
em seu exílio. Não andará, contudo, sozinho: o Eterno, também peregrino, trilhará com o homem toda a
estrada espinhosa, até poderem juntos galgar o monte perdido, triunfando gloriosamente sobre o reino da
morte. A árvore da ciência do bem e do mal, monumento da rebeldia, será então desfeita, dando lugar a
uma árvore gloriosa que, unindo sua copa à árvore da vida, se tornará no arco comemorativo da grande
vitória. Sobre o santo monte redimido, repousará então para sempre o torno universal, que pelos fiéis
triunfantes será nomeado: o trono de Deus e do Cordeiro."
Adão e sua companheira, após ouvirem palavras tão confortadoras e cheias de esperança, ergueram a voz
num cântico de gratidão e louvor. Conheciam agora o infinito amor de seu Criador e estavam dispostos a
servi-Lo.
Depois de consolar o casal, Deus levou-os para fora do Éden. Não lhes foi fácil se despedir daquele
precioso lar; ali haviam despertado para a vida nos braços do Eterno; ali desfrutaram momentos de pura
felicidade, em companhia do Criador, dos anjos e dos dóceis animais. Uma saudade infinita parecia
envolver o casal em seus passos de abandono.
Foi com espanto que Satã e seus súditos presenciaram a intervenção do Eterno. Ficaram abalados ante a
surpreendente revelação do plano de resgate. Com raivosa frustração, compreenderam que, se de fato a
promessa divina se concretizasse, não restaria nenhuma esperança.
Depois de refletir sobre tudo o que acontecera, uma grande ira apossou-se de seu coração. Não estava
disposto a reconhecer a redenção do ser humano. Faria todos os esforços para retê-lo, juntamente com o
reino que lhe fora entregue.
Quando o casal, acompanhado pelo Criador, alcançou o vale ferido pela morte, amanhecia. Ali Satã os
enfrentou com fúria, numa tentativa de se apossar novamente do ser humano. O casal ficou trêmulo em
face do inimigo, mas as mãos protetoras de Deus os acalmaram.
Expressando no semblante a firmeza de uma justiça que é eterna, o Eterno silenciou as ameaças do
inimigo com as seguintes palavras: "O ser humano Me pertence, pois Eu o comprei com o meu sangue".
Ao caminharem junto ao Criador, Adão e Eva observavam com tristeza os sinais da morte estampados
naquela natureza antes tão cheia de vida. As belas flores, que haviam desabrochado para exalar aromas
eternos, pendiam agora murchas; os passarinhos, que com alegria os saudavam em cada alvorecer com os
seus trinos, voavam agora distantes, fazendo soar tão tristes cantos! Tudo estava mudado na natureza. A
ciência do bem e do mal não trouxera nenhum bem ao Universo, mas um intenso conflito espiritual e
físico.
Ante as conseqüências devastadoras de sua queda, o casal, vencido por uma indizível tristeza, prostrou-se
arrependido e chorou amargamente. Deus, que também compungido pela dor contemplava o cenário
desolador, procurou, com palavras de esperança, confortá-los. Falou-lhes sobre o novo Céu e a nova Terra
que um dia criaria, onde a paz e o amor voltariam a reinar em cada coração. Ali viveriam sempre juntos,
não trazendo na fronte as marcas da tristeza, mas coroas de eterna vitória.
Ali enxugaria as lágrimas de suas faces e essas jamais voltariam a umedecer os seus olhos.
Amparando Adão e Eva em seus passos, o Criador conduziu-os através de um vale ferido, até alcançarem
o sopé de uma colina. Galgaram-na em lentos passos, enquanto trocavam palavras de ânimo e esperança.
Seus pés alcançaram finalmente a relva macia que cobria o topo espaçoso daquela colina. Era sobre
aquele lugar que o casal via a cada dia o sol declinar, banhando o céu e os vales de um vermelho vivo,
como o sangue que jorrara do peito do cordeiro.
O sol declinava em sua jornada, anunciando a chegada de mais uma triste noite - a primeira fora do
paraíso. Num calmo gesto, o Eterno, mostrando-lhes o vale sobranceiro à colina, falou-lhes com carinho:
"Aqui será vossa provisória morada. Daqui podereis contemplar o paraíso que por algum tempo
permanecerá na Terra, até ser recolhido ao seu lugar de origem, no seio da Jerusalém Celeste. Ali,
protegido pela justiça, aguardará o alvorecer da vitória. Quando esse grande dia chegar, retornaremos
juntos a Sião, onde seremos coroados em glória, num reino de eterna felicidade e paz".
Depois de dizer estas palavras, Deus ordenou ao casal que construísse naquele lugar um altar de pedras,
sobre o qual a cada semana, na noite que antecede o sábado, deveriam imolar um cordeiro, pela memória
de Seu sacrifício. Como sinal de Sua presença, e para a certeza de que seus pecados seriam perdoados,
Ele acenderia um fogo sobre o altar, o qual duraria toda a noite, até consumir por completo a oferta do
sacrifício.
Para que o ser humano pudesse firmar sua fé sobre as verdades reveladas, e não na manifestação visível
da pessoa do Criador, Ele haveria de permanecer invisível daquele momento em diante. Somente em
ocasiões especiais, quando se fizesse necessário Sua aparição ou a de anjos para novas revelações e
advertências, isto ocorreria.
O Eterno disse-lhes com amor: "Filhos, embora vocês tenham de permanecer neste ambiente hostil, não
precisam temer, pois Eu permanecerei ao lado de vocês. Serei um companheiro amigo nesta jornada;
levarei sobre os meus ombros suas dores, seus anseios, suas lutas. Quando, tentados pelo inimigo,
estiverem a ponto de ceder, poderão encontrar abrigo em meus braços, que sempre estarão estendidos
para salvá-los e, se algum dia vocês não resistirem, e pela fúria do inimigo forem arrastados para as
profundezas do abismo, não se desesperem julgando não haver esperança, pois Eu estarei ali para acudilos
com o meu perdão e força. Tenham sempre em mente o significado das vestes recebidas das minhas
mãos, pois elas falam da redenção que ao homem pertence. Descansem filhos meus, nos meus braços de
amor."
O Criador deixou o casal adormecido sobre a relva, depois de beijar-lhes as faces já marcadas pelo
sofrimento. Sua luz dissipou-se ao tornar-Se invisível, dando lugar às trevas daquela primeira noite fora
do paraíso.
Deus, ainda que invisível, permanecia ao lado de Adão e Eva ali na colina. O sofrimento deles era o Seu
sofrimento, como também a esperança de um dia retornarem vitoriosos a Sião.
Longa seria a noite do pecado, e renhida a batalha pela reconquista do reino perdido. O triunfo da luz
requereria da parte de Deus um sacrifício imenso. Na pessoa do Messias, a seu tempo, ele nasceria entre
os homens, com a missão de pagar o preço do resgate. Por meio dEle muitos seriam libertos das garras do
inimigo: todos aqueles que O aceitassem como Salvador e Rei.
Contra esses escolhidos, o inimigo arregimentaria todas as forças procurando fazê-los cair. Em sua visão
do futuro, o Criador contemplou com alegria o triunfo final dos redimidos. Haviam sido extremamente
provados, mas em tudo foram mais do que vencedores por meio dAquele que os redimiu das trevas para o
reino da luz.
Depois de antever os sofrimentos que adviriam da grande luta, o Eterno estendeu o olhar pelas planícies
cativas, contemplando ali as hostes rebeldes dispostas para a luta. O objetivo desses exércitos, era
apossar-se novamente do ser humano, no qual estava selado o direito de domínio sobre o Universo.
Contrária à natureza do Criador é a guerra, mas para defesa de Seus filhos, estava disposto a empregar o
Seu poder. Sua força, contudo, somente seria empregada com justiça. Se o ser humano recusasse essa
proteção oferecida mediante o sacrifício do Messias, Deus nada poderia fazer para impedir que o mesmo
perecesse nas garras do inimigo. Adão e Eva, contudo, haviam se arrependido de seu grande pecado,
recebendo pela misericórdia de Deus vestes de salvação, simbolizadas pelas peles do cordeiro sacrificado.
Justificado pela entrega do casal, o Eterno convocou Seus poderosos exércitos para a peleja. Em pronta
obediência as hostes da luz irromperam pelo espaço sideral em direção à Terra, circundando qual forte
muralha a colina, portadora daquele tesouro redimido pelo sangue do divino Rei.
Ao ser humano fora conferido no Éden o dever de cuidar da natureza : preparavam canteiros para as
flores; colhiam frutos para mantimento; dirigiam os animais em seu inocente viver, adestrando-os para
que lhes fossem úteis. Essas ocupações tinham sido para eles fontes de desenvolvimento e prazer. Agora,
apesar das adversidades, deveriam continuar realizando esse dever. O trabalho em si, realizado segundo
as ordens do Criador, já anularia muitos ataques do inimigo.
As primeiras ocupações do casal naquela manhã, trouxeram-lhes revelações do grande amor de Deus, até
então desconhecidas. Ao reunirem as pedras para construção do altar, experimentaram a dor de feridas
que jorram sangue, como também a fadiga que faz minar suor. Sentindo e contemplando tudo na própria
carne, amaram mais o Salvador, para quem o altar construído prefigurava feridas maiores, que verteriam
todo o Seu sangue, como também fadigas que minariam toda a seiva de Sua vida.
O olhar de saudade e de esperança do casal de agora em diante, jamais pousaria no Éden distante, sem
discernir primeiro o altar dos sacrifícios. Esse altar, com suas manchas de suor e sangue, permaneceria
como uma lembrança da dor e do sofrimento que, depois de umedecer os lábios dos seres humanos,
transbordaria na taça do Criador.
Após contemplar por longo tempo o paraíso da eterna vida que estendia-se muito além daquele altar
escuro de morte, o casal experimentou o doce alívio do descanso.
Desejosos de conhecer as paisagens de seu novo lar, Adão e Eva, animados pela esperança, saíram a
passear. Seus passos conduziram-nos por caminhos de sorrisos e de lágrimas; de encantos e desilusões; de
flores que desabrochavam delicadas, banhadas em perfume, e de flores despetaladas, tombadas murchas e
sem cheiro; de animais ainda dóceis e submissos e de animais inimigos, ferozes e ameaçadores. O casal
discernia em seu passeio as divisas de dois mundos: o da luz e o das trevas; do amor e do egoísmo; da
esperança e do desespero; da harmonia e da desarmonia; da vida e da morte. Essa visão encheu-lhes de
tristeza e choraram longamente. Essa tristeza aumentaria ainda mais no futuro, quando descobrissem o
aprofundamento dessas divisas no seio de sua descendência.
Seis arrebóis já haviam colorido os céus anunciando ao casal as noites escuras e frias que com seu manto
de trevas desfazia todas as imagens vivas, menos a esperança de revê-las coloridas no alvorecer de luz.
Aproximava-se agora a hora do sacrifício, quando o rude altar, abrasado em sua justiça clamaria por
sangue. Se não lhe oferecessem a oferta, explodiria com certeza, envolvendo todo o mundo com suas
chamas; Já não haveria então alvorecer, nem esperança de Éden a florir.
Quão precioso é o sangue! Sangue é vida; vida é luz! Para um ser aquela noite tornar-se-ia eterna, sem
alvorecer! Esse ser deveria assumir a culpa de todo o mundo, dando o seu sangue ao rude altar.
Adão e Eva depois de refletirem por longo tempo, contemplando o berço da morte construído por suas
mãos, entreolharam-se inquietos com essa questão decisiva: Quem se oferecerá? Essa indagação nascida
de sua culpa, fez vibrar no profundo de suas lembranças a voz do bendito Criador em Sua revelação de
infinita bondade: - Eu os amo com um eterno amor; Eu morrerei em vosso lugar".
Agradecido, o casal prostrou-se reverentemente ante o sedento altar, vendo-o pela fé, saciado pelo dom do
eterno amor.
Naquela tarde de sexta-feira, Deus submetia o ser humano a uma tremenda prova de fé. Eles tinham
diante de si o altar de pedras, construído conforme a ordem divina, mas não havia nenhuma ovelha para o
sacrifício. Em seu anseio, lembravam-se do Éden, onde havia muitos rebanhos.
Ao verem o sol tombar no horizonte, Adão e Eva passaram a clamar a Deus por socorro, pois sabiam que
somente um milagre poderia providenciar-lhes, naquele derradeiro momento, um cordeiro para o
sacrifício.
Quando as sombras do anoitecer começaram a envolver a colina, o casal que vivia tão dura prova de fé,
discerniu um pontinho branco que saltitava no gramado vindo em direção deles. À medida em que se
aproximava, aquele vulto parecia falar de esperança, de vida e calor. Ao verem que o grande milagre
acontecera, correram ao encontro do cordeiro, envolvendo-o nos braços. Ele estava fatigado, mas não
descansaria: daria descanso. Estava sedento, mas não beberia: daria de beber ao altar que clamava por
sangue. Aquele cordeiro tinha vontade de viver nos braços do homem, mas morreria, para que esse
pudesse viver nos braços de Deus. Era um perfeito simbolismo do Redentor que deixaria Sua glória,
vindo em busca do pecador.
As trevas de mais uma noite baixaram lentamente envolvendo toda a natureza em sua prisão. Sua força,
porém, seria quebrada diante do ser humano, pelo brilho de um fogo especial, aceso pelas mãos do divino
perdão sobre o corpo sem vida do inocente cordeiro.
Em meio à noite o altar clama; o homem triste exclama, enquanto o cordeiro, mudo, não reclama ao ser
estendido para a morte.
As mãos que construíram o altar erguem-se agora, não para acariciar como outrora, mas para ferir,
sangrando o preço do perdão. Só um gesto, nada mais, e a estrela se apagará para sempre dos olhos
inocentes, fazendo brilhar na face culpada a luz da salvação.
Adão, trêmulo hesita em compaixão. No cordeirinho manso e submisso, pronto a morrer em seu lugar, vê
o Salvador prometido. Com o coração arrependido, num esforço doloroso, crava o cutelo de pedra no
peito do animalzinho que perece em suas mãos sem sequer dar um gemido.
O poder da noite imediatamente é quebrado pelo brilho do fogo da aceitação. Sua luz revela ao ser
humano sua trágica condição: Vendo as mãos manchadas pelo sangue inocente, o casal sente-se culpado
por aquela morte. Em pranto ajoelham-se ante o altar que já não lhes reclama sangue, mas oferece luz,
aceitando o imerecido perdão.
Erguendo-se, o casal contempla demoradamente o corpo ferido do pobre cordeirinho, sem poder
agradecer-lhe pela riqueza concedida em troca de seu tão rude golpe.
Banhados pela suave luz do sacrifício, Adão e sua companheira permanecem a meditar, até serem
vencidos por um profundo sono. Recostando-se ao solo coberto de relva macia, adormecem docemente
sob os cálidos raios do perdão, certos de que seu brilho e calor perdurariam até serem as trevas daquele
sábado desvanecidas completamente pelo fulgurante sol.
A luz do cordeiro, desde que fora acesa sobre o altar naquela noite, permanecia em constante guerra com
as trevas. Por várias vezes crescia em brilho, afugentando para distante a fria escuridão, banhando a
natureza com os seus raios de vida. Por vezes, as trevas trazendo o seu vento frio, quase bania por
completo a chama. Essa, todavia, num grande esforço alimentava-se do sangue do cordeiro, lançando ao
alto sua ardente chama, inundando de luz e calor tudo aquilo que havia ao redor.
O conflito entre a luz nascida do sacrifício e as trevas naquela noite, descerravam aos fiéis do Universo
muitas lições importantes - verdades que ocupariam suas mentes por toda a eternidade. Naquela chama,
ora ardente em seu brilho, ora fustigada pelos ventos da noite, os fiéis viam uma representação do conflito
milenar entre o bem e o mal; conflito que sem trégua se estenderia até o alvorecer . O Eterno, no penhor
de Seu futuro sacrifício, acendera em meio das trevas, a luz da verdade, e essa seria mantida acesa no
coração do ser humano, em virtude de Seu sangue que seria derramado para remissão da culpa. Contra
essa luz, o inimigo arremessaria todos os ventos frios da maldade, banindo do coração de muitos o seu
doce brilho. Quantos jazeriam perdidos por recusarem a luz do perdão divino, ficando envoltos pelas
trevas da escura noite!
Depois de longas horas de combate, surge no céu os sinais do amanhecer. A escuridão que com ira havia
lançado seus ventos sobre a imorredoura chama procurando bani-la, torna-se confusa ante os sinais do
amanhecer. O céu tingido de um vermelho vivo, faz lembrar o sangue que jorrara do peito do cordeiro
para que a chama do perdão pudesse iluminar a noite humana. Em meio ao colorido de sangue, surge no
horizonte o fulgurante sol, trazendo em seus aquecidos raios o sabor da vitória, envolvendo tudo com sua
vida. O alvorecer em seu saudoso afeto, acaricia o distante paraíso, levando de seu amado seio em sua
brisa matinal o aroma da saudade, numa mensagem de consolo e esperança às criaturas sofredoras do vale
da morte.
Banhados pelos cálidos raios e pela brisa da esperança, o casal desperta em mais um sábado, cujo
simbolismo aponta para o descanso no reino de Deus, ao culminar o grande conflito entre a luz e as
trevas.
Para além daquele altar coberto de cinzas, Adão e Eva contemplam demoradamente o saudoso paraíso.
Ainda que distantes em seu exílio, alegram-se com a certeza de que o sacrifício do Messias fará raiar para
eles o sábado dos sábados: aquele de lágrimas para sempre banidas; de sol sempre a brilhar num límpido
céu; de cordeiros sempre vivos a brincar pelo gramado; dia sem anoitecer, quando não haverá mais altar
coberto de sangue e cinzas. Suspiram por esse dia de glória, quando Deus Se fará eternamente visível,
levando nas mãos as marcas de Seu infinito amor pelos Seus filhos.
Adão e Eva que estavam acostumados às flores eternas no paraíso, aquelas que não as viram desabrochar,
viam-nas agora surgirem em tenros botões, em meio às ameaças de espinhos prontos a ferirem. Essas
tenras flores, sem importarem-se com os espinhos, exalavam perfumes suaves de louvor e gratidão,
jamais se cansando de agradar o ambiente. Quando fustigada pelos ventos frios da noite, essas flores não
se ressentiam, mas ofereciam seu aroma, que transformava a fúria dos ventos em brisas perfumadas de
um alvorecer.
Movidos por profunda gratidão, o casal acompanhava atentamente o ministério de amor daquelas flores
que, jamais se cansavam de abençoar, oferecendo sua beleza e perfume como alívio para aqueles que
eram feridos pelos rudes espinhos.
Aquelas flores singelas e puras, depois de mostrar em sua curta vida que o perdão e o amor são mais
fortes que todos os ventos e espinhos, num último esforço de comunicar alegria, exalavam seu perfume,
tombando murchas e sem vida sobre o solo frio. Ali, esquecidas, transformavam-se em insignificante pó
que era espalhado pelo vento.
A morte das flores, ainda que parecesse fracasso, revelou ao casal o mistério do renascimento da vida:
Morrendo, as flores davam vida aos frutos que, por sua vez, depois de servirem de alimento, doavam suas
sementes cheias de vida. Na morte dessas sementes, renascia o milagre da vida, multiplicando as árvores
com suas flores prontas a repetir o ensinamento do amor e do sacrifício.
A natureza, portanto, embora maculada pelo pecado, revelava o mistério oculto do plano da redenção.
Cada flor a desabrochar em meio aos espinhos, em sua curta vida de amor, era um símbolo do Salvador
que nasceria entre os espinhos da maldade, para com o seu perfume consolar o coração dos aflitos.
Semelhante à flor, o Messias depois de provar que o amor e o perdão são mais fortes que todos os ventos
do ódio; que a verdade e a justiça do reino de Deus são maiores que todos os enganos e injustiças do reino
do inimigo, verteria a seiva de sua vida, morrendo para redimir os culpados.
Consolados pelas revelações da natureza, Adão e sua companheira, aprendiam a cada dia a amar mais o
Salvador. Cresciam em sabedoria, humildade e santidade. Todas as virtudes destruídas pelo pecado,
renasciam no coração.
A colina, sob a proteção dos anjos da luz, tornou-se numa miniatura do Éden distante. Entre os animais
reunidos e domados com amor, haviam muitas ovelhas. Na noite que antecedia cada sábado, Adão tinha,
por ordem do Criador, de repetir o doloroso ato. Quanta amargura e arrependimento sobrevinham ao casal
ao baixarem as trevas da noite do sacrifício! Quanto consolo lhes trazia a chama do perdão que jamais
deixara de brilhar sobre o altar.
O decisivo valor do sacrifício, para que a vida pudesse florescer sob a proteção divina, levou o casal a
valorizar imensamente o seu pequeno rebanho. Cada sexta-feira, contudo, passou a trazer consigo, além
da dor, uma inquietação: - Quem doará seu sangue ao altar quando a última ovelha perecer?
Aos olhos do casal maravilhado, aconteceu enfim o milagre do amor, renovando-lhes a esperança de
viverem outras semanas sob o brilho da chama do perdão: uma ovelha, a mais gorda delas, passou a
sangrar como em sacrifício; De sua dor, nasceram-lhes quatro cordeirinhos.
Cheios de alegria e gratidão, Adão e Eva prostraram-se ante o Salvador invisível, tendo nas mãos aquelas
novas criaturinhas que traziam em seus olhos a mesma meiguice e disposição para o sacrifício.
Seguros de que novos milagres multiplicariam seus dias, o casal uniu sua voz como outrora, num cântico
de gratidão e adoração ao Criador que, como os cordeirinhos nasceria também da dor para cumprir em
sua vida o maior de todos os sacrifícios, para salvação da humanidade.
O Eterno, embora invisível aos olhos de Seus filhos humanos, permanecia bem próximo, acompanhado
por um exército de anjos, em incansável ministério de cuidado e proteção. O casal estava inconsciente de
que a doce calma e paz reinantes naquela colina, bem como toda a sua prosperidade, eram frutos de tão
intensa luta. Se os seus olhos fossem abertos para as cenas que ocorriam invisíveis, ficariam tomados de
espanto; Quão terrível era o inimigo e suas hostes em suas constantes investidas com o propósito de
arruinar o ser humano, arrebatando-o das mãos do Criador.
Depois de contemplar os de cordeiro, Deus fitou o casal com ternura, revelando-lhes algo que os
surpreendeu e alegrou:
- Quando desses cordeiros trinta e seis houverem subido ao altar, os vossos braços envolverão o
primeiro filho que, como eles surgirá também da dor. Esse filho em sua infância lhes trará alegria
saltando como os cordeirinhos em vosso lar. Devereis instruí-lo com dedicação nas leis da harmonia,
mostrando-lhes o caminho da redenção. Como vocês, ele será livre para escolher o rumo a seguir.
Aceitando o ensinamento, sua vida será vitoriosa; rejeitando-o, caminhará para a derrota.
Adão e Eva ouviram com alegria a promessa divina, mas ao mesmo tempo experimentaram no profundo
do ser um temor ao conscientizar-se da responsabilidade que teriam. Sabiam que Satã faria todos os
esforços para levar a criança prometida à perdição. Era noite alta quando o Criador, depois de acariciar
seus filhos, os deixou adormecidos sobre o gramado macio.
Depois da promessa, cada cordeirinho levado ao altar fazia pulsar mais forte no ventre materno a
esperança da alegria que em breve alcançariam. Trinta e seis finalmente baixaram às trevas cumprindo o
tempo determinado pelo Criador em que a primeira criança receberia a luz.
Com as mãos ainda manchadas pelo sangue do sacrifício, Adão amparou sua esposa que, aos pés do altar
prostrou-se vencida pela dor que lhe trouxe o primeiro filho. A pequena criança não trazia na face a
alegria da liberdade, mas o choro de sua prisão; Esse pranto duraria a noite inteira, não fosse o brilho
daquela chama aquecida de esperança que, logo atraiu a atenção de seus olhinhos atentos. Envolvendo-o
com alegria, Eva consolada de seu sofrimento, disse: "Alcancei do Senhor a promessa". Deu-lhe então o
nome de Caim.
Depois de envolver o filhinho com as peles macias de um cordeiro, o casal permaneceu acordado a
meditar. Muitos eram os pensamentos que ocupavam suas mentes: pensamentos de alegria, de gratidão,
de esperança e de anseio pelo senso da responsabilidade que agora pesava sobre seus ombros.
Acariciando com ternura a pequena criança, o casal amadureceu em sua experiência, compreendendo
melhor o misterioso amor de Deus que, para salvar Seus filhos, dispôs-Se a morrer em lugar deles.
Adão e Eva não estavam sozinhos em suas reflexões: todos os seres inteligentes do Universo
consideravam com interesse sobre o futuro daquele indefeso bebê que no íntimo trazia um reino de
dimensões infinitas, a ser disputado pelos dois poderes em luta.
Vendo a criança esboçar o seu primeiro sorriso, o casal subitamente lembrou-se da promessa do Criador
que era confirmada em cada sacrifício : Ele nasceria da mulher como criança, com a missão de redimir a
humanidade. Não seria Caim já o cumprimento da promessa? O infante com seus olhinhos brilhantes de
alegria se parecia tanto com os cordeirinhos que nasciam e cresciam com a missão de serem sacrificados!
Considerando assim, o casal apertando o filhinho junto ao peito começou a chorar sem consolo. Quão
terrível, seria oferecer seu filhinho inocente ao rude altar!
Para o casal compungido pela dor, surgiu em fim o brilhante sol fazendo reviver com seus cálidos raios as
promessas que apontavam para um Salvador que, ainda no futuro, nasceria também da dor para cumprir o
eterno plano de redenção.
Abençoada pelo Criador e envolvida pelo amor e cuidado dos pais, a criança se desenvolvia em sua
natureza física e mental, tornando-se a cada dia alvo maior de uma incansável batalha entre as hostes
espirituais.
Adão e Eva, ansiosos por fazê-lo compreender as verdades da salvação, tomavam-no nos braços a cada
alvorecer e, à beira do altar lhe apontavam o Éden distante, contando aquelas histórias de emoção as quais
o pequeno Caim ainda não conseguia compreender. Qual foi a alegria daqueles pais, ao vê-lo numa
manhã de sol, apontar com a mãozinha para o lar da saudade, pronunciando o nome sagrado do Criador.
Emocionados tomaram-no nos braços, pedindo-o para repetir esse sublime nome que, qual chave de
felicidade, sempre descerrava-lhes um paraíso de eterno amor.
Todas as hostes da luz inclinaram-se com alegria ao ouvir a pequena criança pronunciar o nome do divino
Rei.
As semanas iam se passando trazendo consigo novas vítimas para o altar, e o pequeno Caim, alvo da
atenção e cuidado de Deus, das hostes da luz e daqueles amantes pais incansáveis na missão de instruí-lo,
agrupando suas poucas palavras, sempre curiosos com tudo passou a interrogar.
O dia declinava quando o menino, que jazia ao colo de sua mãe, perguntou-lhe:
- Mamãe, por que o sol sempre vai-se embora, deixando a gente no frio da escuridão?"
Eva, surpresa contemplou seu filho, sem encontrar palavras para responder-lhe a indagação que trouxelhe
à lembrança o passado de felicidade destruído por sua culpa. Após um momento de silêncio, beijando
a face do pequeno Caim, disse-lhe:
- Filhinho, um dia o sol virá para ficar, trazendo em seus raios um mundo só de harmonia; já não
haverá animaizinhos a brigar, nem cordeirinhos a morrerem sobre o altar" Caim, insatisfeito com as
palavras da mãe, demonstrou não ter paciência para aguardar esse dia que jazia em distante futuro.
Repetia em pranto:
- "Eu quero o sol hoje , amanhã não!"
Eva, pacientemente, procurou acalmar seu filho, falando sobre a luz de Deus, que pode tornar a noite em
dia. Ele o amava e poderia encher seu coraçãozinho de brilho, de alegria e paciência. Poderia assim,
aguardar feliz o dia de seus sonhos.
Balançando a cabecinha em rejeição ao consolo da mãe, Caim proferiu entre soluços: -"Eu quero o sol
porque eu posso vê-lo, ao Eterno não".
Como uma seta dolorosa as palavras de rebeldia de Caim penetraram no coração de Eva, fazendo-a chorar
amargamente. Uma tristeza infinita pairava sobre o coração do Criador rejeitado. Esboçavam-se nos
gestos de Caim os primeiros passos pelo caminho descendente da rebeldia. Quantos o seguiriam rumo à
morte!
Inconsciente da tristeza que abatera-se sobre o reino da luz, Adão, ao ver o sol declinar no horizonte,
deixou seu trabalho no campo rumando-se para casa. Tinha um cântico no coração ao caminhar para mais
um encontro com os seus.
Ao aproximar-se do altar, viu junto dele sua companheira prostrada em pranto. O pequeno Caim jazia
também ali a chorar. Tomando-o nos braços, Adão perguntou-lhe com anseio: -"O que aconteceu meu
filho?" Caim tristemente respondeu: -"Mamãe deixou o sol ir embora"
Amparando o filho com seu braço esquerdo, Adão pousou sua mão direita sobre o ombro de Eva, mas não
encontrou palavras para consolá-la. A frase dita por seu filhinho, pareceu rasgar-lhe o coração, fazendo-o
reviver a queda.
Depois de refletir, Adão sentindo-se culpado respondeu para Caim: -"Foi o papai quem deixou o sol ir
embora meu filho!".
Com soluços de grande tristeza, Adão uniu-se a eles no pranto. A lembrança do Salvador, contudo, o
consolou. Enxugando suas lágrimas e as de seu filhinho, disse-lhe com ternura: -"Podemos nos alegrar
filhinho ,pois Deus prometeu fazer o sol para sempre brilhar no céu; ele será como o fogo que surge no
altar, banindo as trevas da noite".
Com os olhinhos voltados para o último clarão do arrebol, Caim permaneceu sem consolo.
Naquele entardecer, não houve como de costume um alegre jantar. A pequena família, entristecida,
permaneceu a meditar por longas horas, até sonolentos adormecerem sob a luz das estrelas.
O inimigo e suas hostes, em sarcasmo de maldade zombaram naquela noite do sofrimento de Deus e Seus
fiéis. Repetindo as palavras de rebeldia do pequeno Caim, ufanava-se como vencedor. Num desafio ao
Criador pronunciou : - Veja como esse meu pequeno escravo te rejeita! O mesmo se dará com todos
aqueles que hão de nascer. Estou certo de que o direito de domínio jamais sairá de minhas mãos.
Todas as hostes rebeldes repetiram em eco as afrontas do enganador, humilhando os súditos da luz que
sofriam do lado do Eterno.
Com suas afrontas, o inimigo procurava fazer Deus desistir de Seu plano de redenção. Se isso
acontecesse, seu reino de trevas se estenderia por toda a eternidade , suplantando o domínio da luz.
Em resposta ao desafio do inimigo, o Eterno afirmou solenemente : - Ainda que todos me rejeitem , Eu
cumprirei a promessa.
O Criador não suportava o pensamento de ver o pequeno Caim caminhar para a perdição. Por ele
intercedia a cada dia, oferecendo ante a justiça o Seu sangue que verteria. Anjos poderosos guardavam-no
a cada momento, espancando as trevas espirituais que o acercavam procurando torná-lo insensível aos
benefícios da salvação , que eram ilustrados pelos símbolos.
Adão e Eva em seu incansável ministério de amor, todos os dias ensinavam a Caim as lições espirituais
ilustradas na natureza. Em cada sábado procuravam firmar em sua mente juvenil a esperança de uma vida
eterna, que seria fruto do sacrifício do Salvador. Ele, depois de viver uma vida sem pecado, morreria
como um cordeiro , para poder expulsar para sempre as trevas.
A contemplação do Éden distante banhado em sol fez nascer no coração juvenil de Caim pensamentos de
aventura. Ele começou a pensar : "Este paraíso não está tão longe como afirmam papai e mamãe. Por que
esperar e sofrer tanto tempo?! Ele é tão belo! É dele que surge todos os dias o sol! Se o conquistarmos,
será fácil deter a luz em sua nascente; Assim viveremos num paraíso de eterno sol.
As idéias de aventura de Caim, enchiam o coração de Adão e Eva de tristeza. Viam que seu interesse era
somente pelo tempo presente; ele sonhava com um paraíso de felicidade e luz conquistado por sua força.
Em seus planos, não sentia necessidade de um Salvador; - Para que, se era tão jovem, inteligente , cheio
de vida e ideais?- dizia
Os dias de lutas, intercessões e sacrifícios pelo destino de Caim foram se passando. Oportunidades
preciosas surgiam em cada dia diante dele para se apegar ao Salvador, mas a todas rejeitava, uma por
uma. Em sua incredulidade chegou a duvidar da existência desse Deus, o qual jamais vira. Aos pais que,
aflitos mas sempre com paciência, procuravam livrá-lo da perdição para a qual estava caminhando,
prometeu um dia , após sorrir com ar de incredulidade, crer no Criador e em Seu plano de salvação, caso
Ele se tornasse visível na hora do sacrifício.
Com ardente fé, aqueles pais passaram a clamar ao Eterno. Sua presença visível poderia, quem sabe,
salvar aquele filho querido que a cada dia tornava-se mais rebelde.
O Criador ouviu o clamor dos pais aflitos. Embora soubesse que Sua aparição dificilmente quebraria no
coração do jovem Caim seu espírito rebelde, estava disposto a cumprir o pedido. Estenderia os braços
amigos a Caim, procurando com amor conquistar-lhe o coração. Como conhecia os seus anseios e sonhos
de aventura, facilmente poderia identificar-Se com ele, cativando-o, pois era também Alguém que sempre
carregara no peito sonhos de aventura; Não fora a criação do Universo uma grande aventura?! Não fora o
Seu sonho vê-lo cravejado de sóis fulgurantes, iluminando bilhões de mundos com o seu brilho?! Não era
também o Seu maior atravessar o vale da morte, em busca da conquista do Éden distante, prendendo para
sempre o Sol em seu céu?! Tinham muita coisa em comum!
Caim estava curioso naquela sexta-feira. Na face dos pais, via ânimo e alegria, frutos de uma fé
grandiosa. Incentivado por essa expressão de confiança, o jovem passou a ajudá-los nos preparativos para
o santo sábado.
O Sol finalmente esquivou-se rolando para o poente, deixando como de costume seu rastro de saudade
que anunciava medo. Em meio às trevas, Caim discerniu o vulto branco do cordeiro sendo erguido para o
altar pelas mãos do pai - esse incansável sacerdote que sempre estava implorando ao Criador pela
salvação de seu amado filho.
Com a mão erguida, Adão preparava-se para o golpe que poderia, quem sabe, quebrar no coração de Caim
sua incredulidade, fazendo nascer num só momento a crença na salvação. De seus lábios escapa-se então
a prece da fé: - Pai Eterno, ouve o meu pedido; Meu filho precisa de Ti! Somente um olhar Teu poderá
conquistá-lo. Venha Senhor!!
Esta oração sincera caiu nos ouvidos daquele filho, comovendo-o. Somente a prece já seria suficiente
para convencê-lo da existência real de um Salvador.
Um forte brilho envolveu logo toda a colina banhando também o vale oriental .Os olhos arregalados de
Caim pousaram então nos olhos amáveis do Criador, que trazia na face um brilho superior ao do sol, mas
não ofuscante. Contemplando-O com admiração, Caim exclamou: - Ele é jovem como eu, e se parece
com o Sol!
Adão e Eva, comovidos pela grande saudade tinham vontade de saltar ao peito do Salvador e beijá-Lo,
mas deixaram que Ele Se encontrasse primeiro com Caim. Com alegria , viram o precioso filho envolvido
nos braços do grande amigo, que era parecido com o seu astro.
Depois de longo abraço, Deus abraçou e beijou também o querido casal, companheiros no sofrimento.
Caim, conquistado pela afeição do Pai Eterno, mostrou-Lhe seus animais de estimação e seu pequeno
jardim carregado de lindas flores. Como estava encantado por vê-los coloridos naquela noite desfeita pelo
brilho do Criador, como sob a luz do dia! Parecia até mesmo que o Sol baixara a eles.
Ao pensar no Sol, Caim, como o amava muito, passou a falar sobre ele dizendo:
- Como ele é belo e bom! Quando ele vai-se embora, deixa em suas lágrimas de sangue um sentimento
de tristeza e temor. Tudo desaparece em sua ausência : os animais, o jardim; até os passarinhos
silenciam os seus cantos! ...Mas basta ele dizer que vai aparecer, tudo se enche de encanto; A
natureza se desperta de mansinho, parecendo ainda temer as trevas, mas quando as vê fugir , fica
alerta e canta; Os animais, os passarinhos, o jardim,... tudo volta a viver feliz! Mas, esta felicidade
sempre acaba!!!
Após falar estas palavras, Caim fitando o Criador indagou curioso:
- Papai sempre diz que foi você quem criou o Sol. É verdade?
Com um sorriso de sinceridade Deus respondeu-lhe que sim
- Quando Você o fez no princípio, continuou Caim, ele já fugia para o poente?
- Ele nunca foge, respondeu o Eterno, é o mundo quem foge dele. Ele fica triste com essa ingratidão!
- Mas como? Perguntou Caim, contemplando curioso Sua face de luz.
Com palavras carinhosas, Deus passou a contar-lhe a história de Lúcifer que, em sua ingratidão baniu de
seus olhos e dos olhos de uma multidão de criaturas, o brilho de Sua face - o Verdadeiro Sol. Depois de
assim agir, iludiu a muitos dizendo que foi o Sol quem fugiu deles. Com sua astúcia, continuou o Criador,
o anjo rebelde procurou arrastar o ser humano para as trevas, e conseguiu. O Sol naquele dia, chorou
tantas lágrimas de sangue, que banhou todo o céu. Em seu último suspiro de luz, porém, ele prometeu ao
mundo já tomado pelas trevas, voltar um dia a brilhar para sempre, enchendo todo o seu seio de vida.
Após falar-lhe estas palavras, o Eterno fitando aquele jovem, com expressão de tristeza nos olhos
concluiu dizendo: - Hoje, o anjo rebelde promete a seus seguidores que irá com sua força deter o sol, mas
ele jamais conseguirá realizar esse plano, pois não possui o laço que poderá detê-lo: o amor.
Cabisbaixo, Caim ouviu dos lábios do Criador essa história de promessas, a qual já se cansara de ouvir de
seus pais. Essa história não lhe dava prazer, pois mostrava uma noite longa de sacrifícios sobre o altar, e
de um Salvador a perecer em dor. Em realidade, Caim não via razões para tudo isso. Por que não banir
logo o sofrimento colorindo as trevas de luz?!
Num esforço para conquistá-lo, o Eterno com muito amor fitou aquele jovem insatisfeito, e disse-lhe que,
somente o sangue de Seu sacrifício poderia fazer o Sol para sempre brilhar, num reino de eterna felicidade
e paz. Não havia outro caminho para essa conquista. Por isso, deveria ser paciente, descansando-se sob o
Seu cuidado.
Após conversar por longo tempo com Caim, na tentativa de fazê-lo reconhecer sua necessidade de
salvação, Jeová voltando-Se para o casal, passou a consolá-los com a promessa do nascimento de outro
filho. Mais trinta e seis sacrifícios seriam contados, e seus braços envolveriam o segundo filho. Nasceria
também da dor, mas traria nos olhos o brilho e o consolo da salvação. O seu testemunho de fidelidade
ficaria perpetuado por todas as gerações, no símbolo de um altar coberto de sangue.
As semanas iam se passando, trazendo ao casal novas de alegrias e tristezas : de um coração cheio de vida
a pulsar no ventre de Eva, e de um vazio com cheiro de morte a crescer no coração do jovem Caim. Ainda
que ele tenha ficado deslumbrado ante a manifestação de Deus, em nada essa aparição mudou-lhe sua
maneira arrogante de pensar sobre o sentido da vida. Ele não via sentido nos sacrifícios oferecidos no
altar. Nos dias que seguiram o seu encontro com o Criador, ele argumentava com os seus pais dizendo:
- Se eu fosse poderoso como o Eterno, eu jamais me submeteria ao sacrifício para reconquistar o reino
perdido. Ele é forte, e brilha como o sol. Ele poderia com uma só palavra expulsar todas as trevas,
devolvendo-nos o paraíso. Para que tanto sofrimento?! Com essa argumentação, Caim supunha-se mais
sábio que o Criador. Quem sabe, num próximo encontro teria oportunidade de aconselhá-Lo.
Dessa forma, o jovem Caim aprofundava-se cada vez mais no abismo do orgulho e do egoísmo - lugar de
ilusões para onde se ia, pensando estar caminhando para a vitória. Não fora Lúcifer juntamente com um
terço das hostes celestes atraídos por essa mesma ilusão?! O bondoso Deus , todavia, não selaria o destino
de Caim sem antes procurar de todas as formas salvá-lo da ruína eterna. Essa graça imerecida, fruto do
divino amor, seria concedida a todo o ser humano que viesse a nascer neste mundo.
LIVRO DE
MELQUISEDEQUE
Livro de Malquisedeque
Primeira parte
A História de um Vaso
Capítulo I
Eu estava descansando sob a sombra do Carvalho de Mambré, junto à tenda, quando vi chegar
apressadamente um dos servos de meu sobrinho Ló. Quase sem fôlego, ele passou a relatar-me sobre a
tragédia: houvera no dia anterior uma batalha entre as cidades da planície, envolvendo quatro reis contra
cinco. Como resultado, Sodoma fora derrotada e muitos de seus habitantes levados cativos, entre eles o
meu sobrinho Ló. A notícia deixou-me muito aflito, pois ao mesmo tempo em que sentia que precisaria
sair em seu socorro, via-me frágil, sem nenhuma possibilidade de me sair vitorioso.
Sempre fui um homem pacífico e detesto aqueles que derramam sangue. Tenho muitos servos, mas
poucos sabem manejar espadas e lanças, pois desde a infância são treinados como pastores. Em lugar de
espadas, eles manejam bordões com os quais conduzem os rebanhos. Em lugar de escudos, carregam
vasos em suas cinturas, sempre cheios de água fresca para matarem sua sede e refrigerarem as ovelhas
cansadas. Em lugar de vinho para se embebedarem, carregam presos em seus cintos pequenas botijas com
o azeite das oliveiras, com os quais untam as feridas do rebanho. Em lugar de ressonantes trombetas eles
sopram pequenos chifres, com os quais convocam o rebanho para o curral.
Imaginando como seria um combate entre os meus servos e os exércitos daqueles cinco reis vitoriosos,
comecei a rir. Enquanto gargalhava, a voz d’Aquele que sempre me guia, soou aos meus ouvidos,
dizendo:
- Abraão, Abraão! Não menosprezes os instrumentos dos pastores, pois santificados pelo fogo do
sacrifício, haverão de conquistar o grande livramento.
O Eterno passou a dar-me ordens, fazendo-me avançar pela fé, sem saber como tal livramento haveria de
se realizar. O primeiro passo foi a convocação de todos os pastores que, deixando seus rebanhos,
dirigiram-se ao Carvalho de Mambré, trazendo seus instrumentos pastoris. Eram ao todo 600 pastores.
Ordenei que eles esvaziassem os jarros, colocando neles o azeite da botija. Depois de cumprirem esta
ordem, pedi que tomassem cada um a lã de uma ovelha, misturando-a com o azeite dos jarros.
Depois de transmitir todas as ordens aos pastores, o Eterno falou-me:
Toma
agora o teu vaso, o teu único vaso, e traga-mo a mim para que eu te mostre o que deves
fazer”.
Tínhamos na tenda três jarros adquiridos na cidade de Harã; Nos dois menores, guardávamos o azeite
para as lâmpadas, e no terceiro que era o maior e mais bonito, guardávamos pérolas e pedras preciosas,
jóias reunidas por Sara ao longo de nossas peregrinações. Julgando ser o terceiro jarro o escolhido,
estendi as mãos para toma-lo, mas o Senhor impediu-me de faze-lo, afirmando que, ainda que ele fosse
portado de riquezas que seriam essenciais para o livramento, Ele escolhera um jarro especial – aquele que
fora rejeitado e esquecido. Lembrei-me do grande jarro de barro que nos fora presenteado por um
humilde oleiro, quando estávamos próximos de Canaã. Nós o pusemos inicialmente ao lado dos três, e
nele colocamos os primeiros frutos colhidos na terra prometida. Não havendo, contudo, nenhuma beleza
nele, Sara o rejeitou, lançando-o para fora da tenda. Sete anos depois, o oleiro visitou-nos e, ao encontrálo
abandonado junto à tenda, mostrou-nos uma maneira em que ele poderia ser útil. Amarrando-o
firmemente com uma corda de linho, lançou-o ao fundo do poço; por meio dele, os pastores passaram a
tirar água para os rebanhos.
Seguindo as orientações do Eterno, dirigi-me ao poço, fazendo emergir de suas profundezas o jarro
esquecido; Ao vê-lo repleto de água, lembrei-me do momento em que ele fora lançado ali, vazio e seco.
Depois de esvaziá-lo, o Eterno ordenou-me transferir para ele o azeite dos dois jarros menores bem como
as jóias do terceiro. Como sobrara muito espaço vazio no jarro, o Eterno ordenou completá-lo com azeite
novo de oliva. Ao concluir essa tarefa, o Senhor mandou-me fazer um longo pavio de lã, devendo ficar
uma de suas pontas mergulhada no azeite e a outra suspensa sobre o vaso.
Depois destas coisas, o Eterno ordenou-me a acender o pavio com o fogo do altar. Ao aproximar-me do
fogo sagrado que ainda ardia sobre o sacrifício da manhã, uma pequena fagulha saltou para o pavio, e
pouco a pouco foi-se alimentando do azeite, até tornar-se numa labareda que podia ser vista de longe.
Capítulo II
Com o vaso nos ombros, comecei uma longa caminhada rumo às cidades da planície, sendo acompanhado
pelos pastores. Logo começaram a surgir escarnecedores que, ao verem-me com aquele vaso
incandescente em pleno dia, passaram a dizer que eu ficara louco. Ao espalhar esta notícia, muitos vieram
ao meu encontro, aconselhando-me a retornar para a tenda, abandonando aquele jarro que seria capaz de
destruir a boa reputação que eu havia conquistado entre eles. Quando eu lhes falei sobre os exércitos e
sobre minha missão juntamente com os pastores, eles concluíram que de fato eu ficara louco. Tentaram
tirar-me o vaso pela força, mas, agarrando-me a ele, impedi que o tirassem de mim.
Envergonhados diante de tudo aquilo, muitos pastores começaram a afastar-se: alguns retornaram para
suas tendas, enquanto outros, uniram-se àqueles que riam de meu comportamento estranho. Sentindo-me
sozinho com aquele pesado vaso sobre os ombros, comecei a angustiar-me. Ansiava encontrar alguém
com quem pudesse compartilhar minha experiência, mas todos lançavam-me olhares de reprovação.
Lembrei-me de Sara, minha amada esposa. Em obediência à voz do Eterno, havíamos trilhado por muitos
caminhos, estando ela sempre ao meu lado, animando-me a prosseguir mesmo nos momentos mais
difíceis. Com certeza Sara me traria consolo e forças para continuar firme, conduzindo o jarro da
salvação. Enquanto avançava pelo caminho pensando em Sara, ela surgiu no meio da multidão. Ao
dirigir-me a ela, fiquei surpreso e desalentado ao notar em seus olhos o mesmo menosprezo daqueles que
zombavam de mim.
Lembrando-me da ordem do Criador de que teria de libertar meu sobrinho Ló, fui andando sozinho pelo
caminho. Ao colocar-me no lugar daqueles que me achavam louco, eu dava-lhes razão, pois, em
condições normais, nenhuma pessoa sai de casa, sem rumo definido, levando em pleno dia um vaso com
uma labareda, afirmando estar marchando contra o exércitos de cinco reis. Realmente parecia se tratar de
uma grande loucura. Mesmo assim, a despeito de todas as humilhações e palavras contra mim, eu
avançava rumo ao vale. Toda aquela zombaria foi finalmente diminuindo à medida em que me distanciava
do Carvalho de Mambré.
Começaram a sobrevir ao meu coração muitas dúvidas quanto ao meu futuro. Ficava às vezes aflito com o
pensamento de que toda a minha experiência, desde a convocação dos pastores até aquele momento,
poderia ser, de fato, demonstração de insanidade. Cheio de dúvidas, comecei a pensar na possibilidade de
abandonar à beira do caminho o jarro, retornando para a tenda. Esses eram os conselhos de alguns
pastores e amigos que, condoídos de minha solidão, ainda vinham ao meu encontro, aconselhando-me a
retornar. Ali, diziam, eu poderia conquistar novamente a confiança dos pastores, voltando a ser, quem
sabe, até mesmo um sacerdote honrado como antes. Sobre o altar, diziam, havia um fogo muito maior do
que aquele que eu carregava sobre os ombros. Estava a ponto de retornar, quando Sara veio ao meu
encontro, contando-me sobre o desprezo que muitos pastores lançavam contra mim. Ela estava
consternada, pois toda aquela desonra recaía também sobre ela, ao ponto de não sentir mais desejo de
permanecer junto ao altar.
Depois de alertar-me, Sara passou a falar-me de um plano: poderíamos, quem sabe, nos mudar para uma
cidade distante, onde esqueceríamos todo aquele vexame. Esquecendo-me da voz que me mandara seguir
rumo à planície, respondi que eu estaria disposto a acompanhá-la para qualquer lugar, se ela permitisse
que eu levasse aquele jarro; Ele seria o nosso altar, aquecendo e iluminando nossas noites com sua chama.
Ao ouvir sobre o vaso, Sara ficou novamente irada, afirmando não entender minha teimosia em continuar
levando sobre os ombros aquele símbolo de vergonha e desprezo. Depois de dizer-me tais palavras,
voltou-me as costas, retornando para a tenda.
Capítulo III
Angustiado por não poder agradar Sara, prossegui rumo ao futuro incerto, sendo orientado unicamente
pela chama, cujo brilho aumentava à medida em que as trevas adensavam-se. Comecei a meditar sobre
aquele fogo que me acompanhava com seu brilho e calor. Eu estava acostumado a ver o Fogo Sagrado
entronizado sobre o altar de pedras, em meio aos louvores de muitos pastores, entre os quais me
destacava como mestre e sacerdote. Naqueles momentos de adoração, eu me vestia com os melhores
mantos, e fazia questão de realizar o sacrifício somente quando todos os meus servos estivessem reunidos
ao meu redor, para que ouvissem meus conselhos e advertências. Na hora do sacrifício, eu erguia minha
espada desembainhada e, com palavras amedrontadoras, proclamava a grandeza do Senhor dos Exércitos,
o Deus Todo Poderoso que domina sobre os Céus e a Terra. Vibrando a espada num movimento
ameaçador, eu representava diante de meus pastores a imagem de um Deus severo, que está sempre
pronto a revidar qualquer afronta. Depois dessa demonstração de soberania e poder, eu tomava uma
ovelha das mãos de um pastor, e a amarrava sobre o altar. Para que ficasse patente a ira divina, eu pisava
sobre o seu pescoço, golpeando-a severamente, até vê-la perecer. Depois eu descia do altar e ficava
esperando pelo Fogo Sagrado que jamais deixou de manifestar-se sobre o sacrifício.
Eu aprendera desde a infância a reverenciar o Fogo Sagrado, crendo ser ele uma revelação visível do
Eterno, o Grande Deus Invisível. Até então, eu o vira como um Fogo Único e Indivisível. Agora, ao
transportar em humilde jarro a chama que se desprendera do Altar, meus pensamentos agitavam-se com o
surgimento de um novo conceito sobre o Criador: o conceito de um Deus Sofredor que é capaz de
desprender-se do grande Ser representado pelo Fogo, para acompanhar o pecador em sua jornada.
Arrependido, prostrei-me diante do jarro e chorei amargamente. Estava consciente de que todo o zelo
demonstrado junto ao Altar, tinha por finalidade a exaltação de meu orgulho, e não do amor daquele que
me acompanhava pelo caminho. Subitamente, gravou-se-me na mente a convicção de que aquela pequena
chama que se desprendera do Fogo Sagrado, era uma representação do Messias prometido, que Se
desprenderia do Eterno para ser Deus Conosco, companheiro em todas as nossas jornadas. Ao sobrevirme
esta convicção, a chama alegrou-se, tornando-se mais brilhante e calorosa. Com o coração
transformado, prossegui pelo caminho rumo ao vale, levando sobre os ombros o jarro que me trouxera
depois de tanto desprezo, a alegria de uma nova compreensão sobre o caráter do Criador.
Momentos difíceis começaram a surgir em minha caminhada, quando ventos frios vindos do Mar Morto
começaram a arremeter-se contra a pequena chama, procurando apagá-la. Eu a amparava com o meu
corpo, andando muitas vezes de lado e mesmo de costas, mas sempre avançando rumo ao vale. Ao romper
a luz do dia, achei-me a um passo da planície. Comecei então a encontrar pelo caminho muitos rebanhos
que eram conduzidos por rudes pastores. À medida em que avançava entre eles, ocorriam tumultos e
confusões, pois muitas ovelhas e cabras assustavam-se com a chama de meu jarro, debandando-se por
todas as partes. Isto fez com que a maioria dos pastores ficassem irritados com a minha presença em seu
meio. Sabendo que não poderia ficar retido naquele vale, prossegui rumo a Sodoma.
Enquanto avançava, começou a acontecer algo interessante: muitas ovelhas, meigas e submissas,
começaram a acompanhar-me. Eram poucas a princípio, mas pouco a pouco seu número foi aumentando,
até que passei a andar com dificuldade, devido ao grande número de ovelhas que me seguiam. Ao longe
eu podia ver os pastores, enfurecidos, pela perda de suas ovelhas mais bonitas. Ao chegar à cidade de
Sodoma, encontrei-a vazia e devastada. Seguindo os rastros deixados pelos exércitos e pela multidão de
cativos, fui me aproximando cada vez mais do alvo de minha missão. Ao chegar à campina de Dã, pude
avistar ao longe o grande acampamento dos soldados, ao pé de um outeiro. Sem pressa, encaminhei-me
para lá, conduzindo o meu novo rebanho. Do alto do monte, pude observar o acampamento em toda a sua
extensão. Havia ali milhares de soldados comemorando a vitória. Enquanto isso, centenas de cativos
jaziam amontoados no meio do arraial, humilhados e sem esperança. Diante desse quadro, fiquei
imaginando como poderia se dar o livramento.
Minha presença despertou curiosidade em alguns soldados que, ao ver-me com o vaso fumegante,
aproximaram-se. Quando me perguntaram sobre o motivo de minha presença naquele lugar, eu disse-lhes
que viera libertar meu sobrinho Ló. Minhas palavras tornaram-se motivo de muitos gracejos em todo o
acampamento. Depois disso, passaram a escarnecer de Ló. Em pouco tempo, toda aquela zombaria
transformou-se em gritos de vingança, e proclamaram que, na manhã seguinte, todos os cativos seriam
exterminados, começando pelo meu sobrinho.
Capítulo IV
Enquanto eu tentava imaginar o que o Eterno poderia fazer para alcançar o livramento, vi surgir ao longe
o vulto de pastores que se encaminhavam em minha direção, vindos de Sodoma. Pensei a princípio que
fossem os pastores inimigos que vinham arrancar-me o rebanho conquistado com amor. Tal receio logo
desapareceu dando lugar a um sentimento de muita alegria, quando descobri que eram os meus pastores
fiéis. Ele foram aproximando-se em pequenos grupos de doze, até alcançarem o total de 300 pastores. Ao
olhar para eles, pude notar em seus semblantes os sinais de uma grande luta espiritual que tiveram de
enfrentar, para estarem do meu lado. Contaram-me da experiência de muitos companheiros que,
desanimados, haviam lançado fora o azeite e a lã de seus vasos, retornando para as suas tendas. Falaramme
de como, na noite anterior, haviam aprendido a amar a luz de meu jarro, que para eles tornara-se como
uma estrela que os guiava na escuridão.
Alegrava-me com a presença de meus humildes pastores, quando vieram em nossa direção Aner, Escol e
Manre, acompanhados por 15 homens armados; Eram eles fiéis amigos que, conhecendo os perigos que
enfrentaríamos naquele vale, vieram socorrer-nos. Para que não atrapalhassem o plano divino, pedi-lhes
que permanecessem escondidos até o alvorecer, quando receberiam orientações sobre como participar da
missão. Comecei a orientar os pastores, seguindo as instruções da voz divina que soava de dentro da
chama: A primeira tarefa dos pastores seria cuidar do rebanho até o anoitecer. Ao retornarem, ordenei que
amarrassem os novelos de lã embebidos em azeite na ponta de seus bordões, colocando-os dentro dos
jarros que deveriam ser mantidos suspensos de boca para baixo. Passei a incendiá-los com o fogo de
minha labareda, até que as trezentas tochas ficaram ardendo, mas, ocultas no interior daqueles vasos.
Ordenei a quarenta de meus corajosos pastores que, no momento indicado por um sinal, deveriam avançar
silentes para o meio do acampamento, circundando todos os cativos que jaziam amontoados no meio do
arraial. Ao mesmo tempo, os 260 pastores restantes deveriam circundar todo o acampamento, aguardando
pelo sinal de quebrarem os vasos com os chifres. Orientado pela voz da chama, indiquei-lhes os sinais:
quando a última tocha se apagasse no acampamento, deveriam ficar atentos, pois uma pequena lamparina
seria acesa por um dos cativos. Assim que a lamparina começasse a arder, deveriam correr cada um para o
seu lugar, evitando qualquer ruído para que não fossem notados. O sinal para quebrarem os vasos com os
chifres, erguendo bem alto a tocha, era o apagar da lamparina.
Depois dessas orientações, os 260 pastores, ocultos pelas sombras da noite, espalharam-se pelo vale, e
ficaram esperando pelo momento de se posicionarem ao redor do acampamento. Enquanto isso, os 40 se
posicionaram próximos a uma passagem vulnerável, através da qual haveriam de alcançar os cativos. Já
era alta noite quando a tocha do último soldado apagou-se, sobrevindo completa escuridão e silêncio
sobre o arraial. Entre os cativos, havia um homem que naquela noite vivia a maior angústia de sua vida.
Era o meu sobrinho que, depois de tornar-se alvo de tantos abusos e humilhações, tomara conhecimento
do castigo que os aguardava pelo alvorecer. Naquela noite, Ló tinha seus pensamentos voltados para o seu
tio. Lembrava-se com arrependimento do momento em que me deixara, mudando-se para as campinas de
Sodoma. Em seu desespero, sentiu desejo de rever minha face e pedir-me perdão por ter-se afastado de
mim. Justamente naquele momento, Ló foi atraído pelo brilho de uma tocha que ardia sobre o outeiro. Ao
fitar o brilho, imaginou estar tendo uma visão, pois o mesmo revelava-lhe a face de seu querido tio.
Querendo mostrar-me o seu rosto, Ló apalpou em meio às trevas, até encontrar uma pequena lamparina
que trouxera em seu alforje. Frustrado, percebeu que não havia nela nenhum azeite. Concluiu que a
lâmpada apagada e seca era um símbolo de sua vida vazia e sem fé. Sem desviar os olhos de meu rosto
iluminado pela chama do jarro, num desesperado gesto de fé, Ló apalpou o pavio de sua lamparina,
descobrindo nele um resto de azeite. Curvando-se, passou a ferir as pedras do fogo, até que uma faísca
saltou para o pavio. Sem que soubesse, Ló estava comandando, com seus gestos, os passos para um
grande livramento.
Os trezentos pastores ao verem o tênue brilho da lamparina, encaminharam-se rapidamente para os seus
postos e ficaram aguardando o apagar da pequena chama. Desde o momento em que Ló erguera-se com
sua diminuta chama, fiquei olhando para os seus olhos que fitavam os meus. Vi que sua face trazia sinais
de indizível angústia e maus tratos. Mesmo assim pude ler em seus olhos que a esperança e a fé ainda não
o haviam abandonado.O foguinho de sua lamparina, contudo, não resistiria por muito tempo. Era
necessário que se apagasse, para sinalizar a grande vitória. Quando a escuridão voltou a cobrir a face de
Ló, meus trezentos pastores arremeteram os chifres contra os vasos que mantinham ocultas as tochas
ardentes. Um forte ruído, como de cavalaria em combate, ecoou por todas as partes, enquanto as tochas
eram suspensas pelos bordões. Os trezentos chifres, usados até então para conduzir o rebanho, soavam
agora como trombetas de conquistadores.
Todo o acampamento despertou num único salto e, sem saberem como escapar de tão terrível investida
que partia de fora e de dentro, os soldados começaram a lutar entre si, enquanto meus pastores
permaneciam em seus lugares, fazendo soar os chifres. Os cativos ficaram muito espantados a princípio,
mas pouco a pouco foram tomando consciência do grande livramento que estava se operando em seu
favor. Quando amanheceu, revelou-se aos nossos olhos um cenário de completa destruição. Todo o arraial
estava coberto por milhares de corpos rasgados pelas próprias espadas e lanças. Somente uns poucos
conseguiram fugir daquele acampamento de morte, mas foram perseguidos pelos meus 18 aliados que
estavam armados, sendo alcançados em Hobá, situada à esquerda de Damasco. Enquanto isso, os cativos,
agora libertos, recuperavam todas as riquezas que haviam sido saqueadas pelos inimigos.
Capítulo V
Do cimo do outeiro, enquanto eu vibrava com a alegria dos cativos naquela manhã de liberdade, ouvi a
voz do Eterno falando-me do meio da chama:
Este
livramento que hoje se concretiza, representa o livramento que hei de operar nos últimos dias,
salvando os remanescentes de teus filhos, do cerco de numerosas nações que se aliarão a Gog com o
propósito de destruí-los. Naquele dia em que triunfarem sobre o meu povo, a minha indignação será
mui grande, e contenderei com ele por meio da peste, do fogo e do sangue; chuva inundante,
grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os muitos
povos que estiverem com ele. Assim, eu me engrandecerei, vindicarei a minha santidade e me darei a
conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que eu sou o Senhor. E sobre a casa de Davi e sobre
os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito de Graça e de Súplicas; olharão para Mim a quem
traspassaram, prantear-me-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por mim como se
chora amargamente pelo primogênito. Naquele dia, haverá uma fonte aberta para a casa de Davi e
para os habitantes de Jerusalém, para remover o pecado e a impureza.(1).
A chama que para mim tornara-se uma representação do Messias prometido, apagou-se no momento em
que desci ao encontro dos pastores e dos muitos cativos agora libertos. Cheios de alegria e de admiração,
todos queriam saber como tornara possível tão grande livramento, somente com a utilização daquelas
tochas e chifres. Falei-lhes da importância daquele fogo que se desprendera do Altar, para libertá-los
naquele vale, identificando-o com o Messias Salvador. Ao ver que todos carregavam em seus corpos e
mantos a sujeira da escravidão, convidei-os a seguirem-me até o rio Jordão, onde poderiam banhar-se
para purificação de seus pecados, pois aquele era o Yom Kipur, o dia do perdão. Somente três pessoas
atenderam ao convite: Ló e suas duas filhas mais novas. Os demais retornaram contaminados para suas
casas.
Antes de partir, o rei de Sodoma veio ao meu encontro, prometendo dar-me todas as riquezas recuperadas
naquela manhã. Eu recusei sua oferta, para que jamais alguém possa dizer que eu me enriqueci com
aquele saque. Permanecemos acampados às margens do rio Jordão, nas proximidades de Jerico por quatro
dias. Naqueles dias de descanso, todos ficaram livres das impurezas, deixando-as nas águas do Jordão.
Esse era um preparo especial para nossa subida a Salém, onde comemoraríamos a vitória nos dias de
Sukot.
Cheios de alegria, iniciamos uma caminhada ascendente rumo à cidade de Salém, inconscientes da feliz
surpresa que nos aguardava. Eu seguia à frente tendo ao meu lado Ló e suas duas filhas, e atrás vinham os
300 pastores, conduzindo o grande rebanho. À medida em que avançávamos, comecei a notar que o meu
jarro tornara-se muito pesado. Ao baixá-lo, fiquei surpreso ao descobrir que estava repleto de pérolas e
pedras preciosas de variados tamanhos e brilhos. Ao avistarmos ao longe a alva cidade, começamos a
ouvir sons de uma grande festa. Acordes harmoniosos repercutiam pelos montes, enquanto avançávamos
pelo caminho. Minha curiosidade em conhecer aquela cidade e o seu jovem rei era imensa, pois muito já
ouvira sobre sua grandeza e fama. Tratava-se de um reino diferente, onde os súditos eram treinados não
no manejo de arcos e flechas, mas no domínio de instrumentos musicais. Melquisedeque, o seu jovem rei,
regia a todos com um cetro muito especial: um alaúde, pelo qual pagara um preço elevado.
Enquanto crescia em mim a alegria por estar nos aproximando da cidade do grande Rei, vimos uma
multidão vestida de linho fino, puro e resplandecente, saindo ao nosso encontro. Todos tangiam
instrumentos musicais e cantavam um hino de vitória. À frente da multidão vinha um jovem tocando um
alaúde, trazendo na fronte uma coroa repleta de pedras preciosas, que brilhavam sob a claridade do sol
poente. Eu tive a certeza de que aquele era o tão aclamado rei de Salém.
Ao nos encontrarmos, ficamos surpresos com a saudação que nos fizeram. Inclinando-se diante de mim,
Melquisedeque afirmou:
Bendito
és tu Abraão, servo do Deus Altíssimo, que possui os Céus e a Terra; e bendito seja o Deus
Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos (2).
Capítulo VI
Surpresos pela festiva recepção, fomos introduzidos na cidade, onde a beleza das mansões e jardins nos
causou muita admiração. Tudo ali era puro e cheio de paz. Salém estava em festa, pois teria início naquele
entardecer a festa de Sukot. Fomos recebidos no palácio real, edificado sobre o monte Sião. Ali, uma
nova surpresa nos aguardava: a grande sala do trono estava toda adornada com representações de nossa
vitória sobre os inimigos. Havia no centro uma mesa muito comprida, coberta por toalhas de linho fino
adornadas com fios de ouro e pedras preciosas. Sobre a mesa estavam 304 coroas, cada uma trazendo a
inscrição do nome de um vencedor. Num gesto que novamente nos surpreendeu, Melquisedeque, tomando
as coroas, começou a colocá-las na cabeça de cada um de nós, começando por Ló e suas filhas.
Estávamos todos admirados pelo fato do rei de Salém conhecer-nos individualmente, e por Ter preparado
aquelas coroas muito antes de sermos vencedores. Eu observava a alegria de meus companheiros
coroados quando, tomando uma coroa semelhante à sua, o rei de Salém dirigiu-se a mim com um sorriso.
Ao levantá-la sobre minha cabeça, notei algo que até então não havia percebido: suas mãos traziam
cicatrizes de profundos ferimentos. Vencido por um sentimento de gratidão, prostrei-me aos seus pés e,
comovido, beijei suas bondosas mãos, banhando-as com minhas lágrimas.
Ao levantar-me, perguntei-lhe o significado daquelas cicatrizes. Com um meigo sorriso, ele prometeu
contar-me a história daquele próspero reino, e do quanto lhe custara a sua paz.
Depois de coroar-nos, Melquisedeque nos fez assentar ao redor da grande mesa, e passou a servir-nos pão
e vinho. A partir daquele momento, passamos a honrá-lo como sacerdote do Deus Altíssimo. Num gesto
de gratidão, tomei o jarro que se enchera de pérolas e o coloquei aos pés do rei. Tomando-o nos braços,
ele passou a acariciá-lo sem atentar para o brilho das jóias. Expressando gratidão por aquela oferta, ele
disse-me que aceitaria o jarro; Quanto às pérolas e pedras preciosas, ele aceitaria somente o dízimo delas.
Imediatamente passei a contar as jóias, separando as mais belas para o rei. Havia um total de 1440, das
quais lhe entreguei 144. Ele as guardou cuidadosamente em uma caixinha de ouro puro, em cuja tampa
havia lindos adornos marchetados de pedras preciosas. Depois de receber o dízimo que simbolizava o
grande livramento operado por Deus na planície, Melquisedeque chamou para junto de si um de seus
súditos que era mestre em adornos e pinturas, ordenando-lhe embelezar o jarro com uma linda gravura
que retratasse o momento em que eu o ofertei. Enquanto o jarro era pintado, Melquisedeque passou a
contar-me a história de seu reino, desde sua fundação até aquele momento em que estávamos
comemorando a grande vitória sobre os inimigos.
Ao devolver-me o jarro, agora honrado pela mais bela gravura e inscrições que exaltavam a justiça e o
amor, o rei de Salém ordenou-me levá-lo com aquelas jóias. Durante seis anos eu e meus pastores
deveríamos contar para todos a história daquele jarro que transportara a chama vitoriosa do altar. A todos
aqueles que, com arrependimento, aceitassem a salvação representada por sua história, deveríamos
oferecer uma pedra preciosa ou pérola. Ao fim dos seis anos, as jóias acabariam. Já não haveria
oportunidade de salvação. Sobreviria então o sétimo ano, no qual haveria um tempo de grande angústia e
destruição, quando somente existiria proteção para aqueles que possuíssem as jóias. Por essa ocasião, as
cidades da planície seriam totalmente destruídas pelo fogo do juízo, e os demais povos impenitentes,
seriam dizimados por terríveis pragas.
Capítulo VII
Depois de revelar-nos sobre os sete anos que ainda restavam, dentro dos quais teríamos uma missão
importante a cumprir, Melquisedeque nos afirmou que nossa experiência consistia numa parábola que
representa a história universal, com ênfase no livramento dos filhos de Israel nos últimos dias. Ele o
previu com as seguintes palavras:
Ao
chegar a plenitude dos tempos, todos os esforços humanos em busca da paz se frustrarão.
Naquele tempo, numerosas nações se aliarão contra o reino de Jerusalém, e sobrevirá um tempo de
angústia qual nunca houve para os filhos de Israel. Depois de um terrível conflito, verão numerosos
exércitos invadindo sua terra, numa aparente vitória. No momento mais difícil, quando as suas
forças estiverem esgotadas, o Eterno intervirá em Seu favor, lançando por terra os numerosos
inimigos.(3)
Toda
a humanidade testemunhará, com espanto as cenas de livramento. Naquele dia, muitos povos e
poderosas nações se posicionarão ao lado do Senhor dos Exércitos. Naquele dia acabará a cegueira
dos filhos de Jacó, e olharão para Aquele a quem traspassaram, e chorarão amargamente por ele
como se chora por um filho unigênito. Naquele dia os eleitos de Deus compreenderão as palavras do
Livro:
Ouvi-
me, vós, que estais à procura da justiça, vós que buscais o Eterno. Olhai para a rocha da qual
fostes cavados, para a caverna da qual fostes tirados. Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara,
aquela que vos deu a luz. Ele estava só quando o chamei, mas eu o abençoei e o multipliquei. O
Senhor consolou a Sião, consolou todas as suas ruínas; ele transformará o seu deserto em um Éden
e as suas estepes em um jardim. Nela encontrarão gozo e alegria, cânticos de ações de graças e som
de música.(4)
Naquele
dia os habitantes de Jerusalém trocarão suas armas por instrumentos musicais e os
remidos, consolados pela grandiosa revelação de Deus, com alegria cantarão:

Como são belos, sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas
novas e anuncia a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina! Porque o Eterno consolou o seu
povo, ele redimiu Jerusalém. O Senhor descobriu o seu braço santo aos olhos de todas as nações, e
todas as extremidades da terra viram a salvação do nosso Deus.(5)
O
grande livramento se cumprirá no início de uma nova semana de anos, ao fim de um ciclo
determinado envolvendo dez jubileus. Durante seis anos, toda a humanidade, iluminada pela maior
revelação do amor e da justiça de Deus, terá oportunidade de romper com o império do pecado,
unindo-se aos filhos de Israel em sua marcha de purificação e restauração do reino da luz. Então
acontecerá que todos os sobreviventes das nações que marcharam contra Jerusalém, subirão, ano
após ano, para prostrar-se diante do Rei e Senhor dos Exércitos, e para celebrar a festa de Sukot. E
acontecerá que aquele das famílias da Terra que não subir e não vier, haverá contra ele a praga com
que o Eterno ferirá as nações que não subirem para celebrar a festa de Sukot.(6).
Naqueles
anos de oportunidade, soará por todas as partes do mundo o último convite de
misericórdia, num apelo para que todos os pecadores se arrependam e se unam ao Criador numa
eterna aliança .Por todas as partes se ouvirá o brado divino:
Observai
o direito e praticai a justiça, porque a minha salvação está prestes a chegar e a minha
justiça a manifestar-se. Bem-aventurado o homem que assim procede, o filho do homem que nisto se
firma, que guarda o sábado e não o profana e que guarda sua mão de praticar o mal. Não diga o
estrangeiro que se entregou ao Senhor: - Naturalmente Deus vai excluir-me do seu povo, nem diga o
eunuco: - Não há dúvida, eu não passo de uma árvore seca. Pois assim diz o Senhor aos eunucos
que guardam os meus sábados e optam por aquilo que é a minha vontade, permanecendo fiéis à
minha aliança: Hei de dar-lhes, na minha casa e dentro dos meus muros, um monumento e um nome
mais precioso do que teriam com filhos e filhas; hei de dar-lhes um eterno nome, que não será
extirpado. E, quanto aos estrangeiros que se entregarem ao Senhor para servi-lo, sim, para amar o
nome do Eterno e tornarem-se servos seus, a saber, todos os que se abstêm de profanar o sábado e
que se mantêm fiéis à minha aliança, trá-los-ei ao meu santo monte e os cobrirei de alegria na minha
casa de oração. Os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão bem aceitos no meu altar. Com
efeito, a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.(7)
Na
última semana de anos, os filhos de Belial se aliarão contra os filhos da Luz, e os acusarão como
causadores de toda a desarmonia no mundo. Em oposição à santificação do sábado que é o sinal da
aliança entre Deus e seus escolhidos, muitas nações imporão outro dia para o culto, não podendo
comprar nem vender todos aqueles que se mantiverem fiéis à aliança do Eterno.(8)
Ao
fim dos seis anos, o rolo se fechará e não haverá mais oportunidade de salvação. Desprotegidos,
os ímpios sofrerão os juízos divinos que se manifestarão nas sete últimas pragas. Desesperados,
muitos correrão de um lado para o outro em busca da mensagem do rolo, mas não a encontrarão.
Durante o sétimo ano, os escolhidos de Deus passarão por grandes provas, pois serão condenados
pelas nações como os causadores de todo o caos que sobrevirá ao mundo em conseqüência dos
juízos.(9)
Ao
consumarem-se os sete anos, o Messias se manifestará nas nuvens do céu, acompanhado por
todas as hostes celestes, para salvação de seu povo. Ao tocar Sua trombeta, os fiéis falecidos
ressuscitarão revestidos de glória; os vivos vitoriosos serão transformados num abrir e fechar de
olhos, recebendo corpos perfeitos. Juntos, todos os remidos serão arrebatados para a Nova e Eterna
Jerusalém, numa viagem inesquecível que começará no primeiro dia da festa de Sukot. Depois de
sete dias de feliz ascensão, chegarão à Cidade Santa para comemorarem, diante do trono ,no oitavo
dia da festa, a grande vitória. Como que a sonhar, os resgatados do Senhor entrarão na Cidade
Santa, encontrando ali o jardim do Éden, no meio do qual eleva-se o monte Sião, o lugar do trono de
Deus. Coroados pelo Messias, os remidos entoarão o cântico da vitória, fazendo vibrar por todo o
espaço os acordes de incontáveis instrumentos musicais. (10)
Capítulo VIII
Depois de proferir todas essas predições, Melquisedeque disse-nos novamente que toda a experiência que
estávamos vivendo era prefigurativa, e teríamos de cumprir ainda importantes tarefas nos próximos sete
anos: Durante seis anos a história do jarro deveria ser contada aos pecadores, dando-lhes a oportunidade
de arrependerem-se, apossando-se das jóias que simbolizam salvação; ao fim dos seis anos, na véspera de
Rosh Hashanah as pérolas acabariam, ficando fora do abrigo todos aqueles que não a receberam.
Ao ouvir tais palavras do rei de Salém, sobreveio-me grande angústia, por lembrar-me dos últimos passos
de Sara. Eu temia que ela, em sua incredulidade, não aceitasse uma pérola. Se isto acontecesse, os meus
lindos sonhos cairiam por terra, pois não conseguiria ser feliz em sua ausência. Lendo nos meus olhos a
angústia, Melquisedeque consolou-me com uma promessa:
Abraão,
daqui a seis anos o Eterno visitará sua tenda, e sua esposa será curada de sua aridez. Ela
se converterá e lhe dará um filho que se chamará Isaque.
Ao findar a festa de Sukot, retornamos às nossas tendas junto ao Carvalho de Mambré. À medida que
íamos avançando pelo caminho, muitas pessoas nos cercavam, admirados pela beleza do vaso repleto de
pérolas. A todos contávamos a história de sua chama redentora, e dávamos as jóias àqueles que aceitavam
a salvação. Quando chegamos ao Carvalho de Mambré, uma multidão de pessoas nos esperava. Muitos
tinham ouvido falar do miraculoso livramento operado através daquele jarro que fora alvo de tanto
menosprezo. Agora, estavam todos emudecidos ao vê-lo glorificado.
Juntamente com os meus pastores, continuamos a proclamar o infinito amor de Deus revelado pela
chama. O número daqueles que procuravam pelas pérolas ia aumentando, dia após dia, e todos éramos
felizes. Melquisedeque enviou-nos muitos de seus súditos que eram mestres em música, para realizarem
uma missão importante. Eles apresentavam a história de seu reino de paz por meio de lindos cânticos que
exaltavam o poder da humildade e do amor. Sua música tinha o poder de transformar corações infelizes,
dando-lhes esperança e alegria em viver. Para que se propagasse a influência restauradora da música de
Salém, eles ensinavam a muitos a cantarem tocarem flautas e alaúdes, enviando-os depois de certo tempo
como mensageiros de sua missão de paz.
Os dias, os meses e anos foram-se passando, e as pérolas e pedras preciosas foram diminuindo dentro do
jarro. Estávamos vivendo agora os últimos meses do sexto ano, que era o último da oportunidade. À
medida em que os dias se passavam, aumentava em meu coração uma preocupação e uma angústia, pois
Sara até então não tomara interesse em apossar-se de sua pérola, apesar de meus constantes rogos.
Naqueles momentos de aflição em que clamava a Deus pela salvação de Sara, meu único consolo eram as
últimas palavras do rei de Salém, de que ao fim dos seis anos ela seria transformada. Vivíamos agora os
últimos dias do sexto ano. A consciência de que o tempo estava se esgotando, fazia com que muitas
pessoas nos procurassem de manhã até à noite, para apossarem-se das jóias da salvação. Com o coração
ferido por uma indizível aflição, eu insistia com Sara, procurando convencê-la de sua necessidade em
tomar, o quanto antes, uma pérola, pois as mesmas estavam ficando escassas. Sem atentar para a minha
angústia, Sara desdenhava de meus apelos, afirmando que aquelas pérolas não tinham nenhum valor para
ela.
Capitulo IX
Depois de uma noite de vigília em que, desesperadamente, procurei em vão convencer minha amada a
apossar-se uma pérola, aceitando a salvação representada por aquele jarro, vi o sol surgir trazendo a luz
do último dia, véspera de Rosh Hashaná. Ao olhar para dentro do vaso naquela manhã, vi que restavam
apenas três pérolas. Ao admirar-lhes o brilho, comecei a imaginar que a maior seria para o meu filho
prometido, a de tamanho intermediário seria a de Sara, e a menor seria a minha. Esse pensamento trouxeme
alívio e esperança. Mas, ao mesmo tempo, comecei a preocupar-me com a possibilidade de chegarem
pessoas procurando por elas. Se viessem, eu não poderia negá-las.
Tomado por essa preocupação, permaneci sentado sob o Carvalho de Mambré. Na viração do dia,
sobreveio-me um grande estremecimento quando vi ao longe três peregrinos que caminhavam rumo à
nossa tenda. Comecei a clamar ao Eterno para que eles mudassem de rumo, mas meus clamores não
foram atendidos. Dominado por uma indizível amargura, corri até eles e, depois de prostrar-me, convideios
para a sombra. Tomando uma bacia com água, passei a lavar-lhes os pés, limpando-os da poeira do
caminho. Ao ver os pés feridos e calejados daqueles homens, senti compaixão por eles. Compreendi que
haviam vindo de muito longe, enfrentado perigos e desafios, com o propósito de pegarem em tempo as
pérolas. Vi que eles eram mais merecedores que eu, Sara e nosso filho prometido.
Ao lavar os pés do terceiro, meu coração que, até então estava aflito, encheu-se de paz e alegria.
Imaginava naquele momento, quão terrível seria se aquele terceiro peregrino não houvesse se unido aos
dois primeiros naquela caminhada. Nesse caso eu seria obrigado a tomar da última pérola, subindo sem
minha amada para Salém. Se eu tivesse de passar por essa experiência, a pérola que simboliza a alegria da
salvação, se tornaria num símbolo de minha solidão e tristeza, pois a vida longe do carinho de Sara, seria
para mim o maior castigo, como a própria morte.
Depois de lavar-lhes os pés, comecei a servir-lhes o alimento que foi especialmente preparado para eles.
Enquanto os servia em silêncio, fiquei esperando pelo momento em que eles perguntariam pelas pérolas.
Mas, sem revelar nenhuma pressa, eles falavam sobre a longa caminhada que fizeram, e sobre as cidades
por onde haviam passado. Eu perguntei-lhes se conheciam Salém. Eles responderam-me afirmativamente,
acrescentando que naqueles seis anos, muitas obras haviam sido realizadas naquela cidade, em preparação
para uma grande festa que estava para realizar-se dentro de mais um ano, por ocasião da festa de Sukot.
As palavras daquele terceiro peregrino, o mais falante deles, começaram a trazer-me, misteriosamente,
um sentimento de esperança. Ao olhar para os seus olhos, vi que ele se parecia com Melquisedeque.
Lembrava-me da última promessa feita pelo rei de Salém, quando o terceiro peregrino perguntou-me com
um sorriso:
Abraão,
onde está Sara, sua mulher?!
Atônito, perguntei-lhe:
Como
você sabe o meu nome e o nome de minha esposa?
O peregrino respondeu-me:
Não
somente sei o nome de vocês, como também sei que daqui a um ano vocês terão um filho que
será chamado Isaque.
Ao ouvir as palavras do visitante, corri para dentro da tenda a fim de chamar minha esposa, para que
ouvisse as palavras daquele peregrino. Ao vê-la, o peregrino perguntou-lhe:
Sara,
por que você riu de minhas palavras?
Assustada, Sara, respondeu:
Eu
não ri, meu Senhor!
Não
diga que não riu, pois eu a vi rindo dentro da tenda. Afirmou o peregrino.
Consciente de estar diante de alguém que conhecia o seu íntimo, Sara perguntou-lhe:
Quem
és tu Senhor?!
- Eu sou a Chama que se desprendeu do fogo do Altar para estar no jarro que você rejeitou! Eu sou o
Messias, o Deus que sofre humilhações e desprezo por amor ao seu povo!
Tendo feito esta revelação, o peregrino estendeu suas mãos sobre a cabeça de Sara para abençoá-la.
Somente então vi que elas estavam marcadas por cicatrizes semelhantes às do rei de Salém. O peregrino,
com muita ternura, começou a falar ao coração de minha amada, resgatando-a de sua incredulidade:
Sara,
você é preciosa aos meus olhos! Todo o seu passado de descrença e infertilidade está
perdoado! Tenho para você um futuro glorioso, pois você se tornará mãe de muitos povos e nações!
Depois de dizer estas palavras, o nobre visitante encaminhou-se para o jarro e, inclinando-se, tomou dele
as três pérolas restantes. Dirigindo-se a Sara, entregou-lhe duas pérolas, e disse-lhe:
- Uma é para você e a outra é para o seu filho Isaque.
Com a vida transformada pelo amor do Eterno, Sara prostrou-se agradecida aos pés daquele peregrino que
a salvara no último momento. Quando a vi prostrar-se submissa, meu coração por tantos anos aflito,
rompeu-se em lágrimas de alegria e gratidão, e caí aos pés de meu Redentor e Rei. Depois de consolarnos
com a certeza de nossa eterna salvação, o peregrino entregou-me a última pérola. Quando apertei-a
em minhas mãos, senti grande luz e paz inundar-me todo o ser, e passei a louvar ao Eterno pela certeza de
que teria para sempre ao meu lado minha querida Sara e o filho que, segundo a promessa, dentro de um
ano nasceria.
Capitulo X
Depois destas coisas, o Eterno despediu-se de Sara e dos pastores que ali se encontravam, e convidou-me
a acompanhá-los até o outeiro que fica defronte do vale. Ao chegarmos àquele lugar, o Eterno despediu-se
de seus dois companheiros, enviando-os para uma missão especial em Sodoma.
Do cimo do monte contemplávamos os férteis vales e florestas que, como um paraíso, estendiam-se em
ambas as margens do rio Jordão, circundando as prósperas cidades, dentre as quais destacavam-se
Sodoma e Gomorra.
Fora sobre aquela colina que, depois da contenda entre os meus pastores e os pastores de Ló, dei-lhe a
oportunidade de escolher o rumo a seguir, pois não poderíamos permanecer juntos. Atraído pelas riquezas
da campina, ele decidiu mudar-se para lá. Ao olhar para o meu companheiro que ficara silente desde o
momento em que avistamos a campina, fiquei surpreso ao vê-lo chorando. Perguntei-lhe o motivo de sua
tristeza, e Ele, soluçando, respondeu:
Este
é para mim um dia de muita tristeza, pois pela última vez meus olhos podem pousar sobre este
vale fértil. Choro pelos habitantes dessas cidades que não sabem que os seus dias acabaram!
A declaração do Messias trouxe-me à lembrança todos aqueles cativos que haviam sido libertos seis anos
antes. Infelizmente, quase todos rejeitaram o banho da purificação, retornando imundos para suas casas.
Unicamente Ló e suas filhas aceitaram a salvação, tomando posse de suas pérolas. Pensando numa
possibilidade de livramento para aquele povo, perguntei ao Eterno:
E
se por acaso existir, naquelas cidades, cinqüenta pessoas justas; mesmo assim elas serão
destruídas?
O Senhor disse-me que se houvesse cinqüenta justos, toda a planície seria poupada.
E
se houver 45 justos?
Se
houvesse ali 45 justos, todas aquelas cidades seriam poupadas.(11)
Continuei com minhas indagações até chegar ao número dez. O Eterno disse-me que, se houvesse dez
justos naquelas cidades, toda a planície seria poupada. Torturado por uma indizível agonia de espírito, o
Senhor voltou a chorar amargamente, enquanto com voz embargada, pronunciava um triste lamento:
Sodoma
e Gomorra, quantas vezes quis Eu ajuntar os seus filhos, como a galinha ajunta os seus
pintainhos debaixo das asas, mas você não aceitou minha proteção. Por que você trocou a luz da
minha salvação pelas trevas deste reino de morte?! Meus ouvidos estão atentos em busca de pelo
menos uma prece, mas tudo é silêncio! Minhas mãos estão estendidas, prontas a impedir o fogo do
juízo, mas vocês recusam o meu socorro!
Curvando-me ao lado de meu companheiro sofredor, uni-me a Ele na lamentação. Naquele momento de
dor, tive a certeza de que Melquisedeque também sofria por todos aqueles que haviam trocado o amor e a
paz de Salém pelas ilusões daquele vale de destruição. Depois de um longo pranto, o Messias consoloume
com a revelação de que os seus dois companheiros encontravam-se naquele momento em Sodoma,
com a missão de salvar Ló e suas filhas, livrando-os da morte. Suas palavras trouxeram-me alívio, e
prostrei-me agradecido aos seus pés.
Capitulo XI
Antes de partir, o Eterno encarregou-me de uma missão, dizendo:
Tome
um rolo vazio e registre nele a história do vaso e a história de Salém, conforme ouviu dos
lábios de Melquisedeque. Dentro de um ano, você e todos aqueles que aceitaram a salvação, deverão
subir à Salém para a festa de Sukot. Naquele dia, entregará ao rei de Salém o jarro, oferecendo
dentro dele, como presente, o rolo.
Naquela mesma tarde, em obediência às ordens do Senhor, comecei a registrar a história vivida por mim e
por meus pastores, desde o momento em que parti rumo ao vale, levando sobre as costas o vaso com sua
labareda. No dia seguinte, o sol já ia alto, quando, ao mencionar a cidade de Sodoma no manuscrito,
lembrei-me que aquele era o dia de sua destruição. Com o coração acelerado, corri para lá e fiquei
espantado com o cenário que se estendeu diante de meus olhos: em lugar daquele vale fértil, semelhante a
um paraíso, havia um deserto fumegante, sem nenhuma vida. No lugar das cidades de Sodoma e
Gomorra, havia uma cratera, para onde as águas do mar salgado escorriam.
Abalado ante essa visão de destruição, retornei à tenda com o coração entristecido. A lembrança de tantas
pessoas que, por rejeitarem o perdão divino, haviam sido consumidas pelo fogo, deixou-me
profundamente abalado. Nos dias seguintes, não encontrei forças para escrever. Retornei outras vezes ao
outeiro, com a esperança de que tudo aquilo fosse um pesadelo, mas em lugar do vale fértil eu somente
conseguia enxergar aquele caos.
Demorou vários dias para que eu voltasse a ter ânimo para prosseguir com os escritos do rolo.
Fim da primeira parte
Referências: (1)(Ezequiel 38; Zacarias 12: 10; (2) Genesis 14:18-24; (3)Jeremias 30:7-8; (4)
Isaias 51:1-3;(5)Isaias 52:7; (6)Zacarias 14:16-19; (7)Isaias 56:1-8;(8) Apocalipse13: 15-18;
(9)Apocalipse 15; Sonfonias 1:13-18; (10)S.Mateus 24:30,31; Apocalipse 14:1-5; 21:1-5; (11)
Gênesis
Livro de Malquisedeque
Segunda parte
A História de Salém
Capítulo I
Esta é a história de Salém, segundo ouvi dos lábios de Melquisedeque por ocasião da festa de Sukot,
cinco dias depois do livramento de Ló e suas filhas. Tudo começou com um sonho no coração de um
homem chamado Adonias. Ele possuía muitas riquezas, mas a nada prezava mais que a justiça e a paz que
nascem da sabedoria e do amor. Cansado com as injustiças que predominavam por toda a terra de Canaã,
Adonias resolveu edificar um reino que fosse regido por leis de amor e de justiça. O nome da capital
desse reino seria Salém, a Cidade da Paz. Os súditos de Salém não empunhariam arcos nem flechas, mas
seriam treinados na arte musical. Cada habitante de Salém teria sempre ao alcance de suas mãos um
instrumento musical, para expressar por meio dele a paz e a alegria daquele novo reino. Juntos formariam
uma poderosa orquestra na luta contra a desarmonia que nasce do orgulho e do egoísmo.
O primeiro passo de Adonias para a concretização de seu plano, foi elaborar as leis do novo reino, as
quais ele escreveu em um pergaminho. Os súditos de Salém não poderiam mentir, furtar, odiar, nem matar
seus semelhantes. O orgulho e o egoísmo eram apontados como causa de todo o mal, portanto, não
poderiam existir naquele lugar de paz. As leis do pergaminho requeriam a prática da humildade, da
sinceridade, da amizade, e, acima de tudo, do amor, que é a maior de todas as virtudes.
Depois de registrar no pergaminho as leis que regeriam aquele reino, Adonias passou a arquitetar Salém.
Seria uma cidade a princípio pequena, com habitações para mil e duzentas pessoas. Como lugar de sua
edificação, foi escolhida uma região alta de Canaã, ao ocidente do Monte das Oliveiras. Em pouco tempo,
a realização de Adonias começou a atrair pessoas de todas as partes que, de perto e de longe, vinham para
conhecer os palácios e as mansões que estavam sendo edificados. Admirados ante a beleza daquela cidade
tão alva, os visitantes perguntavam sobre quem seriam os seus moradores. Adonias mostrava-lhes o
pergaminho, dizendo que Salém destinava-se aos limpos de coração - aqueles que estivessem dispostos a
obedecerem suas leis.
Capítulo II
A edificação da cidade foi finalmente concluída, e Salém revelou-se formosa como uma noiva adornada,
à espera de seu esposo. Assentado em seu trono, Adonias examinava os numerosos pretendentes que
chegavam de todas as partes, desejosos em ser súditos daquele reino. Aqueles que, prometendo fidelidade
às leis eram aprovados, recebiam três dotes do rei: o direito a uma mansão, vestes de linho fino e um
instrumento musical no qual deveriam praticar.
A cidade ficou finalmente repleta de moradores. Cheio de alegria, Adonias convocou a todos para a festa
de inauguração de Salém, no decorrer da qual proclamou um decreto que determinaria o futuro daquele
reino, dizendo:
A
partir deste dia, que é o décimo do sétimo mês, seis anos serão contados, nos quais todos os
moradores serão provados. Somente aqueles que permanecerem leais, progredindo na prática das
leis do pergaminho, serão confirmados como herdeiros deste reino de paz. Aqueles que forem
enlaçados por culpas e transgressões serão banidos pelo juízo.
As palavras do rei levaram todos a um profundo exame de coração, e alegraram-se com a certeza de que
alcançariam vitória sobre todo o orgulho e egoísmo, que são as raízes de todos os males.
Adonias tinha um único filho a quem dera o nome de Melquisedeque. A beleza, ternura e sabedoria desse
filho amado haviam sido sua inspiração para a edificação de seu reino. Melquisedeque tinha doze anos de
idade, quando Salém foi inaugurada. Era plano de Adonias coroá-lo rei sobre os súditos aprovados, ao fim
dos seis anos. Este plano, ele o manteria em segredo até o momento devido.
O príncipe, com suas virtudes e simpatia, tornou-se logo muito querido de todos em Salém. Ele tinha
sempre nos lábios um sorriso e uma palavra de carinho. Apreciava estar junto aos súditos em seus lares,
recitando-lhes as leis do pergaminho em forma de lindas canções que vivia a compor. Sua presença trazia
ao ambiente uma atmosfera de felicidade e paz. Esse amado príncipe possuía, de fato, todas as virtudes
necessárias para ser rei de uma Salém vitoriosa.
Adonias edificara uma mansão especial junto ao palácio, com o propósito de ofertá-la ao súdito cuja vida
expressasse mais perfeitamente as leis do pergaminho. Diariamente ele observava os moradores,
procurando entre eles essa pessoa a quem desejava honrar. Passeava pelas alamedas de Salém, quando,
por entre o trinar de pássaros, Adonias ouviu uma voz semelhante a de seu filho. Ao voltar-se para ver
quem era, encontrou um belo jovem que cantarolava uma canção. Ao contemplar em sua face o brilho da
sabedoria e da pureza, Adonias alegrou-se por haver encontrado aquele a quem poderia honrar. Aquele
jovem, que era uma cópia fiel do príncipe, chamava-se Samael. Colocando-lhe um anel no dedo, o rei
conduziu-o ao palácio, onde foi recebido por Melquisedeque que ofereceu-lhe muitos presentes, entre os
quais o direito de estar sempre ao seu lado.
Adonias preparou um grande banquete em honra a Samael, para o qual todos foram convidados. Ao
contemplá-lo ao lado do rei, os súditos o aclamaram com alegria, acreditando ser ele o próprio príncipe.
Exaltavam com júbilo as virtudes daquele formoso jovem, quando revelou-se Melquisedeque,
posicionando-se com um sorriso à direita de seu pai. No banquete, Samael foi honrado por todos.
Realmente ele era digno de residir na mansão do monte, pois havia nele um perfeito reflexo das virtudes
que coroavam o amado príncipe.
Capítulo III
Salém crescia em felicidade e paz. Com alegria, os súditos reuniam-se a cada dia ao amanhecer para
ouvirem, cantarem e tocarem as sublimes composições de Melquisedeque, que inspiravam atos de
bondade e paz. Entre as amizades nascidas e fortalecidas em virtude da música harmoniosa, sobressaía
aquela que unia o príncipe a Samael. Desde que passara a residir na mansão do monte, Samael tornara-se
seu companheiro constante. Passavam longas horas juntos, meditando sobre as leis do pergaminho. Com
admiração, o súdito honrado via o filho de Adonias transformar aquelas leis em lindas canções. As doces
melodias nasciam dos seus lábios como o perfume de uma flor. Consciente da importância da música na
preservação da harmonia e paz em Salém, o príncipe, além do canto, passou a dedicar-se à música
instrumental, sendo o seu instrumento preferido o alaúde. Era por meio desse instrumento que conseguia
expressar com maior perfeição a riqueza de seu íntimo.
Dos seis anos de prova, cinco, finalmente, passaram. Adonias, feliz por ver que até ali todos os habitantes
de Salém haviam permanecido leais aos princípios contidos no pergaminho, convocou-os para um
banquete, no qual faria importantes revelações. Tendo tomado seus lugares diante do trono, os súditos,
com alegria uniram as vozes entoando os cânticos da paz, sendo regidos por Samael. Depois de ouvi-los,
o rei, emocionado, dirigiu-se a seu filho, abraçando-o em meio aos aplausos da multidão agradecida.
Todos reconheciam que a paz e a alegria em Salém eram em grande medida devidas ao amor e dedicação
do querido príncipe, que era o autor daquelas doces canções. Naquele momento de reconhecimento e
gratidão, Adonias revelou os seus planos mantidos até então em segredo. Com voz pausada, disse-lhes:
Súditos
deste reino de paz, minh’alma está repleta de alegria por contemplar nesse dia vossas faces
mais radiantes que outrora. Vossas vestes continuam alvas e puras, como quando as recebestes de
minhas mãos. A harmonia de vossas vozes e instrumentos hoje são maiores.
Tendo dito estas palavras, o rei acrescentou com solenidade:
Um
ano de prova ainda resta, ao fim do qual sereis examinados. Permanecendo fiéis como até aqui,
sereis honrados, confirmados como súditos deste reino de paz. Contudo, se alguém for achado em
falta, será banido, ainda que este julgamento nos traga muita tristeza e sofrimento.
As palavras do rei levaram os súditos a uma profunda reflexão. Todos, examinando-se, indagavam
reverentes:
Estaremos
aprovados?!
Certos de que seriam vitoriosos, pois amavam Salém e suas leis, uniram as vozes num cântico expressivo
de fidelidade. Ao terminarem o cântico, Adonias revelou-lhes seu grande segredo:
Aqueles
que forem aprovados, herdando este reino de paz, receberão como rei o meu filho, a quem
darei o trono glorificado dessa Salém vitoriosa.
A revelação do rei foi aclamada por todos com muito júbilo. Adonias, contudo, ainda não lhes revelara
todo o seu plano, por isso, pedindo-lhes silêncio, prosseguiu:
O
meu filho empunhará um cetro especial, no qual selarei todo o direito de domínio. Seu cetro,
simbolizando toda a harmonia, será um alaúde.
Diante desta revelação que a todos sensibilizou, o príncipe, prostrando-se aos pés de seu pai, chorou
motivado por muita alegria. Enquanto isto, todos o aplaudiam com euforia, ansiando ver o raiar desse dia
em que a paz seria vitoriosa. Adonias, chamando para junto de seu filho a Samael, concluiu dizendo:
No
governo dessa Salém vitoriosa, tenho proposto fazer de Samael o primeiro depois de
Melquisedeque. A ele será confiado o pergaminho das leis, devendo ser o guardião da honra desse
reino triunfante.
Capítulo IV
Samael, ao conhecer os planos de Adonias quanto ao futuro de Salém, encheu-se de euforia. Contemplava
agora risonho aquela cidade sem igual, imaginando seu futuro de glória. Considerando as palavras do rei,
de que ele seria o segundo no reino, deixou ser dominado por um sentimento de exaltação. Ele, que até
ali, em obediência às leis do pergaminho, vivera uma vida de humildade, começava a orgulhar-se de sua
posição. Em seu devaneio sentia-se junto ao trono, tendo os súditos de Salém a seus pés, aclamando com
louvores sua grandeza. Samael, totalmente dominado por esse sentimento, não dava por conta de que
estava sendo conduzido para um caminho perigoso. O orgulho que o seduzira estava gerando o egoísmo
que logo se manifestaria em cobiça.
Uma semana após a revelação de Adonias, os súditos promoveram uma festa em homenagem a
Melquisedeque, o futuro rei de Salém. Vendo-o aclamado por tantos louvores, Samael teve o coração
tomado por um estranho sentimento de inveja, fruto do orgulho e do egoísmo. Não podia suportar o
pensamento de ser deixado em segundo plano. Não era ele tão formoso e sábio quanto o príncipe?! Era
quase impossível disfarçar tal sentimento de infelicidade. Outrora, Samael encontrara indizível prazer nos
momentos em que, ao lado do príncipe, recitava as leis contidas no pergaminho, que eram transformadas
em lindas canções. Agora, tais momentos tornaram-se desagradáveis, pois aqueles princípios
contrariavam os seus ideais. Decidiu, contudo, não revelar seus sentimentos de revolta. Suportaria o
antiquado pergaminho até que, com sua autoridade, pudesse bani-lo do novo reino que seria estabelecido.
Não seria ele o guardião daquelas leis? Essa “vitória” procuraria alcançar mediante sua influência e
sabedoria.
Julgando poder influenciar o filho de Adonias com seus sonhos de grandeza, Samael aproximou-se dele
com euforia, e passou a falar-lhe das glórias do reino vindouro, onde os dois, cobertos de honras,
desfrutariam os louvores de uma Salém vitoriosa. Seriam eles os heróis do mais perfeito reino
estabelecido entre os homens. As delirantes palavras do súdito honrado trouxeram preocupação e tristeza
ao coração do jovem príncipe, pois não refletiam os ensinamentos de amor e humildade do pergaminho.
Vendo o seu íntimo amigo em perigo, Melquisedeque, com uma ternura jamais revelada, conduziu-o para
junto do trono, onde, tomando o pergaminho, passou a ler compassadamente os seguintes parágrafos:
O
reino de Salém será firmado sobre a humildade, pois esta virtude é a base de toda verdadeira
grandeza. A humildade é fruto do amor, sendo contrária ao orgulho, que pode manter uma criatura
presa ao pó, fazendo-a contentar-se com suas limitações, iludindo-a como se as mesmas fossem de
infinito valor. A humildade consiste no esquecimento de si, e este, numa vida de abnegado serviço
aos semelhantes.
Samael, esforçando-se para encobrir sua indignação ante a leitura do pergaminho que para ele era
ultrapassado, disse ao príncipe, em tom de conselho amigo:
Meu
bom companheiro, reinaremos numa Salém vitoriosa, que fulgurará muito acima deste
pergaminho, cujos princípios foram cumpridos fielmente nesses anos de prova. A plena liberdade
não será a glória de Salém? Pois saiba que, completa liberdade não coexistirá com estas leis, cujo
objetivo encerra-se ao fim dos cinco anos. Caberá a nós dois coroarmos Salém com a honra de uma
total liberdade, que gerará uma felicidade sem fim. Tal liberdade é impossível existir sob as
limitações do pergaminho.
O filho do rei ficou muito abalado ante as palavras de seu amigo, que evidenciavam loucura. Como
libertá-lo desse caminho de morte?!
Ninguém em Salém, além de Melquisedeque, conhecia a triste condição de Samael. Com paciência, o
príncipe procurava conscientizá-lo do real valor do pergaminho, cujas leis não podiam jamais ser
alteradas, pois isto seria o fim de toda a paz. Os conselhos do príncipe despertaram finalmente o seu
coração. Meditando sobre suas palavras, conscientizou-se de estar seguindo por um caminho enganoso.
Ao ver nos olhos daquele a quem tanto amava as lágrimas do arrependimento, o filho de Adonias alegrouse
com sua vitória sobre o orgulho e o egoísmo. Os dias que seguiram-se à libertação foram cheios de
realizações. O príncipe revelava-se ainda mais amigo, disposto a dar tudo de si para que seu companheiro
pudesse prosseguir triunfante no caminho da humildade. Naqueles dias de júbilo, foi dada a ele a honra de
conhecer o cetro que estava sendo moldado.
Num momento de descuido, Samael, que voltara a desfrutar paz de espírito, permitiu que seu coração
novamente ficasse possuído por um sentimento de grandeza, que fez desencadear nova tormenta em sua
alma. Esse sentimento misto de orgulho e cobiça lhe sobreveio no momento em que o príncipe mostravalhe
o dourado alaúde, no qual estava sendo impresso o selo de todo o domínio.
Capítulo V
De sua mansão Samael contemplava Salém em seu resplendor matinal. Vendo-a, qual noiva adornada à
espera de seu rei, cobiçou-a. Em seu delírio passou a formular planos de conquista. Já podia sentir-se
exaltado sobre o seu trono, tendo nas mãos o cetro precioso. Todos o aclamariam como o libertador da
opressão daquelas leis. Salém seria um reino de completa liberdade e prazer. Dominado por esta cobiça,
passou a maquinar planos de conquista. Samael decidiu agir subtilmente entre os súditos, levando-os a
ver no pergaminho um empecilho à real liberdade. Em sua missão de engano, agiria com aparente
bondade, revelando interesse pelo crescimento da felicidade de todos.
Pondo em prática seus planos, passou a visitar os súditos em suas mansões, falando-lhes das glórias do
reino vindouro, onde desfrutariam completa liberdade. Grande era a sua influência em Salém. Todos
admiravam sua beleza e sabedoria, tendo-o como um perfeito apóstolo da justiça e do amor. Ninguém
podia imaginar que, em meio àquela atmosfera de júbilo e gratidão, uma armadilha sutil estava sendo
colocada, nas garras da qual muitos poderiam cair por descuido. Em sua sedutora missão, Samael não
falava contra o pergaminho, aliás, louvava-o por haver exercido naqueles seis anos, prestes a findarem,
uma missão de prova. Em sua lógica, contudo, procurava mostrar que, no reino vindouro, quando todos
estivessem aprovados, estariam acima daquelas leis. Seus argumentos, aparentemente corretos,
preparavam-lhe o caminho para afirmar abertamente que, no novo reino, a existência do pergaminho seria
um entrave à concretização da verdadeira liberdade.
As sementes da rebelião lançadas por Samael não tardaram a germinar no coração de muitos em Salém.
Isto acontecia a seis meses do Yom Kipur, quando o destino de todos seria selado. Um terço dos
habitantes, seduzido pelo terrível engano, exaltava-o agora, em completo desprezo às leis e ao príncipe, a
quem julgavam ultrapassados. Adonias, que sofria ao ver o surgimento de toda essa rebeldia, convocou os
súditos para uma reunião de emergência. Na face de todos podia-se ver as contrastantes disposições. Com
voz compassiva, o rei passou a revelar-lhes, como jamais fizera antes, a grande importância das leis
registradas no pergaminho, mostrando que elas eram a base de toda a prosperidade e paz. Se tais leis
fossem banidas, toda felicidade e glória se extinguiriam, dando lugar ao caos.
Depois de mostrar a necessidade das leis, Melquisedeque, movido por um forte desejo de salvar aqueles a
quem tanto amava, ergueu diante de todos o pergaminho e, com voz cheia de bondade, ofereceu-lhes o
perdão e a oportunidade de recomeçarem no caminho da paz. Suas palavras a todos emocionou. Até
mesmo Samael ficou a princípio motivado, contudo, o orgulho impediu-lhe novo arrependimento. Desta
maneira, o súdito honrado, quando ainda podia olhar arrependido para o pergaminho, endureceu-se em
sua rebeldia, decidindo prosseguir até o fim. Esta decisão, todavia, não a manifestaria prontamente, pois
idealizara um traiçoeiro plano.
Ao findar o encontro da oportunidade, Samael convocou seus seguidores para uma reunião secreta, que
foi realizada sob o manto da noite, junto ao riacho de Cedrom, que fica fora dos muros de Salém. Após
maldizer o pergaminho e a todos aqueles que o defendiam, começou a falar-lhes de seus planos de
vingança e traição:
Como
vocês sabem, os seis anos da prova estão se esgotando, restando, a partir de hoje, vinte e
quatro semanas para o dia da coroação. Se vocês quiserem ter-me como rei em lugar de
Melquisedeque, poderei roubar-lhe o cetro, apoderando-me do reino.
Samael passou a explicar-lhes os lances da traição, dando-lhes as devidas orientações sobre a maneira de
agirem a partir daquela data:
Precisamos
manter uma aparência de fidelidade ao pergaminho e ao príncipe até que chegue o
momento de agirmos. O golpe será dado na noite que antecede o dia da coroação. À meia-noite,
furtivamente nos ausentaremos de Salém. Roubarei nessa noite o cetro e, juntos, fugiremos para o
profundo vale onde estão as cidades de Sodoma e Gomorra. Ali nos armaremos, e marcharemos
contra Salém, subjugando nossos inimigos. Acabaremos então com o pergaminho e com todos
aqueles que se recusarem prestar obediência ao nosso governo.
Capítulo VI
Sobrevieram dias de aparente tranqüilidade e paz. Samael, fingindo fidelidade, estava sempre ao lado do
príncipe, demonstrando admiração pelas suas novas composições que exaltavam as leis do pergaminho.
Os seguidores de Samael, da mesma maneira, uniam as vozes em louvores que expressavam a grandeza
dos princípios aos quais repugnavam. Melquisedeque, cheio de alegria por ver aproximar-se o dia de sua
coroação, ensaiava com os súditos os cânticos da vitória, os quais compusera especialmente para aquela
ocasião. Com felicidade falava a todos sobre seus sonhos em tornar Salém cada vez mais honrada por sua
beleza e harmonia. Samael, em sua maldade velada, zombava do príncipe. Já previa a dor que lhe traria o
golpe da traição.
Naqueles dias de aparente paz, o súdito rebelde procurou conhecer o lugar em que o cetro ficaria oculto
até o dia da coroação. O príncipe, sem nada desconfiar, revelou-lhe todo o segredo: a sala, o cofre com
seu enigma, o rico estojo e, finalmente o tesouro. Contemplando-o, o astuto Samael animou-se ao ver
estampado em seu bojo o selo do domínio. Compreendeu que aquele que o possuísse teria nas mãos o
reino de Salém. Somente alguns dias, pensou, e teria sob seu poder aquele instrumento precioso.
O sol declinou trazendo para Salém o dia que significaria vitória ou derrota. Pouco antes do anoitecer,
Samael deixara o palácio onde passara todo o dia ao lado do príncipe, ajudando-o nos preparativos para a
cerimônia da coroação. Dirigindo-se para sua mansão, saudou as trevas com um sorriso maldoso. Como
ansiara por aquela noite! Enquanto os fiéis, embalados pela emoção da feliz vitória, revisavam sob a luz
de candeias os adornos de seus instrumentos, de vestes e mansões, certificando-se que seriam aprovados
na manhã seguinte, Samael e seus seguidores faziam seus últimos preparativos para desferirem o golpe.
À meia-noite, seguindo as instruções de Samael, todos os seus seguidores abandonaram silentemente suas
mansões, rumando-se ao profundo vale de Cedrom, onde esperariam pelo seu novo rei. Samael, por sua
vez, dirigiu-se aos fundos do palácio, por onde esperava entrar sem ser notado, indo ao encontro do cetro.
Evitando qualquer ruído, transpôs o portal, dirigindo-se silentemente à sala que guardava o precioso
cetro.
Naquele momento, o príncipe que, insone rolava em seu leito, pressentindo algum perigo, dirigiu-se ao
quarto de seu pai e o despertou dizendo:
Meu
pai, ouvi ruídos de passos no interior do palácio.
Afagando a cabeça de seu filho, Adonias, sonolento respondeu-lhe:
Filho,
não se preocupe. Deite-se comigo e durma tranqüilamente. Daqui a pouco raiará o alvorecer
e você terá nas mãos o alaúde dourado.
O príncipe, tranqüilizado pelas palavras confiantes de seu pai, entregou-se a um sono de lindos sonhos em
que vivia ao lado de Samael e de todos os súditos de Salém, os momentos festivos da coroação. Enquanto
isso, o rebelde, com as mãos trêmulas, apossava-se do cetro. Naquele momento, teve a idéia de levar
somente o alaúde, deixando o estojo em seu devido lugar. Com um sorriso cheio de maldade, imaginou o
momento em que o rei entregaria ao seu filho aquele estojo vazio. Levando consigo o cetro, Samael
dirigiu-se apressadamente ao lugar em que seus seguidores o aguardavam. Ao encontrá-los, deu vazão a
todo o seu orgulho proclamando:
Agora
eu sou o rei de Salém. Quem possui um cetro como o meu? Com ele domino a terra e o mar. A
minha força está nas trevas, pois através delas o conquistei.
Festejando a vitória, a turba ruidosa afastou-se para distante de Salém, seguindo rumo às cidades
corrompidas da planície, onde pretendiam armarem-se para a conquista de seu reino.
O sol surgiu no horizonte, trazendo a luz do dia da expiação (Yom Kipur). Despertando de seu sono de
lindos sonhos, o príncipe apronta-se para a cerimônia do juízo e da coroação. Vestes especiais de linho
fino, adornadas com fios de ouro e pedras preciosas, foram-lhe preparadas. Depois de vestir-se,
Melquisedeque encaminhou-se para o encontro de seus súditos, na extremidade sul de Salém. Dali os
conduziria numa marcha festiva rumo ao palácio situado ao norte, sobre o monte Sião.
Adonias, fazendo soar um longo chifre, convocou a todos para a reunião do julgamento. Deixando suas
mansões, todos os remanescentes dirigiram-se para a praça do portão sul, levando consigo seus
instrumentos musicais. Ao encontrar-se com aqueles fiéis, Melquisedeque ficou surpreso pela ausência de
muitos. Esse mistério doía-lhe na alma, pois lhe ocultava a face mais querida de seu amigo Samael.
Deixando seus seguidores reunidos, o príncipe saiu à procura dos ausentes. Em sua busca infrutífera,
dirigiu-se finalmente à mansão do monte, onde chamou por Samael. Sua voz, contudo, não trouxe
nenhuma resposta além de um eco vazio, que traduzia ingratidão.
Lendo no triste vazio a traição, sentiu vontade de chorar. Num só momento veio-lhe à mente todo o
passado daquele a quem buscara com tanta dedicação conservá-lo em sua glória, através de conselhos
sábios. Recordou aqueles dias que seguiram à sua recuperação. Como se alegrara com a certeza de que
seu amigo não mais voltaria a cair! Levando-o a pressentir a tragédia, vieram-lhe à lembrança as
indagações de Samael sobre o alaúde, o qual mostrou-lhe num gesto de amizade. A memória deste fato,
somada aos passos ouvidos no interior do palácio naquela noite, deu-lhe a certeza de que Salém corria
perigo. Não suportando essa possibilidade de traição, prostrou-se em pranto, ferido pela terrível
ingratidão daquele a quem dedicara tanto amor. Curvado pela dor, permaneceu por algum tempo
procurando encontrar algum consolo. Enxugou finalmente as lágrimas, decidido a fazer qualquer
sacrifício a fim de devolver a Salém sua glória e poder, redimindo-lhe o cetro das mãos do rebelde.
Consolado pela certeza da vitória, Melquisedeque retornou para junto dos súditos fiéis. Ocultando-lhes
seu sofrimento, bem como o motivo da ausência de tantos, o príncipe guiou-os em marcha triunfal rumo
ao palácio.
Capítulo VII
Ao aproximarem-se do monte Sião, galgaram os alvíssimos degraus da escadaria, sendo seguidos pela
multidão exultante. Doía-lhe na alma a expectativa de ver morrer nos lábios dos fiéis, naquela manhã, o
seu alegre canto, devido ao golpe da traição. Encontravam-se agora no interior do palácio, diante do
magnífico trono que esperava pelo jovem rei. Na base do trono, jazia aberto, em meio a um arranjo de
flores, o pergaminho das leis. Junto dele podia-se ver a linda coroa, feita de ouro e pedras preciosas, bem
como o estojo daquele cetro que simbolizava toda a harmonia de Salém.
Os súditos estavam felizes, pois sabiam que seriam considerados dignos de herdar aquele reino de paz.
Aguardavam agora o momento da coroação, quando o seu novo rei os regeria de seu trono com seu cetro
precioso, num cântico triunfal. Em meio aos aplausos das hostes vitoriosas, Melquisedeque dirigiu-se a
seu pai, que o recebeu com um carinhoso abraço. O momento era deveras solene. As hostes silenciaramse
na expectativa da coroação. O estojo seria aberto e todos testemunhariam a exaltação do querido
príncipe. Com o coração pulsando forte pela alegria, Adonias curvou-se sobre o estojo, abrindo-o
cuidadosamente. Ao encontrá-lo vazio, a alegria de seu semblante deu lugar a uma expressão de indizível
preocupação e tristeza, pois naquele cetro selara o destino daquele reino de paz.
Ao ver seu pai e todos os súditos aflitos pela ausência do cetro e de tantos amigos que deveriam estar com
eles naquele momento, Melquisedeque consolou-os com a promessa de que buscaria o cetro.
Inconscientes dos riscos e perigos que aguardavam o príncipe em seu caminho, os súditos despediram-se
dele, vendo-o partir apressadamente.
O alvorecer daquele dia que seria o da coroação alcançou os rebeldes distantes de Salém, a caminho das
cidades da planície. Naquele manhã, Samael encheu-se de fúria ao ver que o precioso alaúde estava
adornado com inscrições das leis contidas no pergaminho. Tomando uma pedra pontuda, passou a
danificar o cetro, raspando-lhe todas as palavras de amor e justiça. Suas harmoniosas cordas estavam
agora desafinadas sobre o seu bojo ferido, mas continuava sendo precioso, pois sobre ele jazia selado o
domínio de Salém. Possuí-lo, significava ser dono de todo o poder.
Ao chegarem à altura em que o caminho bifurcava-se, Samael ordenou a seus seguidores que
prosseguissem rumo a Gomorra, enquanto ele iria até Sodoma, onde permaneceria por dois dias,
juntando-se depois a eles. Esperou pela noite para entrar em Sodoma. Quando ali entrou, caminhou pelas
ruas estreitas sem ser notado, até encontrar uma casa isolada sobre uma elevação. Fazendo do cetro sua
arma, invadiu a casa matando seus moradores, enquanto dormiam. Apossou-se dessa maneira daquela
residência onde, solitário, maquinaria seus planos para a tomada de Salém.
O entardecer daquele dia que seria o da coroação alcançou o filho de Adonias a caminhar pelo pedregoso
caminho rumo ao vale. Seus olhos carregados de tristeza e anseio voltam-se para o solo, em busca dos
rastros dos rebeldes. A lembrança da ingratidão daqueles a quem tanto amava o fez chorar. Suas lágrimas,
refletindo os últimos lampejos daquele sol poente, assemelham-se a gotas de sangue jorrando de um
coração ferido. Ele chorava não por causa dos perigos que lhe sobreviriam naquela fria noite, mas pela
infeliz sorte daqueles que haviam trocado a paz de Salém pela violência daquelas cidades da planície. O
seu único consolo era a lembrança daqueles que, apesar de todas as tentações, haviam permanecido fiéis.
A eles prometera devolver o cetro, e isto o faria apesar de qualquer sacrifício.
Depois de uma longa noite de insônia em que o príncipe ficou recostado ao lado do caminho, raiou a luz
de um dia que seria decisivo. Ao aproximar-se de Sodoma naquela manhã, o pensamento de estar tão
próximo do cetro de sua amada Salém fez com que se esquecesse de toda a fadiga, abreviando seus
passos rumo ao desafio. Ao abeirar-se do grande portão da cidade, ficou tomado por um temor, ao ouvir
ruídos espantosos de desarmonia, que traduziam o orgulho, o egoísmo e a cobiça que ali dominavam
todos os corações, fazendo-os explodir na orgia de uma maldade sem fim.
Seria um grande risco expor-se à violência gratuita daquela cidade. Esse pensamento o fez deter-se a um
passo do portal, onde estremecido curvou a fronte em indizível luta íntima. Era tentado a recuar, mas
lutava com todas as forças de sua alma contra esse pensamento de fracasso. Pensando na triste sorte de
Salém, cujo domínio estava sendo pisado no interior daquela cruel Sodoma, Melquisedeque tomou uma
firme decisão: como um destemido guerreiro haveria de avançar, e, mesmo que tivesse de enfrentar o
acúmulo de todos os perigos, prosseguiria, até erguer em suas mãos vitoriosas o cetro amado.
Resoluto e esperançoso, transpôs o portão de Sodoma, mergulhando naquele mundo estranho. Tudo ali
era o oposto de Salém, começando pelas pedras ásperas e sujas de suas construções. Sodoma era um reino
de trevas. A presença contrastante do príncipe foi logo notada por muitos que, em tumulto, o cercaram. A
pureza de caráter expressa em sua meiga face e o esplendor de suas vestes encheram-nos de espanto, e
recuaram como que vencidos por uma força invisível. Dominados pela fúria, passaram a persegui-lo à
distância, decididos a fazê-lo recuar. Jogavam-lhe pedras e lama tentando macular-lhe as vestes, mas não
o atingiam, enquanto ele avançava em sua ansiosa busca. Desistiram finalmente de persegui-lo, ao
entardecer.
Capitulo VIII
O filho de Adonias percorrera todas as ruas e becos à procura do precioso cetro, mas em vão. Ao ver
tombar no horizonte o sol, anunciando a chegada de mais uma escura e fria noite, seu coração ficou
opresso por uma grande agonia. Ali, naquele último beco, quase vencido pela exaustão e pelo desespero,
inclinou a fronte, desfazendo-se em pranto. Seus lábios pronunciaram em meio aos soluços as seguintes
palavras:
Salém,
Salém, você não pode perecer! O seu cetro precisa ser redimido das garras da rebeldia! Mas
quando e onde vou encontrá-lo?! Já não restam forças em mim e a esperança de redimi-lo antes da
noite me abandona!
O príncipe, em sua suprema angústia, não percebia que outro gemido de dor, procedente de cordas
arrebentadas de um alaúde humilhado, fazia-se ouvir naquele entardecer. Subitamente, o fraco gemido
penetrou seus ouvidos, reanimando-o com a certeza de que o grande momento da redenção havia
chegado. Enxugando as lágrimas, reuniu as últimas forças correndo em direção a uma pequena casa
situada sobre um monte, de onde parecia vir o som. Ao dirigir-se à porta entreaberta, deteve-se ao
contemplar uma cena chocante, de humilhante escravidão: Samael, envolvido por um manto sujo,
castigava o cetro de Salém. Tanto o rapaz quanto o cetro achavam-se tão desfigurados, que não restavam
neles quase nenhum traço da glória perdida. Aquele cetro, contudo, mesmo arrasado como estava, era
muito precioso, pois nele jazia o selo do domínio de Salém.
A contemplação daquele que fora seu maior amigo e daquele cetro idealizado como símbolo de toda a
harmonia, em tão trágica condição, comoveu profundamente o príncipe, fazendo-o chorar em alta voz.
Somente então o súdito rebelde percebeu sua presença indesejada. Estremecido, levantou-se, e, cheio de
ira perguntou-lhe:
O
que o trouxe a Sodoma?
Apontando para o cetro danificado, Melquisedeque exclamou:
A
glória de Salém está destruída!!!
Com uma gargalhada, Samael zombou de sua tristeza, dizendo:
Agora
eu sou o rei de Salém. Vocês que são fiéis ao pergaminho, tornar-se-ão meus escravos.
Sem se importar com as palavras de afronta de Samael, o príncipe, movido por uma infinita angústia,
disse-lhe:
Samael,
Salém está ferida por sua traição. Por que você trocou o seu lar de justiça e amor por esse
vale de injustiça, ódio e morte?! Agora, se não deseja retornar à Salém arrependido, devolva-lhe o
cetro. Foi para redimi-lo que, a despeito de todos os perigos, desci a esse vale hostil.
.
Conhecendo o propósito do príncipe, o rebelde encheu-se de raiva e, cerrando os punhos, disse-lhe:
- Eu o odeio Melquisedeque!
Tendo dito isto, arremessou o cetro ao chão, e pisando-o acrescentou:
Tenho
vontade de fazer o mesmo com você.
Diante dessa afronta, o príncipe não sentiu nenhum temor, mas compaixão. Transportando-se ao feliz
passado, lembrava-se dos momentos felizes em que tinha sempre ao seu lado a Samael. Ele era um jovem
puro e humilde de coração. Por que permitira ser escravizado pela ilusão do orgulho e do egoísmo?! Quão
doloroso era ver aquele jovem que, por sua beleza e simpatia, havia sido honrado acima de todos os
súditos, agora arruinado pela cobiça! Não fora o sonho do príncipe ter junto ao seu trono glorificado,
aquele que lhe era o mais precioso amigo?! Essa tragédia feria-lhe a alma.
Contudo, a triste condição do cetro o atingia ainda mais, pois ele fora feito como o símbolo de toda a
harmonia, e estava sendo desfeito sob os pés da ingratidão. Surpreso por não ver nos olhos de
Melquisedeque nenhuma expressão de temor, porém de piedade, Samael sentiu-se frustrado em suas
afrontas que visavam amedrontá-lo, levando-o desistir de sua missão. Diante da postura digna do
príncipe, que em silente dor o contemplava, sentiu-se envergonhado. Essa fraqueza, contudo, foi banida
pelo orgulho que dominava o seu coração. Começou então a planejar algo terrível, para humilhar e ferir o
príncipe, fazendo-o sofrer ainda mais.
Com escárnio disse-lhe:
O
cetro de Salém poderá ser seu, se você conseguir pagar-me o preço de seu resgate.
Com um brilho nos olhos, o príncipe perguntou-lhe:
Qual
é o preço?
Samael, com um sorriso maldoso, respondeu-lhe pausadamente:
O
preço não é ouro nem prata, mas dor e sangue. Você deverá despir-se completamente de suas
vestes, deitando-se ao chão. Deverá suportar nessa condição, espancamentos, até que o sol se
ponha. Se você estiver disposto a submeter-me, sem reagir, o cetro será inteiramente seu
Estremecido ante tão cruel proposta, o filho de Adonias olhou para o sol que pairava distante sobre uma
nuvem. Passou a travar em seu coração uma luta intensa. A princípio, o horror do sacrifício quase o
dominou, levando-o recuar, mas o pensamento de ver Salém escravizada pela rebeldia, levou-o finalmente
à decisão de pagar o preço do resgate, entregando-se ao humilhante sofrimento.
Tendo tomado a firme decisão de resgatar o cetro, o príncipe tirou as vestes, colocando-as sobre uma
pedra. Deitou-se em seguida naquele solo frio, com a fronte voltada para o poente. Impiedosamente,
Samael começou a espancá-lo, fazendo uso do próprio cetro como instrumento de tortura. Gemendo pela
dor dos golpes que o faziam sangrar, o príncipe mantinha o olhar fixo no sol que parecia deter-se sobre a
nuvem. Atordoado pela dor, contemplou finalmente o sol prestes a se pôr. Alentado pela vitória que se
aproximava, murmurou baixinho:
Salém,
Salém, daqui a pouco terei em meus braços o teu cetro precioso que, em minhas mãos,
tornar-se-á num instrumento de justiça e paz.
Ouvindo a promessa do príncipe feita por entre gemidos, Samael bradou-lhe com fúria:
O
seu sofrimento não trará nenhum alvorecer para Salém, pois suas mãos jamais serão capazes de
tocar no cetro.
Depois de fazer essa afronta, Samael apossou-se de uma pedra pontuda, preparando-se para desferir os
últimos golpes. Enquanto pensava sobre a feliz vitória de Salém, Melquisedeque sentiu seu braço direito
ser comprimido pelos pés de Samael. Seguiu a esse rude gesto um golpe que o fez contorcer-se em
agonia. Sua mão fora vazada cruelmente, passando a jorrar abundante sangue da ferida aberta. Essa
mesma violência foi descarregada logo depois sobre sua mão esquerda. Não suportando a agonia causada
por esses derradeiros golpes, o filho de Adonias, ensangüentado, mergulhou nas trevas de um profundo
desmaio.
Capitulo IX
Ao cessar de golpear o príncipe, o súdito rebelde ficou possuído por um estranho horror, ao contemplar na
face daquele que somente lhe fizera o bem, o torpor da morte. Procurava não recordar o passado, mas,
irresistente, sentia ser arrastado aos dias de sua feliz inocência em Salém. Revestido de ricas vestes estava
sempre ao lado do príncipe que, com dedicação, ensinava-lhe a cada dia suas canções falando de paz. Nas
indesejadas lembranças pelas quais era arrastado, reviveu seus primeiros passos no caminho do orgulho e
do egoísmo. Lembrou-se dos incessantes conselhos e rogos daquele que fora seu melhor amigo, para que
desistisse daquele caminho que poderia conduzi-lo à infelicidade.
Depois de ser arrastado em lembranças por todo aquele passado de felicidade destruída por sua culpa,
Samael teve consciência de sua ingratidão. Horrorizado pelo que fizera, curvou-se sobre o corpo
ensangüentado de Melquisedeque, e desesperou-se ao vê-lo sem vida. Não suportando o peso da grande
culpa, deixou às pressas aquele lugar, desejando ocultar-se distante, sob as trevas da fria noite.
Depois de um profundo desmaio, o príncipe começou a voltar à consciência. Em delírios que o
transportavam ao seio de sua amada Salém, ele revivia momentos vividos e sonhados. Com alegria
contemplava a face de seu maior amigo, para quem estendeu a mão com um sorriso. Mas seu gesto foi
frustrado por uma profunda dor. Em meio aos aplausos dos súditos vitoriosos, recebe de seu pai o cetro,
mas, ao tocá-lo, sente uma irresistível dor em suas mãos. Com esses sonhos frustrados pela dor,
Melquisedeque despertou para a realidade. Estava nu, ferido e solitário, em um lugar perigoso, longe do
abrigo e carinho de Salém. Mais doloroso era pensar que tudo aquilo era a retribuição de alguém que fora
o alvo principal de todas as dádivas de seu amor.
O príncipe, sem poder mover-se, considerando a grande traição, passou a chorar sem consolo. Lamentava
não por sua dor, mas pela perdição daqueles que haviam trocado o carinho e a justiça de Salém pelo
desprezo e ódio que os reduziriam finalmente a cinzas sobre aquele vale condenado. Através das
lágrimas, o príncipe contemplava o céu que, semelhante a um manto tinto de sangue, estendia-se banhado
na luz do sol poente. Lembrou-se então do alaúde pelo qual pagara tão alto preço. Onde estaria ele? Em
sua desesperada fuga, Samael deixara o cetro abandonado junto ao corpo ferido de Melquisedeque.
Quando ele o viu, esqueceu-se de toda a dor, e alcançou-o com suas mãos feridas. Acariciando-lhe o bojo
arruinado, disse-lhe com um sorriso:
Você
é meu novamente. Eu o comprei com o meu sangue.
Samael que, dominado pelo estranho horror, fugira após cometer o horrível crime, deteve-se a um passo
do portão de Sodoma. Ali impulsionado pelo orgulho, arrependeu-se com indignação de sua fraqueza. Por
que fugira depois de conquistar tão grande vitória? Não era seu plano destruir o reino de Salém, para
estabelecer seu próprio reino? Lembrando-se do cetro, decidiu retornar para tomá-lo. Por que o deixara
abandonado junto ao cadáver daquele odiado príncipe?
Reunindo suas poucas forças, Melquisedeque dirigiu-se tropegamente ao lugar em que deixara suas
vestes. Depois de vestir-se, tendo junto ao peito o cetro amado, o filho de Adonias, com profunda
emoção, fez um juramento antes de deixar aquele lugar de seu sofrimento. Acariciando o cetro, disse-lhe:
Meu
querido cetro, você foi criado como um emblema da harmonia que procede da justiça e do
amor. Toda a glória de Salém repousava sobre você quando a rebeldia em sua ingratidão escravizouo,
arrastando-o para este vale hostil. Aqui você foi ferido e humilhado, vindo a tornar-se um
instrumento de impiedade nas mãos do tirano. Eu, porém, o redimi com o meu sangue. Agora nossas
feridas serão restauradas, e em breve seremos entronizados em meio aos louvores de uma Salém
vitoriosa. Quando esse sonho se concretizar, testemunharemos juntos o fim daqueles que se
levantaram contra nós para nos ferir. Samael e seus seguidores serão devorados pelo fogo que
reduzirá a cinzas Sodoma e Gomorra.
Concluindo seu solene juramento, o jovem príncipe, já oculto pelas trevas da noite, deixou aquela colina,
e sobre ela as marcas de seu sofrimento.
Desde que o filho do rei partira, prometendo retornar com o cetro, Salém vivia momentos de indizível
anseio. Em pranto, o rei e os súditos remanescentes lembravam-se de todo aquele feliz passado desfeito
pela ingratidão dos rebeldes. O que mais lhes torturava era a ausência do príncipe e do cetro, sem os quais
todo o brilho daquele reino de paz se ofuscaria. Desejando consolar o coração de seus súditos,
Melquisedeque avançava em meio à noite rumo aos montes que cercavam Salém. Ainda que enfraquecido
e ferido, prosseguia em sua marcha ascendente, esperando alcançar sua pátria pela manhã.
Aquela longa e escura noite foi finalmente vencida pelos raios do alvorecer. Em Salém a esperança em
rever Melquisedeque com o seu cetro estava quase banida quando, ao olharem para o Monte das
Oliveiras, viram-no descendo pelo caminho do Getsêmani. Quando o encontraram no profundo vale de
Cedrom, ficaram assustados com sua aparência: sua face estava pálida e seu manto encharcado de sangue.
Mesmo assim, ele sorria expressando grande alegria. Ao perguntarem-no sobre o porquê daquelas marcas
de sangue, Melquisedeque retirou de sob o manto suas mãos feridas, revelando-lhes entre elas o cetro
redimido. Depois de contar-lhes os passos que o levaram ao resgate do cetro, os súditos, emudecidos,
prostraram-se reverentes aos seus pés, aclamando-o como seu redentor e rei. Em meio aos louvores das
hostes redimidas, o príncipe foi introduzido no palácio real, onde, sob os cuidados de seu amoroso pai,
deveria restabelecer-se de seu sofrimento. O cetro desfigurado, agora mais precioso, seria também
restaurado, devendo tornar-se mais belo que antes. O dia da coroação foi fixado para o próximo Yom
Kipur. Naquele dia, Melquisedeque selaria com o cetro restaurado o triunfo de todos os fiéis, bem como a
condenação dos rebeldes.
Capitulo X
Poucos instantes após a saída de Melquisedeque, Samael chegara ao local onde o deixara aparentemente
sem vida, ao lado do alaúde. Sem entender aquele misterioso desaparecimento, ele prosseguiu para
Gomorra, onde seus seguidores o esperavam. Ao vê-los, proclamou sua “vitória” sobre o odiado príncipe
e sobre o cetro, os quais massacrara em Sodoma, não restando aos seguidores do pergaminho nenhuma
esperança. Suas palavras agradaram a turba rebelde, que passou a comemorar a “conquista”, entregandose
à orgia. Zombavam agora da justiça e do amor, exaltando a Samael como rei vitorioso.
Obteriam agora armas, com o propósito de avançarem sobre Salém, desferindo-lhe o último golpe.
Juntaram-se a eles, em seu maléfico propósito, muitos criminosos que foram recebidos como mestres no
manejo de arcos e flechas. Em sua loucura, Samael ordenou o banimento de todo calendário, pois em seu
reino de “liberdade” não estariam sujeitos a nenhum cômputo de tempo. As leis da moralidade foram
também banidas, surgindo com isso um completo caos. Essa desordem revelou-se de maneira mais
patente no barulho estridente e cacofônico, ao qual proclamaram como a nova música. Dominados pelo
egoísmo, Samael e seus seguidores alimentavam-se de ilusões, inconscientes de que seus dias estavam
contados. Os frutos da rebelião não tardariam a atrair sobre eles o fogo da destruição.
Dividindo seus seguidores em pequenos grupos, Samael passou a comandá-los em atos violentos que
aterrorizavam os moradores das planícies. Por esse tempo, eles escondiam-se nas cavernas situadas
próximas ao mar salgado.
O respeito e o medo dos guerrilheiros de Samael levaram finalmente os reis de quatro cidades a
procurarem-no, propondo alianças de paz. Eram eles: Bara, rei de Sodoma; Bersa, rei de Gomorra;
Senaab, rei de Adama; Semeber, rei de Seboim, e Segor, o rei de Bela. Por essa época, esses reis pagavam
tributos a Cordolaomor, rei de Elam, que, acompanhado pelos exércitos de quatro outras cidades, os
haviam subjugado no vale de Sidim junto ao mar salgado.
Fortalecido pelas alianças, Samael tornou-se mais ousado em suas investidas, levando o terror e a
destruição aos territórios de cidades distantes. Os exércitos de Cordolaomor e seus aliados que
retornavam nesses dias de outras conquistas, enfurecidos pelas provocações de Samael, marcharam contra
os quatro reis, vencendo-os novamente no vale de Sidim. Foi nessa ocasião que levaram cativos os
habitantes de Sodoma, entre os quais encontrava-se o meu sobrinho Ló. Acovardados diante do furor dos
cinco reis, Samael e seus seguidores esconderam-se em suas cavernas, ao norte do mar salgado.
Capitulo XI
Os doze meses contados a partir do grande sacrifício estavam prestes a terminar. O cetro, totalmente
restaurado, resplandecia em seu estojo, enquanto o príncipe, igualmente restabelecido das feridas
causadas pela rebeldia, alegrava-se ao ver chegar o Yom Kipur de sua coroação. Enquanto isso, ele
compunha lindas canções que expressavam o seu amor por Salém. Naqueles doze meses, a cidade da paz
tornara-se mais bela, sendo adornada qual noiva para o grandioso dia da coroação.
A uma semana para o Yom Kipur, Samael, totalmente inconsciente de que o dia de seu julgamento se
aproximava, reuniu os seus seguidores, anunciando-lhes que a próxima missão seria a conquista de
Salém. Antes de avançarem, contudo, ele subiria sozinho para verificar os pontos vulneráveis da cidade.
Depois de ser aplaudido pela turba, Samael partiu em sua missão de reconhecimento. Enquanto avançava
sozinho, procurava não se lembrar daqueles momentos que lhe trouxeram terror pela culpa, mas,
dominado por uma força superior, foi arrastado em suas lembranças para aquele monte da cruel tortura.
Todo o seu passado começou a vir-lhe à lembrança, como um peso esmagador. Quando despertou de suas
lembranças, das quais não conseguiu fugir, já era noite. A escuridão que o envolvia pareceu-lhe o
prenúncio de um triste fim. Esse desânimo, contudo, procurou bani-lo com a lembrança do exército que o
esperava, pronto para cumprir suas ordens, na conquista de Salém, onde não haveria lembranças daquele
pergaminho.
O alvorecer o alcançou próximo de Salém. Ao avistar o monte das Oliveiras, veio-lhe à lembrança a
última vez que o transpôs, deixando para trás a cidade vencida. Quantas noites haviam passado desde
então? Ele perdera a noção de tempo, não sabendo que justamente doze meses haviam se passado. Não
podia imaginar que raiava naquela manhã o Yom Kipur, o dia de seu julgamento. Ao chegar ao topo do
monte das Oliveiras naquela manhã, Samael surpreendeu-se ao ver que a cidade tornara-se mais bonita
que outrora. Toda ela estava adornada de ramos e flores, como uma donzela à espera de seu noivo.
Contudo, Salém estava abandonada, não havendo nenhum sinal de vida em todas as suas mansões. Isto o
fez concluir que os golpes, que haviam aniquilado o príncipe e o cetro, trouxeram como conseqüência
todo aquele abandono. Ele não sabia, contudo, que naquele momento todos os remanescentes daquele
reino, encontravam-se ocultos no grande salão do palácio, aguardando pelo momento mais glorioso da
coroação de Melquisedeque.
Imaginando-se exaltado sobre o trono abandonado, tendo a seus pés os exércitos vitoriosos, o rebelde
penetrou na cidade, dirigindo-se apressadamente ao palácio. Ao transpor o portal principal que dava
entrada ao salão principal, ficou surpreso ao ver ali reunida uma multidão de fiéis. Sobre um áureo
tablado, enfeitado de flores talhadas em pedras preciosas, encontra-se o trono vazio. Na base do trono
estava o pergaminho das leis, uma coroa de ouro cheia de pedras preciosas e o estojo que deixara vazio
naquela noite de traição. Sem entender o enigma, Samael escondeu-se por trás de uma coluna, temendo
ser reconhecido, e ficou observando. Os súditos, com expressão de feliz expectativa, olhavam para o
trono vazio. Onde encontravam eles motivos para toda essa alegria, se haviam perdido o seu rei
juntamente com o cetro? Samael questionava sobre esse mistério, quando Adonias, aplaudido pelos
súditos, encaminhou-se para junto do trono. Com voz cheia de emoção pela vitória, o fundador de Salém
anunciou que havia chegado o momento tão sonhado da coroação. Um brado de triunfo ecoou pelos ares
quando, anunciado pelo seu pai, entrou o amado príncipe encaminhando-se em direção ao trono. Ao vê-lo
coberto por um manto de glória, Samael ficou possuído por um terrível pavor, e procurou fugir.
Descobriu, contudo, que todos os portais do grande salão estavam fechados por fora.
Teve início a cerimônia da coroação. Era um momento deveras solene. Adonias, num gesto reverente,
tomou a rica coroa, colocando-a na fronte de seu filho. Prostrando-se depois sobre o estojo, abriu-o
cuidadosamente, tirando dele o alaúde restaurado, cuja beleza e brilho eram muito superiores à sua
primeira condição, ao sair das mãos de Adonias o seu luthier. Assentando-se no trono em meio às
aclamações dos súditos, Melquisedeque passou a dedilhar o cetro, tirando dele acordes de muita harmonia
e paz. Todos se aquietaram para ouvirem suas novas composições que expressavam o seu profundo amor
pelo cetro e por todo aquele reino de paz.
Grande emoção invadia o coração de todos naquele momento, levando-os às lágrimas. Samael, sem
forças para reagir, sentia-se torturado por aqueles acordes que faziam reviver em sua mente suas
oportunidades perdidas, numa terrível dor para sua consciência. Melquisedeque compusera para aquele
momento especial, canções que retratavam os momentos marcantes da história de Salém; Quando passou
a cantar sobre a amizade que tinha por Samael, sua voz embargou-se pelas lágrimas que não conseguia
conter. Triste para ele era cantar sobre a queda daquele que foi-lhe o maior amigo! Cantou então sobre o
alto preço que teve de pagar pela reconquista do cetro, que representa a honra de Salém.
Ao contemplarem aquelas mãos marcadas pelas cicatrizes, tocando com tanta maestria e carinho o cetro
restaurado, os súditos tomados por forte emoção, prostraram-se em pranto. Ao ver nas nãos de
Melquisedeque aquele alaúde que, em suas mãos fora instrumento de tortura, Samael compreendeu, tarde
demais o quanto errara, desviando-se dos conselhos do príncipe; Quantas vezes aquelas mãos sobre as
quais descarregara toda aquela violência haviam sido estendidas num esforço de salvá-lo, e ele as havia
negligenciado. Agora, era tarde demais! Tarde demais!!!
Capitulo XII
Os súditos triunfantes que, reverentes, haviam sido conduzidos a todo aquele passado de felicidade,
traição, dor e triunfo, uniram finalmente as vozes numa jubilosa proclamação:
Verdadeiros
e justos são os teus princípios, ó rei de Salém. Digno és de reinar em glória e majestade
entre os louvores de teus fiéis, porque em teu sacrifício nos livraste das ameaças das trevas, fazendo
renascer em nosso coração a alegria do alvorecer.
Esse cântico de exaltação foi seguido pela cerimônia de confirmação de todos os fiéis em sua vitória. O
filho de Adonias, com o seu cetro redimido, passou a selar com um toque especial do cetro, a vitória de
cada um. Formou-se para tanto uma longa fila de fiéis exultantes Os súditos confirmados, à medida em
que iam recebendo o toque de aprovação do rei, posicionavam-se ao lado direito do trono, onde
permaneciam aguardando pela confirmação dos outros.
Os olhares que, iluminados de alegria, haviam acompanhado o selamento dos últimos justos, pousaram
sobre a figura estranha de Samael que, dominado por uma força irresistível, encaminhava-se cabisbaixo
em direção do trono. Seu aspecto era horrível: seu semblante havia sido deformado pelo mal; suas vestes
estavam sujas e mal cheirosas; tudo nele repugnava, ao ponto de ninguém reconhecê-lo. Em meio ao
espanto dos súditos, Melquisedeque ergueu-se de seu trono como que ferido por uma grande dor; de seus
lábios os súditos ouviram uma dolorosa exclamação:
Samael,
Samael!!!
A figura deplorável daquele que fora tão belo, encheu a todos de tristeza, e começaram a prantear. Eles
lamentavam por saber que o destino de Samael e de todos aqueles que o seguiram, poderia ter sido muito
diferente, se eles houvessem atendido aos rogos de amor de Adonias e de seu filho. Não era o plano do rei
e o sonho de Melquisedeque tê-lo como o guardião do pergaminho, sendo o segundo em honra naquele
reino?
Samael que, reconhecendo sua desventura, aproximara-se cabisbaixo do trono, ao presenciar toda aquela
lamentação, foi novamente iludido pelo orgulho, julgando tratar-se de uma demonstração de fraqueza de
seus inimigos. A lembrança de seu exército que fortalecido o aguardava na planície, iludiu-o com a
certeza de que seria vitorioso sobre Salém. Com esse pensamento, ergueu a fronte marcada pelo ódio e,
fitando o rei, levantou o punho cerrado e o desafiou, desdenhando de sua autoridade, com a ameaça de
tomar-lhe o trono. Ainda que condoídos por sua perdição, os súditos de Salém não suportaram a ousada
afronta daquele enlouquecido jovem que, depois de causar tanto sofrimento, ainda era capaz de erguer-se
com tamanho desafio.
O vitorioso rei que com tanto prazer selara com o seu cetro a conquista dos fiéis, ergueu-o dolorosamente
para o selamento da triste sorte dos rebeldes. Imobilizado por uma força estranha, Samael, sem desviar os
olhos do cetro, ouviu dos lábios do rei a proclamação de seu julgamento e de todos os seguidores:
Prisioneiros de uma força invisível, ficariam retidos em suas cavernas por seis anos, sendo depois
visitados pelo fogo do juízo que os destruiria juntamente com as cidades que a eles se aliaram.
Capitulo XIII
Ao ir para a cama depois daquele dia de tantas emoções, o jovem rei, imerso nas lembranças daquele
passado de felicidade e dor, rolava em sua cama insone. Quando finalmente adormeceu, teve um sonho
muito significativo. No sonho, apareceu-lhe um anjo luminoso, que saudou-o com um sorriso, dizendolhe
que todo o Universo acompanhava com atenção aquele drama que estavam vivendo, e que o mesmo
tinha um sentido prefigurativo, retratando acontecimentos passados e futuros, que envolvia todo o vasto
universo.
As palavras do anjo despertaram em Melquisedeque um grande desejo de conhecer a história desse drama
cósmico. Conhecendo o seu anseio, o anjo arrebatou-o no sonho revelando-lhe um distante futuro. Diante
de seus olhos manifestaram-se as glórias de uma nova e esplêndida Salém, cujas muralhas e mansões
eram de pedras preciosas; os portais da cidade eram de pérolas. Suas amplas avenidas eram de ouro puro.
A cidade era quadrangular e se estendia por centenas de quilômetros. Estava dividida em dois setores
distintos: Norte e Sul. Ao Sul elevavam-se incontáveis mansões, habitações eternas de anjos e de seres
humanos redimidos. Ao Norte havia um lindo paraíso ao qual o anjo revelou ser o jardim do Éden. Ali,
em ambas as margens do rio da vida, havia campos repletos de todo tipo de vegetação, com flores e frutos
em abundância. Viviam ali em perfeita harmonia, todas as espécies de aves e animais.
No meio do paraíso podia-se ver uma montanha fulgurante, a qual o anjo afirmou ser o monte Sião, o
lugar do trono de Deus. Era daquele monte que emanava o rio da vida, fluindo por toda a cidade. Quando
alcançaram o topo da montanha sagrada, o rei de Salém ficou deslumbrado com o cenário visto ao seu
redor. Encontrava-se na parte mais elevada de Sião a mais linda de todas as edificações revelado pelo anjo
como o palácio de Deus. Aquela magnífica construção era sustentada por sete colunas, todas de ouro
transparente, engastadas de lindas pérolas. Ao redor do palácio, floresciam a mais exuberante vegetação:
havia ali o pinheiro, o cipreste, a oliveira, a murta, a romãzeira e a figueira, curvada ao peso de seus figos
maduros.
Enquanto admirava-se ante a beleza daquele lugar, o anjo disse-lhe que a nenhum ser humano fora dado o
privilégio de ver o interior daquele palácio de Deus. A ele seria dada esta honra, pois fora escolhido para
ser o portador das mais amplas revelações sobre o reino da luz. Ao transporem com reverência um dos
portais de pérolas, prostraram-se em adoração, enquanto ouviam o cântico de uma multidão de serafins,
que circundavam o trono, em constante louvor Àquele que Era, que É e que Sempre Será. Ao olhar para
Aquele que estava assentado sobre o trono, Melquisedeque ficou surpreso ao descobrir a figura de um
homem. Ele estava coberto por um manto de linho fino, de uma alvura sem igual, e tinha sobre a cabeça
uma coroa formada por sete coroas sobrepostas, repletas de pedras preciosas.
Ao olhar para as mãos que sustentavam o cetro, o filho de Adonias ficou surpreso ao descobrir nelas
cicatrizes de ferimentos, semelhantes àquelas em suas mãos. O anjo afirmou-lhe ser o Messias, o Grande
Melquisedeque, a manifestação visível de Yahweh, o Deus Invisível. Atraído para o cetro resplandecente,
com o qual o Messias governava sobre todo o Universo, o rei de Salém viu nele o selo do domínio, e nele
escrito o nome: Israel. Tomado por profunda emoção, Melquisedeque prostrou-se ante o Rei daquela
eterna Salém, e, revivendo ali a história de sua pequena cidade, teve desejo de conhecer o grande drama
da história universal. Conhecendo o desejo de seu coração, o anjo disse-lhe:
Agora
lhe farei conhecer a história desta gloriosa Salém. Tudo o que lhe for mostrado na visão, você
deverá registrar fielmente em um rolo. Você terá seis anos para escrevê-los. Ao fim dos sete anos,
você receberá das mãos de um ancião um vaso contendo um rolo especial, com muitas revelações
importantes, entre as quais estará a história de Salém. Você tomará esse rolo, e o costurará ao seu,
formando um único rolo. Você o devolverá juntamente com o vaso ao patriarca para que ele o leve
ao lugar que lhe mostrarei, onde ficará oculto até o fim dos dias. As revelações desse grande rolo,
consistirão na luz e no consolo que enviarei aos escolhidos por ocasião da última semana de anos
da história.
Depois de falar ao rei de Salém estas palavras, o anjo conduziu-o em visão a um infinito passado, quando
o Universo ainda não existia. Uma história muito parecida com a de Salém passou a desdobrar-se diante
de seus olhos; porém, numa dimensão infinitamente maior, começando pela criação do reino da luz. Com
admiração contemplou a formação de bilhões de mundos e estrelas, repletos de vida e felicidade que
passaram a girar em torno da Salém Celeste, o paraíso de Deus. Sua atenção voltou-se depois para o mais
belo de todos os querubins que, honrado pelo Criador, passou a residir com Ele em Seu palácio. Uma
eternidade de felicidade e paz parecia embalar aquele reino, quando a mesma experiência de egoísmo e
rebeldia vivida por Samael, começou a repetir-se na vida daquele anjo amado. Cenas de uma grande
rebelião começaram a ser mostradas a Melquisedeque, envolvendo todos os habitantes do Universo. O
querubim honrado, semelhante a Samael, seduzira um terço das hostes que, passaram a reverenciá-lo
como rei.
Em meio às cenas daquele grande conflito, o rei de Salém testemunhou a criação do planeta Terra, sobre a
qual surgiu o homem como cetro racional daquele reino disputado. Com agonia viu o momento em que o
chefe da rebelião aproximou-se subtilmente do paraíso, apossando-se do ser humano, depois de seduzi-lo
com tentações. Ouviu então o seu brado, numa proclamação de vitória. A partir daquele momento, o
inimigo de Deus passou a arruinar o ser humano, apagando nele todos os traços da glória divina, como
Samael fizera com o cetro.
A sua própria experiência, ao declarar naquela manhã aos súditos de Salém sua decisão de ir em busca do
cetro perdido, começou a repetir-se diante de Seus olhos. Reunindo as hostes que haviam permanecido
fiéis ao Seu governo, o Criador passou a revelar um plano de resgate: Ele haveria de ir em busca do
homem, e o remiria, ainda que isto lhe custasse infinito sacrifício. Diante desta revelação, o filho de
Adonias prostrou-se comovido, ao descobrir que em sua vida tivera a honra de retratara o próprio
Messias.
Todo o drama vivido pelo filho de Adonias em sua angustiante busca, até o momento de seu suplício pela
redenção do cetro, foi ganhando amplitude naquela visão que abarcava toda uma eternidade. Diante de
seus olhos desfilavam cenas de uma grande batalha que, sem trégua se estenderia até o dia do juízo final,
quando o Messias, o Grande Melquisedeque, vitorioso, empunharia o cetro redimido, selando com ele a
condenação de todos os filhos de Belial..
Capitulo XIV
Através das revelações recebidas do anjo, Melquisedeque tomou conhecimento do livramento alcançado
por ocasião de sua coroação, quando diante de trezentos pastores com seus vasos incendiados, exércitos
de cinco reis tombaram, saindo livres os cativos. Conhecendo nossa intenção de subir à Salém por ocasião
de Sukot, o rei fez preparativos para uma grande festa, na qual comemoraríamos juntos a vitória sobre
toda a desarmonia gerada pelo orgulho e pelo egoísmo. Foi por isso que ao chegarmos a Salém, ficamos
surpresos com toda aquela honrada recepção.
Ocupar-me com o relato de todos esses acontecimentos, fez-me passar por todo este sétimo ano, quase
sem notar os seus dias, que passaram velozes. Estamos hoje às portas de um novo Rosh Hashanah,
quando os 300 pastores tocarão os chifres, convocando todos aqueles que possuem as pérolas, para a
reunião solene de Yom Kipur. Cinco dias depois seremos recebidos em Salém para a festa de Sukot. A
certeza de que acontecimentos importantes ainda deverão ser relatados neste rolo, fez-me reservar um
espaço, no qual registrarei, dia após dia, os fatos, até a consumação desta história que estamos vivendo.
Rosh Hashaná! Esse foi o dia mais feliz de minha vida, pois meus braços puderam receber o filho da
promessa. A primeira coisa que fiz, foi colocar-lhe em sua mãozinha direita a Segunda pérola que o
Messias deu a Sara no dia de sua conversão; Ele a segurou com firmeza, alegrando-nos com a certeza de
que viverá para sempre ao nosso lado. Dois dias antes do Yom Kipur, Isaque foi circuncidado, conforme a
ordem do Eterno. Desde que os pastores começaram a tocar seus chifres em Rosh Hashanah, todos
aqueles que possuem pérolas do vaso, deixaram suas tendas, dirigindo-se em pequenos grupos, para junto
do Carvalho de Mambré.
Ao chegar o Yom Kipur, o dia da reunião solene, meus pastores informaram-me que todos aqueles que
haviam recebido as pérolas, haviam comparecido ao encontro, não faltando nenhuma pessoa. É
maravilhoso ver a alegria estampada no semblante de toda essa multidão que anseia pela subida à Salém.
Todos trazem uma história para contar, de como foram vitoriosos sobre tantos desafios e provações.
Todos estão felizes com a expectativa da subida à Salém para a festa de Sukot.
No primeiro dia da festa de Sukot, a multidão foi subdividida em pequenos grupos de doze pessoas, para
subirmos em ordem à Salém. Tendo sobre os ombros o vaso com o rolo, posicionei-me à frente da
multidão, sendo seguido por Sara e Isaque que vinham montados num camelo; Logo atrás vinha Ló e suas
filhas; um pouco atrás, os trezentos pastores seguidos por todos os fiéis.
Iniciávamos nossa escalada quando, acompanhado por todos os seus súditos, surgiu Melquisedeque vindo
ao nosso encontro, fazendo vibrar pelos ares o som festivo de muitos instrumentos musicais,
comemorando a grande vitória. Depois de saudar-nos, o filho de Adonias conduziu-nos numa marcha
festiva até adentrarmos os portais de Salém, que encontra-se agora mais bonita que outrora. Antes de
iniciar o banquete, Melquisedeque coroou todos os vencedores, enquanto as hostes de Salém faziam soar
seus instrumentos, comemorando a feliz vitória..
Grande foi a alegria do rei de Salém quando entreguei-lhe o jarro com o manuscrito. Ao desenrolá-lo,
fiquei surpreso ao ver sua atenção voltar-se para a última parte do rolo que ainda estava vazia. Como se
estivesse lendo algo ali, ele me disse:
Abraão,
de tudo o que você escreveu , nada me comove mais do que o relato que você registrará na
última parte de seu manuscrito.
Melquisedeque mostrou-me em seguida um rolo escrito por dentro e por fora, no qual escrevera naqueles
seis anos a história do Universo, conforme revelações feitas a ele por um anjo. Tomando o meu
manuscrito, ele o costurou ao seu formando um grande rolo. Tendo feito isto, enrolou-o cuidadosamente,
colocando-o dentro do jarro.
Ao chegar o oitavo dia da festa, num ato que surpreendeu a todos, o rei enalteceu o jarro, colocando-o
sobre o seu trono. Ao ver o vaso que fora tão humilhado e rejeitado, agora glorificado em meio aos
louvores de Salém, senti uma forte emoção e chorei; Era impossível olhar para ele, sem pensar no seu
significado: era um perfeito símbolo do Messias prometido. Por intermédio dele, muitas vidas haviam
sido libertas e transformadas, começando pela minha. Sem o dom daquele vaso, eu não teria hoje em
meus braços meu querido Isaque pelo qual Sara e eu esperamos por tanto tempo.
Depois de entronizar o jarro, o filho de Adonias, chamando-me para junto do trono, passou a honrar-me
perante todos os fiéis; Tomando a caixinha de ouro na qual colocara as 144 pérolas do dízimo, ele
colocou-a em minhas mãos, afirmando ser um presente seu para Isaque. Como se não bastasse, ele tomou
o vaso que continha o valioso rolo e, colocando-o aos meus pés, disse que ele pertencia a mim e aos meus
descendentes para sempre. Com o coração repleto de alegria, prostrei-me diante do rei que me oferecia
tão precioso dom, estendendo-lhe as mãos com a caixinha das pérolas. Tomando-a de minhas mãos, ele a
colocou dentro do jarro sob o rolo, reafirmando sua doação.
Capitulo XV
Ao dirigir-me ao aposento naquela noite, tendo ao meu lado Sara, Isaque e o jarro com o seu tesouro,
experimentava uma felicidade jamais sentida em toda a minha vida. Como me era difícil pegar-me ao
sono, fiquei acordado por longo tempo, imaginando o futuro de glória de Isaque e do jarro, cuja
mensagem de amor, justiça e paz, levaria esperança aos meus descendentes por todas as gerações, até a
vinda do Messias. Imaginando esse futuro feliz adormeci e tive um sonho no qual muito sofri. No sonho,
o Eterno apareceu-me e disse:
Abraão,
toma agora o jarro o qual tanto amas, e leva-o ao Mar Salgado, onde lhe mostrarei uma
caverna na qual você o ocultará
Depois de dar-me esta ordem, o Eterno entregou-me uma machadinha e um manto de linho, com o qual
envolvi o vaso. Comecei então uma dolorosa jornada, levando sobre os ombros aquele que simbolizava a
concretização de todos as minhas esperanças. Quando cheguei à região norte do mar, fui conduzido para
junto da caverna que deveria ocultar o jarro. Colocando-o sobre uma pedra, num gesto de despedida,
passei a acariciá-lo, enquanto contemplava os adornos e inscrições que o embelezavam; o pensamento de
que não mais o teria comigo, enchia-me de profunda tristeza. Meus olhos voltaram-se para a figura de
Melquisedeque que inclinava-se para receber recebê-lo repleto de jóias. De repente a figura do rei
começou a ganhar vida e movimento, e foi crescendo até que todo o jarro transformou-se num belo jovem
que me olhava com amor. Pensei a princípio que fosse o rei de Salém, mas olhando para suas mãos, não
encontrei as cicatrizes. Ao ver que seus olhos eram tão parecidos com os de Sara, perguntei-lhe o nome.
Ele respondeu-me com um sorriso que era Isaque, o meu filho.
Alegrava-me na presença de Isaque, quando a voz divina novamente soou-me aos ouvidos dizendo:
Abraão,
toma agora o teu filho a quem amas, e sacrifica-o com a machadinha que eu te dei(1)
Aterrorizado ante a ordem divina, caí aos pés de Isaque, não encontrando forças nem coragem para
realizar o terrível ato. Contudo, ele consolou-me, afirmando estar disposto a cumprir a vontade divina.
Depois de terrível luta íntima, tomei a decisão de sacrificar meu filho. Ao erguer-me, vi que Isaque
contorcia-se em grande agonia, enquanto o seu corpo tornava-se coberto de chagas que cheiravam mal.
Sentia desejo de socorrê-lo, curando-lhe as chagas, mas a voz insistia em sua ordem, para que eu o
sacrificasse. Tomei então a machadinha e a ergui sobre o seu pescoço. Quando meus braços moviam-se
para o golpe, um forte clarão nos iluminou, e senti que a machadinha não mais estava em minhas mãos.
Ao erguer a fronte, me deparei com o peregrino que anunciara o nascimento de Isaque. Ele estava vestido
com vestes brilhantes, de linho fino, branco e puro; Seu rosto brilhava como o sol, enquanto olhava-me
com infinito amor. Abraçando-me, ele enxugou minhas lágrimas e disse:
Abraão,
agora sei que você verdadeiramente me ama, porque não me negou nem o jarro nem o seu
filho a quem você ama. Por causa desse amor, eu transformarei você no pai da fé, e muitos povos e
nações se alegrarão na luz do rolo que lhe foi dado.
Tendo dito estas palavras, o Peregrino encaminhando-se para Isaque que contorcia-se em dor, colocando
as mãos sobre sua cabeça. Esse contato fez com que todas as impurezas que manifestavam-se em chagas
purulentas no corpo de meu filho, se transferissem para o Seu corpo, enquanto a Sua glória era transferida
para Isaque. Fiquei possuído por um misto de alívio e pesar - alívio por ver Isaque restaurado, mas aflito
por contemplar o Messias opresso por tantas culpas. Por entre gemidos de dor ele afirmou:
Eu
morrerei, para que Isaque e sua descendência possa ser justificada, redimida e glorificada
perante Yahweh.
Ao voltar-me para o meu filho que fora liberto, vi que seu lugar fora ocupado por doze jovens que se
chamavam: Rúben, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zebulon, José, Benjamim, Dã, Naftalí, Gad, Aser.
Quando lhes apresentei o Peregrino sofredor, eles o menosprezaram por não verem nele nenhuma beleza
que os atraíssem. Finalmente eles o conduziram como um cordeiro e o sacrificaram, lançando o seu corpo
dentro daquela caverna.(2)
Sobrevieram logo depois as trevas de uma longa noite, na qual fomos atacados por um grande exército
que, depois de ferir-nos, arrancou-nos de nossa terra, espalhando-nos por entre as nações. Ali, todos os
que nos encontravam nos humilhavam e perseguiam, acusando-nos da morte do Peregrino, e assim
sofremos por toda a noite. Quando o dia estava quase raiando, sobreveio-nos o maior sofrimento, pois
nossos inimigos, depois de uma pequena trégua, investiram sobre nós com a intenção de nos destruir
completamente. O Eterno, contudo, bendito seja o Seu nome, teve compaixão de nós e nos libertou,
reconduzindo-nos para a Terra Prometida. Mas mesmo ali não encontramos descanso, pois tínhamos de
estar sempre atentos, defendendo-nos de muitos inimigos que procuravam nos destruir.
Cansados desses conflitos, nos aproximamos de nossos inimigos propondo uma aliança de paz; quando o
acordo estava prestes a se concretizar, um desentendimento envolveu-nos num conflito ainda maior.
Enquanto ouvíamos gritos de todos os lados clamando contra nós, vimos baixar as trevas de mais uma
escura noite. Angustiados, passamos a clamar ao Eterno, dizendo:
Até
quando Senhor buscaremos a paz e não a acharemos?! Ansiamos pelo descanso que nos
prometestes, mas somente encontramos o furor de nossos inimigos! Auxilia-nos Senhor! Até quando
teremos de esperar?!
Enquanto clamava em minha angústia, o Senhor veio ao meu encontro e disse-me:
Abraão,
olha para o céu e conta o número das estrelas.
Ao olhar para o céu, vi que as estrelas moviam-se formando pequenos grupos de doze. Esses grupos por
sua vez, juntavam-se de doze em doze, em formações perfeitas de 144 estrelas. Finalmente todo o céu
cobriu-se por esses agrupamentos estelares: eram ao todo 40 grupos, somando um total de 5760 estrelas.
Enquanto imaginava o que poderia significar o número daquelas estrelas, vi surgir no meio delas outra
especial que foi aumentando em brilho e grandeza. A sua luz crescente, deu-me a certeza de que aquela
noite seria finalmente vencida, e alcançaríamos um alvorecer de paz. A estrela de número 5761 continuou
aumentando até que tornou-se do tamanho da Lua, e nela pude ler em letras muito brilhantes a palavra:
Sábado, e abaixo, o nome de Israel.
Quando os raios que emanavam das letras sagradas começaram a penetrar as trevas da noite, atraindo a
atenção de muitos sobre a Terra, ventos fortes vindos do Norte começaram a soprar, trazendo pesadas e
negras nuvens em direção da estrela. Formou-se um cerco de trevas, enquanto camadas sobre camadas de
nuvens foram comprimindo a estrela que, sem forças para resistir, foi-se apagando até que mergulhou em
completa escuridão. Com o coração aflito, continuei olhando na direção da estrela oculta, sem perder a
esperança de que ela seria liberta das garras daquelas nuvens ameaçadoras.
Em diferentes partes do céu escurecido pelas nuvens, começaram a surgir pontinhos de luz que foram se
agrupando de sete em sete, até alcançarem o total de 483 estrelas. Sem temerem as ameaças das nuvens
escuras, elas foram-se aproximando mais e mais até formarem um anel de luz em torno da estrela opressa.
O brilho dessas pequenas estrelas fez renascer a esperança de um livramento, e a estrela cativa emitiu por
entre as nuvens um tênue raio de confiança.
Ao estreitarem-se cada vez mais em torno da estrela escurecida, as 483 estrelas se fundiram finalmente a
ela, comunicando-lhe sua luz. Nesse momento, um grande clarão tomou conta do céu, e todas as nuvens
foram desfeitas, perdendo o seu domínio. A junção de todas essas estrelas, deu origem a uma estrela de
incomensurável esplendor, semelhante ao Sol. Em forma de uma coroa que pairava sobre ela, podia-se
ler: Yom Kipur - É chegado o Último Jubileu.
Assim que surgiu no céu a estrela do Último Jubileu, veio ao nosso encontro um pequeno beduíno,
carregando sobre os ombros um pesado jarro. Sua face estava marcada por uma grande luta, mas refletia a
luz da estrela que lhe dava consolo e indizível alegria. Em seu jarro estava escrito em grandes letras o
seguinte: “Caiu! Caiu a grande Babilônia! Sai dela povo meu! (3)
Aproximando-se dos doze filhos de Israel, o pequeno beduíno saudou-os com um sorriso, e disse-lhes que
viera de muito longe, trazendo-lhes uma mensagem e um presente da parte do Rei de Salém. Curiosos,
mas ao mesmo tempo desconfiados, eles assentaram-se e ficaram esperando, enquanto o beduíno enfiava
suas mãos no jarro. A primeira coisa que ele tirou dali foi um pequeno manuscrito com uma mensagem
intitulada: O Último Jubileu: Um Texto Sobre Melquisedeque. Os doze olharam entre si surpresos, pois o
título da carta estava relacionado com as palavras escritas na última estrela. Ansiosos por conhecerem o
conteúdo do manuscrito, eles o tomaram e passaram a ler as seguintes palavras:

Falarei sobre o Ano Jubileu, que encontra-se em Levítico 25:13. Nós lemos: Neste Ano Jubileu,
tornará cada um à sua possessão”. Esta é uma parte do mandamento que cumprir-se-á nos últimos
dias, no Período da Remissão, quando aqueles que estão em cativeiro serão libertos, conforme as
palavras de Isaias: “O Senhor enviou-me para proclamar libertação aos cativos.”(3)
O
Libertador é o Messias, que foi prefigurado por Melquisedeque, rei de Salém. Ele era e sacerdote
do Deus Altíssimo, e pronunciou uma benção sobre o nosso pai Abraão. Como Sumo Sacerdote, o
Messias que é nosso eterno Melquisedeque, receberá por herança o domínio sobre todas as coisas, e
Abraão tomará parte nesta herança. Não somente Abraão, como também sua descendência terá esse
privilégio, quando ela se unir a Deus numa eterna aliança. Naquele tempo, o próprio Senhor será a
herança e patrimônio de Seu povo. No último jubileu, Deus restaurará o Seu povo, e eles
retornarão, cada um, ao seu patrimônio. A libertação referida na Lei do Jubileu deve ser entendida
com o sentido de remissão de suas culpas, e não haverá mais punição para aqueles que forem
justificados. Isto ocorrerá na última semana de uma série de setenta semanas de anos, envolvendo
nove precedentes jubileus.(5)
Ao
chegar o Dia do Juízo do Último Jubileu, todos aqueles que se colocam do lado da justiça, terão
suas culpas anuladas, ao passo que os injustos e maus colherão as conseqüências de tudo o que
semearam, e encontrarão o seu fim. (6)
Começará
então o Ano do Favorável, do qual fala o profeta Isaias (61:2), que será marcado pelo
Favor de Deus, pois o Rei da Justiça, Aquele que foi prefigurado por Melquisedeque, receberá o Seu
domínio. Ele assentar-se-á entre as hostes santas no Céu, e executará várias sentenças de
julgamentos, como foi predito por Davi: “Deus assentou-se em concílio entre os seres celestes, para
realizar julgamento”.(7) Por meio desse julgamento, Israel será absolvido de suas culpas, e
retornará ao seu lugar de eminência em meio aos povos. Esse retorno ocorrerá em cumprimento da
Lei do Jubileu.
Ao
mesmo tempo em que a palavra “Favor” indica o triunfo dos filhos de Deus, ela aponta também
para a destruição dos ímpios. Salmos 7: 9 e 10 faz referência a esse julgamento, dizendo: “Deus é o
juiz dos povos. Põe fim à maldade dos ímpios e confirma o justo”. Serão desarraigados todos os
filhos de Belial, aqueles que desafiam os estatutos de Deus, e pervertem a justiça. O futuro Rei da
Justiça, que é Melquisedeque (o Messias) executará sobre eles a justiça de Deus, estabelecendo ao
mesmo tempo os justos. Acompanhado pelos exércitos celestes, ele dará fim aos intentos dos ímpios,
fazendo com que os filhos de Deus fiquem em eminência. O julgamento em questão é o mesmo Dia
da Retribuição do qual fala o profeta Isaias: “Como são belos sobre os montes os pés daquele que
proclama a paz (Shalom), o mensageiro que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação; que diz a
Sião: O teu Deus agora é aclamado Rei.”(8) A palavra paz (shalom) pode também ser lida como
(shillum) que significa “retribuição”.
O
mensageiro prometido se manifestará no Último Jubileu, e proclamará a sua mensagem de paz,
dizendo: “ O Senhor enviou-me para confortar todos os que choram.” (9) O conforto que ele trará,
consistirá numa revelação das sucessivas eras da história do universo, desde o princípio da criação
até o fim. Naquele tempo, os filhos de Belial se aliarão com o propósito de perverter toda a justiça,
mas serão confundidos pelos julgamentos de Deus.
O
reino de Deus em Sião, será estabelecido mediante a aliança que Melquisedeque ( o Rei da
Justiça) fará com todos os justos , destruindo ao mesmo tempo os filhos de Belial. O mandamento do
jubileu fala também de um forte som de trombeta que repercutirá por toda a terra, no dia dez do
sétimo mês.(10) Aplicando-se aos últimos dias, isto se refere à uma poderosa manifestação divina
que sacudirá o mundo, preparando-o para a Era Messiânica” (*)
(*) O texto em destaque é uma tradução livre do manuscrito original encontrado na Gruta 11 de
Qunram, em janeiro de 1956, por beduínos da tribo de Taamireh.
Depois de lerem com atenção as promessas contidas no pergaminho, os doze voltaram-se para o beduíno
que, curvando-se sobre o jarro, tomou um grande rolo de pele de cordeiro, escrito por dentro e por fora.
Antes de entregar-lhes, afirmou que a mensagem de consolo prometida no manuscrito que acabavam de
ler, estava contida naquele rolo especial. Ao abrirem-no, vi que era o Livro de Melquisedeque, composto
pelo manuscrito do rei de Salém e pelo meu. A leitura dos relatos ali contidos comoveu-os
profundamente, levando-os a compreenderem que aquele a quem menosprezaram e entregaram para a
morte, era o Messias prometido, o grande Melquisedeque que, em virtude de seu sacrifício, os libertara
naquele Último Jubileu.
Cheios de arrependimento, choraram amargamente, mas foram consolados pelas revelações contidas no
manuscrito do rei, onde as sucessivas eras da história eram contadas em ricos detalhes, desde o princípio
da criação até aquele tempo.
Ao terminarem a leitura do Livro de Melquisedeque, os doze prostraram-se reverentes, e louvaram ao
Eterno pelo consolo que lhes enviara, através de tão humilde mensageiro. Curvando-se sobre o jarro, o
menino tomou uma caixinha de ouro ornamentada com pedras preciosas, na qual haviam 144 pérolas de
variados tamanhos. Afirmando ser um presente de Melquisedeque para eles, o beduíno passou a distribuílas,
doze para cada, começando por Rúben. Aquelas pérolas simbolizavam a vitória que haviam alcançado
mediante a concretização de uma nova e eterna aliança com o grande Melquisedeque, que é o Messias.
Depois de louvarem ao Eterno pelas pérolas que selavam a vitória alcançada, os doze, num gesto de
reconhecimento e gratidão, passaram a honrar o humilde beduíno que, por meio de lutas e sacrifícios,
resgatara das trevas todos aqueles tesouros, para ofertar-lhes naquele Jubileu. Representando os seus
irmãos, Rúben, o primogênito, tomou um de seus melhores mantos e cobriu o corpo desnudo do menino.
Aquecido por aquele manto que simbolizava sua maior conquista, o beduíno emocionou-se ao ver que ele
trazia, do lado de seu coração, um distintivo precioso, com a gravura de uma cruz vermelha da qual saiam
raios dourados. Isto fez com que reconhecesse que toda aquela honra recebida, pertencia ao Messias que
resgatou-o das profundezas de uma caverna, conduzindo os seus passos através de caminhos perigosos e
solitários, até que pudesse entregar aos filhos de Israel os tesouros contidos no jarro. Ele devia também
aquela conquista aos seus três irmãos, sem os quais não teria encontrado aquele presente do rei de Salém.
A lembrança de seus irmãos o fez chorar de saudade, e desejou muito beijar suas faces, compartilhando
com eles toda a honra recebida.
Num gesto surpreendente que consolou o coração do menino, Rúben tomou três de suas pérolas mais
brilhantes e, colocando-as numa caixinha vermelha, entregou-as ao menino e disse:
Estas
pérolas são para os seus irmãos.
Logo depois surgiram ao longe a figura de três beduínos que caminhavam ao nosso encontro, trazendo
jarros em seus ombros. Quando os viu, o menino alegrou-se ao descobrir que eram os seus irmãos. O
mais velho tinha em seu jarro uma inscrição que dizia: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a
hora de seu juízo.(11) O segundo trazia no vaso a mesma inscrição contida no jarro do menino, porém em
letras menores e menos brilhantes: Caiu, caiu a Grande Babilônia!(12) O terceiro carregava um vaso um
pouco maior que os dois anteriores, e nele estava escrita uma advertência: Se alguém adorar a besta ou a
sua imagem, e receber o sinal na fronte, ou na mão, também o tal beberá do vinho da ira de Deus, que se
acha preparado sem mistura, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos
santos anjos e diante do Cordeiro. Abaixo desta advertência, em grandes letras lia-se o seguinte: Aqui
está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e tem a fé do
Messias.(13)
Quando eles viram o seu irmão mais novo em honra perante os filhos de Israel, correram ao seu encontro
e prostraram-se, depondo os seus jarros aos seus pés. Em grande pranto revelaram o seu arrependimento
pelo desprezo e sofrimentos pelos quais o fizeram passar. O pequeno beduíno inclinando-se para os seus
irmãos com amor, beijou-lhes as faces, e falou-lhes que tudo o que lhes acontecera, fora para o bem.
Depois de consolarem-se, os filhos de Israel prepararam um banquete em homenagem ao pequeno
beduíno e aos seus irmãos. No banquete o rolo foi mais uma vez aberto, e todos alegraram-se com sua
mensagem. Quando estavam quase ao fim da festa, o menino honrou os seus irmãos na presença de todos,
dando-lhes as pérolas recebidas de Rúben. O mais velho recebeu a pérola menor, o do meio a pérola de
tamanho médio, e o mais novo a maior. Eles ficaram felizes ao receberem aquelas jóias que simbolizavam
sua vitória.
Todos tinham agora suas pérolas, menos o menino, cuja alegria consistia em ver os filhos de Israel e seus
irmãos enriquecidos pelos presentes do Rei. A maior e mais brilhante de todas as pérolas, contudo, Rúben
separara para ele. Quando a recebeu, seu coração transbordou de indizível alegria, vendo nela o símbolo
de seu triunfo. Na pérola havia três inscrições: Melquisedeque, Eliahu Hanavi e Nova Jerusalém.
Depois da festa, o pequeno beduíno procurou pelo seu jarro, e ficou surpreso ao encontrá-lo repleto de
pérolas. Com muito esforço, tomou-o em seus braços, levando-o para junto de seus irmãos que tinham os
seus jarros vazios. Começando pelo primogênito, ele foi compartilhando o tesouro, até que todos os vasos
se encheram com aquelaslindas pérolas. Renascidos pelo arrependimento e movidos pela gratidão, os três
beduínos juntamente com os doze filhos de Israel, seguiram os passos do menino na realização de uma
importante obra sobre a Terra: Sua missão seria abrir perante o mundo o Rolo de Melquisedeque,
oferecendo a todos quantos aceitassem sua mensagem, aquelas pérolas que simbolizam a vida.
Durante seis anos a humanidade teria a oportunidade de conhecer a mensagem do rolo, e as advertências
escritas naqueles jarros, apossando-se das pérolas da salvação. Ao fim dos seis anos, os jarros se
esvaziariam e o rolo seria fechado. Enquanto os anos da oportunidade se escoavam, multidões acorriam
de todas as partes em busca da mensagem do rolo e das pérolas. Olhando para os céus, descobri que a
cada novo ano que era representado por um dia da semana, uma nova estrela surgia ao lado da estrela do
jubileu, iluminando cada vez mais a Terra com a sua glória. Ao fim dos seis anos de oportunidade, o
mundo achava-se dividido em duas classes de pessoas: os possuidores das pérolas da salvação, que são
chamados filhos de Deus, e os que rebelaram-se contra a mensagem do rolo, os filhos de Belial.
Ao expirar-se o tempo da oportunidade, no momento em que as seis estrelas do jubileu enchiam toda a
Terra com sua claridade, soou uma voz desde os céus, dizendo: Está Consumado! Quem é injusto , faça
injustiça ainda; e quem está sujo, suje-se ainda; quem é justo, faça justiça ainda, e quem é santo,
santifique-se ainda. Eis que cedo venho, e esta comigo a minha recompensa, para retribuir a cada um
segundo a sua obra. Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o derradeiro, o princípio e o fim. Bem
aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à
árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas. Ficarão de fora os feiticeiros, os adúlteros, os
homicidas, os idólatras e todo o que ama e pratica a mentira.(14)
Quando o Messias, que é Melquisedeque, proclamou o decreto, o rolo foi fechado, pois não havia mais
pérolas nos jarros. Subitamente as seis estrelas se apagaram, mergulhando o mundo em completa
escuridão. Surgiu então no céu uma estrela vermelha, cujos raios traziam luz e proteção para os filhos de
Deus, ao passo que para os ímpios traziam trevas e sofrimento. Isto fez com que eles blasfemassem contra
Deus, levantando-se contra os Seus redimidos No momento mais difícil, quando as mãos dos ímpios
pesavam sobre os justos prestes a destruí-los, a Terra foi sacudida por um grande terremoto.(15) Em meio
às nuvens negras, surgiu o brilho de uma estrela que foi crescendo rapidamente, até cobrir todo o céu.
Hozanas de vitória ecoaram por todas as partes, quando os remidos contemplaram a face do Messias que
vinha em seu socorro, acompanhado pelos exércitos dos céus.Diante de sua presença majestosa, os ímpios
fugiram, mas foram consumidos pelo fogo.(16)
O Messias fez soar sua trombeta, e todos os justos mortos ressurgiram com corpos perfeitos e imortais.
Logo depois, os justos vivos foram transformados, recebendo, igualmente, corpos incorruptíveis.
Acompanhados pelos anjos, fomos arrebatados para o encontro com nosso Rei e Redentor nos ares. Ele
nos recebeu com indizível alegria, e nos conduziu numa viagem inesquecível rumo à Nova e Eterna
Jerusalém. (17)
Ao entrarmos na Cidade Santa, ficamos deslumbrados diante de tantas maravilhas. Fomos conduzidos ao
paraíso, onde fora preparado um grande banquete para nós Ali, diante do trono, em meio às hosanas
angelicais, fomos coroados pelo Messias, recebendo um reino de paz que jamais findará. Enquanto
desfrutava as delícias do Éden, acordei e vi que tudo fora um sonho. Levantando-me, tomei Isaque nos
braços e, sentando-me do lado do jarro, os acariciei até o alvorecer, enquanto relembrava as cenas
marcantes de meu sonho.
Ao encontrar-me com Melquisedeque naquela manhã, desejei contar-lhe o meu sonho. Mas antes que eu
lhe dissesse algo, ele fitou-me com um olhar muito parecido com o do Messias, e me deu uma ordem:
Abraão,
toma agora o jarro que você tanto ama e leve-o ao Mar Salgado, onde lhe mostrarei uma
caverna na qual você o esconderá.
Tomando uma machadinha e um manto de linho, o rei acompanhou-me até a caverna que eu vira no
sonho, onde assentei-me para registrar estas últimas palavras. O rolo será agora lacrado, e será deixado no
silêncio da caverna, e permanecerá oculto até que seja aberto perante as nações, no Último Jubileu.
Referências: (1) Gênesis 22: 1, 2; (2)Isaias 53; (3)Apocalipse 18: 2,4; (4)Isaias 61: 1; (5)
Levitico 25:10; Daniel 9: 24,25; (6) Levítico 25:9; (7)Salmo 82: 1; (8) Isaias 52:7; (9) Isaias 61: 3;
(10) Levítico 25: 9; (11) Apoc. 13:7; (12) Apoc. 13:9; (13)Apoc. 13:9 – 12; (14)Apoc. 22: 11-15;
(15) Apoc. 16: 17-21; (16) S. Mateus 24: 29-31; (17)I Coríntios 15: 50-55; Apoc. 21 e 22.
ORAÇAO DE MANASSÉS
ORAÇÃO DE MANASSÉS
Esta oração encontra-se nas Bíblias gregas e eslavas, mas não faz parte do cânon católico, razão porque foi
colocada - tardiamente - em separado, em apêndice, na Vulgata latina.
A oração é certamente de origem judaica e imita os salmos penitenciais. O autor, desconhecido, utilizou-se do
grego e escreveu a oração provavelmente entre os séculos II ou I aC, possivelmente no Egito. Existem antigas
traduções também em siríaco, armênio e árabe.
Tal oração teria sido pronunciada por ocasião da conversão do ímpio Manassés, o mesmo que é enfocado pelo
segundo livro das Crônicas. Talvez por isso, a parte introdutória segue de perto 2Cron. 23,11-14.)
Alocução
1 Ó Senhor onipotente, Deus de nossos pais, de Abraão, Isaac e Jacó, e de toda a sua descendência de
justos;
2 Tu que criaste os céus e a terra, com tudo o que neles existe;
3 que acorrentaste o mar com a tua palavra forte, que confinaste o abismo, selando-o com teu Nome
terrível e glorioso;
4 pelo qual se abalam todas as coisas, tremendo perante teu poder;
5 ninguém pode sustentar o esplendor da tua glória, e a tua ira contra os pecadores é insuportável,
6 embora sem medidas e sem limites é a tua misericórdia prometida;
7 Tu és o Senhor das Alturas, de imensa compaixão, grande tolerância e gigantesca misericórdia;
demonstras piedade com o sofrimento humano! Ó Senhor, conforme tua imensa bondade, prometeste
penitência e perdão àqueles que pecaram contra Ti, e na clemência sem conta apontaste a penitência aos
pecadores para que pudessem ser salvos.
Confissão dos Pecados
8 Assim, Senhor, Deus dos justos, não apontaste penitência para os justos, para Abraão, Isaac e Jacó, que
não pecaram contra Ti, mas apontaste penitência para mim, que sou pecador.
9 Os pecados que cometi são superiores aos grãos de areia do mar; minhas transgressões são múltiplas, ó
Senhor: elas se multiplicaram! Não sou digno de levantar os olhos para os céus em razão da multidão de
minhas iniqüidades.
10 Estou sobrecarregado com pesadas correntes de ferro; fui rejeitado em razão dos meus pecados, e não
recebo consolo por ter provocado a tua ira e ter feito aquilo que é mau perante os teus olhos, realizando
coisas abomináveis e multiplicando as ofensas.
Pedido de Perdão
11 Agora eu dobro os joelhos do meu coração e imploro a tua amizade.
12 Eu pequei, Senhor! Eu pequei, e reconheço as minhas transgressões.
13a Ardentemente eu te imploro: perdoe-me, Senhor! Perdoe-me! Não destrua-me com as minhas
transgressões! Não te zangues comigo para sempre, nem guardes o mal para mim! Não me condenes às
profundezas da terra!
Agradecimento
13bTu és, Senhor, o Deus daqueles que se arrependem,
14 e em mim manifestarás a tua bondade; pois, miserável como sou, tu me salvarás por tua grande
misericórdia,
15 e eu irei orar a Ti incessantemente por todos os dias da minha vida. Pois toda a milícia celeste
proclamam a tua honra e tua é a glória para sempre. Amém.
APOCALIPSE DAS SEMANAS
DE ENOCH
APOCALIPSE DAS SEMANAS
Livro de Enoch 93:1-10 , 91:11-17*
4 Qumran Henoc g (4Q212) III-IV § versão espanhol português E C M - enochm@terra.com.br
14/04/2001
Enoch relembrou seu discurso dizendo: "A propósito dos filhos da Justiça e acerca do Eleito do mundo,
que havia crescido de uma planta de verdade e de justiça, eles falaram e deram a conhecer a mim, Enoch,
filhos meus, segundo o que me foi revelado todo o entendimento por uma visão celestial e pela voz dos
anjos guardiães e dos santos. Nas tábuas celestiais é tudo lido e entendido ".
Continuou falando Enoch e disse: "Eu, Enoch, nasci o sétimo, na primeira semana, na época em que a
justiça ainda era firme. Depois de mim, virá a segunda semana na que crescerá a mentira e a violência e
durante ela terá lugar o primeiro Final, então, um homem será salvo. E quando esta semana haver
acabado, a injustiça crescerá e Deus fará uma lei para os pecadores.
"Depois, haverá o final da terceira semana, um homem será eleito como planta de juízo justo, através do
qual crescerá como planta de justiça para a eternidade. Logo, ao terminar a quarta semana, as visões dos
santos e dos justos aparecerão e será preparada uma lei para gerações de gerações e um cercado.
"Depois, no final da quinta semana, uma casa de gloria e poder será edificada para a eternidade. Logo, na
sexta semana, os que viverem durante ela serão cegados em seu coração, infielmente, se afastarão da
sabedoria. Então um homem subirá ao céu no final desta semana, a casa de dominação será consumida
pelo fogo e será dispersado todo a linhagem da raiz escolhida.
"Logo, na sétima semana surgirá uma geração perversa; numerosas serão suas obras, mas todas estarão no
erro. E no final desta semana serão escolhidos os eleitos como testemunhas da verdade e da planta de
justiça eterna. Será-lhes dada sabedoria e conhecimento por setuplicado. Para eles executarem o juízo
arrancarão da raiz as causas da violência e nela a obra da falsidade.
"Depois disso virá a oitava semana, a da justiça, na qual se entregará uma espada a todos os justos para
que julguem justamente aos opressores, que serão entregues em suas mãos. E ao final desta semana os
justos adquirirão honestamente riquezas e será construído o templo da realeza d'O Grande, em seu
esplendor eterno, para todas as gerações.
"Após isto, na nona semana se revelarão a justiça e o juízo justo à totalidade dos filhos da terra inteira e
todos os opressores desaparecerão totalmente da terra e serão lançados ao pouso eterno e todos os homens
verão o caminho justo e eterno.
"Depois disso, na décima semana, em sua sétima parte, terá lugar o Juízo Eterno. Será o tempo do Grande
Juízo e Ele executará a vingança no meio dos santos. Então o primeiro céu passará e aparecerá um novo
céu e todos os poderes dos céus se levantarão brilhando eternamente sete vezes mais. E depois disso,
haverá muitas semanas, cujo número nunca terá fim, nas quais se fará o bem e a justiça. O pecado já não
será mencionado jamais."
O livro de Enoch é um texto apócrifo que é mencionado por algumas cartas do Novo Testamento
(Judas, Hebreus e 2ª de Pedro). Até a elaboração da Vulgata, por volta do ano 400, os primeiros
seguidores de Cristo o mencionavam abertamente em seus textos e o aceitavam como real. Após a
Vulgata ele caiu no esquecimento. Entretanto, o livro é muito interessante e parece real. O livro de
Enoch foi preservado somente em uma cópia, na totalidade, em etíope e, por esta razão, também é
chamado de Enoch etíope. Este documento foi encontrado, incompleto, entre os Manuscritos do Mar
Morto.
CAPITULO I
Profecias sobre o fim dos tempos
"1 - Eis as palavras de Enoch pelas quais abençoou os eleitos e os justos que viverão no tempo da aflição,
quando serão reprovados todos os maus e ímpios. Enoch, homem justo que caminha diante do Senhor,
quando seus olhos foram abertos, e quando contemplou uma santa visão nos céus, fala e pronuncia: Eis o
que me mostram os anjos,
2 - Esses anjos me revelarão todas as coisas e me darão a inteligência do que jamais vi, que não deve
ocorrer nesta geração, mas numa geração afastada, para o bem dos eleitos,
3 - Foi por eles que pude falar e conversar com aquele que deve deixar um dia sua celeste morada, o
Santo e Todo-poderoso, o Senhor desse mundo,
4 - Que um dia deve pôr em convulsão o pico do monte Sinai, aparecer em seu tabernáculo e se
manifestar com toda a força de sua celeste potência.
5 - Todos os vigilantes serão surpreendidos, todos ficarão consternados.
6 - Todos serão tomados pelo medo e pelo espanto, mesmo nas extremidades da terra. As altas montanhas
serão sacudidas, as colinas elevadas serão diminuídas, escoar-se-ão diante de sua face como o círio diante
da drama. A terra será submersa e tudo aquilo que a habitar, perecerá, ora, todos os seres serão julgados,
mesmo os justos.
7 - Mas os justos obterão a paz, Ele conservará os eleitos e sobre eles exercerá sua clemência.
8 - Então tornar-se-ão a propriedade do Senhor Deus, e serão por Ele cumulados de felicidade e bênçãos;
e o esplendor da Divindade os iluminará."
CAPITULO XLIV
Profecias sobre Jesus, os tempos atuais e a perseguição aos cristãos
1 - Lá, vi então o Ancião dos dias cuja cabeça estava como que coberta de lã branca e com ele, um outro,
que tinha a figura de um homem. Esta figura era plena de graça, como a de um dos santos anjos. Então
interroguei a um dos anjos que estava comigo e que me explicou todos os mistérios relativos ao Filho do
homem. Perguntei-lhe quem era ele, de onde vinha e porque acompanhava o Ancião dos Dias.
2 - Respondeu-me nessas palavras: "Este é o Filho do homem a quem toda justiça se refere, com quem ela
habita, e que tem a chave de todos os tesouros ocultos; pois o Senhor dos espíritos o escolheu
preferencialmente e deu-lhe glória acima de todas as criaturas.
3 - Esse Filho do homem que viste, arrancará reis e poderosos de seu sono voluptuoso, fá-los-á sair de
suas terras inamovíveis, colocará freio nos poderosos, quebrará os dentes dos pecadores.
4 - Expulsará os reis de seus tronos e de seus reinos, porque recusam honrá-lo, de tornarem públicos seus
louvores e de se humilharem diante daquele a quem todo reino foi dado. Colocará tormentos na raça dos
poderosos; forçá-los-á a se deitarem diante dele. As trevas tornar-se-ão sua morada e os vermes serão os
companheiros de sua cama; nenhuma esperança para eles de sair desse leito imundo, pois não
consultaram o nome do Senhor dos espíritos.
5 - Desprezarão os astros do céu e elevarão as mãos contra o Todo-Poderoso; seus pensamentos serão
voltados apenas para a terra na qual desejarão estabelecer sua morada eterna; e suas obras serão apenas
obras de iniquidade. Colocarão suas alegrias em suas riquezas e sua confiança nos deuses fabricados por
suas próprias mãos. Recusar-se-ão a invocar o Senhor dos espíritos, expulsá-lo-ão de seus templos.
6 - E os fiéis serão perseguidos pelo nome do Senhor dos espíritos.
CAPITULO XLV
Profecias sobre o julgamento
1 - Nesse dia, as preces dos santos subirão da terra até ao pé do trono do Senhor dos espíritos.
2 - Nesse dia, os santos que habitam nos céus se reunirão e com voz unânime, rezarão, suplicarão,
celebrarão, louvarão, exaltarão o nome do Senhor dos espíritos, pelo sangue dos justos, espalhado por ele;
e essas preces dos justos elevar-se-ão incessantemente ao trono do Senhor dos espíritos, a fim de que lhes
faça justiça, e que sua paciência pelos maus não seja eterna.
3 - Nesse tempo, vi o Ancião dos dias, sentado no trono de sua glória. O livro da vida estava aberto diante
dele e todas as potências do céu se mantinham curvadas diante dele e ao seu redor.
4 - Então os corações dos santos estavam inundados de alegria, porque o tempo da justiça era chegado, a
prece dos santos havia sido ouvida e o sangue dos justos havia sido apreciado pelo Senhor dos espíritos.
SALMO 151
Salmo 151
Este Salmo apócrifo encontra-se na antiga versão grega, bem como, com algumas variações, na versão
siríaca. É possível que seu texto seja resultante da combinação de dois salmos apócrifos redigidos em
hebraico reencontrados em Qumran.
1 a Salmo de Davi. Ação de graças de Davi após combater Golias:
1 b Eu era o menor entre meus irmãos,
o mais novo da casa de meu pai.
Ao conduzir o rebanho de meu pai para o pasto,
encontrei um leão e um urso: matei-os e despedacei-os.
2 a Por minhas mãos construí uma flauta,
meus dedos fizeram uma harpa.
2 b Os montes nada testemunharam,
as colinas nada proclamaram;
entretanto, as árvores exaltaram as minhas palavras
e o rebanho [exaltou] os meus feitos.
3 a Quem anunciará a meu Senhor?
3 b Quem proclamará, quem divulgará, quem anunciará os feitos do Senhor de todas as coisas?
Deus viu, escutou e ouviu a tudo.
4 Ele enviou seu mensageiro para ungir-me,
enviou Samuel para tornar-me grande.
Ele me tirou do meio do rebanho de meu pai
e ungiu-me com o seu óleo.
5 a Meus irmãos eram belos e altos,
mas o Senhor não os preferiu.
5 b Ele me retirou de trás do rebanho,
ungiu-me com o santo óleo,
fez de mim o condutor de seu Povo,
o rei dos filhos da sua aliança.
6 Enfrentei o filisteu, que amaldiçoou-me por seus ídolos.
7 Arranquei-lhe a espada, cortei-lhe a cabeça,
e lavei a afronta aos filhos de Israel.
O PROTO-EVANGELHO
DE
TIAGO
O PROTO-EVANGELHO DE TIAGO
A NATIVIDADE
Este livro, apesar de conhecido como o Evangelho de Tiago ou Proto-Evangelho de Tiago, tem sua
autoria desconhecida. Publicado em fins do século XVI, não se sabe exatamente ainda qual a época em
que foi escrito, mas os maiores estudiosos dos Livros Apócrifos afirmam que é anterior aos Quatro
Evangelhos Canônicos, servindo, em muitos aspectos, como base para estes.
O Proto-Evangelho de Tiago conta a vida de Maria, seu nascimento de Ana e Joaquim, considerados
estéreis, de como foi sua educação no Templo até a sua puberdade, como se deu a escolha de seu futuro
esposo, José, velho, viúvo e pai de seis filhos: Judas, Josetos, Tiago, Simão, Lígia e Lídia. Continua,
narrando a concepção e a virgindade, que se manteve após dar à luz o Salvador, numa caverna. Fala da
estrela misteriosa e radiante, que guiou os magos até a caverna e da nuvem de luz que pairou sobre o
local, na hora em que o Senhor Jesus nascia.
Narra, também, a participação da parteira que testemunhou a virgindade de Maria, após o nascimento do
Senhor E cita o testemunho de uma parteira que constatou a virgindade de Maria após dar à luz.
A INFÂNCIA DE CRISTO SEGUNDO TIAGO
I
Segundo narram as memórias das doze tribos de Israel, havia um homem muito rico, de nome Joaquim,
que fazia suas oferendas em quantidade dobrada, dizendo:
O
que sobra, ofereça-o para todo o povoado e o devido na expiação de meus pecados será para o
Senhor, a fim de ganhar-lhe as boas graças.
Chegou a grande festa do Senhor, na qual os filhos de Israel devem oferecer seus donativos. Rubem se
pôs à frente de Joaquim, dizendo-lhe:
Não
te é lícito oferecer tuas dádivas, enquanto não tiveres gerado um rebento em Israel.
Joaquim mortificou-se tanto que se dirigiu aos arquivos de Israel, com intenção de consultar o censo
genealógico e verificar se, porventura, teria sido ele o único que não havia tido prosperidade em seu
povoado.
Examinando os pergaminhos, constatou que todos os justos haviam gerado descendentes. Lembrou-se,
por exemplo, de como o Senhor deu Isaac ao patriarca Abraão, em seus derradeiros anos de vida.
Joaquim ficou muito atormentado, não procurou sua mulher e se retirou para o deserto. Ali armou sua
tenda e jejuou por quarenta dias e quarenta noites, dizendo:
Não
sairei daqui nem sequer para comer ou beber, até que não me visite o Senhor meu Deus. Que
minhas preces me sirvam de comida e de bebida.
II
Ana lamentava-se e gemia dolorosamente, dizendo:
Chorarei
minha viuvez e minha esterilidade.
Chegou, porém, a grande festa do Senhor e disse-lhe Judite, sua criada:
Até
quando vais humilhar tua alma? Já é chegada a festa maior e não te é lícito entristecer-te. Toma
este lenço de cabeça, que me foi dado pela dona da tecelagem, já que não posso cingir-me com ele
por ser eu de condição servil e levar ele ao selo real.
Disse Ana:
Afasta-
te de mim, pois que não fiz tal coisa e, além do mais, o Senhor já me humilhou em demasia
para que eu o use. A não ser que algum malfeitor o haja dado e tenhas vindo para fazer-me também
cúmplice do pecado.
Replicou Judite:
- Que motivo tenho eu para maldizer-te, se o Senhor já te amaldiçoou não te dando fruto de Israel?
Ana, ainda que profundamente triste, despiu suas vestes de luto, cingiu-se com um toucado, vestiu suas
roupas de bodas e desceu, na hora nona, ao jardim para passear. Ali viu um loureiro, assentou-se à sua
sombra e orou ao Senhor, dizendo:
Ó
Deus de nossos pais! Ouve-me e bendize-me da maneira que bendisseste o ventre de Sara, dandolhe
como filho Isaac!
III
Tendo elevado seus olhos aos céus, viu um ninho de passarinhos no loureiro e novamente lamentou-se
dizendo:
Ai
de mim! Por que nasci e em que hora fui concebida? Vim ao mundo para ser como terra maldita
entre os filhos de Israel. Estes me cumularam de injúrias e me escorraçaram do templo de Deus. Ai
de mim! A quem me assemelho eu? Não às aves do céu, pois elas são fecundas em tua presença,
Senhor. Ai de mim! A quem me pareço eu? Não às bestas da terra, pois que até esses animais
irracionais são prolíficos ante teus olhos, Senhor. Ai de mim! A quem me posso comparar? Nem
sequer a estas águas, porque até elas são férteis diante de ti, Senhor. Ai de mim! A quem me igualo
eu? Nem sequer a esta terra, porque ela também é fecundada, dando seus frutos na ocasião própria e
te bendiz, Senhor.
IV
Eis que se lhe apresentou o anjo de Deus, dizendo-lhe:
Ana,
Ana, o Senhor escutou teus rogos! Conceberás e darás à luz e de tua prole se falará em todo o
mundo.
Ana respondeu:
Viva
o Senhor meu Deus, que, se chegar a ter algum fruto de bênção, seja menino ou menina, leválo-
ei como oferenda ao Senhor e estará a seu serviço todos os dias de sua vida.
Então vieram a ela dois mensageiros com este recado:
Joaquim,
teu marido, está de volta com seus rebanhos, pois que um anjo de Deus desceu até ele e lhe
disse que o Senhor escutou seus rogos e que Ana, sua mulher, vai conceber em seu ventre.
Tendo saído Joaquim, mandou que seus pastores lhe trouxessem dez ovelhas sem mancha.
Disse ele:
Estas
serão para o Senhor.
Mandou, então separar doze novilhas de leite, dizendo:
Estas
serão para os sacerdotes e para o sinédrio.
Finalmente, mandou apartar cem cabritos para todo o povoado.
Ao chegar Joaquim com seus rebanhos, estava Ana à porta e, ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se
ao seu pescoço dizendo:
Agora
vejo que Deus me bendisse copiosamente, pois, sendo viúva, deixo de sê-lo e, sendo estéril,
vou conceber em meu ventre.
Então Joaquim repousou naquele dia em sua casa.
V
No dia seguinte, ao ir oferecer sua dádivas ao Senhor, dizia para consigo mesmo:
Saberei
se Deus me vai ser favorável se eu chegar a ver o éfode do sacerdote.
Ao oferecer o sacrifício, observou o éfode do sacerdote, quando este se acercava do altar de Deus, e, não
encontrando pecado algum em sua consciência, disse:
Agora
vejo que o Senhor houve por bem perdoar todos os meus pecados.
Desceu Joaquim justificado do templo e foi para casa. O tempo de Ana cumpriu-se e no nono mês deu à
luz.
Perguntou à parteira:
A
quem dei à luz?
A parteira respondeu:
Uma
menina.
Então Ana exclamou:
Minha
alma foi enaltecida - e reclinou a menina no berço.
Ao fim do tempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deu o peito à menina e pôs-lhe o nome de Maria.
VI
Dia a dia a menina ia robustecendo-se. Ao chegar aos seis meses, sua mãe deixou-a só no chão, para ver
se sustentava-se de pé. Ela, depois de andar sete passos, voltou ao regaço de sua mãe. Esta levantou-se,
dizendo:
Salve
o Senhor! Não andarás mais por este solo, até que te leve ao templo do Senhor.
Fez-lhe um oratório em sua casa e não consentiu que nenhuma coisa vulgar ou impura passasse por suas
mãos. Chamou, além disso, umas donzelas hebréias, todas virgens, para que a entretivessem.
Quando a menina completou um ano, Joaquim deu um grande banquete, para o qual convidou os
sacerdotes, os escribas, o sinédrio e todo o povo de Israel. Apresentou a menina aos sacerdotes, que a
abençoaram assim:
Ó
Deus de nossos pais, bendiz esta menina e dá-lhe um nome glorioso e eterno por todas as gerações.
Ao que todo o povo respondeu:
Assim
seja, assim seja! Amém!
Apresentou-a também Joaquim aos príncipes e aos sacerdotes e estes a abençoaram assim:
Ó
Deus Altíssimo, põe teus olhos nesta menina e outorga-lhe uma bênção perfeita, dessas que
excluem as ulteriores.
Sua mãe levou-a ao oratório de sua casa e deu-lhe o peito. Compôs, então, um hino ao Senhor Deus,
dizendo:
Entoarei
um cântico ao Senhor meu Deus, porque me visitaste, afastaste de mim o opróbrio de meus
inimigos e me deste um fruto santo, que é único e múltiplo a seus olhos. Quem dará aos filhos de
Rubem a notícia de que Ana está amamentando? Ouvi, ouvi, ó Doze Tribos de Israel: Ana está
amamentando!
Tendo deixado a menina para que repousasse na câmara onde havia o oratório, saiu e pôs-se a servir os
comensais. Estes, uma vez terminada a ceia, saíram regozijando-se e louvando ao Deus de Israel.
VII
Entretanto, os meses iam-se passando para a menina. Ao fazer dois anos, disse Joaquim a Ana:
Levemo-
la ao templo do Senhor para cumprir a promessa que fizemos, para que Senhor não a
reclame e nossa oferenda se torne inaceitável a seus olhos.
Ana respondeu:
Esperamos,
todavia, até que complete três anos, para que a menina não tenha saudades de nós.
Joaquim respondeu:
Esperaremos.
Ao chegar aos três anos, disse Joaquim:
Chama
as donzelas hebréias que não têm mancha e que tomem, duas a duas, uma candeia acesa e a
acompanhem, para que a menina não olhe para trás e seu coração seja cativado por alguma coisa fora
do templo de Deus.
Assim fizeram enquanto iam subindo ao templo de Deus. Lá recebeu-a o sacerdote, o qual, depois de tê-la
beijado, abençoou-a e exclamou:
O
Senhor engrandeceu teu nome diante de todas as gerações, pois que, no final dos tempos,
manifestará em ti sua redenção aos filhos de Israel.
Fê-la sentar-se no terceiro degrau do altar. O Senhor derramou graças sobre a menina, que dançou
cativando toda a casa de Israel.
VIII
Saíram, então, seus pais, cheios de admiração, louvando ao Senhor Deus porque a menina não havia
olhado para trás. Maria permaneceu no templo como uma pombinha, recebendo alimento pelas mãos de
um anjo.
Ao completar doze anos, os sacerdotes reuniram-se para deliberar, dizendo:
Eis
que Maria cumpriu doze anos no templo do Senhor. Que faremos para que ela não chegue a
manchar o santuário?
Disseram ao sumo sacerdote:
Tu
que tens o altar ao teu cargo, entra e ora por ela. O que o Senhor te disser, isso será o que
haveremos de fazer.
O sumo sacerdote, cingindo-se com o manto das doze sinetas, entrou no Santo dos Santos e orou por ela.
Eis que um anjo do Senhor apareceu, dizendo-lhe:
Zacarias,
Zacarias, sai e reúne a todos os viúvos do povoado. Que cada um venha com um bastão e o
daquele em que o Senhor fizer um sinal singular, deste será ela a esposa.
Saíram os arautos por toda a região da Judéia e, ao soar a trombeta do Senhor, todos acudiram.
IX
José, deixando de lado sua acha, uniu-se a eles. Uma vez que se juntaram todos, tomaram cada qual seu
bastão e puseram-se a caminho, à procura do sumo sacerdote. Este tomou todos os bastões, entrou no
templo e pôs-se a orar. Terminadas as suas preces, tomou de novo os bastões e os entregou, mas em
nenhum deles apareceu sinal algum. Porém, ao pegar José o último, eis que uma pomba saiu dele e se pôs
a voar sobre sua cabeça. Então o sacerdote disse:
A
ti coube a sorte de receber sob tua custódia a Virgem do Senhor.
José replicou:
Tenho
filhos e sou velho, enquanto que ela é uma menina. Não gostaria de ser objeto de zombaria por
parte dos filhos de Israel.
Então tornou o sacerdote:
Teme
ao Senhor teu Deus e tem presente o que fez Ele com Datan, Abiron e Corê, de como abriu-se a
terra e foram sepultados por sua rebelião. Teme agora tu também, José, para que não aconteça o
mesmo a tua casa.
Ele, cheio de temor, recebeu-a sob proteção. Depois, disse-lhe:
Tomei-
te do templo. Deixo-te agora em minha casa e vou continuar minhas construções. Logo
voltarei. O Senhor te guardará.
X
Os sacerdotes, então, reuniram-se e concordaram em fazer um véu para o templo do Senhor.
O sumo sacerdote disse:
Chama
algumas donzelas sem mancha, da tribo de Davi.
Os ministros se foram e, depois de terem procurado, encontraram sete virgens. Então o sacerdote
lembrou-se de Maria, a jovenzinha que, sendo de estirpe davídica, se conservava imaculada aos olhos de
Deus. Os emissários foram buscá-la.
Depois de as terem introduzido no templo, disse o sacerdote:
Vejamos
qual há de bordar o ouro, o amianto, o linho, a seda, o zircão, o escarlate e a verdadeira
púrpura.
O escarlate e a verdadeira púrpura couberam a Maria que, tomando-as, foi para casa.
Naquela época, Zacarias ficou mudo, sendo substituído por Samuel, até quando pôde falar novamente.
Maria tomou em suas mãos o escarlate e pôs-se a tecê-lo.
XI
Certo dia, pegou Maria um cântaro e foi enchê-lo de água. Eis que ouviu uma voz que lhe dizia:
Deus
te salve, cheia de graça! O Senhor está contigo, bendita és entre as mulheres!
Ela olhou a sua volta, à direita, à esquerda, para ver de onde vinha aquela voz. Tremendo, voltou para
casa, deixou a ânfora, pegou a púrpura, sentou-se no divã e pôs-se a tecê-la. Logo um anjo do Senhor
apresentou-se diante dela, dizendo:
Não
temas, Maria, pois alcançaste graça ante o Senhor onipotente e vais conceber por Sua palavra!
Ela, ao ouví-lo, ficou perplexa e disse consigo mesma:
Deverei
eu conceber por virtude de Deus vivo e haverei de dar à luz como as demais mulheres?
Ao que lhe respondeu o anjo:
Não
será assim, Maria, pois que a virtude do Senhor te cobrirá com sua sombra. Depois, o fruto santo
que deverá nascer de ti será chamado de Filho do Altíssimo. Chamar-lhe-ás Jesus, pois Ele salvará
seu povo de suas iniqüidades.
Então, disse Maria:
Eis
aqui a escrava do Senhor em Sua presença. Que isto aconteça a mim conforme Sua palavra.
XII
Concluído seu trabalho com a púrpura e o escarlate, levou-o ao sacerdote. Este a abençoou dizendo:
Maria,
o Senhor enaltecer seu nome e serás bendita entre todas as gerações da terra.
Cheia de alegria, Maria foi à casa de sua parente Isabel. Chamou-a da porta e, ao ouví-la, Isabel largou o
escarlate, correu para a porta, abriu-a e, vendo Maria, louvou-a dizendo:
Que
fiz eu para que a mãe do meu Senhor venha a minha casa? Pois saiba que o fruto que carrego em
meu ventre se pôs a pular dentro de mim, como que para bendizer-se.
Maria havia se esquecido dos mistérios que o anjo Gabriel lhe comunicara, elevou os olhos aos céus e
disse:
Quem
sou eu, Senhor, para que todas as gerações me bendigam?
Passou três meses em casa de Isabel. Dia a dia seu ventre aumentava e, cheia de temor, pôs-se a caminho
de casa e escondia-se dos filhos de Israel. Quando sucederam essas coisas, ela contava dezesseis anos.
XIII
Ao chegar Maria ao sexto mês de gravidez, voltou José de suas construções e, ao entrar em casa, deu-se
conta de que ela estava grávida. Então, feriu seu próprio rosto, jogou-se no chão sobre uma manta e
chorou amargamente, dizendo:
Como
é que me vou apresentar agora diante do meu Senhor? E que oração direi eu agora por esta
donzela, pois que a recebi virgem do templo do Senhor e não a soube guardar? Será que a história de
Adão se repetiu comigo? Assim como no instante em que ela estava glorificando a Deus veio a
serpente e, ao encontrar Eva sozinha, a enganou, o mesmo me aconteceu.
Levantando-se, José chamou Maria e disse-lhe:
Predileta
como eras de Deus, como foste capaz de fazer isso? Acaso te esqueceste do Senhor teu
Deus? Com pudeste vilipendiar tua alma, tu que te criaste no Santo dos Santos e recebeste alimento
das mãos de um anjo?
Ela chorou amargamente dizendo:
Sou
pura e não conheço varão algum.
Replicou José:
De
onde, pois, provém o que carregas no seio?
Ao que Maria respondeu:
Pelo
Senhor, meu Deus, eu juro que não sei como aconteceu.
XIV
José encheu-se de temor, retirou-se da presença de Maria e pôs-se a pensar sobre o que faria com ela.
Dizia consigo próprio:
Se
escondo seu erro, contrario a lei do Senhor. Se a denuncio ao povo de Israel, temo que o que
acontecer a ela se deva a uma intervenção dos anjos e venha a entregar à morte uma inocente. Como
deverei proceder, pois? Mandá-la embora às escondidas.
Enquanto isso, caiu a noite. Eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo-lhe:
Não
temas por esta donzela, pois o que ela carrega em suas entranhas é fruto do Espírito Santo. Dará
à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, pois que ele há de salvar seu povo dos pecados.
Ao despertar, José levantou-se, glorificou a Deus de Israel por haver-lhe concedido tal graça e continuou
guardando Maria.
XV
Por essa ocasião, veio à casa de José um escriba chamado Anás, que lhe disse:
Por
que não compareceste à nossa reunião?
Respondeu-lhe José:
Estava
cansado da caminhada e decidi repousar este primeiro dia.
Ao voltar-se, Anás deu-se conta da gravidez de Maria.
Então, correu ao sacerdote, dizendo-lhe:
Esse
José, por quem respondes, cometeu uma falta grave.
Que
queres dizer com isso? - perguntou o sacerdote. Ao que respondeu Anás:
Pois
violou aquela virgem que recebeu do templo de Deus, com fraude de seu casamento e sem
manifestá-lo ao povo de Israel.
Disse o sacerdote:
Estás
certo de que foi José que fez tal coisa?
Replicou Anás:
Envia
uma comissão e te certificarás de que a donzela está realmente grávida.
Saíram os emissário e encontraram-na tal qual havia dito Anás. Por isso levaram-na, juntamente com
José, ante o tribunal.
O sacerdote iniciou, dizendo:
Maria,
como fizeste tal coisa? Que te levou a vilipendiar tua alma e esquecer-te do Senhor teu Deus?
Tu que te criaste no Santo dos Santos, que recebias alimento das mãos de um anjo, que escutaste os
hinos e que dançavas na presença de Deus? Como fizeste isso?
Ela se pôs a chorar amargamente, dizendo:
Juro
pelo Senhor meu Deus que estou pura em sua presença e que não conheci varão.
Então o sacerdote dirigiu-se a José, perguntando-lhe:
Por
que fizeste isso?
Replicou José:
Juro
pelo Senhor meu Deus, que me encontro puro com relação a ela.
Acrescentou o sacerdote:
Não
jures em falso! Dize a verdade! Usaste fraudulentamente o matrimônio e não o deste a conhecer
ao povo de Israel. Não abaixaste tua cabeça sob a mão poderosa de Deus, por quem sua descendência
havia sido bendita.
José guardou silêncio.
XVI
Devolve,
pois - continuou o sacerdote, - a virgem que recebeste do templo do Senhor.
José ficou com os olhos marejados em lágrimas. Acrescentou ainda o sacerdote:
Farei
com que bebais da água da prova do Senhor e ela vos mostrará, diante de vossos próprios
olhos, vossos pecados.
Tomando da água, fez José bebê-la, enviando-o em seguida à montanha, de onde voltou são e salvo. Fez o
mesmo com Maria, enviando-a também à montanha, mas ela voltou sã e salva.
Toda a cidade encheu-se de admiração ao ver que não havia pecado neles.
Disse o sacerdote:
Posto
que o Senhor não declarou vosso pecado, tampouco irei condenar-vos.
Então despediu-os. Tomando Maria, José voltou para casa cheio de alegria e louvado ao Deus de Israel.
XVII
Veio uma ordem do imperador Augusto para que se fizesse o censo de todos os habitantes de Belém da
Judéia.
Disse José:
A
meus filhos posso recensear, mas que farei desta donzela? Como vou incluí-la no censo? Como
minha esposa? Envergonhou-me. Como minha filha? Mas já sabem todos os filhos de Israel que não
é! Este é o dia do Senhor, que se faça a sua vontade.
Selando sua asna, fez com que Maria se acomodasse sobre ela. Enquanto um de seus filhos ia à frente,
puxando o animal pelo cabresto, José os acompanhava. Quando estavam a três milhas de distância de
Belém, José virou-se para Maria e viu que ela estava triste.
Disse consigo mesmo:
Deve
ser a gravidez que lhe causa incômodo.
Ao voltar-se novamente, encontrou-a sorrindo e indagou-lhe:
Maria,
que acontece, pois que algumas vezes te vejo sorridente e outras triste?
Ela lhe disse:
É
que se apresentam dois povos diante de meus olhos: um que chora e se aflige e outro que se alegra
e se regozija.
Ao chegar à metade do caminho, disse Maria a José:
Desça-
me, porque o fruto de minhas entranhas luta por vir à luz.
Ele a ajudou a apear da asna, dizendo-lhe:
Aonde
poderia eu levar-te para resguardar teu pudor, já que estamos em campo aberto?
XVIII
Encontrando uma caverna, levou-a para dentro e, havendo deixado seus filhos com ela, foi buscar uma
parteira na região de Belém.
Eis que José encontrou-se andando, mas não podia avançar. Ao levantar seus olhos para o espaço, pareceu
lhe ver como se o ar estivesse estremecido de assombro. Quando fixou vista no firmamento, encontrou-o
estático e os pássaros do céu, imóveis. Ao dirigir seu olhar à terra, viu um recipiente no solo e uns
trabalhadores sentados em atitude de comer, com suas mãos na vasilha. Os que pareciam comer, na
realidade não mastigavam, e os que estavam em atitude de pegar a comida, tampouco a tiravam do prato.
Finalmente, os que pareciam levar os manjares à boca, não o faziam, ao contrário, tinham seus rostos
voltados para cima.
Também havia umas ovelhas que estavam sendo tangidas, mas não davam um passo. Estavam paradas. O
pastor levantou sua destra para bater-lhes com um cajado, mas parou sua mão no ar.
Ao dirigir seu olhar à corrente do rio, viu como uns cabritinhos punham nela seus focinhos, mas não
bebiam. Em uma palavra, todas as coisas estavam afastadas, por uns instantes, de seu curso normal.
XIX


Então uma mulher que descia da montanha disse-lhe:
Aonde
vais?
Ao que ele respondeu:
Ando
procurando uma parteira hebréia.
Ela replicou:
Mas
és de Israel?
Ele respondeu:
Sim.
E
quem é a que está dando à luz na caverna?
É
minha esposa.
Então,
não é tua mulher?
Ele respondeu:
É
Maria, a que se criou no templo do Senhor, e ainda que me tivesse sido dada por mulher, não o é,
pois que concebeu por virtude do Espírito Santo.
Insistiu a parteira:
Isso
é verdade?
José respondeu:
Vem
e verás.
Então a parteira se pôs a caminho junto com ele. Ao chegar à gruta, pararam, e eis que esta estava
sombreada por uma nuvem luminosa.
Exclamou a parteira:
Minha
alma foi engrandecida, porque meus olhos viram coisas incríveis, pois que nasceu a salvação
para Israel. De repente, a nuvem começou a sair da gruta e dentro brilhou uma luz tão grande que
seus olhos não podiam resistir. Esta, por um momento, começou a diminuir tanto que deu para ver o
menino que estava tomando o peito da mãe, Maria. A parteira então deu um grito, dizendo:
Grande
é para mim o dia de hoje, já que pude ver com meus próprios olhos um novo milagre.
Ao sair a parteira da gruta, veio ao seu encontro Salomé.
Salomé,
Salomé! - exclamou. - Tenho de te contar uma maravilha nunca vista. Uma virgem deu à luz;
coisa que, como sabes, não permite a natureza humana.
Salomé replicou:
Pelo
Senhor, meus Deus, não acreditarei em tal coisa, se não me for dado tocar com os dedos e
examinar sua natureza.
XX
Havendo entrado a parteira, disse a Maria:
Prepara-
te, porque há entre nós uma grande querela em relação a ti.
Salomé, pois, introduziu seu dedo em sua natureza, mas, de repente, deu um grito, dizendo:
Ai
de mim! Minha maldade e minha incredulidade é que têm a culpa! Por descrer do Deus vivo,
desprende-se de meu corpo minha mão carbonizada.
Dobrou os joelhos diante do Senhor, dizendo:
Ó
Deus de nossos pais! Lembra-te de mim, porque sou descendente de Abraão, Isaac e Jacó! Não
faças de mim um exemplo para os filhos de Israel! Devolve-me curada, porém, aos pobres, pois que
tu sabes, Senhor, que em teu nome exercia minhas curas, recebendo de ti meu salário!
Apareceu um anjo do céu, dizendo-lhe:
Salomé,
Salomé, Deus escutou-te. Aproxima tua mão do menino, toma-o e haverá para ti alegria e
prazer.
Acercou-se Salomé e o tomou, dizendo:
Adorar-
te-ei, porque nasceste para ser o grande Rei de Israel.
De repente, sentiu-se curada e saiu em paz da gruta. Nisso ouviu uma voz que dizia:
Salomé,
Salomé, não contes as maravilhas que viste até estar o menino em Jerusalém.
XXI
José dispôs-se a partir para Judéia. Por essa ocasião, sobreveio um grande tumulto em Belém, pois vieram
um magos dizendo:
Aonde
está o recém-nascido Rei dos Judeus, pois vimos sua estrela no Oriente e viemos para adorálo?
Herodes, ao ouvir isso, perturbou-se. Enviou seus emissários aos magos e convocou os príncipes e os
sacerdotes, fazendo-lhes esta pergunta:
Que
está escrito em relação ao Messias? Aonde ele vai nascer?
Eles responderam:
Em
Belém da Judéia, segundo rezam as escrituras. Com isso, despachou-os e interrogou os magos
com estas palavras:
Qual
é o sinal que vistes em relação ao nascimento desse rei?
Responderam-lhes os magos:
Vimos
um astro muito grande, que brilhava entre as demais estrelas e as eclipsava, fazendo-as
desaparecer. Nisso soubemos que a Israel havia nascido um rei e viemos com a intenção de adorá-lo.
Replicou Herodes:
Ide
e buscai-o, para que também possa eu ir adorá-lo!
Naquele instante, a estrela que haviam visto no Oriente voltou novamente a guiá-los, até que chegaram à
caverna e pousou sobre a entrada dela. Vieram, então, os magos a ter com o Menino e Sua mãe, Maria, e
tiraram oferendas de seus cofres: ouro, incenso e mirra.
Depois, avisados por um anjo para que não entrassem na Judéia, voltaram a suas terras por outro
caminho.
XXII
Ao dar-se conta Herodes de que havia sido enganado, encolerizou-se e enviou seus sicários, dando-lhes a
missão de assassinar todos os meninos de menos de dois anos.
Quando chegou até Maria a notícia da matança das crianças, encheu-se de temor e, envolvendo seu filho
em fraldas, colocou-o numa manjedoura.
Quando Isabel inteirou-se de que também buscavam a seu filho João, pegou-o e levou-o a uma montanha.
Pôs-se a ver onde haveria de escondê-lo, mas não havia um lugar bom para isso. Entre soluços, exclamou
em voz alta:
Ó
Montanha de Deus, recebe em teu seio a mãe com seu filho, pois que não posso subir mais alto.
Nesse instante, abriu a montanha suas entranhas para recebê-los. Acompanhou-os uma grande luz, pois
estava com ele um anjo de Deus para guardá-los.
XXIII
Herodes prosseguia na busca de João e enviou seus emissários a Zacarias para que lhe dissessem:
Aonde
escondeste teu filho?
Ele respondeu desta maneira:
Eu
me ocupo do serviço de Deus e me encontro sempre no templo. Não sei onde está meu filho.
Os emissários informaram a Herodes tudo o que se passara e ele encolerizou-se muito, dizendo consigo
mesmo:
Deve
ser seu filho que vai reinar em Israel.
Enviou, então, um outro recado, dizendo-lhe:
Diga-
nos a verdade sobre onde está teu filho, porque do contrário bem sabes que teu sangue está sob
minhas mãos.
Zacarias respondeu:
Serei
mártir do Senhor, se te atreveres a derramar meu sangue, porque minha alma será recolhida
pelo Senhor, ao ser segada uma vida inocente no vestíbulo do santuário.
Ao romper da aurora, foi assassinado Zacarias, sem que os filhos de Israel se dessem conta desse crime.
XXIV
Os sacerdotes se reuniram à hora da saudação, mas Zacarias não saiu a seu encontro, como de costume,
para abençoá-los. Puseram-se a esperá-lo para saudá-lo na oração e para glorificar o Altíssimo.
Ante sua demora, começaram a ter medo. Tomando ânimo, um deles entrou, viu ao lado do altar sangue
coagulado e ouviu uma voz que dizia:
Zacarias
foi morto e não se limpará o seu sangue até que chegue o vingador.
Ao ouvir a voz, encheu-se de temor e saiu para informar os sacerdotes que, tomando coragem, entraram e
testemunharam o ocorrido. Então, os frisos do templo rangeram e eles rasgaram suas vestes de alto a
baixo.
Não encontraram o corpo, somente a poça de sangue coagulado. Cheios de temor, saíram para informar a
todo o povo que Zacarias havia sido assassinado. A notícia correu em todas as tribos de Israel, que o
choraram e guardaram luto por três dias e três noites.
Concluído esse tempo, reuniram-se os sacerdotes para deliberar sobre quem iriam pôr em seu lugar.
Recaiu a sorte sobre Simeão, pois, pelo Espírito Santo, havia sido assegurado de que não veria a morte até
que lhe fosse dado contemplar o Messias Encarnado.
XXV
Eu, Tiago, escrevi esta história. Ao levantar-se um grande tumulto em Jerusalém, por ocasião da morte de
Herodes, retirei-me ao deserto até que cessasse o motim, glorificando ao Senhor meu Deus, que me
concedeu a graça e a sabedoria necessárias para compor esta narração.
Que a graça esteja com todos aqueles que temem a Nosso Senhor Jesus Cristo, para quem deve ser a
glória.
O EVANGELHO
DE TOMÉ
EVANGELHO SEGUNDO TOMÉ O DÍDIMO
O Evangelho do Apóstolo Tomé
(Apostolo Dídimo Judas Tomé)
Texto Gnóstico encontrado em Nag Hammad, 1945
Estas são as palavras secretas que Jesus o Vivo proferiu e que Dídimo Judas Tomé escreve:
I
E ele disse: "Quem descobrir o significado interior destes ensinamentos não provará a morte."
II
Jesus disse: "Aquele que busca continue buscando até encontrar. Quando encontrar, ele se perturbará. Ao
se perturbar, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo."
III
Jesus disse: "Se aqueles que vos guiam disserem, ‘Olhem, o reino está no céu,’ então, os pássaros do céu
vos precederão, se vos disserem que está no mar, então, os peixes vos precederão. Pois bem, o reino está
dentro de vós, e também está em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos, então,
sereis conhecidos e compreendereis que sois filhos do Pai vivo. Mas, se não vos conhecerdes, vivereis na
pobreza e sereis essa pobreza."
IV
Jesus disse: "O homem idoso não hesitará em perguntar a uma criancinha de sete dias sobre o lugar da
vida, e ele viverá. Pois muitos dos primeiros serão os últimos e se tornarão um só."
V
Jesus disse: "Reconheça o que está diante de teus olhos, e o que está oculto a ti será desvelado. Pois não
há nada oculto que não venha ser manifestado."
VI
Seus discípulos o interrogaram dizendo: "Queres que jejuemos? Como devemos orar? Devemos dar
esmolas? Que dieta devemos observar?"
Jesus disse: "Não mintais e não façais aquilo que detestais, pois todas as coisas são desveladas aos olhos
do céu. Pois não há nada escondido que não se torne manifesto, e nada oculto que não seja desvelado."
VII
Jesus disse: "Bem-aventurado o leão que se torna homem quando consumido pelo homem; maldito o
homem que o leão consome, e o leão torna-se homem."
VIII
E ele disse: "O homem é como pescador sábio que lança sua rede ao mar e a retira cheia de peixinhos. O
pescador sábio encontra entre eles um peixe grande e excelente. Joga todos os peixinhos de volta ao mar e
escolhe o peixe grande sem dificuldade. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
IX
Jesus disse: "Eis que o semeador saiu, encheu sua mão e semeou. Algumas sementes caíram na estrada; os
pássaros vieram e as recolheram. Algumas caíram sobre rochas, não criaram raízes no solo e não
produziram espigas. Outras caíram em meio a um espinheiro, que sufocou as sementes e os vermes as
comeram. E outras caíram em solo fértil e produziram bons frutos; renderam sessenta por uma e cento e
vinte por uma."
X
Jesus disse: "Eu lancei fogo sobre o mundo, e eis que estou cuidando dele até que queime."
XI
Jesus disse: "Este céu passará, e aquele acima dele passará. Os mortos não estão vivos e os vivos não
morrerão. Nos dias em que consumistes o que estava morto, vós o tornastes vivo. Quando estiverdes
morando na luz, o que fareis? No dia em que éreis um vos tornastes dois. Mas quando vos tornardes dois,
o que fareis?"
XII
Os discípulos disseram a Jesus: "Sabemos que tu nos deixarás. Quem será nosso líder?"
Jesus disse-lhes: "Não importa onde estiverdes, devereis dirigir-vos a Tiago, o justo, para quem o céu e a
terra foram feitos."
XIII
Jesus disse a seus discípulos: "Comparai-me com alguém e dizei-me com quem me assemelho."
Simão Pedro disse-lhe: "Tu és semelhante a um anjo justo."
Mateus lhe disse: "Tu te assemelhas a um filósofo sábio."
Tomé lhe disse: "Mestre, minha boca é inteiramente incapaz de dizer com quem te assemelhas."
Jesus disse: "Não sou teu Mestre. Porque bebeste na fonte borbulhante que fiz brotar, tornaste-te ébrio.
(128) E, pegando-o, retirou-se e disse-lhe três coisas. Quando Tomé retornou a seus companheiros, eles
lhe perguntaram: "O que te disse Jesus?"
Tomé respondeu: "Se eu vos disser uma só das coisas que ele me disse, apanhareis pedras e as atirareis
em mim, e um fogo brotará das pedras e vos queimará."
XIV
Jesus disse-lhes: "Se jejuardes, gerareis pecado para vós; se orardes, sereis condenados; se derdes
esmolas, fareis mal a vossos espíritos. Quando entrardes em qualquer país e caminhardes por qualquer
lugar, se fordes recebidos, comei o que vos for oferecido e curai os enfermos entre eles. Pois o que entrar
em vossa boca não vos maculará, mas o que sair de vossa boca – é isso que vos maculará."
XV
Jesus disse: "Quando virdes aquele que não foi nascido de uma mulher, prostrai-vos com a face no chão e
adorai-o: é ele o vosso Pai."
XVI
Jesus disse: "Talvez os homens pensem que vim lançar a paz sobre o mundo. Não sabem que é a discórdia
que vim espalhar sobre a Terra: fogo, espada e disputa. Com efeito, havendo cinco numa casa, três estarão
contra dois e dois contra três: o pai contra o filho e o filho contra o pai. E eles permanecerão solitários."
XVII
Jesus disse: "Eu vos darei o que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram, o que as mão não
tocaram e o que nunca ocorreu à mente do homem."
XVIII
Os discípulos disseram a Jesus: "Dize-nos como será o nosso fim."
Jesus disse: "Haveis, então, discernido o princípio, para que estejais procurando o fim? Pois onde estiver
o princípio ali estará o fim. Feliz daquele que tomar seu lugar no princípio: ele conhecerá o fim e não
provará a morte."
XIX
Jesus disse: "Feliz o que já era antes de surgir. Se vos tornardes meus discípulos e ouvirdes minhas
palavras, estas pedras estarão a vosso serviço. Com efeito, há cinco árvores para vós no Paraíso que
permanecem inalteradas inverno e verão, e cujas folhas não caem. Aquele que as conhecer não provará a
morte."
XX
Os discípulos disseram a Jesus: "Dize-nos a que se assemelha o reino do céu."
Ele lhes disse: "Ele se assemelha a uma semente de mostarda, a menor de todas as sementes. Mas, quando
cai em terra cultivada, produz uma grande planta e torna-se um refúgio para as aves do céu."
XXI
Maria disse a Jesus: "A quem se assemelham teus discípulos?"
Ele disse: "Eles se parecem com crianças que se instalaram num campo que não lhes pertence. Quando os
donos do campo vierem, dirão: ‘Entregai nosso campo.’ Elas se despirão diante deles para que eles
Possam receber o campo de volta e para entregá-lo a eles. Por isso digo: se o dono da casa souber que virá
um ladrão, velará antes que ele chegue e não deixará que ele penetre na casa de seu domínio para levar
seus bens. Vós, portanto, permanecei atentos contra o mundo. Armai-vos com todo poder para que os
ladrões não consigam encontrar um caminho para chegar a vós, pois a dificuldade que temeis certamente
ocorrerá. Que possa haver entre vós um homem prudente. Quando a safra estiver madura, ele virá
rapidamente com sua foice em mãos para colhê-la. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
XXII
Jesus viu crianças sendo amamentadas. Ele disse a seus discípulos: "Esses pequeninos que mamam são
como aqueles que entram no Reino." Eles lhe disseram: Nós também, como crianças, entraremos no
Reino?" Jesus lhes disse: "Quando fizerdes do dois um e quando fizerdes o interior como o exterior, o
exterior como o interior, o acima como o embaixo e quando fizerdes do macho e da fêmea uma só coisa,
de forma que o macho não seja mais macho nem a fêmea seja mais fêmea, e quando formardes olhos em
lugar de um olho, uma mão em lugar de uma mão, um pé em lugar de um pé e uma imagem em lugar de
uma imagem, então, entrareis (no Reino).
XXIII
Jesus disse: Escolherei dentre vós, um entre mil e dois entre dez mil, e eles permanecerão como um só."
XXIV
Seus discípulos disseram-lhe: "Mostra-nos o lugar onde estás, pois precisamos procurá-lo."
Ele disse-lhes: "Aquele que tem ouvidos, ouça! Há luz no interior do homem de luz e ele ilumina o
mundo inteiro. Se ele não brilha, ele é escuridão."
XXV
Jesus disse: "Ama teu irmão como à tua alma, protege-o como a pupila de teus olhos."
XXVI
Jesus disse: "Tu vês o cisco no olho de teu irmão, mas não vês a trave em teu próprio olho. Quando
retirares a trave de teu olho, então verás claramente e poderás retirar o cisco do olho de teu irmão."
XXVII
Jesus disse: "Se não jejuardes com relação ao mundo, não encontrareis o Reino. Se não observardes o
sábado como um sábado, não vereis o Pai."
XVIII
Jesus disse: "Assumi meu lugar no mundo e revelei-me a eles na carne. Encontrei todos embriagados.
Não encontrei nenhum sedento, e minha alma ficou aflita pelos filhos dos homens, porque estão cegos em
seus corações e não têm visão. Pois vazios vieram ao mundo e vazios procuram deixar o mundo. Mas no
momento eles estão embriagados. Quando superarem a embriaguez, então mudarão sua maneira de
pensar."
XXIX
Jesus disse: "Seria uma maravilha se a carne tivesse surgido por causa do espírito. Mas seria a maior das
maravilhas se o espírito tivesse surgido por causa do corpo. Estou realmente surpreso pela forma como
essa grande riqueza fez morada nessa pobreza."
XXX
Jesus disse: "Onde há três deuses, eles são deuses. Onde há dois ou um, estou com ele."
XXXI
Jesus disse: "Nenhum profeta é aceito em sua cidade; nenhum médico cura aqueles que o conhecem."
XXXII
Jesus disse: "Uma cidade construída e fortificada sobre uma montanha elevada não pode cair nem pode
ser escondida."
XXXIII
Jesus disse: "Proclamai sobre os telhados aquilo que ouvirdes com vosso próprio ouvido. Pois ninguém
acende uma lâmpada e coloca-a debaixo de um cesto, tampouco coloca-a num lugar escondido, mas num
candelabro, para que todos que venham a entrar e sair vejam sua luz."
XXXIV
Jesus disse: "Se um cego guia outro cego, ambos cairão numa vala."
XXXV
Jesus disse: "Não é possível que alguém entre na casa de um homem forte e tome-a à força, a menos que
lhe ate as mãos; então será capaz de saquear sua casa."
XXXVI
Jesus disse: "Não vos preocupeis de manhã até a noite e de noite até a manhã com o que vestireis."
XXXVII
Seus discípulos disseram: "Quando tu te revelarás a nós e quando te veremos?"
Jesus disse: "Quando vos despirdes sem vos envergonhardes e tomardes vossas vestes e, colocando-as
sobre vossos pés, pisardes sobre elas como criancinhas, então (vereis) o filho daquele que vive e não
tereis medo."
XXXVIII
Jesus disse: "Muitas vezes haveis desejado ouvir essas palavras que vos digo, e não tendes outro de quem
ouvi-las. Pois virão dias em que me procurareis e não me encontrareis."
XXXIX
Jesus disse: "Os fariseus e os escribas tomaram as chaves da gnosis. Eles não entraram nem deixaram
entrar aqueles que queriam entrar. Vós, no entanto, sede sábios como as serpentes e mansos como as
pombas."
XL
Jesus disse: "Uma parreira foi plantada fora do Pai, porém, não sendo saudável, ela será arrancada pela
raiz e destruída."
XLI
Jesus disse: "Quem tiver algo em sua mão receberá mais, e quem não tiver nada perderá até mesmo o
pouco que tem."
XLII
Jesus disse: "Tornai-vos passantes."
XLIII
Seus discípulos disseram-lhe: "Quem és tu para dizer-nos tais coisas?"
[Jesus disse-lhes:] "Não percebeis quem sou eu pelo que vos digo, mas vos tornastes como os judeus!
Com efeito, eles amam a árvore e odeiam seus frutos ou amam os frutos, mas odeiam a árvore."
XLIV
Jesus disse: "Quem blasfemar contra o Pai será perdoado e quem blasfemar contra o Filho será perdoado,
mas quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado nem na terra nem no céu."
XLV
Jesus disse: "Não se colhe uvas dos espinheiros nem figos dos cardos, pois eles não dão frutos. O homem
bom retira o bem do seu tesouro; o malvado retira o mal de seu tesouro malévolo, que está em seu
coração, e diz maldade. Pois da abundância do coração ele retira coisas más."
XLVI
Jesus disse: "Dentre os que nasceram da mulher, desde Adão até João, o Batista, não há ninguém superior
a João, para que não abaixe os olhos [diante dele]. Mas eu digo, aquele dentre vós que se tornar uma
criança conhecerá o Reino e se tornará superior a João."
XLVII
Jesus disse: "É impossível para um homem montar dois cavalos ou retesar dois arcos. E é impossível que
um servo sirva a dois senhores, pois ele honra um e ofende o outro. Ninguém bebe vinho velho e logo em
seguida deseja beber vinho novo. E não se coloca vinho novo em odres velhos, para que não arrebentem;
nem se coloca vinho velho em odres novos, para que não o estraguem. E não se cose pano velho em veste
nova, porque ela está arriscada a rasgar."
XLVIII
Jesus disse: "Se os dois fizerem as pazes nesta casa, eles dirão a montanha: ‘Move-te!’ e ela se moverá."
XLIX
Jesus disse: "Bem aventurados os solitários e os eleitos, pois encontrareis o Reino. Pois, viestes dele e
para ele retornareis."
L
Jesus disse: "Se vos perguntarem: ‘De onde vindes?’ respondei: ‘Viemos da luz, do lugar onde a luz
nasceu dela mesma, estabeleceu-se e tornou-se manifesta por meio de suas imagens’. Se vos perguntarem:
‘Vós sois isto?’ digam: ‘Nós somos seus filhos e somos os eleitos do Pai vivo’. Se vos perguntarem:
‘Qual é o sinal de vosso Pai em vós?’, digam a eles: ‘É movimento e repouso’."
LI
Seus discípulos disseram-lhe: "Quando ocorrerá o repouso dos mortos e quando virá o novo mundo?"
Ele disse-lhes: "Aquilo que esperais já chegou, mas não o reconheceis."
LII
Seus discípulos disseram-lhe: "Vinte e quatro profetas falaram em Israel e todos falaram de ti."
Ele disse-lhes: "Omitistes aquele que vive em vossa presença e falastes dos mortos."
LIII
Seus discípulos disseram-lhe: "A circuncisão é benéfica ou não?"
Ele disse-lhes: "Se ela fosse benéfica, os pais gerariam filhos já circuncisos de sua mãe. Mas a verdadeira
circuncisão, a espiritual, tornou-se inteiramente proveitosa."
LIV
Jesus disse: "Bem-aventurados os pobres, pois vosso é o Reino do céu."
LV
Jesus disse: "Aquele que não odiar (2) seu pai e sua mãe não poderá se tornar meu discípulo. E quem não
odiar seus irmãos e irmãs e tomar sua cruz, como eu, não será digno de mim."
LVI
Jesus disse: "Aquele que conseguiu compreender o mundo encontrou (somente) um cadáver, e quem
encontrou um cadáver é superior ao mundo."
LVII
Jesus disse: "O Reino do Pai é semelhante ao homem que tem [boa] semente. Seu inimigo veio durante a
noite e semeou joio por cima da boa semente. O homem não deixou que arrancassem o joio, dizendo:
‘temo que acabeis arrancando o joio e também o trigo junto com ele. No dia da colheita as ervas daninhas
estarão bem visíveis e serão, então, arrancadas e queimadas."
LVIII
Jesus disse: "Bem-aventurado o homem que sofreu e encontrou a vida."
LIX
Jesus disse: "Prestai atenção àquele que vive enquanto estais vivos, para que, ao morrerdes, não fiqueis
procurando vê-lo sem conseguir."
LX
Eles viram um samaritano carregando um cordeiro a caminho da Judéia. Ele disse a seus discípulos: "Por
que o homem está carregando o cordeiro?"
Eles disseram-lhe: "Para matá-lo e comê-lo."
Ele disse-lhes: "Enquanto o cordeiro estiver vivo, ele não o comerá, mas somente depois que o tiver
matado e que o cordeiro se tornar um cadáver."
Eles disseram-lhe: "Ele não poderia fazer de outro modo."
Ele disse-lhes: "Vós, também, buscai um lugar para vós no repouso, a fim de que não vos torneis um
cadáver e sejais devorados."
LXI
Jesus disse: "Dois repousarão sobre um leito: um morrerá, o outro viverá."
Salomé disse: "Quem és tu homem, e de quem és filho? Tu te acomodaste em meu banco e comeste à
minha mesa?"
Jesus disse-lhe: "Eu sou aquele que existe a partir do indivisível. Recebi coisas de meu pai."
[ ... ] "Eu sou seu discípulo."
[ ... ] "Por isso digo que, se for destruído, ele estará pleno de luz, mas, se ele estiver dividido, estará pleno
de trevas."
LXII
Jesus disse: "Eu digo meus mistérios aos [que são dignos de meus] mistérios. Que a tua mão esquerda não
saiba o que faz a tua mão direita."
LXIII
Jesus disse: "Havia um rico que tinha muito dinheiro. Ele disse: ‘Empregarei meu dinheiro para semear,
colher, plantar e encher meu celeiro com o fruto da colheita, para que não me venha a faltar nada’. Essas
eram suas intenções, mas naquela mesma noite ele morreu. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça."
LXIV
Jesus disse: "Um homem tinha convidados. E quando a ceia estava pronta, mandou seu servo chamar os
convidados. O servo foi ao primeiro e disse-lhe: ‘Meu mestre te convida’. O outro respondeu: ‘Tenho
dinheiro aplicado com alguns comerciantes. Eles virão me procurar esta noite para que eu lhes dê minhas
instruções. Apresento minhas desculpas por não ir à ceia. O servo foi até outro e disse: ‘Meu senhor está
te convidando’. Este disse-lhe: ‘Acabo de comprar uma casa e precisam de mim hoje. Não terei tempo’. O
servo foi a outro e disse-lhe: ‘Meu senhor está te convidando’. Este disse-lhe: ‘Um amigo vai se casar e
coube-me preparar o banquete. Não poderei ir à ceia, peço ser desculpado. O servo foi a outro ainda e
disse-lhe: ‘Meu senhor está te convidando’. Este disse-lhe: ‘Acabo de comprar uma fazenda e estou
saindo para buscar o rendimento. Não poderei ir, por isso me desculpo’. O servo retornou e disse a seu
senhor: ‘Os que convidaste para a ceia mandam pedir desculpas’. (134) O senhor disse ao servo: ‘Vai lá
fora pelos caminhos e traze os que encontrares para que possam ceiar. Os homens de negócios e
mercadores não entrarão no recinto de meu Pai’."
LXV
Ele disse: "Um homem de bem tinha uma vinha. Ele a alugou a camponeses para que cuidassem dela e
pagassem-lhe com uma parte da produção. Ele enviou seu servo para que os arrendatários entregassemlhe
o fruto da vinha. Eles pegaram seu servo e o espancaram, deixando-o à beira da morte. O servo voltou
e contou a seu senhor o ocorrido. O senhor disse: ‘Talvez não o tenham reconhecido’. Ele enviou outro
servo. Os camponeses também o espancaram. Então o proprietário enviou seu filho e disse: ‘Talvez eles
tenham respeito por meu filho’. Como os camponeses sabiam que aquele era o herdeiro da vinha,
pegaram-no e mataram-no. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."
LXVI
Jesus disse: "Mostrai-me a pedra que os construtores rejeitaram; ela é a pedra angular."
LXVII
Jesus disse: "Se alguém que conhece o todo ainda sente uma deficiência pessoal, ele é completamente
deficiente."
LXVIII
Jesus disse: "Bem-aventurados os que são odiados e perseguidos. Mas os que vos perseguirem não
encontrarão lugar."
LXIX
Jesus disse: "Bem-aventurados aqueles que foram perseguidos em seu interior. São eles que realmente
conheceram o pai. Bem-aventurados os famintos, porque se encherá o ventre de quem tem desejo."
LXX
Jesus disse: "Aquilo que tendes vos salvará se o manifestardes. Aquilo que não tendes em vosso interior
vos matará se não o tiverdes dentro de vós."
LXX1
Jesus disse: "Destruirei esta casa e ninguém será capaz de reconstruí-la [...]"
LXXII
[Um homem disse-lhe]: "Dize a meus irmãos para que partilhem os bens de meu pai comigo."
Ele lhe disse: "Ó, homem, quem me institui partilhador?"
Voltando-se para seus discípulos, disse-lhes: "Eu não sou um partilhador, sou?"
LXXIII
Jesus disse: "A colheita é grande mas os operários são poucos. Portanto, implorai ao senhor para que
envie operários para a colheita."
LXXIV
Ele disse: "Ó senhor, há muitas pessoas ao redor do bebedouro, mas não há nada na cisterna."
LXXV
Jesus disse: "Muitos estão aguardando à porta, mas são os solitários que entrarão na câmara nupcial."
LXXVI
O Reino do pai é semelhante ao comerciante que tinha uma consignação de mercadorias e nelas descobriu
uma pérola. Esse comerciante era astuto. Ele vendeu as mercadorias e adquiriu a pérola maravilhosa para
si. Vós também deveis buscar esse tesouro indestrutível e duradouro, que nenhuma traça pode devorar
nem o verme destruir."
LXXVII
Jesus disse: "Eu sou a luz que está sobre todos eles. Eu sou o todo. De mim surgiu o todo e de mim o todo
se estendeu. Rachai um pedaço de madeira, e eu estou lá. Levantai a pedra e me encontrareis lá."
LXXVIII
Jesus disse: "Por que viestes ao deserto? Para ver um caniço agitado pelo vento? E para ver um homem
vestido com roupas finas como vosso rei e vossos homens importantes? Esses usam roupas finas, mas são
incapazes de discernir a verdade."
LXXIX
Uma mulher na multidão disse-lhe: "Bem-aventurado o ventre que te portou e os seios que te nutriram."
Ele disse-lhe: "Bem-aventurados os que ouviram a palavra do Pai e que realmente a guardaram. Pois
virão dias em que direis: "Bem-aventurado o ventre que não concebeu, e os seios que não amamentaram."
LXXX
Jesus disse: "Aquele que reconheceu o mundo encontrou o corpo, mas aquele que encontrou o corpo é
superior ao mundo."
LXXXI
Quem enriqueceu, torne-se rei, mas quem tem poder que possa renunciar a ele."
LXXXII
Jesus disse: "Aquele que está perto de mim está perto do fogo, e aquele que está longe de mim está longe
do Reino."
LXXXIII
Jesus disse: "As imagens manifestam-se ao homem, mas a luz que está nelas permanece oculta na
imagem da luz do Pai. Ele tornar-se-á manifesto, mas sua imagem permanecerá velada por sua luz."
LXXXIV
Jesus disse: "Quando vedes vossa semelhança, vós vos rejubilais. Mas, quando virdes vossas imagens que
surgiram antes de vós, e que não morrem nem se manifestam, quanto tereis de suportar!"
LXXXV
Jesus disse: "Adão surgiu de um grande poder e de uma grande riqueza, mas ele não se tornou digno de
vós. Pois, se tivesse sido digno, não teria experimentado a morte."
LXXXVI
Jesus disse: "[As raposas têm suas tocas] e as aves têm seus ninhos, mas o filho do homem não tem
nenhum lugar para pousar sua cabeça e descansar."
LXXXVII
Jesus disse: "Miserável do corpo que depende de um corpo e da alma que depende desses dois."
LXXXVIII
Jesus disse: "Os anjos e os profetas virão a vós e darão aquelas coisas que já tendes. E dai vós também a
eles as coisas que tendes e dizei a vós mesmos: ‘Quando virão tomar o que é deles?’"
LXXXIX
Jesus disse: "Por que lavais o exterior da taça? Não compreendeis que aquele que fez o interior é o
mesmo que fez o exterior?"
XC
Jesus disse: "Vinde a mim, pois meu jugo é fácil e meu domínio é suave, e encontrareis repouso para
vós."
XCI
Eles disseram-lhe: "Dize-nos quem tu és, para que possamos crer em ti."
Ele disse-lhes: "Vós decifrastes a face to céu e da terra, mas não reconhecestes aquele que está diante de
vós e não soubestes perceber este momento."
XCII
Jesus disse: "Buscai e encontrareis. No entanto, aquilo que me perguntastes anteriormente e que não vos
respondi então, agora desejo vos dizer mas vós não me perguntais sobre aquilo."
XCIII
[Jesus disse]: "Não deis aos cães o que é sagrado, para que eles não o joguem no lixo. Não atireis pérolas
aos porcos, para que eles ..."
XCIV
Jesus [disse]: "Quem busca, encontrará, e [quem bate] terá permissão para entrar."
XCV
[Jesus disse]: "Se tendes dinheiro, não o empresteis a juro, mas dai-o àquele de quem não o recebereis de
volta."
XCVI
Jesus disse: "O Reino do Pai é como [uma certa] mulher. Ela tomou um pouco de fermento, [escondeu-o]
na massa, e fez com ela grandes pães. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!"
XCVII
Jesus disse: "O Reino do Pai é como uma certa mulher que estava carregando um cântaro cheio de
farinha. Enquanto estava caminhando pela estrada, ainda distante de casa, a alça do cântaro partiu-se e a
farinha foi caindo pelo caminho atrás dela. Ela não se deu conta, pois não tinha percebido o acidente.
Quando chegou em casa, colocou o cântaro no chão e percebeu que ele estava vazio."
XCVIII
Jesus disse: "O Reino do Pai é como um certo homem que queria matar um homem poderoso. Em sua
própria casa ele desembainhou a espada e enfiou-a na parede para saber se sua mão poderia realizar a
tarefa. Então ele matou o homem poderoso."
XCIX
Os discípulos disseram-lhe: "Teus irmãos e tua mãe estão aguardando lá fora."
Ele disse-lhes: "Estes que estão aqui que fazem a vontade de meu Pai são meus irmãos e minha mãe. São
eles que entrarão no Reino de meu Pai."
C
Eles mostraram uma moeda de ouro a Jesus e disseram-lhe: "Os homens de César exigem-nos tributos."
Ele disse-lhes: "Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus, e dai a mim o que é meu."
CI
[Jesus disse]: "Quem não odeia (3) seu [pai] e sua mãe como eu não pode se tornar meu [discípulo]. E
quem não ama seu [pai e] sua mãe como eu não pode se tornar meu [discípulo]. Porque minha mãe [ ... ],
mas [minha] verdadeira [mãe] deu-me a vida."
CII
Jesus disse: "Ai dos fariseus, porque eles são como um cachorro dormindo na manjedoura dos bois, pois
eles não comem nem permitem que os bois comam."
CIII
Jesus disse: "Feliz do homem que sabe por onde os ladrões vão entrar, porque dessa forma [ele] pode se
levantar, passar em revista seu domínio e armar-se antes deles invadirem."
CIV
Eles disseram a Jesus: "Vem, oremos e jejuemos hoje."
Jesus disse: "Qual foi o pecado que cometi ou em que fui vencido? Porém, quando o noivo deixar a
câmara nupcial, então que eles jejuem e orem."
CV
Jesus disse: "Quem conhece o pai e a mãe será chamado filho de prostituta."
CVI
Jesus disse: "Quando fizerdes de dois, um, vos tornareis filhos do homem, e quando disserdes:
‘Montanha, move-te!’, ela se moverá."
CVII
Jesus disse: "O Reino é como um pastor que tinha cem ovelhas. Uma delas, a maior de todas, extraviouse.
Ele deixou as noventa e nove e foi procurá-la, até encontrá-la. Depois de ter passado por todo esse
incômodo, ele disse à ovelha: ‘Eu me interesso por ti mais do que pelas noventa e nove’."
CVIII
Jesus disse: "Quem beber de minha boca tornar-se-á como eu. Eu mesmo me tornarei ele, e as coisas que
estão ocultas ser-lhe-ão reveladas."
CIX
Jesus disse: "O Reino é como o homem que tinha um tesouro [escondido] em seu campo sem saber. Após
sua morte, deixou o campo para seu [filho]. O filho não sabia [a respeito do tesouro]. Ele herdou o campo
e o vendeu. O comprador ao arar o campo encontrou o tesouro. Começou então a emprestar dinheiro a
juros a quem queria."
CX
Jesus disse: "Quem encontrou o mundo e tornou-se rico, que renuncie ao mundo."
CXI
Jesus disse: "Os céus e a terra se dobrarão diante de vós. E aquele que vive do Vivo não conhecerá a
morte. Jesus não disse: ‘Quem se encontra é superior ao mundo?’"
CXII
Jesus disse: "Ai da carne que depende da alma; ai da alma que depende da carne."
CXIII
Seus discípulos disseram-lhe: "Quando virá o Reino?"
[Jesus disse]: "Ele não virá porque é esperado. Não é uma questão de dizer: ‘eis que ele está aqui’ ou ‘eis
que está ali’. Na verdade, o Reino do Pai está espalhado pela terra e os homens não o vêem."
CXIV
Simão Pedro disse-lhes: "Que Maria saia de nosso meio, pois as mulheres não são dignas da vida."
Jesus disse: "Eu mesmo vou guiá-la para torná-la macho, para que ela também possa tornar-se um espírito
vivo semelhante a vós machos. Porque toda mulher que se tornar macho entrará no Reino do Céu."
O EVANGELHO
DE
PEDRO
A INFÂNCIA DE CRISTO SEGUNDO PEDRO
Este é considerado o quinto Evangelho, escrito por Pedro, segundo relatos feitos por Nossa Senhora.
Publicado pela primeira vez em 1677, conta com versões em grego, latim, armênio e árabe.
Muita gente se indaga ainda hoje porque os Evangelhos da Bíblia não falam da infância e juventude de
Cristo. Isso tem provocado inúmeras especulações, inclusive algumas que citam que o Mestre exilou-se
junto aos monges do Tibete ou conviveu com os essênios, com cujos mestres instruiu-se. Admitir isso é
negar a divindade de Cristo, pois se ele precisou de um mestre, seria mais lógico que, hoje em dia,
adorássemos o seu mestre e não ele, o aprendiz. Isso fica bem claro nas passagens XLVIII e XLIX.
Nesta narrativa, há maiores detalhes sobre o encontro de Jesus com os sábios, no templo de Jerusalém,
além de suas brincadeiras com as outras crianças e seu trabalho na companhia de José.
Nas notas de rodapé, apresentamos trechos do Evangelho Armênio da Infância, uma versão ampliada do
Evangelho da Infância, onde algumas passagens extras esclarecem momentos importantes da vida de
Jesus. Esses livros foram considerados apócrifos pela Igreja, isto é, sem a inspiração divina, e excluídos
dos textos originais que formaram, ao longo do tempo, a atual Bíblia. Quais foram os critérios utilizados
para selecionar os livros inspirados divinamente foi algo que até hoje a Igreja não explicou de modo
convincente. O que se sabe é que há relatos sobre a infância de Cristo, sobre a Natividade, sobre São José
e outras, que não são aceitas como textos sagrados, muito embora contenham narrativas que completam
diversas lacunas nos textos considerados sagrados.
O Evangelho da Infância mostra, de modo sensível e belo, o que foi a infância de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que desde a mais tenra idade já manifestava sua santidade. É um texto que encanta pela sua
beleza, pela singeleza e pelas situações que retratam, onde o Cristo surge como a criança que foi, muito
embora sua divindade o levasse a gestos inusitados, mas marcados pela sabedoria precoce e pela
coerência de seus atos.
A INFÂNCIA DE CRISTO
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, Deus único. Com o auxílio e a ajuda do Deus todo
poderoso, começamos a escrever o livro dos milagres de nosso Salvador, Mestre e Senhor Jesus Cristo,
que se intitula o Evangelho da Infância, conforme narrado por Maria, sua mãe, na paz do Nosso Senhor e
Salvador. Que assim seja.
I. Palavras de Jesus no Berço
Encontramos no livro do grande sacerdote Josefo que viveu no tempo de Jesus Cristo, e que alguns
chamam de Caifás, que Jesus falou quando estava no berço e que disse a sua mãe Maria:
— Eu, que nasci de ti, sou Jesus, o filho de Deus, o Verbo, como te anunciou o anjo Gabriel, e meu Pai
me enviou para a salvação do mundo.
II. Viagem a Belém
No ano de 309 da era de Alexandre, Augusto ordenara que todos fossem recenseados em sua cidade natal.
José partiu, então, conduzindo Maria, sua esposa. Vieram a Jerusalém, de onde se dirigiram a Belém para
inscreverem-se no local onde ele havia nascido. Quando estavam próximos a uma caverna, Maria disse a
José que sua hora havia chegado e que não poderia ir até a cidade.
— Entremos nesta caverna — disse ela.
O sol estava começando a se pôr. José apressou-se em procurar uma mulher que assistisse Maria no parto
e encontrou uma anciã que vinha de Jerusalém. Saudando-a, disse-lhe:
— Entra na caverna onde encontrarás uma mulher em trabalho de parto.
III. A Parteira de Jerusalém
Após o pôr-do-sol, José chegou com a anciã à caverna e eles entraram. Eis que a caverna estava
resplandecendo com uma claridade que superava a de uma infinidade de labaredas e brilhava mais do que
o sol do meio-dia. A criança, enrolada em fraldas e deitada numa manjedoura, mamava no seio da mãe.
Ambos ficaram surpresos com o aspecto daquela claridade e a anciã disse a Maria:
— És tu a mãe desta criança?
Ao responder afirmativamente Maria, disse-lhe:
— Não és semelhante às filhas de Eva.
Maria respondeu:
— Assim como entre as crianças dos homens não há nenhuma que seja semelhante ao meu filho, assim
também sua mãe não tem par entre todas as mulheres.
A anciã disse então:
— Senhora e ama, vim para receber uma recompensa que perdurará para todo o sempre.
Maria lhe disse, então:
— Põe tuas mãos sobre a criança.
Quando a anciã o fez, foi purificada. Ao sair, ela disse:
— A partir deste momento, eu serei a serva desta criança e quero consagrar-me a seu serviço, por todos
os dias da minha vida.
IV. A Adoração dos Pastores
Em seguida, quando os pastores chegaram e acenderam o fogo, entregando-se à alegria, as cortes celestes
apareceram, louvando e celebrando o Senhor, a caverna parecia-se com um templo augusto, onde reis
celestiais e terrestres celebravam a glória e os louvores de Deus por causa da natividade do Senhor Jesus
Cristo. E esta anciã hebréia, vendo estes milagres resplandecentes, rendia graças a Deus, dizendo:
— Eu te rendo graças, ó Deus, Deus de Israel, porque os meus olhos viram a natividade do Salvador do
mundo.
V. A Circuncisão
Quando chegou o tempo da circuncisão, isto é, o oitavo dia, época na qual o recém-nascido deve ser
circuncidado segundo a lei, eles o circuncidaram na caverna e a velha anciã recolheu o prepúcio e
colocou-o em um vaso de alabastro, cheio de óleo de nardo velho. Como tivesse um filho que
comercializava perfumes, Maria deu-lhe o vaso, dizendo:
— Muito cuidado para não vender este vaso cheio de perfume de nardo, mesmo que te ofereçam
trezentos dinares.
E este é o vaso que Maria, a pecadora, comprou e derramou sobre a cabeça e sobre os pés de Nosso
Senhor Jesus Cristo, enxugando-os com seus cabelos.
Quando dez dias se haviam passado, eles levaram a criança para Jerusalém e, ao término da quarentena,
eles o apresentaram no templo do Senhor, oferecendo por ele as oferendas prescritas pela lei de Moisés,
que diz:
— Toda criança do sexo masculino que sair de sua mãe será chamada o santo de Deus.
VI. Apresentação no Templo
O velho Simeão viu o menino Jesus resplandecente de claridade como um facho de luz, quando a Virgem
Maria, cheia de alegria, entrou com ele em seus braços. Uma multidão de anjos rodeava-o, louvando-o e
acompanhando-o, assim como os satélites de honra seguem seu rei. Simeão, pois, aproximando-se
rapidamente de Maria e estendendo suas mãos para ela, disse ao Senhor Jesus:
— Agora, Senhor, teu servo pode retirar-se em paz, segundo tua promessa, pois meus olhos viram tua
misericórdia e o que preparaste para a salvação de todas as nações, luz de todos os povos e a glória
de teu povo de Israel.
A profetisa Ana também estava presente, rendia graças a Deus e celebrava a felicidade de Maria.
VII. A Adoração dos Magos
Aconteceu que, enquanto o Senhor vinha ao mundo em Belém, cidade da Judéia, Magos vieram de países
do Oriente a Jerusalém, tal como havia predito Zoroastro, e traziam com eles presentes: ouro, incenso e
mirra. Adoraram a criança e renderam-lhe homenagem com seus presentes. Então Maria pegou uma das
faixas, nas quais a criança estava envolvida, e deu-a aos magos que receberam-na como uma dádiva de
valor inestimável. Nesta mesma hora, apareceu-lhes um anjo sob a forma de uma estrela que já lhes havia
servido de guia, e eles partiram, seguindo sua luz, até que estivessem de volta a sua pátria.
VIII. A Chegada Dos Magos à sua Terra
Os reis e os príncipes apressaram-se em se reunir em torno dos magos, perguntando-lhes o que haviam
visto e o que havia feito, como haviam ido o como haviam voltado e que companheiros eles haviam tido
então durante a viagem. Os magos mostraram-lhes a faixa que Maria lhes havia dado. Em seguida,
celebraram uma festa, acenderam o fogo segundo seus costumes, adoraram a faixa e a jogaram nas
chamas. As chamas envolveram-na.
Ao apagar-se o fogo, eles retiraram o pano e viram que as chamas não haviam deixado nele nenhum
vestígio. Eles se puseram então a beijá-lo e a colocá-lo sobre suas cabeças e sobre seus olhos, dizendo:
— Eis certamente a verdade! Qual é pois o preço deste objeto que o fogo não pode nem consumir nem
danificar?
E pegando-o, depositaram-no com grande veneração entre seus tesouros.
IX. A Cólera de Herodes
Herodes, vendo que os magos não retornavam a visitá-lo, reuniu os sacerdotes e os doutores e disse-lhes:
— Mostrai-me onde deve nascer o Cristo.
Quando responderam que era em Belém, cidade da Judéia, Herodes pôs-se a tramar, em seu espírito, o
assassinato do Senhor Jesus. Então um anjo apareceu a José, durante o sono, e disse-lhe:
— Levanta-te, pegue a criança e sua mãe e foge para o Egito.
Quando o galo cantou, José levantou-se e partiu.
X. Fuga para o Egito
Enquanto ele refletia sobre o caminho que ele devia seguir, a aurora o surpreendeu. A correia da sela se
havia rompido ao se aproximarem de uma grande cidade, onde havia um ídolo, ao qual os outros ídolos e
divindades do Egito rendiam homenagem e ofereciam presentes. Sempre que Satã falava pela boca do
ídolo, os sacerdotes relatavam o que ele dizia aos habitantes do Egito e de suas margens.
Um sacerdote tinha um filho de trinta anos que estava possuído por um grande número de demônios. Ele
profetizava e anunciava muitas coisas. Quando os demônios se apossavam dele, rasgavam suas roupas e
ele corria nu pela cidade, jogando pedras nos homens.
A hospedaria dessa cidade ficava perto deste ídolo. Quando José e Maria lá chegaram e se hospedaram, os
habitantes ficaram profundamente perturbados e todos os príncipes e sacerdotes dos ídolos se reuniram ao
redor desse ídolo, perguntando-lhe:
— De onde vem esta agitação universal e qual é a causa deste pavor que se apoderou de nossos país?
O ídolo respondeu:
— Esse assombro foi trazido por um Deus desconhecido, que é o Deus verdadeiro, e ninguém a não ser
ele é digno das honras divinas, pois ele é o verdadeiro Filho de Deus. À sua aproximação, esta região
tremeu. Ela se emocionou e se assombrou e nós sentimos um grande temor por causa do seu poder.
Neste momento, esse ídolo caiu e quebrou-se, tal como os outros ídolos que estavam no país. Sua queda
fez acorrerem todos os habitantes do Egito.
XI. A Cura do Menino Endemoninhado
O filho do sacerdote, acometido do mal que o afligia, entrou no albergue insultando José e Maria, já que
os outros hóspedes haviam fugido. Como Maria havia lavado as fraldas do Senhor Jesus e as estendera
sobre umas madeiras, o menino possuído pegou uma das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça.
Imediatamente os demônios fugiram, saindo pela boca, e foram vistos sob a forma de corvos e serpentes.
O menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo e se pôs a louvar o Senhor que o havia
libertado e rendeu-lhe mil ações de graça.
Quando seu pai viu que ele havia recobrado a saúde, exclamou, admirado:
— Meu filho, mas o que te aconteceu e como foste tu curado?"
O filho respondeu:
— No momento em que me atormentavam, eu entrei na hospedaria e lá encontrei uma mulher de grande
beleza, que estava com uma criança. Ela estendia sobre umas madeiras as fraldas que acabara de
lavar. Eu peguei uma delas e coloquei-la sobre minha cabeça e os demônios fugiram imediatamente e
me abandonaram.
O pai, cheio de alegria, exclamou:
— Meu filho, é possível que essa criança seja o Filho do Deus vivo que criou o céu e a terra e, assim
que passou por nós, o ídolo partiu-se, os simulacros de todos os nossos deuses caíram e uma força
superior à deles destruiu-os.
XII. Os Temores da Sagrada Família
Assim se cumpriu a profecia que diz:
— Chamei o meu filho do Egito.
Quando José e Maria souberam que esse ídolo se havia quebrado, foram tomados de medo e de espanto e
diziam:
— Quando estávamos na terra de Israel, Herodes queria que Jesus morresse e, com esta intenção, ele
ordenou o massacre de todas as crianças de Belém e das vizinhanças. É de se temer que os egípcios
nos queimem vivos, se eles souberem que esse ídolo caiu.
XIII. Os Salteadores
Eles partiram e passaram nas proximidades do covil de ladrões, que despojavam de suas roupas e
pertences os viajantes que por ali passavam e, após tê-los amarrado, os arrastavam pelo deserto. Esses
ladrões ouviram um forte ruído, semelhante ao do rei que saiu de sua capital ao som dos instrumentos
musicais, escoltado por grande exército e por uma numerosa cavalaria. Apavorados, então, deixaram ali
todo o seu saque e apressaram-se em fugir. Os cativos, levantando-se, cortaram as cordas que os prendiam
e, tendo retomado sua bagagem, iam retirar-se, quando viram José e Maria que se aproximavam e
perguntaram-lhes:
— Onde está este rei cujo cortejo, com seu barulho, assustou os ladrões a ponto de eles terem e nos
libertado?
José respondeu:
— Ele nos segue.
XIV. A Endemoninhada
Chegaram em seguida a outra cidade, onde havia uma mulher endemoninhada. Quando ela ia buscar água
no poço durante a noite, o espírito rebelde e impuro apossava-se dela. Ela não podia suportar nenhuma
roupa, nem morar em uma casa. Todas as vezes que a amarravam com cordas e correntes, ela as partia e
fugia nua para locais desertos. Ficava nas estradas e perto de sepulturas, perseguindo e apedrejando
aqueles que encontrava no caminho, de forma que ela era, para seus pais, motivo de luto.
Maria viu-a e foi tomada de compaixão. Imediatamente Satã a deixou e fugiu sob a forma de um jovem
rapaz, dizendo:
— Infeliz de mim, por tua causa, Maria, e por causa do teu filho!
Quando essa mulher foi libertada da causa de seu tormento, olhou ao seu redor e, corando por sua nudez,
procurou seus pais, evitando encontrar as pessoas. Após haver vestido suas roupas, ela contou ao seu pai e
aos seus o que lhe havia acontecido. Como eles fizessem parte dos habitantes mais distintos da cidade,
hospedaram em sua casa José e Maria, demonstrando por eles um grande respeito.
XV. A Jovem Muda
No dia seguinte, José e Maria prosseguiram sua viagem. À noite chegaram a uma cidade onde estava
sendo celebrado um casamento. Mas, em decorrência das ciladas do espírito maligno e dos encantamentos
de alguns feiticeiros, a esposa ficara muda, de forma que ela não podia mais falar. Quando Maria entrou
na cidade, trazendo nos braços o filho, o Senhor Jesus, aquela que havia perdido o uso da palavra avistouo
e imediatamente pegou-o em seus braços. Abraçou-o, apertando-o junto ao seu seio e cobrindo-o de
carinho. Imediatamente o laço que travava sua língua partiu-se e seus ouvidos se abriram. Ela começou a
glorificar e a agradecer a Deus que a havia curado. Naquela noite, houve uma grande alegria entre os
habitantes dessa cidade, pois acreditavam todos que Deus e seus anjos haviam descido no meio deles.
XVI. Outra Endemoninhada
José e Maria passara três dias nesse lugar, onde foram recebidos com grande veneração e
esplendidamente tratados. Munidos de provisões para a viagem, partiram dali e chegaram a uma outra
cidade. Como ela era próspera e seus habitantes tinha boa reputação, eles pernoitaram lá. Havia nessa
cidade uma boa mulher. Um dia em que ela havia descido até o rio para lavar-se, um espírito maldito,
assumindo a forma de uma serpente, havia se jogado sobre ela e cingido o seu ventre. Todas as noites
estendia-se sobre ela. Quando essa mulher viu Maria e o Senhor Jesus que ela trazia contra o seio, rogou à
Santa Virgem que lhe permitisse segurar e beijar a criança. Maria consentiu, e assim que a mulher tocou a
criança, Satã abandonou-a e fugiu. Desde então ela não mais o viu. Todos os vizinhos louvaram o Senhor
e a mulher recompensou-os com grande generosidade.
XVII. Uma Leprosa
No dia seguinte, essa mulher preparou água perfumada para lavar o menino Jesus e após o haver lavado,
guardou essa água. Havia lá uma jovem cujo corpo assava, coberto pela lepra branca. Lavou-se ela com
essa água e foi imediatamente curada. O povo dizia então:
— Não resta dúvida de que José e Maria e essa criança sejam Deuses, pois eles não podem ser simples
mortais.
Quando eles se preparavam para partir, essa jovem, que havia sido curada da lepra, aproximou-se deles e
rogou-lhes que lhe permitissem acompanhá-los.
XVIII. Um Menino Leproso
Eles consentiram e ela foi com eles. Chegaram a uma cidade, onde havia o castelo de um poderoso
príncipe. Foram até lá e se hospedaram nele. A jovem, aproximando-se da esposa do príncipe, encontroua
triste e chorando. Perguntou-lhe, então, qual a causa daquele pesar:
— Não te espantes de me ver entregue à aflição. Estou em meio a uma grande calamidade, que não ouso
contar a ninguém.
A jovem tornou:
— Se me confessares qual é teu mal, talvez encontres remédio junto a mim.
A esposa do príncipe disse-lhe:
— Não revelarás este segredo a ninguém. Casei-me com um príncipe cujo império, semelhante a um
império de um rei, estende-se por vastos estados e, após haver vivido por muito tempo com ele, ele
não teve de mim nenhum descendente. Finalmente, eu concebi, mas trouxe ao mundo uma criança
leprosa. Após havê-lo visto, ele não quis reconhecê-lo como seu filho e me disse para matar a criança
ou entregá-la a uma ama para que a criasse num local tão afastado, para que não mais ouvíssemos
sobre ela. Além disso, ele me mandou pegar o que é meu, pois não queria me ver mais. Eis porque
me entrego à dor, deplorando a calamidade que sobre mim se abateu. Choro por meu marido e por
meu filho.
A jovem respondeu-lhe:
— Pois não te disse que eu tenho para ti o remédio que te havia prometido? Eu também fui atingida pela
lepra, mas fui curada por uma graça de Deus, que é Jesus, o filho de Maria.
A mulher perguntou-lhe, então, onde estava esse Deus do qual falava. A jovem respondeu-lhe:
— Ele está bem aqui, nesta casa.
Perguntou a princesa:
— Como pode ser isso, onde está ele?
A jovem respondeu:
— Aqui estão José e Maria. A criança que está com eles é Jesus e foi ele quem me curou dos meus
sofrimentos.
— E por que meio pôde ele te curar? Não vais me contar? — quis saber a princesa.
A jovem explicou:
— Recebi de sua mãe a água na qual ele havia sido lavado, espalhei-la então sobre meu corpo e minha
lepra desapareceu.
A esposa do príncipe ergueu-se, então, e recebeu José e Maria. Preparou para José um magnífico festim,
para o qual muitas pessoa foram convidadas. No dia seguinte, ela pegou água perfumada a fim de lavar o
Senhor Jesus e ela lavou, com essa mesma água, o seu filho, que ela havia trazido consigo, e logo ele se
curou da lepra.
Ela se pôs a cantar louvores a Deus e a render-lhe graças, dizendo-lhe:
— Feliz da mãe que te gerou, ó Jesus! A água com a qual o teu corpo foi lavado cura os homens que têm
tua natureza.
Ela ofereceu presentes a Maria e dela despediu-se, tratando-a com grande deferência.
XIX. Um Feitiço
Chegaram a outra cidade onde deviam pernoitar. Foram à casa de um homem recém-casado que, atingido
por um malefício, não podia desfrutar sua esposa. Após haverem eles passado a noite perto do homem, o
encantamento quebrou-se. Quando o dia amanheceu, preparavam-se para prosseguir a viagem, mas o
esposo impediu-os de partir e preparou-lhes um grande banquete.
XX. A História de um Mulo
No dia seguinte partiram e, ao se aproximarem de uma outra cidade, viram três mulheres que se
afastavam de um túmulo, a verter em lágrimas. Maria, tendo-as visto, disse à jovem que os acompanhava:
— Pergunta-lhes quem são elas e qual a desgraça que se lhes abateu.
Elas não responderam mas puseram-se a interrogá-la, dizendo:
— Quem sois vós, e para onde ides? Pois o dia está terminando e a noite se aproxima.
A moça respondeu:
— Somos viajantes e procuramos uma hospedaria para passar a noite.
As mulheres disseram:
— Acompanhai-nos e passai a noite em nossa casa.
Eles seguiram essas mulheres e foram levados a uma casa nova, ornada e decorada por diversos móveis.
Era inverno e a jovem moça, tendo entrado no quarto dessas mulheres, encontrou-as chorando e se
lamentando. Ao lado delas, coberta por uma manta de seda, encontrava-se um mulo com forragem à sua
frente. Elas davam-lhe de comer e o beijavam.
A jovem disse então:
— Ó, minha senhora, como é belo este mulo!
Elas responderam chorando:
— Este mulo que estás vendo é nosso irmão, que nasceu de nossa mãe. Nosso pai deixou-nos com sua
morte grandes riquezas e nós só tínhamos este irmão, para quem tentávamos encontrar um casamento
conveniente. Porém, mulheres dominadas pelo espírito da inveja, lançaram sobre ele, sem que
soubéssemos, encantamentos. E uma certa noite, um pouco antes do amanhecer, estando fechadas as
portas da nossa casa, encontramos nosso irmão transformado em mulo, tal qual o vês hoje.
Entregamo-nos à tristeza, visto que não tínhamos mais nosso pai para consolar-nos. Consultamos
todos os sábios do mundo, todos os magos e os feiticeiros, tentamos de tudo, mas nenhum deles nada
pôde fazer por nós. Eis porque sempre que nosso coração está a ponto de explodir de tristeza. Nós
nos levantamos e vamos, junto com a nossa mãe que aqui está, ao túmulo de meu pai e, após haver
chorado, retornamos para cá.
XXI. Volta a Ser Homem
Ao ouvir tal coisas, a jovem disse:
— Tende coragem e parai de chorar, pois a cura de vossos males está muito próxima, em vossa morada.
Eu era leprosa, mas após haver visto essa mulher e a criança que está com ela e que se chama Jesus, e
após haver derramado sobre meu corpo a água com a qual a sua mãe o havia lavado, eu me curei. Eu
sei que ele pode pôr um fim à vossa desgraça. Levantai-vos, aproximai-vos de Maria, conduzi-o aos
vossos aposentos, revelai-lhe o segredo que acabais de me contar e suplicai-lhe piedade.
Ao ouvirem tais palavras proferidas pela jovem, elas se apressaram em ter com Maria. Levaram o mulo
até o quarto e lhe disseram, chorando:
— Maria, Nossa Senhora, tem compaixão de tuas servas, pois nossa família está desprovida de seu chefe
e não temos um pai ou um irmão que nos proteja. Este mulo que aqui vês é nosso irmão. Algumas
mulheres, com seus encantamentos, reduziram-no a este estado. Rogamos-te, pois, que tenhas
piedade de nós.
Maria, comovida e chorando como as mulheres, ergueu o menino Jesus e colocou-o sobre o dorso do
mulo, dizendo:
— Meu filho, cura este mulo através do teu grande poder e faze com que este homem recobre a razão,
da qual foi privado.
Nem bem essas palavras haviam saído dos lábios de Maria e o mulo já havia retomado a forma humana,
mostrando-se sob os traços de um belo rapaz. Não lhe restava nenhuma deformidade. Ele, sua mãe e suas
irmãs adoraram Maria e, erguendo o menino acima de suas cabeças, beijaram-no, dizendo:
— Feliz de tua mãe, ó Jesus, Salvador do mundo! Felizes os olhos que gozam da felicidade da tua
presença.
XXII. As Bodas
As duas irmãs disseram à mãe:
— Nosso irmão retomou a forma primitiva, graças à intervenção do Senhor Jesus e aos bons conselhos
dessa jovem, que nos sugeriu recorrer a Maria e ao seu filho. Agora, já que nosso irmão não está
casado, pensamos que seria conveniente que ele desposasse essa moça.
Após haverem feito este pedido a Maria e haver ela consentido, fizeram para as bodas preparativos
esplêndidos. A dor transformou-se em alegria e o choro cedeu espaço ao riso. Elas só fizeram cantar e
regozijar-se, enfeitadas com magníficas vestimentas e jóias preciosas. Ao mesmo tempo, entoavam
cânticos de louvor a Deus, dizendo:
— Ó, Jesus, Filho de Deus, que transformaste nossa aflição em contentamento e nossas lamúrias em
gritos de alegria!
José e Maria lá permaneceram por dez dias. Ao partirem, receberam demonstrações de veneração de parte
de toda a família, que despediu-se deles chorando muito, principalmente a moça que se desfazia em
lágrimas.
XXIII. Os Salteadores
Chegaram, em seguida, a um deserto. Como lhes haviam dito que era infestado de ladrões, prepararam-se
para atravessá-lo durante a noite. Eis que, de repente, avistaram dois ladrões que dormiam e, perto deles,
muitos outros ladrões, seus companheiros, que também estavam entregues ao sono. Esses dois ladrões
chamavam-se Titus e Dumachus.
O primeiro disse ao outro:
— Eu te peço que deixes estes viajantes irem em paz, para que nossos companheiros não os vejam.
Tendo Dumachus recusado, Titus disse-lhe:
— Dou-te quarenta dracmas e fica com meu cinto como penhor.
Deu-lhe o cinto e, ao mesmo tempo, pediu que não desse alarme. Maria, vendo esse ladrão tão disposto a
serví-los, disse-lhe:
— Que Deus te proteja com sua mão direita e que ele te conceda a remissão de teus pecados.
O Senhor Jesus disse a Maria:
— Daqui a trinta anos, ó minha mãe, os judeus me crucificarão em Jerusalém e estes dois ladrões serão
postos na cruz ao meu lado: Titus à minha direita e Dumachus à minha esquerda. Neste dia, Titus me
precederá no Paraíso.
Quando ele assim falou, sua mãe respondeu-lhe:
— Que Deus afaste de ti semelhante desgraça, ó meu filho!
Foram dar, em seguida, em uma cidade, cheia de ídolos. Quando eles se aproximavam, ela foi
transformada em um monte de areia.
XXIV. A Sagrada Família em Mataréia
Foram ter, em seguida, a um sicômoro, que chamam hoje de Mataréia, e o Senhor Jesus fez surgir neste
lugar uma fonte, onde Maria lavou sua túnica. O bálsamo que produz esse país vem do suor que escorreu
pelos membros de Jesus.
XXV. A Sagrada Família em Mênfis
Foram então a Mênfis e, tendo visitado o faraó, permaneceram três anos no Egito, onde o Senhor Jesus
fez muitos milagres, que não estão consignados nem no Evangelho da Infância, nem no Evangelho
Completo.
XXVI. volta para Nazaré
Depois de três anos, eles deixaram o Egito e voltaram para a Judéia. Quando já estavam próximos, José
teve medo de entrar lá, porque acabara de saber que Herodes estava morto e que seu filho Arquelaus
havia lhe sucedido. Um anjo de Deus apareceu-lhe, porém, e disse-lhe:
— José, vai para a cidade de Nazaré e estabelece ali tua residência.
XXVII. A Peste em Belém
Quando chegaram a Belém, havia uma proliferação de doenças graves e difíceis de serem curadas, que
atacavam os olhos das crianças e lhes causavam a morte. Uma mulher, que tinha um filho atacado por
esse mal, levou-o a Maria e encontrou-a banhando o Senhor Jesus.
A mulher disse-lhe:
— Maria, vê meu filho que sofre cruelmente.
Maria, ouvindo-a, disse-lhe:
— Pegue um pouco desta água com a qual eu lavei meu filho e espalha-a sobre o teu.
A mulher fez como lhe havia recomendado Maria e seu filho, depois de uma forte agitação, adormeceu.
Quando acordou, estava completamente curado.
A mulher, cheia de alegria, foi até Maria, que lhe disse:
— Rende graças a Deus por ele haver curado o teu filho.
XXVIII. Outro Menino Agonizante
Essa mulher tinha uma vizinha cujo filho fora atingido pela mesma doença e cujos olhos estavam quase
fechados. Ele gritava e chorava noite e dia. Aquela cujo filho havia sido curado disse-lhe:
— Por que não levas teu filho a Maria, como eu fiz, quando o meu estava prestes a morrer e ele foi
curado pela água do banho de Jesus?
A mulher foi pegar também daquela água e, assim que ela derramou sobre seu filho, ele foi curado. Levou
então seu filho em perfeita saúde para Maria, que lhe recomendou que rendesse graças a Deus e que não
contasse a ninguém o que havia acontecido.
XXIX. O Menino no Forno
Havia na mesma cidade duas mulheres casadas com um mesmo homem e cada uma delas tinha um filho
doente. Uma se chamava Maria e seu filho, Cleofás. Essa mulher levou seu filho a Maria, mãe de Jesus, e
ofereceu uma bela toalha, dizendo-lhe:
— Maria, recebe de mim essa toalha e, em troca, dá-me uma das tuas fraldas.
Maria consentiu e a mãe de Cleofás confeccionou, com essa fralda, uma túnica, com a qual vestiu seu
filho. Ele ficou curado e o filho de sua rival morreu no mesmo dia, o que causou profundo ressentimento
entre essas duas mulheres.
Elas se encarregavam, em semanas alternadas, dos trabalhos caseiros e, um dia em que era vez de Maria,
a mãe de Cleofás, ela estava ocupada aquecendo o forno para assar pão. Precisando de farinha, deixou seu
filho perto do forno. Sua rival, vendo que a criança estava sozinha, pegou-a e jogou-a no forno em brasa e
fugiu. Maria retornou logo em seguida, mas qual não foi o seu espanto, quando ela viu seu filho no meio
do forno, rindo, pois ele havia subitamente esfriado, como se jamais houvesse sido aquecido. Ela
suspeitou que sua rival o havia jogado ali. Tirou-o de lá, levou-o até a Virgem Maria e contou-lhe o que
havia acontecido.
Maria disse-lhe:
— Cala-te, pois eu receio por ti se divulgares tais coisas!
Em seguida, a rival foi buscar água no poço e, vendo Cleofás brincando e percebendo que não havia
ninguém por perto, pegou a criança e jogou-a no poço. Alguns homens que haviam vindo para tirar água
viram a criança sentada na água, sem nenhum ferimento, e por meio de cordas tiraram-na de lá. Ficaram
tão admirados com essa criança que renderam-lhe as mesmas homenagens devidas a um Deus.
Sua mãe, chorando, carregou-o até Maria e disse-lhe:
— Minha senhora, vê o que minha rival fez ao meu filho, jogando-o no poço. Ah, ela acabará, por certo,
causando-lhe a morte!
Maria respondeu-lhe:
— Deus punirá o mal que te foi feito.
Alguns dias depois, a rival foi buscar água no poço e seus pés enroscaram-se na corda e ela caiu nele.
Quando acorreram, acharam-na com a cabeça partida. Ela morreu, portanto, de uma forma funesta.
A palavra do sábio se cumpre em si:
— Cavaram um poço e jogaram a terra em cima, mas caíram no poço que eles mesmos haviam
preparado.
XXX. Um Futuro Apóstolo
Uma outra mulher da mesma cidade tinha dois filhos, os dois doentes. Um morreu e o outro estava
agonizando. Sua mãe tomou-o nos braços e levou-o até Maria.
Aos prantos, disse-lhe:
— Minha senhora, vem em meu auxílio e tem piedade de mim. Eu tinha dois filhos, acabo de perder um
e vejo o outro a ponto de morrer. Imploro a misericórdia do Senhor.
E pôs-se a gritar:
— Senhor, tu és pleno em clemência e compaixão! Tu me deste dois filhos, me levaste um deles, pelo
menos deixa-me o outro.
Maria, testemunha da sua extrema dor, sentiu pena e disse-lhe:
— Coloca teu filho na cama de meu filho e cobre-o com suas roupas.
Quando a criança foi colocada na cama, ao lado de Jesus, seus olhos já cerrados pela morte abriram-se e,
chamando sua mãe em voz alta, pediu-lhe pão. Quando lhe deram, comeu-o.
Então sua mãe disse:
— Maria, eu sei que a virtude de Deus habita em ti, a ponto de teu filho curar as crianças que o tocam.
A criança que assim foi curada é o mesmo Bartolomeu de quem se fala no Evangelho.
XXXI. Uma Leprosa
Havia ainda no mesmo lugar uma leprosa que foi ter com Maria, mãe de Jesus, dizendo-lhe:
— Minha senhora, tem piedade de mim.
Maria quis saber:
— Que ajuda pedes tu? Queres ouro, prata ou queres te curar da lepra?
A mulher respondeu:
— Que podes fazer por mim?
Maria disse:
— Espera um pouco, até que eu tenha banhado e posto meu filho na cama.
A mulher esperou e Maria, após o haver deitado, estendeu à mulher um vaso cheio de água do banho do
seu filho e disse-lhe:
— Pega um pouco desta água e espalha-a sobre o teu corpo.
Assim que a doente obedeceu, curou-se e ela rendeu graças a Deus.
XXXII. Outra Leprosa
Ela partiu em seguida, após haver permanecido três dias junto de Maria, e foi para uma cidade onde
morava um príncipe, que havia desposado a filha de um outro príncipe. Quando ele viu sua esposa,
porém, percebeu entre seus olhos as marcas da lepra sob a forma de uma estrela e o seu casamento foi
declarado nulo e não válido.
Essa mulher, vendo o desespero da princesa, perguntou-lhe a causa dessas lágrimas.
A princesa respondeu-lhe:
— Não me interrogues, pois a minha desgraça é tanta que eu não posso revelá-la a ninguém.
A mulher insistia em saber, dizendo que talvez conhecesse algum remédio.
Ela viu então as marcas da lepra entre os olhos da princesa.
— Eu também fui atingida por essa doença. Fui a Belém para tratar de negócios e lá entrei numa
caverna onde vi uma mulher chamada Maria. Ela carregava uma criança que se chamava Jesus.
Vendo-me atingida pela lepra, ela teve pena de mim e me deu um pouco da água na qual havia lavado
o corpo de seu filho. Eu espalhei essa água sobre meu corpo e fui imediatamente curada.
A princesa disse-lhe então:
— Levanta-te, vem comigo e mostra-me Maria.
Ela foi, levando ricos presentes. Quando Maria a viu, disse:
— Que a misericórdia do Senhor Jesus esteja sobre ti.
Ela lhe deu um pouco da água na qual havia lavado seu filho. Assim que a princesa espalhou-a sobre o
próprio corpo, ela se viu curada e rendeu graças ao Senhor, assim como todos os que ali estavam. O
príncipe, ao saber que sua esposa havia sido curada, recebeu-a, celebrou um segundo casamento, e rendeu
graças a Deus.
XXXIII. Uma Jovem Endemoninhada
Havia, no mesmo lugar, uma jovem que Satã atormentava. O espírito maldito aparecia-lhe sob a forma de
um dragão, que queria devorá-la. Ele já havia sugado todo o sangue, de maneira que ela se parecia com
um cadáver. Todas as vezes em que ele se jogava sobre ela, ela gritava e, juntando as mãos sobre a
cabeça, dizia:
— Desgraça, desgraça de mim, pois não existe ninguém que possa livrar-me deste horrível dragão.
Seu pai, sua mãe e todos aqueles que a cercavam, testemunhas de sua infelicidade, entregavam-se à
aflição e derramavam lágrimas, principalmente quando a viam chorar e gritar:
— Irmãos e amigos, não existirá ninguém que possa libertar-me deste monstro?
A princesa, que havia sido curada da lepra, ouvindo a voz dessa infeliz, subiu até o telhado de seu castelo
e viu-a com as mãos unidas acima da cabeça, a verter copiosas lágrimas. Todos aqueles que a rodeavam
estavam desolados.
Ela perguntou se a mãe dessa possuída vivia ainda. Quando lhe responderam que o seu pai e sua mãe
estavam ambos vivos, ela disse:
— Tragam sua mãe até mim.
Quando esta chegou, ela lhe perguntou:
— É tua filha que está assim possuída?
A mãe, tendo respondido que sim, chorou, mas a princesa disse-lhe:
— Não revela o que vou te contar. Eu já fui uma leprosa, mas Maria, a mãe de Jesus Cristo, me curou.
Se queres que tua filha tenha a mesma felicidade, leva-a a Belém e implora com fé a ajuda de Maria.
Eu creio que voltarás cheia de alegria, trazendo tua filha curada.
Imediatamente a mãe levantou-se e partiu. Foi procurar Maria e expôs-lhe o estado de sua filha. Maria,
após tê-la ouvido, deu-lhe um pouco da água, na qual ela havia lavado seu filho Jesus, e disse-lhe para
derramá-la sobre o corpo da possuída. Em seguida deu-lhe uma fralda do menino Jesus, acrescentando:
— Pega isto e mostra-o a teu inimigo, todas as vezes em que o vir.
Dizendo isso, despediu-as com suas bênçãos.
XXXIV. Outra Possessa
Após haver deixado Maria, elas retornaram à sua cidade. Quando veio o tempo no qual Satã costumava
atormentá-la, ele lhe apareceu sob a forma de um grande dragão. Ao ver a sua aparência, a jovem foi
tomada pelo pavor, mas sua mãe disse-lhe:
— Não temas, minha filha! Deixa que ele se aproxime mais de ti e mostre-lhe esta fralda que nos deu
Maria e veremos o que ele poderá fazer.
Quando o espírito maligno, que havia tomado a forma de um dragão, estava bem perto, a doente,
tremendo de medo, colocou sobre sua cabeça a fralda e desdobrou-a. De repente, dela saíram chamas que
se dirigiam à cabeça e aos olhos do dragão. Ouviu-se, então, uma voz que gritava:
— Que há entre ti e mim, ó Jesus, filho de Maria? Onde encontrarei um abrigo que me livre de ti?
Satã fugiu apavorado, abandonando essa jovem e nunca mais apareceu. Ela se viu curada e, grata, rendeu
graças a Deus, assim como todos os que haviam presenciado esse milagre.
XXXV. Judas Iscariotes
Havia nessa mesma cidade uma outra mulher cujo filho era atormentado por Satã. Ele se chamava Judas e
sempre que o espírito maligno apoderava-se dele, ele tentava morder todos os que estavam à sua volta. Se
estivesse sozinho, mordia suas próprias mãos e membros. A mãe desse infeliz, ouvindo falar de Maria e
de seu filho Jesus, foi com seu filho nos braços até Maria.
Nesse meio tempo, Tiago e José haviam trazido o menino Jesus para fora da casa, para que pudesse
brincar com as outras crianças. Eles estavam sentados fora da casa e Jesus com eles. Judas aproximou-se
também e sentou-se à direita de Jesus e, quando Satã começou a agitá-lo como sempre o fazia, ele tentou
morder Jesus. Como não podia alcançá-lo, dava-lhe socos no lado direito, de forma que Jesus começou a
chorar. Nesse momento, entretanto, Satã saiu dessa criança sob a forma de um cão enraivecido.
Essa criança era Judas Iscariotes, que mais tarde trairia Jesus. O lado em que ele havia batido foi o lado
que os judeus trespassaram com a lança.
XXXVI. AS Estatuazinhas de Barro
Quando o Senhor Jesus havia completado o seu sétimo ano, ele brincava um dia com outras crianças de
sua idade. Para divertir-se, eles faziam com terra molhada diversas imagens de animais, de lobos, de
asnos, de pássaros, cada um elogiando seu próprio trabalho e esforçando-se para que fosse melhor que o
de seus companheiros. Então o Senhor Jesus disse para as crianças:
— Ordenarei às figuras que eu fiz que andem e elas andarão.
As crianças perguntaram-lhe se ele era o filho do Criador e o Senhor Jesus ordenou às imagens que
andassem e elas imediatamente andaram. Quando ele mandava voltar, elas voltavam. Ele havia feito
figuras de pássaros que voavam, quando ele ordenava que voassem, e que paravam, quando ele dizia para
parar. Quando ele lhes dava bebida e comida, eles comiam e bebiam.
Quando as crianças foram embora e contaram aos seus pais o que haviam visto, eles disseram:
— Fugi, daqui em diante, de sua companhia, pois ele é um feiticeiro! Deixai de brincar com ele!
XXXVII. As Cores do Tintureiro
Certo dia, quando brincava e corria com outras crianças, o Senhor Jesus passou em frente à loja de um
tintureiro, que se chamava Salém. Havia nessa loja tecidos que pertenciam a um grande número de
habitantes da cidade e que Salém se preparava para tingir de várias cores. Tendo Jesus entrado na loja,
pegou todas as fazendas e jogou-as na caldeira. Salém virou-se e, vendo todas as fazendas perdidas, pôsse
a gritar e a repreender Jesus, dizendo:
— Que fizeste tu, ó filho de Maria? Prejudicaste a mim e a meus cidadãos. Cada um pediu uma cor
diferente e tu apareceste e puseste tudo a perder.
O Senhor Jesus respondeu:
— Qualquer fazenda que queiras mudar a cor, eu mudo.
Ele se pôs a retirar as fazendas da caldeira e cada uma estava tingida da cor que desejava o tintureiro. Os
judeus, testemunhando esse milagre, celebraram o poder de Deus.
XXXVIII. Jesus na Carpintaria
José ia por toda a cidade, levando com ele o Senhor Jesus. Chamavam-no para que fizesse portas, arcas e
catres e o Senhor Jesus estava sempre com ele. E sempre que a obra de José precisava ser mais comprida
ou mais curta, mais larga ou mais estreita, o Senhor Jesus estendia a mão e ela ficava exatamente do jeito
que queria José, de forma que ele não precisava retocar nada com sua própria mão, pois ele não era muito
hábil no ofício de marceneiro.
XXXIX. Uma Encomenda do Rei
Um dia, o rei de Jerusalém mandou chamá-lo e disse:
— Eu quero, José, que me faças um trono segundo as dimensões do lugar onde costumo sentar-me.
José obedeceu e, pondo mãos à obra, passou dois anos no palácio para elaborar esse trono. Quando ele foi
colocado no lugar onde deveria ficar, perceberam que de cada lado faltavam dois palmos à medida fixada.
Então o rei ficou bravo com José, que temendo a raiva do monarca, não conseguiu comer e deitou-se em
jejum.
O Senhor perguntou-lhe qual era a causa do seu receio e ele respondeu:
— É que a obra na qual trabalhei durante dois anos está perdida.
O Senhor Jesus respondeu-lhe:
— Não tenhas medo e não percas a coragem. Pegue este lado do trono e eu o outro, para que possamos
dar-lhe a medida exata.
José fez o que havia lhe pedido o Senhor Jesus e cada um puxou para um lado. O trono obedeceu e ficou
exatamente com a dimensão desejada. Os assistentes, vendo esse milagre, ficaram estupefatos e deram
graças a Deus. Esse trono fora feito com uma madeira do tempo de Salomão, filho de Davi, e que era
notável por seus nós, que representavam várias formas de figuras.
XL. Os Meninos
Num outro dia, o Senhor Jesus foi até a praça e vendo as crianças que se haviam reunido para brincar,
juntou-se a elas. Essas, tendo-o visto, esconderam-se e o Senhor Jesus foi até uma casa e perguntou às
mulheres que estavam à porta, onde as crianças haviam ido. Como elas responderam que não havia
nenhuma delas na casa, o Senhor Jesus disse-lhes:
— Que vocês estão vendo sob este arco?
Elas responderam que eram carneiros com três anos de idade e o Senhor Jesus gritou:
— Saí, carneiros, e vinde em direção ao vosso pastor.
Imediatamente as crianças saíram, transformadas em carneiros, e saltavam ao seu redor. As mulheres,
tendo visto isso, foram tomadas de pavor e adoraram o Senhor Jesus, dizendo:
— Jesus, filho de Maria, nosso Senhor, tu és verdadeiramente o bom Pastor de Israel. Tem piedade de
tuas servas que estão em tua presença e que não duvidam, Senhor, que tu vieste para curar e não para
perder.
O Senhor respondeu que as crianças de Israel estavam entre os povos como os Etíopes. As mulheres
disseram:
— Senhor, conheces as coisas e nada escapa à tua infinita sabedoria. Pedimos e esperamos a tua
misericórdia. Devolve a essas crianças sua antiga forma.
O Senhor Jesus disse, então:
— Vinde, crianças, para que possamos brincar.
Imediatamente, na presença das mulheres, os carneiros retomaram a aparência de crianças.
XLI. Jesus Rei
No mês do Adar, Jesus reuniu as crianças e colocou-se como o seu rei. Elas haviam estendido suas roupas
no chão para fazê-lo sentar-se sobre elas e haviam colocado sobre sua cabeça uma coroa de flores. Como
os satélites que acompanham um rei, elas se haviam enfileirado à sua direita e à sua esquerda. Se alguém
passava por lá, as crianças faziam parar à força e diziam-lhe:
— Vem e adora o rei, para que obtenhas uma feliz viagem.
XLII. Simão, o Cananeu
Nisso chegaram alguns homens que carregavam uma criança em uma liteira. Esse menino havia ido até a
montanha com seus colegas para apanhar lenha e, tendo encontrado um ninho de perdiz, pôs a mão para
retirar os ovos. Uma serpente, escondida no ninho, no entanto, mordeu-o e ele chamou os companheiros
para socorrê-lo. Quando chegaram, eles o encontraram estendido no chão e quase morto. Alguns
familiares vieram e levaram-no à cidade. Ao chegaram ao local onde o Senhor Jesus estava sentado em
seu trono como um rei, com outras crianças à sua volta, como sua corte, essas foram ao encontro dos que
carregavam o moribundo e disseram-lhes:
— Vinde e saudai o rei!
Como eles não queriam aproximar-se por causa da tristeza que sentiam, as crianças traziam-nas à força.
Quando estavam na frente do Senhor Jesus, ele perguntou-lhe por que estavam carregando aquela criança.
Responderam que uma serpente a havia mordido e o Senhor Jesus disse às crianças:
— Vamos juntos e matemos a serpente!
Os pais da criança que estava prestes a morrer suplicaram para que os deixassem ficar, mas elas
responderam:
— Não ouvistes que o rei disse vamos e matemos a serpente? Devemos seguir suas ordens.
Apesar da sua oposição, eles retornaram à montanha, carregando a liteira. Quando chegaram perto do
ninho, o Senhor Jesus disse às crianças:
— Não é aqui que se esconde a serpente?
Eles responderam que sim e a serpente, chamada pelo Senhor Jesus, saiu e submeteu-se a ele. O Senhor
disse-lhe:
— Vai e suga todo o veneno que espalhaste nas veias dessa criança.
A serpente, arrastando-se, sugou todo o veneno que ela havia inoculado e o Senhor, em seguida,
amaldiçoou-a e, fulminada, morreu logo em seguida. Depois o Senhor Jesus tocou a criança com sua mão
e ela foi curada. Como ela se pusesse a chorar, o Senhor Jesus disse-lhe:
— Não chores, serás meu discípulo!
Essa criança foi Simão de Cananéia, de quem se faz menção no Evangelho.
XLIII. Jesus e Tiago
Num outro dia, José havia mandado seu filho Tiago para apanhar lenha e o Senhor Jesus se havia juntado
a ele para ajudá-lo. Quando chegaram ao lugar onde ficava a lenha, Tiago começou a apanhá-la e eis que
uma víbora mordeu-o e ele se pôs a gritar e a chorar. O Senhor Jesus, vendo-o naquele estado,
aproximou-se e soprou o local da mordida. Tiago foi imediatamente curado.
XLIV. O Menino que Caiu e Morreu
Um dia, o Senhor Jesus estava brincando com outras crianças em cima de um telhado e uma delas caiu e
morreu na hora. As outras fugiram e o Senhor Jesus ficou sozinho em cima do telhado. Então os pais do
morto chegaram e disseram ao Senhor Jesus:
— Foste tu que empurraste nosso filho do alto telhado.
Como ele negasse, eles repetiram mais alto:
— Nosso filho morreu e eis aqui quem o matou.
O Senhor Jesus respondeu:
— Não me acuseis de um crime do qual não tendes nenhuma prova. Perguntemos, porém, à própria
criança o que aconteceu.
O Senhor Jesus desceu, colocou-se perto da cabeça do morto e disse-lhe em voz alta:
— Zeinon, Zeinon, quem foi que te empurrou do alto do telhado?
O morto respondeu:
— Senhor, não foste tu a causa da minha queda, mas foi o terror que me fez cair.
O Senhor recomendou aos presentes que prestassem atenção a essas palavras e todos eles louvaram a
Deus por este milagre.
XLV. O Cântaro Quebrado
Maria havia mandado, um dia, o Senhor Jesus tirar água do poço. Quando ele havia cumprido a tarefa e
colocava sobre a cabeça o cântaro cheio, ele partiu-se. O Senhor Jesus, tendo estendido o seu manto,
levou para sua mãe a água recolhida e ela se admirou e guardou em seu coração tudo o que havia visto.
XLVI. Brincando com o Barro
Um dia, o Senhor Jesus estava na beira do rio com outras crianças. Haviam cavado pequenas valas para
fazer escorrer a água, formando assim pequenas poças. O Senhor Jesus havia feito doze passarinhos de
barro e os havia colocado ao redor da água, três de cada lado. Era um dia de Sabbath e o filho de Hanon,
o Judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disse-lhes:
— Como podeis, em um dia de Sabbath, fazer figuras com lama?
Ele se pôs, então, a destruir tudo. Quando o Senhor Jesus estendeu as mãos sobre os pássaros que havia
moldado, eles saíram voando e cantando. Em seguida, o filho de Hanon, o Judeu, aproximou-se da poça
cavada por Jesus para destruí-la, mas a água desapareceu e o Senhor Jesus disse-lhe:
— Vê como está água secou? Assim será a tua vida.
E a criança secou.
XLVII. Uma Morte Repentina
Certa noite, o Senhor Jesus voltava para casa com José, quando uma criança passou correndo na sua
frente e deu-lhe um golpe tão violente que o Senhor Jesus quase caiu. Ele disse a essa criança:
— Assim como tu me empurraste, cai e não levantes mais.
No mesmo instante, a criança caiu no chão e morreu.
XLVIII. Jesus e o Professor
Havia, em Jerusalém, um homem, chamado Zaqueu, que instruía os jovens. Ele disse a José:
— José, por que não me envias Jesus para que ele aprenda as letras?
José concordou e também Maria. Levaram, pois, a criança para o professor e assim que ele o viu,
escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. Quando ele o fez, pediu-lhe para dizer Beth. O
Senhor Jesus disse-lhe:
— Dize-me primeiro o que significa Aleph e aí então eu pronunciarei Beth.
O professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a explicar o significado das letras
Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas, as que tinhas desenho duplo, as que tinham
pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que
o professor jamais ouvira e que não havia lido em livro algum.
O Senhor Jesus disse ao professor:
— Presta atenção ao que vou te dizer!
E pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do alfabeto. O mestre ficou
admirado e disse:
— Creio que esta criança nasceu antes de Noé.
Virando-se para José, acrescentou:
— Tu o conduziste para que eu o instruísse, mas esta criança sabe mais que todos os doutores.
Depois disse a Maria:
— Teu filho não precisa de ensinamentos.
XLIX. O Professor Castigado
Conduziram-no, em seguida, a um professor mais sábio e assim que o viu. ordenou:
— Dize Aleph!
Quando o Senhor Jesus disse Aleph, o professor pediu-lhe que pronunciasse Beth. O Senhor Jesus
respondeu-lhe:
— Dize-me o que significa a letra Aleph e então eu pronunciarei Beth.
O mestre, irritado, levantou a mão para bater nele, mas sua mão secou instantaneamente e ele morreu.
Então José disse a Maria:
— Daqui por diante, não devemos mais deixar o menino sair de casa, pois qualquer um que se oponha a
ele é fulminado pela morte.
L. Jesus, o Mestre
Quando contava doze anos de idade, levaram Jesus a Jerusalém por ocasião da festa e, quando ele
terminou, eles voltaram, mas o Senhor Jesus permaneceu no templo, em meio aos doutores, aos velhos e
aos mais sábios dos filhos de Israel, que ele interrogava sobre diferentes pontos da ciência, mas também
respondia-lhes as perguntas.
Jesus perguntou-lhes:
— De quem é filho o Messias?
Eles responderam:
— Este é o filho de Davi.
Jesus respondeu:
— Por que então Davi, movido pelo Espírito Santo, chama-o Senhor, quando diz que o Senhor disse ao
meu Senhor: "Senta-te à minha direita para que coloque teus inimigos aos teus pés ?"
Um importante rabino interrogou-o, dizendo:
— Leste os livros sagrados?
O Senhor Jesus respondeu:
— Eu li os livros e o que eles contêm.
Dito isso, explicou-lhes as Escrituras, a lei, os preceitos, os estatutos, os mistérios que estão contidos nos
livros das profecias e que a inteligência de nenhuma criatura pode compreender. E o principal entre os
doutores disse:
— Eu jamais vi ou ouvi tamanha instrução. Quem credes que seja essa criança?
LI. Jesus e o Astrônomo
Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a ciência dos
astros. Jesus, respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes, sua natureza e sua
oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu movimento de leste para oeste, o
cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de nenhum homem escrutou.
LII. Jesus e o Médico
Havia entre eles um filósofo muito sábio em medicina e ciências naturais e quando ele perguntou ao
Senhor Jesus se ele havia estudado a medicina, este expôs-lhe a física, a metafísica, a hiperfísica e a
hipofísica, as virtudes do corpo, os humores e seus efeitos, o número de membros e de ossos, de
secreções, de artérias e de nervos, as temperaturas, calor e seco, frio e úmido e quais as suas influências,
quais as atuações da alma no corpo, suas sensações e suas virtudes, a faculdade da palavra, da raiva, do
desejo, sua composição e dissolução e outras coisas que a inteligência de nenhuma criatura jamais
alcançou. Então o filósofo ergueu-se e adorou o Senhor Jesus, dizendo:
— Senhor, daqui em diante serei teu discípulo e ter servo.
LIII. Jesus É Encontrado
Enquanto Jesus assim falava, Maria apareceu, junto com José, pois fazia três dias que procuravam por
Jesus. Vendo-o sentado entre os doutores, interrogando-os e respondendo-lhe alternadamente, ela lhe
disse:
— Meu filho, por que agiste assim conosco? Teu pai e eu te procuramos e tua ausência causou-nos
muita aflição.
Ele respondeu:
— Por que me procuráveis? Não sabíeis que convinha que eu permanecesse na casa de meu Pai?
Eles não entendiam as palavras que ele lhes dirigia. Então os doutores perguntaram a Maria se ele era seu
filho e tendo ela respondido que sim, eles exclamaram:
— Ó feliz Maria, que deste à luz tal criança.
Ele voltou com os pais para Nazaré e ele lhes era submisso em tudo. Sua mãe conservava todas as suas
palavras em seu coração e o Senhor Jesus crescia em tamanho, em sabedoria e em graça diante de Deus e
diante dos homens.
LIV. Via Oculta
Ele começou desde esse dia a esconder os seus segredos e seus mistérios, até que completou trinta anos,
quando seu Pai, revelando publicamente sua missão às margens do Jordão, fez soar, do alto do céu, essas
palavras:
— É meu filho bem-amado no qual coloquei toda minha complacência.
Foi quando o Espírito Santo apareceu sob a forma de uma pomba branca.
LV. Doxologia
É a ele que humildemente adoramos, pois ele nos deu a existência e a vida. Ele nos fez sair das entranhas
de nossas mães, tomou, por nós, o corpo de homem e nos redimiu, cobrindo-nos com sua misericórdia
eterna e concedendo-nos a graça do seu amor e de sua bondade.
A ele, portanto, glória, poder, louvores e domínio por todos os séculos.
Que assim seja!
EVANGELHO
DE
BARTOLOMEU
EVANGELHO DE BARTOLOMEU
I
Depois que Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitou de entre os mortos, acercou-se dele Bartolomeu e
abordou-o desta maneira:
— Desvela-nos, Senhor, os mistérios dos céus.
Jesus respondeu-lhe:
— Se não me despojar deste corpo carnal não os poderei desvelar.
Bartolomeu, pois, acercando-se do Senhor, disse-lhe:
— Tenho algo a dizer-lhe, Senhor.
Jesus, por sua vez, respondeu:
— Já sei o que me vais dizer. Dize-me, pois, o que quiseres. Pergunta e eu te darei a razão.
Bartolomeu, então, falou:
— Quando ias no caminho da cruz, eu te segui de longe. E te vi a ti, dependurado no lenho, e os anjos
que, descendo dos céus, te adoraram. Ao sobrevirem as trevas e eu estava a tudo contemplando. Eu vi
como desapareceste da cruz e só pude ouvir os lamentos e o ranger de dentes que se produziram
subitamente das entranhas da terra. Dize-me, Senhor, onde foste depois da cruz.
Jesus, então, respondeu desta forma:
— Feliz de ti, Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério. Agora podes
perguntar-me qualquer coisa que a ti ocorra, porque tudo dar-te-ei eu a conhecer. Quando desapareci
da cruz, desci aos Infernos para dali tirar Adão e a todos que com ele se encontravam, cedendo às
suplicas do arcanjo Gabriel.
Então disse Bartolomeu:
— E o que significa aquela voz que se ouviu?
Responde-lhe Jesus:
— Era a voz do Tártaro que dizia a Belial: a meu modo de ver, Deus se fez presente aqui. Quando desci,
pois, com meus anjos ao Inferno para romper os ferrolhos e as portas de bronze, dizia ele ao Diabo:
parece-me que é como se Deus tivesse vindo à terra. E os anjos dirigiram seus clamores às potestades,
dizendo: levantai, ó príncipes, as portas e fazei correr as cortinas eternas, porque o Reino da Glória vai
descer à terra. E o Inferno disse: quem é esse Rei da Glória que vem do céu a nós? Mas quando já havia
descido quinhentos passos, o Inferno encheu-se de turbação e disse: parece-me que é Deus que baixa à
terra, pois ouço a voz do Altíssimo e não o posso agüentar. E o Diabo respondeu: não percas o ânimo,
Inferno; recobra teu vigor, que Deus não desce à terra. Quando voltei a baixar outros quinhentos passos,
os anjos e potestades exclamaram: alçai as portas ao vosso Reino e elevai as cortinas eternas, pois eis
que está para entrar o Rei da Glória. Disse de novo o Inferno: ai de mim! Já sinto o sopro de Deus. E
disse o Diabo ao Inferno: para que me assustas, Inferno? Se somente é um profeta que tem algo
semelhante com Deus ... Apanhemo-lo e levemo-lo à presença desses que crêem que está subindo ao céu.
Mas replicou o Inferno: e quem é entre os profetas? Informa-me. É, por acaso, Enoch, o escritor mui
verdadeiro? Mas Deus não lhe permite baixar à terra antes de seis mil anos. Acaso te referes a Elias, o
vingador? Mas este não poderá descer até o final do mundo. Que farei? Para nossa perdição, é chegado
o fim de tudo, pois aqui tenho escrito em minha mão o número dos anos. Belial disse ao Tártaro: não te
perturbes. Assegura bem teus poderes e reforça os ferrolhos. Acredita-me, Deus não baixa à terra.
Responde o Inferno: não posso ouvir tuas belas palavras. Sinto que se me arrebenta o ventre e minhas
entranhas enchem-se de aflição. Outra coisa não pode ser: Deus apresentou-se aqui. Ai de mim! Aonde
irei esconder-me de seu rosto, da sua força do grande Rei? Deixa-me que me esconda em tuas entranhas,
pois fui criado antes de ti. Naquele preciso momento, entrei. Eu o flagelei e o atei com correntes que não
se rompem. Depois fiz sair a todos os Patriarcas e voltei novamente para a cruz.
— Dize-me, Senhor — disse-lhe Bartolomeu. — Quem era aquele homem de talhe gigantesco a quem
os anjos levavam em suas mãos?
Jesus respondeu:
— Aquele era Adão, o primeiro homem que foi criado, a quem fiz descer do céu à terra. E eu lhe disse:
por ti e por teus descendentes fui pregado na cruz. Ele, ao ouvir isso, deu um suspiro e disse: assim,
rendo-me a ti, Senhor.
De novo disse Bartolomeu:
— Vi também os anjos que subiam diante de Adão e que entoavam hinos, mas um destes, o mais esbelto
de todos, não queria subir. Tinha em suas mãos uma espada de fogo e fazia sinais somente a ti. Os
demais rogavam que ele subisse ao céu, mas ele não queria. Quando, porém, tu o mandaste subir, vi
uma chama que saia de suas mãos e que chegava à cidade de Jerusalém.
Disse Jesus:
— Era um dos anjos encarregados de vingar o trono de Deus. E estava suplicando a mim. A chama que
viste sair de suas mãos feriu o edifício da sinagoga dos judeus para dar testemunho de mim, por
terem eles me sacrificado.
Quando falou isso, disse aos apóstolos:
— Esperai-me neste lugar, porque hoje se oferece um sacrifício no paraíso e ali hei de estar para recebêlos.
Falou Bartolomeu:
— Qual é o sacrifício que se oferece hoje no paraíso?
Jesus respondeu:
— As almas dos justos, que saíram do corpo, vão entrar hoje no Éden e, se eu não estiver lá presente,
não poderão entrar.
Bartolomeu continuou:
— Quantas almas saem diariamente deste mundo?
Disse-lhe Jesus:
— Trinta mil.—
Insistiu Bartolomeu:
— Senhor, quando te encontravas entre nós ensinando-nos tua palavra, recebia sacrifícios no paraíso?
Respondeu-lhe Jesus:
— Em verdade te digo eu, meu amado, que, quando me encontrava entre vós ensinando-vos a palavra,
estava simultaneamente sentado junto de meu Pai.
Disse-lhe Bartolomeu:
— Quantas almas nascem diariamente no mundo?
Responde-lhe Jesus:
— Uma só a mais do que as que saem do mundo.
Dizendo isto, deu-lhes a paz e desapareceu no meio deles.
II
Estavam os apóstolos em um lugar chamado Chiltura, com Maria, a Mãe de Jesus Cristo. Bartolomeu,
acercando-se de Pedro, André e João, disse-lhes:
— Por que não pedimos à cheia de graça que nos diga como concebeu ao Senhor e como pôde carregar
em seu seio e dar à luz o que não pôde ser gestado?
Eles vacilaram em perguntar-lhe.
Disse Bartolomeu a Pedro:
— Tu, como corifeu e nosso mestre que és, acerca-te e pergunta-lhe.
Mas, ao ver todos vacilantes e em desacordo, Bartolomeu acercou-se dela e disse:
— Deus te salve, Tabernáculo do Altísimo; aqui viemos todos os apóstolos a perguntar-te como
concebeste ao que é incompreensível, e como carregaste em teu seio aquele que não pôde ser
gestado, ou como, enfim, deste à luz tanta grandeza.
Maria respondeu:
— Não me interrogueis acerca deste mistério. Se começar a falar-vos dele, sairá fogo de minha boca e
consumirá toda a terra.
Eles insistiram e Maria, não querendo dar-lhes ouvidos, disse:
— Oremos.—
Os apóstolos puseram-se de pé atrás de Maria. Esta disse a Pedro:
— E tu, Pedro, que és chefe e grande pilar, estás de pé atrás de nós? Pois não disse o Senhor que a
cabeça do varão é Cristo e a da mulher é o varão?’
Eles replicaram:
— O Senhor plantou sua tenda em ti e em tua pessoa houve por bem ser contido. Tu deves ser nossa
guia na oração.
Maria, então, disse-lhes:
— Vós sois estrelas brilhantes do céu. Vós sois os que devem orar.
Disseram eles:
— Tu deves orar, pois que sois a Mãe do Rei Celestial.
Maria colocou-se diante deles e elevando as mãos aos céus começou a dizer:
— Ó Deus, tu que és o Grande, o Sapientíssimo, o Rei dos séculos, inexplicável, inefável, aquele que
com uma palavra deu consistência às magnitudes siderais, aquele que fundamentou em afinada
harmonia a excelsitude do firmamento, aquele que separou a obscuridade tenebrosa da luz, aquele
que alicerçou em um mesmo lugar os mananciais das águas; tu que deste base à terra, tu que não
podendo ser contido nos sete céus, te dignaste a ser contido em mim sem dor alguma, sendo Verbo
Perfeito do Pai, por quem todas as coisas foram feitas; da glória, Senhor, a teu magnífico nome,
manda-me falar na presença de teus santos apóstolos.
Terminada a oração, disse:
— Sentemo-nos no chão e vem tu, Pedro, que és o chefe. Senta-te à minha direita e apoia com tua
esquerda meu braço. Tu, André faz o mesmo do lado esquerdo. Tu, João, que és virgem, segura meu
peito. E tu, Bartolomeu, põe-te de joelhos atrás de mim e apóia minhas costas para que, ao começar
falar, meus ossos não se desarticulem.
Quando fizeram isso, começou ela a falar:
— Estando eu no templo de Deus, aonde recebia alimento das mãos de um anjo, apareceu-me certo dia
uma figura que me pareceu ser angélica. Mas seu semblante era indescritível, e não levava nas mãos nem
o pão nem o cálice, como o anjo que anteriormente tinha vindo a mim. Eis que de repente, rasgou-se o
véu do templo e sobreveio um grande terremoto. Joguei-me por terra, não podendo suportar o semblante
do anjo, mas ele estendeu-me sua mão e levantou-me. Olhei para o céu e vi uma nuvem de orvalho que
aspergiu-me da cabeça aos pés. Então ele enxugou-me com o seu manto e disse-me: salve, cheia de
graça, cálice da eleita. Deu, então, um golpe com sua mão direita e apareceu um pão muito grande, que
colocou sobre o altar do templo. Comeu em primeiro lugar e em seguida deu-o a mim também. Deu outro
golpe com a ourela esquerda de sua túnica e apareceu um cálice muito grande e cheio de vinho. Bebeu em
primeiro lugar e em seguida deu-o a mim também. E meus olhos viram um cálice transbordante e um pão.
Disse-me, então: ao cabo de três anos, eu te dirigirei novamente minha palavra e conceberás um filho
pelo qual será salva toda a criação. Tu és o cálice do mundo. A paz esteja contigo, minha amada, e
minha paz te acompanhará sempre. Após isto, desapareceu de minha presença, ficando o templo como
estava anteriormente.
Ao terminar de falar, começou a sair fogo de sua boca. Quando o mundo estava para ser destruído,
apareceu o Senhor que disse a Maria:
— Não desveles este mistério, porque se o fizerdes no dia de hoje sofrerá a criação inteira um
cataclismo.
Os apóstolos, consternados, temeram que o Senhor pudesse irar-se contra eles.
III
O Senhor caminhou com eles até o Monte Moria e se sentou no meio deles. Como tinham medo,
hesitavam em perguntar-lhe. Jesus incitou-os:
— Perguntai-me o que quiserdes, pois dentro de sete dias partirei para o meu Pai e já não estarei visível
a vós nesta forma.
Eles, vacilantes, disseram:
— Permite-nos ver o abismo, como nos prometeste.
Respondeu Jesus:
— Melhor seria para vós não verdes o abismo; mas, se o queres, segui-me e o vereis.
Ele os conduziu ao local chamado Cherudik, cujo significado é lugar de verdade, e fez um sinal aos anjos
do Ocidente. A terra abriu-se como um livro e o abismo apareceu. Ao vê-lo, os apóstolos prostraram-se
em terra, mas o Senhor os ergueu dizendo:
— Não vos dizia, há pouco, que não vos faria bem verdes o abismo?’
Jesus tomou-os de novo e pôs-se a caminho do monte das Oliveiras. Pedro disse a Maria:
— Oh tu, cheia de graça, roga ao senhor que nos revele os arcanjos celestiais.
Maria respondeu a Pedro:
— Oh tu, pedra escolhida, por acaso não prometeu ele fundar sua Igreja sobre ti?
Pedro insistiu:
— A ti, que és um amplo tabernáculo, cabe perguntar.
Disse Maria:
— Tu és a imagem de Adão e este não foi formado da mesma maneira que Eva. Observa o sol e vê que,
tal qual Adão, ele se avantaja em brilho aos demais astros. Observa também a lua e vê como está
enodoada pela transgressão de Eva. Porque pôs Adão ao oriente e Eva ao Ocidente, ordenando a
ambos que ofereçam a face mutuamente.
Quando chegaram ao cimo do monte o Senhor afastou-se um pouco deles, e Pedro disse a Maria:
— Tu és aquela que desfez a infração de Eva, transformando-a de vergonha em regozijo.
Quando Jesus retornou, disse-lhe Bartolomeu:
— Senhor, mostra-nos o inimigo dos homens para que vejamos quem é e quais são suas obras, já que
nem mesmo de ti se apiedou, fazendo-te pender do patíbulo.
Jesus, fixando nele seu olhar, disse-lhe:
— Teu coração é duro. Não te é dado ver isso que pedes.
Então, Bartolomeu, todo agitado, caiu aos pés de Jesus, dizendo:
— Jesus Cristo, chama inextinguível, criador da luz eterna, tu que hás dado a graça universal a todos os
que te amam e que nos hás outorgado por meio da Virgem Maria o fulgor perene da tua presença
neste mundo, concede-nos o nosso desejo.
Quando Bartolomeu acaba de falar, o Senhor ergueu-se dizendo:
— Vejo que é teu desejo ver o adversário dos homens. Mas lembra-te que, ao fitá-lo, não apenas tu mas
também os demais apóstolos e Maria caireis por terra e ficareis como mortos.
Mas todos lhe disseram:
— Senhor, vejamo-lo.
Então fê-los descer do monte das Oliveiras. E, havendo lançado um olhar enfurecido aos anjos que
custodiavam o Tártaro, ordenou a Micael que fizesse soar a trombeta fortemente. Quando este o fez,
Belial subiu aprisionado por 6 064 anjos e atado com correntes de fogo. O dragão tinha de altura mil e
seiscentos côvados e de largura, quarenta. Seu rosto era como uma centelha e seus olhos, tenebrosos. Do
seu nariz saía uma fumaça mal-cheirosa e sua boca era como a face de um precipício. Ao vê-lo, os
apóstolos caíram por terra sobre os rostos e ficaram como que mortos. Jesus acercou-se deles, ergueu-os e
infundiu-lhes ânimo.
Disse a Bartolomeu:
— Pisa com teu próprio pé sua cerviz e pergunta-lhe quais foram suas obras até agora e como engana os
homens.
Jesus estava de pé com os demais apóstolos. Bartolomeu, temeroso, ergueu a voz e disse:
— Bendito seja desde agora e para sempre o nome de teu reino imortal.
Quando ele acabou de dizer isso, Jesus o exortou de novo:
— Anda, pisa a cerviz de Belial.
Bartolomeu caminhou apressadamente para Belial e pisou-lhe o pescoço, deixando-o a tremer.
Bartolomeu fugiu assustado, dizendo:
— Deixa-me pegar a borda de tuas vestes para que me atreva a aproximar-me dele.
Jesus respondeu-lhe:
— Não podes tocar a fímbria das minhas vestes porque não são as mesma que eu tinha antes de ser
crucificado.
Disse-lhe Bartolomeu:
— Tenho medo, Senhor, de que, assim como não se compadeceu dos anjos, da mesma maneira me
esmague também a mim.
Respondeu Jesus:
— Mas por acaso não se acertaram todas as coisas graças à minha palavra e à inteligência de meu Pai? A
Salomão se submeteram os espíritos. Vai tu, pois, em meu nome, e pergunta-lhe o que quiseres.
Ao fazer Bartolomeu o sinal da cruz e orar a Jesus, irrompeu um incêndio e as vestes do apóstolo foram
tomadas pelas chamas.
Disse-lhe então Jesus de novo:
— Pisa, como te disse, na cerviz, de maneira que possas perguntar-lhe qual é o seu poder.
Bartolomeu, pois, se foi e pisou-lhe a cerviz, que trazia oculta até as orelhas, dizendo-lhe:
— Dizei-me quem és tu e qual é teu nome.
Bartolomeu, afrouxou-lhe um pouco as ligaduras e lhe disse:
— Conta tudo quanto tens feito.
Respondeu Belial:
— A princípio me chamava Satanail, que quer dizer mensageiro de Deus, Mas, desde que não reconheci
a imagem de Deus, meu nome foi mudado para Satanás, que quer dizer anjo guardião do tártaro.
Bartolomeu falou de novo:
— Conta tudo sem nada ocultar.
Ele respondeu:
— Juro-te pela glória de Deus que, ainda que quisesse ocultá-lo, ser-me-ia impossível. Está aqui presente
aquele que me acusa. E se me fosse possível vos faria desaparecer a todos da mesma maneira que o fiz
com aquele que pregou para vós. Também fui chamado primeiro anjo porque, quando Deus fez o céu e a
terra, apanhou um punhado de fogo e formou-me a mim primeiro e o segundo foi Micael, e o terceiro
Gabriel, e o quarto Rafael, e o quinto Uriel, o sexto Xathsnael e assim outros seis mil anjos, cujos nomes
me é impossível pronunciar, pois são os lictores de Deus e me flagelam sete vezes a cada dia e sete vezes
a cada noite. Não me deixam um momento e são os encarregados de minar minhas forças. Os anjos
vingadores são estes que estão diante do trono de Deus. Eles foram criados primeiro. Depois destes foi
criada a multidão dos anjos: no primeiro céu há cem miríades; no segundo, cem miríades; no terceiro,
cem miríades; no quarto, cem miríades; no quinto, cem miríades, no sexto, cem miríades; no sétimo, cem
miríades. Fora do âmbito dos sete céus está o primeiro firmamento, onde residem as potestades que
exercem sua atividade sobre o homem. Há também outros quatro anjos: Um é Bóreas, cujo nome é Vroil
Cherum, tem na mão uma vara de fogo e neutraliza a força que a umidade exerce sobre a terra, para que
esta não chegue a secar. Outro anjo está no Aquilon e seu nome é Elvisthá. Etalfatha tem a ser cargo o
Aquilon. E ambos, ele e Mauch, que está na Bóreas, mantêm em suas mãos tochas incendiadas e varas de
fogo para neutralizar o frio, o frio dos ventos, de maneira que a terra não se resseque e o mundo não
pereça. Cedor cuida do Austro, para que o sol não perturbe a terra, pois Levenior apaga a chama que sai
da boca daquele, para que a terra não seja abrasada. Há outro anjo que exerce domínio sobre o mar e
reduz o empuxo das ondas. O mais não estou a revelar.
Insistiu Bartolomeu:
— Anda dize-me, malfeitor e mentiroso, ladrão desde o berço, cheio de amargura, engano, inveja e
astúcia, velho réptil, trapaceiro, lobo rapace, como te arrumas para induzir os homens a deixar o Deus
vivo, criador de todas as coisas, que fez o céu e a terra e tudo que neles está contido? Pois és sempre
inimigo do gênero humano.
Disse o Anticristo:
— Dir-te-ei. Es aqui uma roda que sobe do abismo e tem sete facas de fogo. A primeira delas tem doze
canais.
Perguntou-lhe Bartolomeu:
— Quem está nas facas?
Respondeu o Anticristo:
— No canal ígneo da primeira faca ficam os inclinados ao sortilégio, à adivinhação e à arte de
encantamento e também os que neles crêem e o buscam, já que por malícia de seu coração buscaram
adivinhações falsas. No segundo canal de fogo vão os blasfemos, que maldizem de Deus, de seu
próximo e das Escrituras. Também ficam ai os feiticeiros e os que os buscam e lhes dão crédito. Entre
os meus encontram-se também os suicidas, os que se lançam à água, ou se enforcam, ou se ferem
com a espada. Todos esses estarão comigo. No terceiro canal vão os homicidas, os que se entregam à
idolatria e os que se deixam dominar pela avareza ou pela inveja, que foi o que me arrojou do céu à
terra. Nos demais canais vão os perjuros, os soberbos, os ladrões, os que desprezam os peregrinos, os
que não dão esmolas, os que não ajudam os encarcerados, os caluniadores, os que não amam o
próximo e os demais pecadores que não buscam a Deus ou o servem debilmente. A todos esses eu os
submeto ao meu arbítrio.
Tornou, então, Bartolomeu:
— Dize-me, diabo mentiroso e insincero! Fazes tu essas coisas pessoalmente ou por intermédio de teus
iguais?
Respondeu-lhe o Anticristo:
— Oh se eu pudesse sair e fazer essas coisas por mim mesmo! Em três dias destruiria o mundo inteiro.
Desgraçadamente, porém, nem eu nem nenhum dos que foram arrojados juntamente comigo podemos
sair. Temos, todavia, outros ministros mais fracos que, por sua vez, atraem outros colegas ao quais
emprestamos nossa vestimentas e mandamos semear insídias que enredem as almas dos homens com
muita suavidade, afagando-as, para que se deixem dominar pela embriaguez, a avareza, a blasfêmia, o
homicídio, o furto, a fornicação, a apostasia, a idolatria, o abandono da Igreja, o desprezo da Cruz, o falso
testemunho, enfim, tudo o que Deus abomina. Isso é o que nós fazemos. A uns nós os deitamos ao fogo. A
outros, nós os lançamos das árvores para que se afoguem. A uns rompemos pés e mãos e a outros lhes
arrancamos os olhos. Estas e outras coisas são o que fazemos. Oferecemos ouro e prata e tudo mais que é
cobiçável no mundo e àqueles que não conseguimos que pequem despertos fazemo-los pecar
adormecidos. Também direi os nomes dos anjos de Deus que nos são contrários. Um deles chama-se
Mermeoth, que é o que domina as tempestades. Meus satélites o conjuram e ele lhe dá permissão para que
habitem onde queiram; mas ao voltar se incendeiam. Há outros cinqüenta anjos que têm debaixo do seu
poder o raio. Quando algum espírito, dentre os nossos, quiser sair pelo mar ou pela terra, esses anjos
desferem contra ele uma descarga de pedra. Com isso ateiam o fogo e fazem fender as rochas e as árvore.
E quando conseguem dar conosco nos perseguem, obedecendo ao mandato daquele a quem servem.
Graças a esse mandato, tu podes exercer poder sobre mim, pelo que me vejo obrigado, muito a meu pesar,
a revelar-te o segredo e as coisas que não pensava dizer-te.
Continuou Bartolomeu:
— Que tens feito e o que continuas fazendo ainda? Revela-me, Satanás!
Este respondeu:
— Tinha pensado não confessar-te todo o segredo, mas, por aquele que preside ao Universo, cuja cruz
me lançou ao cativeiro, não posso ocultar-te nada.
Disse o Senhor Jesus a Bartolomeu:
— Afrouxa-lhes as ligaduras e ordena-lhe que retorne a seu lugar até a vinda do Senhor. Quanto ao
mais, já me encarregarei eu mesmo de revelar-vos. Porque é necessário nascer de novo para que
aqueles que passaram pela prova possam entrar no Reino dos céus, de onde foi expulso este inimigo
por sua soberba, juntamente com aqueles de cujo conselho se servia.
Após isso, disse o apóstolo Bartolomeu ao Anticristo:
— Volta condenado e inimigo dos homens, ao abismo até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual
há de vir julgar os vivos e mortos e ao mundo inteiro por meio do fogo e a condenar-te a ti e a todos
os teus semelhantes. Não tentes daqui em diante continuar praticando isso que foste obrigado a
revelar.
Satanás, lançando vozes misturadas com rugidos e gemidos, disse:
— Ai de mim, que tenho me servido de mulheres para enganar a tantos e acabei por ser burlado por uma
virgem! Agora vejo-me aferrolhado e atado com cadeias de fogo pelo seu filho e estou ardendo de
péssima maneira. Ó virgindade, que estás sempre contra mim! Ainda não se passaram os sete mil
anos. como, pois, me vi condenado a confessar as coisas que acabo de dizer?
O apóstolo Bartolomeu, admirando a audácia do inimigo e confiando no poder do salvador, disse a Satã:
— Dize-me, imundíssimo demônio, a causa pela qual foste banido do mais alto do céu. Pois prometeste
revelar-me tudo.
Respondeu o Diabo:
— Quando Deus se propôs a formar Adão, pai dos homens, à sua imagem, ordenou a quatro anjos que
trouxessem terra das quatro partes do globo e água dos quatro rios do paraíso. Eu estava no mundo
naquela ocasião e o homem passou a ser um animal vivente nos quatros rincões da terra onde eu estava.
Então Deus o abençoou porque era sua imagem. Depois vieram render-lhe suas homenagens Micael,
Gabriel e Uriel. Quando voltei ao mundo, disse-me o arcanjo Micael: adora essa figura que Deus fez
segundo sua vontade. Eu me dei conta de que a criatura havia sido feita de barro e disse: eu fui feito de
fogo e água e antes do que este. Eu não adoro o barro da terra. De novo me disse Micael: adora-o, antes
que o Senhor se aborreça contigo. Eu repliquei: o Senhor não se irritará comigo. Eu vou colocar meu
trono contra o dele. Então Deus enfureceu-se comigo, mandou abrir as comportas do céu e me arrojou à
terra. Depois que fui expulso, perguntou o Senhor aos demais anjos que estavam às minhas ordens se se
dispunham a render-se diante da obra que havia feito com suas mãos e eles disseram: assim como vimos
que nosso chefe não dobrou sua cerviz, da mesma maneira não adoraremos um ser inferior a nós.
Naquele momento mesmo foram eles expulsos como eu. Ficamos adormecidos durante um período de
quarenta anos. Ao despertar, percebi que dormiam os que estavam abaixo de mim e os despertei, seguindo
meu capricho. Depois discuti com eles uma forma de lograr o homem por cuja causa fui expulso do céu.
Tomada a resolução, descobri como podia seduzí-lo. Tomei em minhas mãos umas folhas de figueira,
enxuguei com elas o suor do meu peito e das minhas axilas e atirei-as ao rio. Eva, então, ao beber daquela
água, conheceu o desejo carnal e o ofereceu ao marido. A ambos pareceu doce o sabor e não deram conta
do amargo de haverem prevaricado. Se não houvessem bebido dessa água, jamais poderia eu enredá-los,
pois outro meio eu não tinha para poder superá-los senão esse.
O apóstolo Bartolomeu pôs-se a orar, dizendo :
— Oh, Senhor Jesus cristo! Ordena-lhe que entre no Inferno porque se mostra insolente comigo.
Disse Jesus Cristo a Satã:
— Vai, desce ao abismo e fica ali até minha chegada.
No mesmo instante o Diabo desapareceu.
Bartolomeu, caindo aos pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, começou a dizer, banhado em lágrimas:
— Abba! Pai! Tu que continuas sendo único e glorioso Verbo do Pai, por que foram feitas todas as coisas;
tu, a quem não te puderam conter os sete céus e que tiveste por habitar o seio de uma Virgem; a quem a
Virgem gerou e deu à luz sem dor; tu, Senhor, elegeste aquela a quem verdadeiramente pudeste chamar
mãe, rainha e escrava. Mãe, porque por ela te dignaste descer e dela tomaste carne mortal. E rainha
porque a constituíste rainha das virgens. Tu que chamas os quatro rios e eles obedecem tuas ordens e se
apressam a servi-te. O primeiro, o rio dos Filósofos, para a unidade da Igreja e da Fé, que foi revelada no
mundo. O segundo, o Geon, porque foi feito da terra, ou também pelos dois testamentos. O terceiro, o
tigre, porque aos que cremos no Pai, no Filho e no Espirito Santo, Deus único por quem foram feitas
todas as coisas no céu e na terra, nos foi revelada a Trindade sempiterna, que está nos céus. O quarto, o
Eufrates, porque tu te dignaste saciar toda alma vivente por meio do banho da regeneração, que
representava a imagem dos Evangelhos que correm por toda a órbita da Terra e que te dignaste anunciar
por teus servos, para que, por meio da confissão e da fé, sejam salvos todos os que crêem em teu nome
grande e terrível e em teus santos Evangelhos, de maneira que possam alcançar a vida que ainda não
possuem.
Continuou Bartolomeu:
— É lícito revelar estas coisas a todos os homens.
Disse-lhe Jesus:
— Pode dá-las a conhecer a todos que sejam crentes e observem este mistério que acabo de desvendarvos.
Pois entre os gentios há alguns que são idólatras, ébrios, fornicadores, maldosos, feiticeiros,
malvados, que seguem as artimanhas do inimigo e que odeiam o próximo. Todos esses não são
dignos de ouvir esse mistério. Mas são dignos de ouvi-lo todos os que guardam meus mandamentos,
os que recebem em si as palavras de Vida eterna que não têm fim, e todos os que têm fim, e todos os
que têm parte nos céus com os Santos, justos e fiéis no reino do meu Pai. Todos aquele que se hajam
conservado imunes ao erro da iniquidade e hajam seguindo o caminho da salvação e da justiça,
devem ouvir este mistério. E tu, Bartolomeu, és feliz, juntamente a tua geração.
Bartolomeu, ao escrever todas essas coisas que ouviu dos lábios de Nosso Senhor Jesus Cristo, mostrou
toda sua alegria no rosto e bendisse o Pai, o Filho e o Espirito Santo, dizendo:
— Glória a Ti, Senhor, redentor dos pecadores, vida dos justo, amante da castidade.
O Senhor disse, então, batendo no peito:
— Eu, sou bom, manso e benigno, misericordioso e clemente, forte e justo, admirável e santo, médico e
defensor de órfãos e viúvas, remunerador dos justos e fiéis, juiz de vivos e mortos, luz de luz e
resplendor da claridade, consolador dos atribulados e cooperador dos pupilos; Alegrai-vos comigo,
amigos meus, e recebei meu presente. Hoje vou dar-vos um dom celeste. A todos os que em mim
tenham depositado suas aspiração e sua fé, e a vós, estou galardoando com a vida eterna.
Bartolomeu e os demais apóstolos puseram-se a glorificar o Senhor Jesus, dizendo:
— Glória a ti, pai dos céus, rei da vida eterna, foco de luz inextinguível, sol radiante e resplendor da
claridade perpétua, reis dos reis, senhor dos senhores. A ti seja dada a magnificência, a glória, o
império, o reino, a honra e o poder, juntamente com o Pai e o Espirito Santo. Bendito seja o Senhor
Deus de Israel porque nos visitou e redimiu seu povo da mão de seus inimigos e usou conosco de
misericórdia e justiça. Louvai a Nosso Senhor Jesus Cristo todas as nações e crede que ele é o juiz de
vivos e mortos e o salvador dos fiéis. O qual vive e reina, juntamente com o Pai e o Espirito Santo,
por todos os séculos dos séculos.
Amém.

O EVANGELHO
DE
FELIPE
O Evangelho de Felipe
O Evangelho de Felipe provavelmente foi escrito originalmente em grego, ainda que não seja possível
precisar se no primeiro, segundo ou terceiro século. O exemplar encontrado entre os textos da biblioteca
de Nag Hammadi é uma tradução para o copta, a língua do alto Egito no início de nossa era,
provavelmente efetuada no quarto século.
Ao contrário dos evangelhos canônicos, o Evangelho de Felipe não contém uma narrativa sistemática da
vida e ministério de Jesus em ordem cronológica. Ele segue a linha da tradição oral de relatar,
independente do contexto histórico, ensinamentos atribuídos a Jesus e interpretações de aforismos e
práticas espirituais, presente em outros textos apócrifos, como o Evangelho de Tomé e o assim chamado
Evangelho "Q" (inicial de Quelle, alemão para ‘Fonte’, que é tido como a fonte das logia do Senhor
apresentadas nos evangelhos segundo Mateus e Lucas).
Dentre os ditados de Jesus em Felipe, nove são encontrados também, com algumas variações, nos
evangelhos canônicos e oito são originais. A linguagem destes ditados é geralmente breve e enigmática.
Sua interpretação requer o conhecimento da simbologia usada pelos grupos gnósticos daquela época.
O que torna o Evangelho de Felipe especialmente importante são as inúmeras passagens sobre os
sacramentos que teriam sido instituídos por Jesus em sua forma original, antes de terem sido adaptados e
ampliados pela Igreja para uso geral dos fiéis. Segundo a tradição esotérica, aqueles sacramentos eram
ministrados somente aos discípulos do círculo interno, "os poucos", em circunstâncias que lembram os
rituais dos Mistérios Maiores da antigüidade. Assim, as referências aos cinco sacramentos: o batismo, a
crisma, a eucaristia, a redenção e a câmara nupcial, são feitas numa linguagem ainda mais velada do que a
utilizada em outras partes do texto. Apesar do caráter oculto dessas passagens, elas oferecem ao estudioso
uma clara indicação dos paralelos que existem entre as cinco grande Iniciações, as etapas da vida dos
místicos e os sacramentos.
O Evangelho de Felipe
Um hebreu faz outro hebreu, e tal pessoa chama-se prosélito. Mas, um prosélito não faz outro prosélito
( ... ) assim como eles ( ... ) e fazem outros como a si mesmos, enquanto (outros) simplesmente existem.
O escravo só quer ser livre e não ambiciona adquirir os bens de seu senhor. Porém o filho não é somente
um filho, pois reclama a herança do pai. Os que herdam dos mortos estão eles mesmos mortos e herdam
os mortos. Os herdeiros do que é vivo estão vivos e são herdeiros tanto do que está vivo como do morto.
Os mortos não são herdeiros de nada. Pois como pode aquele que está morto herdar? Se aquele que está
morto herda o que é vivo ele não morrerá, mas o que está morto viverá ainda mais.
O pagão não morre, pois ele nunca viveu para que possa morrer. Aquele que acreditou na verdade
encontrou a vida e corre o perigo de morrer, pois está vivo. A partir da vinda de Cristo, o mundo foi
criado, as cidades embelezadas e os mortos levados embora. Quando éramos hebreus, éramos órfãos e só
tínhamos a nossa mãe, mas, quando nos tornamos cristãos, tivemos tanto pai como mãe.
Os que semeiam no inverno colhem no verão. O inverno é o mundo, o verão é o outro reino eterno (eon).
Semeemos no mundo para que possamos colher no verão. Por esta razão é apropriado que não oremos no
inverno. O verão sucede o inverno. Porém, se algum homem colher no inverno ele, na verdade, não estará
colhendo mas simplesmente arrancando, pois o inverno não oferecerá uma colheita para tal pessoa. Não
só ( ... ) que não ( ... ) aparecerá, mas também no Sábado ( ... ) é estéril.
Cristo veio para resgatar alguns, salvar outros para redimir ainda outros. Ele resgatou os forasteiros e fêlos
seus. E colocou os seus separados, aqueles que havia dado como garantia segundo seu plano. Não foi
só quando apareceu que Cristo ofereceu voluntariamente sua vida, mas ofereceu-a voluntariamente desde
o dia em que o mundo surgiu. Então, ele veio primeiro para tomá-la, pois ela havia sido dada como
garantia. Ela havia caído em mãos de ladrões e foi feita prisioneira. Mas Ele a libertou, resgatando as
pessoas boas do mundo assim como as más.
Luz e treva, vida e morte, direita e esquerda são irmãos entre si. São inseparáveis. Por isto, nem os bons
são bons, nem os maus são maus, nem a vida é vida, nem a morte é morte. Assim é que cada um se
dissolverá em sua origem primordial. Mas os que estão exaltados acima do mundo são indissolúveis,
eternos.
Os nomes dados às coisas do mundo são muito enganadores, pois desviam nossos pensamentos do que é
correto para o incorreto. Assim, quem ouve a palavra "Deus" não percebe o que é correto, mas sim o
incorreto. O mesmo ocorre com "Pai", "Filho" e "Espírito Santo", "Vida", "Luz", "Ressurreição", "Igreja"
e tudo o mais. As pessoas não percebem o que é correto mas sim o incorreto, (a menos) que tenham
aprendido o que é correto. Os (nomes que se ouvem) estão no mundo ( ... enganam. Se) estivessem no
reino eterno (eon), não seriam jamais usados como nomes no mundo. Tampouco foram colocados entre as
coisas do mundo. Eles têm um propósito no reino eterno.
Só há um nome que não se pronuncia no mundo, o nome que o Pai deu ao Filho, e que está acima de
todas as coisas: o nome do Pai. Pois o Filho não se tornaria Pai, a não ser que usasse o nome do Pai.
Aqueles que têm este nome conhecem-no, mas não o pronunciam. Mas, aqueles que não têm este nome
não o conhecem.
A verdade fez com que os nomes surgissem no mundo por nossa causa, pois não é possível aprendê-la
sem estes nomes. A verdade é uma única coisa; é muitas coisas por nossa causa, para nos ensinar com
amor sobre esta coisa una por meio de muitas coisas. Os regentes (arcontes) queriam enganar o homem,
porque viram que ele tinha parentesco com aqueles que são verdadeiramente bons. Eles tomaram o nome
daqueles que são bons e deram-no aos que não são bons, para que, por meio dos nomes, pudessem
enganá-los e vinculá-lo aos que não são bons. E, depois, que favor os nomes lhes prestam! Fazem com
que sejam tirados daqueles que não são bons e colocados entre os que são bons. Eles sabiam estas coisas,
porque queriam apoderar-se do homem livre e torná-lo seu escravo para sempre.
Há poderes que ( ... ) o homem, não querendo que ele seja (salvo), para que eles possam ( ... ). Porque se
o homem for (salvo, não haverá) nenhum sacrifício ( ... ) e não serão oferecidos animais aos poderes. Na
verdade, eram aos animais que eles ofereciam sacrifícios. Eles eram realmente oferecidos vivos, mas
quando os ofertavam eles morriam. Quanto ao homem, ofereceram-no morto a Deus, e ele viveu.
Antes da vinda do Cristo não havia pão no mundo. Também no Paraiso, o lugar onde estava Adão, havia
muitas árvores para alimentar os animais, mas não havia trigo para sustentar o homem. O homem
costumava alimentar-se como os animais, mas quando veio Cristo, o homem perfeito, ele trouxe pão dos
céus para que o homem pudesse ser nutrido com o alimento de homem. Os regentes pensavam que era
por seu próprio poder e vontade que faziam o que estavam fazendo. Mas o Espírito Santo, em segredo,
estava realizando tudo através deles, segundo sua vontade. A Verdade, que existia desde o princípio, está
semeada por toda parte. E muitos vêem-na sendo semeada, mas são poucos os que a vêem sendo colhida.
Alguns dizem que Maria concebeu por obra do Espírito Santo. Mas eles estão enganados. Não sabem o
que dizem. Quando uma mulher alguma vez concebeu por obra de outra mulher? Maria é a virgem que
nenhum poder conspurcou. Ela é uma grande anátema para os hebreus, que são os apóstolos e (os) seus
seguidores. Esta virgem que nenhum poder violou ( ... ) os poderes violaram a si mesmos. O Senhor não
(teria) dito "Meu (Pai que está nos) céus" (Mt 16:17) se não tivesse outro pai. Neste caso, teria dito
simplesmente "(Meu Pai)".
O Senhor disse aos discípulos, ( ... ) de cada casa. Tragam para a casa do Pai. Mas não tomem nem
carreguem (nada) da casa do Pai.
"Jesus" é um nome oculto, "Cristo" é um nome revelado. Por esta razão, "Jesus" não está particularmente
ligado a nenhuma lingua; seu nome é sempre "Jesus". "Cristo", porém, em siríaco é "Messias" e em
grego, "Cristo". Certamente todas as outras línguas referem-se a ele com suas próprias palavras. "O
nazareno" é aquele que revela o que está oculto. Cristo tem tudo em si mesmo, seja homem, anjo ou
mistério, e no Pai.
Os que dizem que o Senhor morreu primeiro e (então) se levantou estão enganados, pois ele primeiro se
levantou e (então) morreu. Se alguém não alcança primeiro a ressurreição ele não morrerá. Assim como
Deus vive, ele iria ...
Ninguém esconde um grande objeto de valor num lugar de destaque, mas muitas vezes se atiram milhares
de tais objetos em algo que não vale um centavo. Vejam a alma: ela é uma coisa preciosa que se encontra
num corpo desprezível.
Há os que têm medo de ressurgir nus. Por isto querem ressurgir na carne. Não sabem que são aqueles que
vestem a (carne) que estão nus. (São) aqueles que ( ... ) despir-se que não estão nus. "Nem a carne (nem o
sangue) herdarão o Reino de (Deus)." (1 Co 15:50). O que é que não herdará? Aquilo que usamos. Mas
também o que é isto que herdará? É aquilo que pertence a Jesus e a seu sangue. Por isto Ele disse:
"Aquele que não come a minha carne e bebe o meu sangue não tem vida em si" (Jo 6:53). O que quer
dizer isto? Sua carne é a Palavra (o Verbo), e seu sangue é o Espírito Santo. Quem recebe tais coisas tem
alimento, bebida e vestimenta. Recrimino os outros que dizem que (a carne) não ressuscitará, pois uns e
outros estão errados. Tu dizes que a carne não ressurgirá. Dize-me, então, o que ressuscitará para que
possamos te aplaudir. Falas do Espírito na carne, que é também esta luz na carne. (Porém) isto também é
matéria que se encontra na carne, pois tudo o que disseres, não estará fora da carne. É preciso ressurgir
nesta carne, já que tudo existe nela. Neste mundo, aqueles que usam roupas valem mais do que as vestes.
No Reino dos Céus, as vestes valem mais do que os que as usam.
É por meio da água e do fogo que tudo é purificado -- o visível pelo visível, o oculto pelo oculto. Existem
algumas coisas ocultas por meio das visíveis. Existe água na água e fogo na crisma.
Jesus pegou-os todos de surpresa, porque Ele não apareceu como era, mas da maneira como (seriam)
capazes de vê-lo. Apareceu aos grandes como grande, aos pequenos como pequeno, aos anjos como anjo,
e aos homens como homem. Por isto sua palavra ocultou-se de todos. Alguns realmente o viram,
pensando que estavam vendo a si mesmos. Mas quando apareceu gloriosamente aos discípulos sobre a
montanha não era pequenino. Ele se tornou grande, mas fez com que os discípulos ficassem grandes, para
que pudessem percebê-lo em sua grandeza.
Disse naquele dia na ação de graças, "Vós que unistes a luz perfeita com o Espírito Santo, incorporai os
anjos também a nós, como sendo as imagens". Não desprezeis o cordeiro, pois sem ele não é possível ver
o Rei. Ninguém será capaz de ir ao Rei se estiver nu.
O homem celestial tem muito mais filhos do que o homem terreno. Se os filhos de Adão são muitos,
apesar de morrerem, quanto mais os filhos do homem perfeito que não morrem e são continuamente
gerados. O pai faz um filho, mas o filho não tem poder para fazer um filho. Pois aquele que foi gerado
não tem o poder para gerar; o filho obtém irmãos para si, e não filhos. Todos os que são gerados no
mundo, são gerados de maneira natural, enquanto os outros (são nutridos) do (lugar) do qual nasceram.
Por ter sido destinado ao lugar celestial o homem (recebe) nutrição. ( ... ) dele da boca. (E se) a palavra
tivesse saído daquele lugar, ela receberia a nutrição da boca e se tornaria perfeita. Por isto a palavra
perfeita concebe e dá nascimento por meio de um beijo. Por esta razão nós também nos beijamos uns aos
outros. Somos concebidos da graça que nos é comum.
Havia três que sempre caminhavam com o Senhor: sua mãe, Maria, sua irmã e Madalena, que era
chamada sua companheira. Sua irmã, sua mãe e sua companheira todas chamavam-se Maria.
"O Pai" e "o Filho" são nomes simples; "Espírito Santo" é um nome composto. Eles estão em toda parte:
acima e abaixo, no oculto e no revelado. O Espírito Santo está no revelado: está abaixo, e está no oculto:
está acima.
Os santos são servidos por poderes malignos, pois estes ficam cegos, por obra do Espírito Santo,
pensando que estão servindo um homem (comum), todas vezes que o fazem aos santos. Por isto um
discípulo pediu um dia algo deste mundo ao Senhor. Ele lhe respondeu: "Pede a tua mãe, e ela te dará as
coisas que pertencem a outrem".
Os apóstolos disseram aos discípulos: "Que toda nossa oferenda adquira sal". Eles chamavam (Sophia) de
"sal". Sem sal nenhuma oferenda (é) aceitável. Mas Sophia é estéril, (sem) filhos. Por esta razão é
chamada de "um traço de sal". Sempre que eles quiserem ( ... ) do seu jeito, o Espírito Santo ( ... ) seus
filhos são muitos.
O que o Pai possui pertence ao filho. Enquanto este é pequeno, não se lhe confia o que é seu. Mas quando
se faz homem, seu pai lhe dá tudo o que possui.
Aqueles que se desencaminharam, os que o próprio Espírito engendrou, geralmente se desencaminham
também por causa do Espírito. Assim, com o mesmo sopro o fogo é atiçado e apagado.
Echamoth é uma coisa e Echmoth outra. Echamoth é simplesmente Sabedoria, enquanto Echmoth é a
Sabedoria da morte, aquela que conhece a morte, sendo chamada "a pequena Sabedoria".
Existem animais domésticos, como o boi, o burro e outros deste tipo. Outros são selvagens e vivem
isolados nas regiões ermas. O homem ara o campo com animais domésticos e, com isto, sustenta-se e
alimenta os animais, sejam mansos ou selvagens. Compare com o homem perfeito. Ele cultiva por meio
de poderes que lhe são submissos, preparando o surgimento de todas as coisas. É por causa disto que todo
o mundo se mantém, seja bom ou mal, da direita ou da esquerda. O Espírito Santo apascenta a todos e
governa (todos) os poderes, os "mansos" e os "selvagens", bem como os que são únicos. Pois, na verdade
ele ( ... ) os mantêm presos, para que (se ... ) desejarem, eles não possam (escapar).
(Aquele que) foi criado é (lindo, mas) tu (não) acharias que os filhos dele são criações nobres. Se ele não
fosse criado mas engendrado, tua acharias que os descendentes dele são nobres. Agora, porém, ele foi
criado e gerou. O que há de nobre nisto? Primeiramente surgiu o adultério, em seguida assassinatos. E ele
foi gerado no adultério, pois era o filho da serpente. Assim, tornou-se um assassino, como seu pai, e
matou seu irmão. Na verdade, todo ato sexual que ocorra entre seres que não são semelhantes entre si é
adultério.
Deus é um tintureiro. Assim como os bons corantes chamados de "autênticos" dissolvem-se nas coisas
que são tingidas por eles, também o mesmo ocorre com aqueles a quem Deus tingiu. Como seus corantes
são imortais, eles tornam-se imortais por meio de suas cores. Pois bem, Deus mergulha o que Ele
mergulha na água.
Ninguém pode ver algo das coisas que realmente existem a menos que se torne como elas. Não é assim
que se passa com o homem no mundo: ele vê o sol sem ser o sol; vê o céu, a terra e todas as outras coisas,
mas ele não é estas coisas. Isto está de acordo com a verdade. Mas, tu viste algo daquele lugar e te
converteste naquelas coisas. Viste o Espírito e te tornaste Espírito. Viste o Cristo e te tornaste Cristo. Viste
o Pai e te tornarás o Pai. Assim, (neste lugar) vês todas as coisas e não (vês) a ti próprio, mas (naquele
lugar) realmente vês a ti mesmo, e te tornarás o que vires.
A fé recebe, o amor dá. (Ninguém poderá receber) se não tiver fé. Ninguém será capaz de dar sem amor.
Por esta razão, para que realmente possamos receber, cremos, e para que possamos amar, damos, pois se
alguém dá sem amor não recebe benefício pelo que deu. Aquele que recebeu alguma outra coisa que não
seja o Senhor ainda é um hebreu.
Os apóstolos que nos precederam chamavam-no assim: "Jesus, o Nazareno, Messias", isto é, "Jesus, o
Nazareno, o Cristo". O último nome é "Cristo", o primeiro é "Jesus", o do meio é "o Nazareno".
"Messias" tem dois significados, "o Cristo" e "o medido". "Jesus" em hebraico é "a redenção". "Nazara" é
"a verdade". "O Nazareno", então, é "a verdade". "Cristo" ... foi medido. Foram "o Nazareno" e "Jesus"
que foram medidos.
Quando a pérola é atirada na lama ela (não) passa a ser desprezada; tampouco se for banhada em óleo de
bálsamo se tornará mais preciosa. Ela sempre manterá o seu valor aos olhos de seu dono. O mesmo ocorre
com os filhos de Deus onde quer que estejam. Eles sempre têm valor aos olhos de seu pai.
Se disseres, "sou judeu", ninguém se inquietará; se disseres, "sou romano", ninguém se perturbará. Se
disseres, "sou grego, bárbaro, escravo ou livre", ninguém se incomodará. Se disseres, "sou cristão", os ( ...
) tremerão. Quisera que eu pudesse ( ... ) desta forma, a pessoa cujo nome ( ... ) não será capaz de resistir
(ouvindo).
Deus é antropófago. Por isto os homens são sacrificados a ele. Antes dos homens serem sacrificados,
sacrificavam-se animais, pois aqueles a quem eram sacrificados não eram deuses.
Tanto as vasilhas de vidro como as de argila são feitas com o uso do fogo. Mas, se as de vidro quebram,
elas são refeitas, pois surgiram por meio de um sopro. As de argila, no entanto, são destruídas, pois foram
feitas sem sopro.
Um burro, girando uma pedra de moinho, caminhou cem milhas. Quando ele foi solto percebeu que ainda
estava no mesmo lugar. Existem homens que fazem muitas jornadas, mas sem fazer nenhum progresso
em qualquer direção. Quando o crepúsculo os surpreende, não encontraram nenhuma cidade nem vilarejo,
nenhum produto humano nem fenômeno natural, poder nem anjo. Labutaram em vão, os coitados!
A eucaristia é Jesus, pois ele se chama "Pharisatha" em siríaco, que é "aquele que está estendido", pois
Jesus veio para crucificar o mundo.
O Senhor entrou na loja de corantes de Levi, tomou setenta e duas cores diferentes e jogou-as na tina. Ao
retirá-las estavam todas brancas. E ele disse: "Da mesma forma, o filho do homem veio (como)
tintureiro".
A Sophia, que é chamada de "a estéril," é a mão (dos) anjos. E a companheira do ( ... ) Maria Madalena.
( ... amava-a) mais do que (todos) os discípulos (e costumava) beijá-la (frequentemente) em seus ( ... ). Os
demais (discípulos ... ). Eles lhe disseram: "Por que a amas mais do que a todos nós?" O Salvador
respondeu dizendo: "Por que não os amo como a ela? Quando um cego e uma pessoa normal estão juntos
na escuridão, não são diferentes um do outro. Quando chega a luz, então, aquele que vê verá a luz, e o
cego permanecerá na escuridão".
O Senhor disse: "Bem aventurado aquele que é antes de chegar a existir. Pois, aquele que é foi e será."
A superioridade do homem não é óbvia à visão, mas encontra-se no que está escondido da vista. Por isto
ele domina os animais que são mais fortes do que ele, grandes em termos do óbvio e do oculto. Isto os
capacitam a sobreviver. Mas quando o homem se separa deles, mordem e matam uns aos outros.
Devoram-se porque não encontram nenhum alimento. Porém, agora encontraram comida porque o
homem preparou o solo.
Se alguém entra n'água e sai dela sem nada haver recebido e diz, "sou cristão," simplesmente tomou o
nome emprestado a juros. Porém, se recebeu o Espírito Santo, recebe o nome de presente. Aquele que
recebe um presente não precisa devolvê-lo. Mas, daquele que tomou emprestado a juros, o pagamento é
exigido. É assim que (acontece com) quem experimenta um mistério.
Grande é o mistério do casamento! Pois (sem) ele o mundo (não existiria). Agora a existência do (mundo
... ), e a existência ( ... casamento). Pense sobre o ( ... relacionamento), pois ele possui ( ... ) poder. Sua
imagem consiste numa (corrupção).
As formas dos espíritos malévolos abrangem machos e fêmeas. Os machos são os que se unem com as
almas que habitam uma forma feminina, enquanto as fêmeas são as que se misturam com os que se
encontram em forma masculina, porém que são desobedientes. E não se consegue escapar deles, pois
detêm a pessoa se ela não receber um poder masculino ou feminino, o noivo e a noiva. Eles são recebidos
na câmara nupcial espelhada. Quando as mulheres devassas vêem um homem sozinho, lançam-se sobre
ele, entretendo-o e maculando-o. Igualmente, os homens voluptuosos, quando vêm uma mulher bonita
sozinha, procuram persuadi-la e possuí-la, desejando corrompê-la. Porém, se vêem um homem com sua
esposa juntos, a fêmea não pode se aproximar do homem, nem o macho da mulher. Assim, se a imagem e
o anjo estão unidos um ao outro, não pode haver nenhum risco ao homem ou à mulher.
Aquele que sai do mundo e portanto não pode mais ser detido pelo fato de ter estado no mundo,
evidentemente, está acima do desejo do ( ... ) e medo. Ele domina ( ... ). É superior à inveja. Se ( ... ) vem,
eles o apanham e sufocam-no. E como (este) será capaz de escapar dos (grandes ... ) poderes? Como será
capaz de ( ... ). Alguns (dizem), "Temos fé", para que ( ... os espíritos imundos) e os demônios. Pois, se
tivessem o Espírito Santo, nenhum espírito imundo teria se agarrado a eles. Não tenha medo da carne nem
a ame. Se a temeres, ela te dominará. Se a amares, ela te devorará e paralisará.
Ou se está neste mundo, na ressurreição ou no local intermediário. Deus me livre de encontrar-me lá!
Neste mundo existe o bem e o mal. As coisas boas do mundo não são boas, e as coisas más não são más.
Porém, depois deste mundo, existe mal que realmente é mal - o que é chamado de "o meio," o lugar
intermediário. É a morte. Enquanto se está neste mundo é apropriado buscar-se a ressurreição, para que,
quando venhamos a despir-nos da carne possamos encontrar o descanso e não caminhar no meio. Porque
muitos se perdem no caminho. É melhor sair do mundo antes de pecar.
Alguns nem querem nem podem; outros não tiram proveito mesmo querendo: pois eles não agiram de
acordo, (eles acreditam,) ( ... ) torna-os pecadores. E se não querem, a justiça vai se esquivar deles em
ambos os casos: e será sempre uma questão da vontade e não da ação.
Um apostólico, numa visão, percebeu algumas pessoas fechadas numa casa em fogo, presos com ( ... )
flamejantes, deitados ( ... ) em chamas ( ... ) eles em ( ... ) fé ( ... ). E eles disseram, "( ... ) poderão ser
salvos?" ( ... ) "Eles não desejam isto. Receberam ( ... ) castigo, que é chamado "a escuridão ( ... ), porque
( ... )"
A alma e o espírito vieram à existência a partir da água e do fogo. É da água, do fogo e da luz que o filho
da câmara nupcial (veio a existir). O fogo é a crisma, a luz é o fogo. Não estou me referindo ao fogo que
não tem forma, mas ao outro fogo cuja forma é branca, que é brilhante e belo e que irradia beleza.
A verdade não veio nua ao mundo, mas veio em modelos e imagens. O mundo não receberá a verdade de
qualquer outra forma. Há um renascimento e uma imagem do renascimento. Certamente é necessário
nascer outra vez por meio da imagem. Qual delas? A ressurreição. A imagem deve levantar-se outra vez
por meio da imagem. A câmara nupcial e a imagem devem entrar na verdade através da imagem: isto é a
restauração. Não só aqueles que produzem o nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo devem fazê-lo,
mas (aqueles) que os produziram para ti. Se a pessoa não os adquire, o nome (cristão) também lhe será
retirado. Porém a pessoa recebe a unção do ( ... ) do poder da cruz. Este poder os apóstolos chamaram "a
direita e a esquerda". Pois esta pessoa não é mais um cristão, mas Cristo.
O Senhor fez tudo num mistério, um batismo, uma crisma, uma eucaristia, uma redenção e uma câmara
nupcial.
( ... ) ele disse, "Vim fazer (as coisas abaixo) como as coisas (acima, e as coisas) fora como aquelas
(dentro. Vim para uni-las) no lugar". ( ... ) aqui por meio de (modelos ... ). Aqueles que dizem, "(Existe
um homem celestial e) existe outro acima (dele", estão enganados. Porque é o primeiro destes dois
(homens) celestiais, aquele que se manifesta, que é chamado "aquele que está abaixo"; e aquele a quem
pertence o oculto é (supostamente) o que está acima dele. Portanto, seria melhor dizerem, "O interior e o
exterior, e o que está fora de exterior". Por causa disto o Senhor chamou a destruição "a escuridão
exterior"; não existe nada além dela. Ele disse: "Meu Pai que está em segredo". Ele disse, "Entra em teu
aposento, fecha a porta e ora a teu Pai que está em segredo" (Mt 6:6), aquele que está no interior de tudo.
Mas o que está no interior de tudo é a plenitude. Mais interior do que ela não existe nada. É sobre isto que
dizem, "O que está acima deles".
Antes do Cristo alguns saíram de um lugar no qual não conseguiam mais entrar e foram para onde não
mais conseguiam sair. Então veio o Cristo. Ele retirou aqueles que entraram e pôs para dentro os que
sairam.
Quando Eva ainda estava em Adão a morte não existia. Quando ela se separou dele a morte passou a
existir. Se ele entrar outra vez e alcançar o seu ser primordial, a morte deixará de existir.
"Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste, ó Senhor?" (Mc 15:34 e outras). Foi na cruz que ele
disse estas palavras, porque havia deixado aquele lugar.
( ... ) que foi gerado através dele que ( ... ) de Deus.
O ( ... ) dos mortos. ( ... ) para ser, mas agora ( ... ) perfeito. ( ... ) carne, mas isto ( ... ) é a verdadeira
carne. ( ... ) não é verdade, mas ( ... ) só uma imagem do verdadeiro.
Uma câmara nupcial não é para os animais, nem para os escravos, nem para as mulheres violadas; mas é
para os homens livres e virgens.
Somos realmente engendrados outra vez pelo Espírito Santo, mas somos engendrados pelo Cristo nos
dois. Somos ungidos por meio do Espírito. Quando somos engendrados somos unidos. Ninguém pode
ver-se na água ou num espelho sem luz. Tampouco podes ver-te na luz sem água ou espelho. Por esta
razão, é apropriado batizar nos dois, na luz e na água. Pois bem, a luz é a crisma.
Havia três lugares específicos para sacrifício em Jerusalém. O que estava voltado para o poente era
chamado de "o sagrado." Outro, voltado para o sul, era chamado de "o santo do santo." O terceiro,
voltado para o nascente, era chamado "o santo dos santos," o lugar onde só o Sumo Sacerdote podia
entrar. O Batismo é o edifício "sagrado." A Redenção é "o santo do santo," e a Câmara Nupcial "o santo
dos santos." O Batismo inclui a Ressurreição (e a) Redenção; a Redenção (ocorre) na câmara nupcial.
Mas a Câmara Nupcial ocorre naquele lugar que é superior ao ( ... ) tu não encontrarás ( ... ) são aqueles
que oram ( ... ) Jerusalém. ( ... ) Jerusalém, ( ... ) aqueles chamados "o santo dos santos" ( ... o) véu foi
rasgado ( ... ) câmara nupcial exceto a imagem ( ... ) acima. Por esta razão seu véu rasgou-se de alto a
baixo. Pois era apropriado que alguns de baixo fossem para cima.
Os poderes não vêem aqueles que estão vestidos com a luz perfeita e, por isto, não podem detê-los. A
pessoa pode vestir-se sacramentalmente com esta luz na união.
Se a mulher não tivesse se separado do homem, ela não morreria com o homem. Sua separação tornou-se
o começo da morte. Por isto o Cristo veio, para reparar a separação que houve no princípio e unir os dois
outra vez e para dar vida àqueles que morreram devido à separação, unindo-os de novo. Mas a mulher
uni-se a seu marido na câmara nupcial. Na verdade, aqueles que foram unidos na câmara nupcial não
mais serão separados. Portanto, Eva separou-se de Adão porque não foi na câmara nupcial que ela se uniu
a ele.
A alma de Adão chegou à existência por meio de um sopro. O companheiro de sua alma é o Espírito. Sua
mãe é a coisa que lhe foi dada. Sua alma foi-lhe tomada e substituída por um (espírito). Quando ele estava
unido (ao Espírito), (pronunciou) palavras incompreensíveis aos poderes. Eles o invejaram ( ... ) parceiro
espiritual ( ... ) escondido ( ... ) oportunidade ( ... ) somente para eles ( ... ) câmara nupcial para que ( ...)
Jesus apareceu ( ... ) Jordão, a (plenitude do reino) dos céus. Ele que (foi engendrado) antes de todas as
coisas foi engendrado novamente. Ele (que foi ungido) outrora foi ungido novamente. Ele que tinha sido
redimido, redimiu (outros) por sua vez.
Realmente, um mistério deve ser dito. O pai de todas as coisas uniu-se com a virgem que havia descido, e
o fogo brilhou para ele naquele dia. Ele apareceu na grande câmara nupcial. Portanto, seu corpo passou a
existir naquele dia. Deixou a câmara nupcial como alguém que veio à existência por meio do noivo e da
noiva. Desta forma, Jesus estabeleceu todas as coisas nela por meio deles. É conveniente que cada um dos
discípulos entre em seu repouso.
Adão veio a ser por meio de duas virgens, do Espírito e da Terra virgem. O Cristo, portanto, nasceu de
uma virgem para retificar a queda que houve no princípio.
Existem duas árvores crescendo no Paraíso. Uma sustenta (animais) e a outra sustenta homens. Adão
(comeu) da árvore que nutria animais. (Ele) tornou-se um animal e produziu animais. Por esta razão os
filhos de Adão adoram (animais). A árvore ( ... ) fruto é ( ... ) aumentado. ( ... ) comeu o ( ... ) fruto da
( ... ) nutre homens, ( ... ) homem. ( ... ) Deus criou o homem. ( ... os homens) criaram Deus. É desta
maneira que são as coisas no mundo, os homens criam deuses e adoram a sua criação. Seria apropriado
que os deuses adorassem os homens!
Certamente a realização de um homem depende de sua habilidade. Por isto referimo-nos as suas
realizações como suas "habilidades." Entre suas realizações encontram-se seus filhos. Eles têm sua
origem num momento de repouso. Portanto, suas habilidades determinam o que ele pode realizar, mas
este repouso mostra-se evidente nos filhos. Isto se aplica diretamente à imagem. Aqui está o homem feito
de acordo com a imagem realizando coisas com sua força física, mas produzindo seus filhos com
facilidade.


Neste mundo, os escravos servem os livres. No Reino dos Céus, os livres vão cuidar dos escravos: os
filhos da câmara nupcial vão cuidar dos filhos do casamento. Os filhos da câmara nupcial têm (um só)
nome: repouso. (De modo geral) eles não precisam tomar (nenhuma) outra forma (porque têm) a
contemplação, ( ... ). São numerosos ( ... ) nas coisas ( ... ) as glórias ( ... ).
Aqueles ( ... ) descem à água. ( ... ) saem (da água), vão consagrar ( ... ) aqueles que têm ( ... ) em seu
nome. Pois ele disse, "(Assim) devemos cumprir toda a justiça" (Mt 3:15).
Aqueles que dizem que devem morrer primeiro para depois ressuscitar estão enganados. Se eles não
receberem primeiro a ressurreição enquanto estiverem vivos, quando morrerem não receberão nada.
Assim também, quando falam sobre o batismo dizem, "O batismo é uma grande coisa," pois se as pessoas
o receberem viverão.
Felipe, o apóstolo, disse: "José, o carpinteiro, plantou um jardim porque precisava de madeira para seu
ofício. Foi ele que fez a cruz das árvores que plantou. Sua própria descendência ficou pendurada naquilo
que ele plantou. Sua descendência foi Jesus, e o plantio foi a cruz." Mas a árvore da vida está no meio do
jardim. Porém é da oliveira que recebemos a crisma, e da crisma a ressurreição.
Este mundo é um devorador de cadáveres. Todas as coisas que se comem nele também morrem. A
verdade alimenta-se da vida. Portanto, ninguém nutrido pela (verdade) morrerá. Foi daquele lugar que
Jesus veio e trouxe alimento. Aos que desejavam ele deu (vida para que) eles não morressem.
Deus ( ... ) um jardim. O homem ( ... ) jardim. Existem ( ... ) e ( ... ) de Deus. ( ... ) As coisas que estão no
( ... ) eu desejo. Este jardim (é o lugar em que) me dirão, "( ... coma) isto ou não coma (aquilo, da maneira
que) desejares." No lugar em que comerei todas as coisas está a árvore do conhecimento. Aquela matou
Adão, mas aqui a árvore do conhecimento faz com que o homem viva. A lei era a árvore. Ela tem o poder
para outorgar o conhecimento do bem e do mal. Ela nem o removeu do mal, nem o colocou no bem, mas
criou a morte para aqueles que comiam dela. Pois quando ele disse, "Come isto, não coma aquilo," isto
foi o começo da morte.
A crisma é superior ao batismo, pois foi a partir da palavra "crisma" que fomos chamados de "cristãos," e
certamente não por causa da palavra "batismo." E é por causa da crisma que "o Cristo" recebeu seu nome.
Porque o Pai ungiu o Filho, o Filho ungiu os apóstolos, e os apóstolos nos ungiram. Aquele que foi
ungido tem tudo. Ele tem a ressurreição, a luz, a cruz e o Espírito Santo. O Pai deu-lhe isto na câmara
nupcial; ele meramente aceitou (a dádiva). O Pai estava no Filho e o Filho no Pai. Isto é o Reino dos
Céus.
O Senhor falou bem: "Alguns entraram no reino dos céus rindo, e sairam ( ... ) porque ( ... ) um cristão,
( ... ). E logo que ( ... desceu) à água ele veio ( ... ) tudo (deste mundo), ( ... ) porque ( ... ) um pouco, mas
( ... cheio de) menosprezo por este ( ... ) reino dos (céus ... ). Se ele despreza ( ... ) e o desdenha um pouco
( ... ) sairá rindo. Assim é também com o pão e o cálice de óleo, apesar de haver outro superior a estes.
O mundo foi criado por engano. Porque aquele que o criou queria fazê-lo imperecível e imortal. Ele não
conseguiu realizar o seu desejo, pois o mundo nunca foi imperecível, e tampouco aquele que fez o
mundo. Porque as coisas não são eternas, mas os filhos são. Nada será capaz de tornar-se eterno se não se
tornar primeiramente um filho. Mas, ele que não tem a habilidade de receber, não será muito mais incapaz
de dar?
O cálice da oração contém vinho e água, já que foi indicado para o tipo de sangue com o qual se realiza a
ação de graça. Ele está pleno do Espírito Santo e pertence ao homem inteiramente perfeito. Quando
bebermos deste cálice, receberemos o homem perfeito. A água viva é um corpo. Precisamos vestir-nos
com o homem vivo. Portanto, quando ele está prestes a descer à água, despe-se para vestir-se com o
homem vivo.
Um cavalo procria um cavalo, um homem gera um homem, um deus faz surgir um deus. Compare (o)
noivo e a (noiva). Eles vieram do ( ... ). Nenhum judeu ( ... ) ( ... ) existiu. E ( ... ) dos judeus. ( ... )
cristãos, ( ... ) estes ( ... ) são referidos como "o povo escolhido de ( ... )," "o verdadeiro homem," "o filho
do homem" e "a semente do filho do homem." Esta raça verdadeira é renomada no mundo ... em que os
filhos da câmara nupcial moram.
Enquanto neste mundo a união é entre marido e mulher, um exemplo de força complementada pela
fraqueza (?), no reino (eon) eterno, a forma de união é diferente, apesar de nos referirmos às duas pelo
mesmo nome. Porém, existem outros nomes. Eles são superiores a todos os nomes indicados e são mais
fortes do que o forte. Pois, quando ocorre uma demonstração de força, aparecem aqueles que se
distinguem pela força. Estas coisas não são separadas, sendo ambas esta única coisa. Isto é aquilo que não
será capaz de se elevar acima do coração de carne.
Não é preciso que aqueles que têm tudo conheçam a si mesmos? Alguns, de fato, que não conhecem a si
mesmos, não serão capazes de gozar do que possuem.
Não só serão incapazes de deter o homem perfeito, mas não serão capazes de vê-lo, pois, se o virem, irão
detê-lo. Não há outro meio para uma pessoa adquirir esta qualidade, exceto vestindo a luz perfeita (e)
tornando-se também luz perfeita. Aquele que (a tiver vestido) entrará (... ). Quem recebe tudo ( ... ) deste
lado ( ... ) será capaz ( ... ) aquele lugar, mas vai ( ... o meio) como imperfeito. Somente Jesus sabe o fim
desta pessoa.
O sacerdote é inteiramente santo, até mesmo o seu corpo. Pois, se tomar o pão, o consagrará. Ele
consagrará o cálice e tudo o mais que receber. Assim, como não vai consagrar o corpo também?
Ao aperfeiçoar a água do batismo, Jesus a esvaziou da morte. Assim descemos à água, mas não baixamos
à morte para que não sejamos vertidos no espírito do mundo. Quando aquele espírito sopra, ele traz o
inverno. Quando o Espírito Santo sopra, chega o verão.
Aquele que tem o conhecimento da verdade é um homem livre, porém o homem livre não peca, pois
"aquele que peca é escravo do pecado" (Jo 8:34). A verdade é a mãe, o conhecimento o pai. Aqueles que
pensam que o pecado não se aplica a eles são chamados de "livres" pelo mundo. "Conhecimento" da
verdade "torna estas pessoas meramente arrogantes," que é o que as palavras "os tornam livres"
significam. Isto lhes dá um sentimento de superioridade sobre todo o mundo. Mas "o amor constrói" (1
Co 8:1). Na verdade, aquele que, por meio do conhecimento, é realmente livre, torna-se um escravo,
devido ao amor por aqueles que não foram ainda capazes de alcançar a liberdade do conhecimento. O
conhecimento torna-os capazes de serem-se livres. O amor (nunca chama) algo de seu, ( ... ) ele ( ... )
possui ( ... ). Ele nunca (diz, "Isto é seu") ou "Isto é meu," (mas, "Tudo isto) é seu." O amor espiritual é
vinho e fragrância. Todos que com ele se ungem se deleitam nisto. Enquanto aqueles que foram ungidos
estiverem presentes, os que estão por perto também se aproveitam (da fragrância). Porém, quando os que
foram ungidos com o ungüento se retirarem, deixando-os, então aqueles que não foram ungidos, mas
estavam meramente por perto, permanecerão em meio a seu mau odor. O samaritano não deu ao homem
ferido nada mais do que vinho e óleo. Isto nada mais é do que o ungüento, que cura as feridas, pois "o
amor cobre inúmeros pecados" (1 Pe 4:8).
As crianças que uma mulher dá a luz se parecem com o homem que a ama. Se o seu marido a ama, então
eles se parecem com seu marido. Se este for um adúltero, então elas se parecerão com o adúltero. Com
freqüência, se uma mulher (adúltera) se deita com seu marido por conveniência, enquanto seu coração
está com o amante, com quem ela geralmente tem relações, a criança que ela terá nascerá parecendo-se
com o adúltero. Portanto, vós que viveis com o Filho de Deus, não ameis o mundo, mas sim o Senhor,
para que os filhos que vierdes a engendrar não se parecem com o mundo, mas com o Senhor.
O ser humano tem relação sexual com um ser humano. O cavalo com um cavalo, um jumento com um
jumento. Membros de uma raça geralmente se associam (com) pessoas da mesma raça. Assim o Espírito
se mistura com o Espírito, o pensamento se relaciona com o pensamento, e a (luz) compartilha (com a
luz. Se) nasceres como um ser humano, será (um ser humano) que te amará. Se te tornares (um espírito),
será o Espírito que se unirá a ti. Se te tornares pensamento, será o pensamento que se associará contigo.
Se te tornares luz, é a luz que compartilhará contigo. Se te tornares um daqueles que pertencem ao alto,
são aqueles que pertencem ao alto que repousarão em ti. Se te tornares um cavalo, um jumento, um touro,
um cão, uma ovelha ou qualquer outro animal que estão fora ou embaixo, então, nenhum ser humano,
espírito, pensamento ou luz será capaz de amar-te. Nem os que pertencem ao alto nem os que pertencem
ao interior serão capazes de repousar em ti, e não terás parte deles.
Aquele que é escravo contra o seu desejo será capaz de tornar-se livre. Aquele que se tornou livre devido
ao favor de seu mestre, e depois vendeu-se como escravo novamente, não será mais capaz de ser livre.
A agricultura no mundo requer a cooperação de quatro elementos essenciais. A colheita será reunida no
celeiro somente se houver a ação natural da água, da terra, do vento e da luz. A agricultura de Deus, da
mesma forma, é baseada em quatro elementos: fé, esperança, amor e conhecimento. A fé é a terra em que
fincamos raiz. A esperança é a água por meio da qual somos nutridos. Amor é o vento por meio do qual
crescemos. O conhecimento, então, é a luz, por meio da qual (amadurecemos). A graça existe de (quatro
maneiras: ela é) nascida da terra, é (celestial, ... ) do mais alto céu, ( ... ) no ( ... ).
Bem aventurado é aquele que em nenhuma ocasião causou a uma alma ( ... ). Esta pessoa é Jesus Cristo.
Ele foi a toda parte e não prejudicou ninguém. Portanto, bem aventurado é aquele que age desta forma,
porque é um homem perfeito. Pois a palavra nos diz que este tipo de homem é difícil de encontrar. Como
seremos capazes de realizar uma coisa tão nobre? Como esta pessoa dará consolo a todos? Acima de tudo,
não é apropriado causar tristeza a ninguém - seja importante ou modesto, crente ou sem crença - dando,
então, consolo somente àqueles que se comprazem em boas ações. Alguns acham vantajoso proporcionar
auxílio aos que fazem o bem. Aquele que faz boas ações não pode auxiliar tais pessoas, pois não se apega
ao que gosta. Porém, é incapaz de causar tristeza, já que não aflige a ninguém. Na verdade, aquele que faz
o bem, às vezes, causa tristeza aos outros -- não que seja sua intenção fazer isto -- ao contrário, é a própria
maldade dos outros que é responsável pela tristeza que sentem. Aquele que tem as qualidades (do homem
perfeito) confere alegria aos bons. Algumas pessoas, no entanto, sentem-se terrivelmente aflitas com tudo
isto.
Havia um chefe de família que tinha todas as coisas imagináveis: filhos, escravos, gado, cachorros,
porcos, milho, cevada, palha, pastagens, ( ... ), carne e bolotas . (Ele era, porém,) uma pessoa sensata e
conhecia o alimento de cada um. Servia pão às crianças ( ... ). Servia farinha aos escravos ( e ... ).
Lançava cevada, palha e capim ao gado. Dispensava ossos aos cachorros e bolotas e lavagem aos porcos.
O mesmo ocorre com o discípulo de Deus: se ele for uma pessoa sensata compreende as necessidades do
discipulado. As formas corporais não o enganarão, e ele examinará a condição da alma de cada um
falando de acordo. Existem muitos animais no mundo que se apresentam de forma humana. Quando o
discípulo os identifica, lança bolotas aos porcos, cevada, palha e capim ao gado, ossos aos cães. Aos
escravos proporcionará somente as lições elementares, às crianças oferecerá a instrução completa.
Existe o Filho do Homem e o filho do Filho do Homem. O Senhor é o Filho do Homem, e o filho do
Filho do Homem é aquele que cria por meio do Filho do Homem. O Filho do Homem recebe de Deus a
capacidade para criar. Ele também tem a capacidade para gerar. Aquele que recebeu a habilidade para
criar é uma criatura. Aquele que recebeu a habilidade para gerar é um descendente. Aquele que cria não
pode gerar. Aquele que gera não tem o poder de criar. É dito, no entanto, "Aquele que cria gera." Mas, a
sua denominada "prole" é meramente uma criatura. Por causa da ( ... ) do nascimento, eles não são seus
descendentes mas ( ... ). Aquele que cria trabalha abertamente e é visível. Aquele que gera o faz (em
privacidade), ficando escondido, já que ( ... ) imagem. Da mesma forma, aquele que cria (o faz)
abertamente. Mas, o que gera (engendra) os filhos em privacidade. Ninguém (pode) saber quando (o
marido) e a esposa têm relações sexuais, a não ser os dois. Realmente, o casamento no mundo é um
mistério para os que assumiram uma esposa. Se existe uma qualidade oculta no casamento da corrupção,
maior ainda será o verdadeiro mistério do matrimônio não profanado! Ele não é carnal mas puro. Não
pertence ao desejo mas à vontade. Não pertence à escuridão nem à noite, mas ao dia e à luz. Quando um
casamento está aberto ao público, tornou-se prostituição, e a noiva faz o papel de prostituta não só quando
é inseminada por outro homem, mas ainda quando sai de seu quarto e é vista. Ela só deve mostrar-se a seu
pai, sua mãe, ao amigo do noivo e aos filhos do noivo. A estes é permitido entrar todos os dias na câmara
nupcial. Aos outros resta simplesmente ansiar por ouvir a voz da noiva e deleitar-se com seu bálsamo.
Eles que se alimentem das migalhas que caem da mesa, como os cães. O noivo e a noiva pertencem à
câmara nupcial. Ninguém poderá ver o noivo e a noiva, a menos que (torne-se) um com eles.
Quando Abraão ( ... ) que ele veria o que devia ver, (ele cortou) a carne do prepúcio, ensinando-nos que é
apropriado destruir a carne.
(A maior parte das coisas) no mundo, enquanto suas (partes internas) estão ocultas, ficam de pé e vivem.
(Se são reveladas), morrem, como é ilustrado pelo homem visível: (enquanto) os intestinos do homem
estão escondidos, o homem está vivo; quando seus intestinos são expostos e saem de dentro dele, o
homem morre. O mesmo ocorre com a árvore: enquanto a raiz está escondida ela brota e cresce. Se suas
raizes são expostas, a árvore seca. Assim ocorre com todo nascimento no mundo, não só com o revelado,
mas (também) com o oculto. Porque enquanto a raiz da maldade está escondida, esta permanece forte.
Mas quando é reconhecida ela se dissolve. Quando é revelada ela morre. É por isto que a palavra disse:
"O machado já está posto à raiz das árvores" (Mt 3:10). Ele não só cortará -- o que é cortado brota outra
vez -- mas o machado penetra profundamente até trazer a raiz para fora. Jesus arrancou inteiramente a
raiz de todas as coisas, enquanto outros só o fizeram parcialmente. Quanto a nós, que cada um cave em
busca da raiz do mal que está dentro de si, e que ela seja arrancada do coração de cada um pela raiz. Ela
será arrancada se nós a reconhecermos. Mas se a ignorarmos, o mal se enraizará em nós e produzirá seus
frutos em nosso coração. Ele nos dominará. Seremos seus escravos. Ele nos mantém cativos, para que
façamos o que não queremos e não façamos o que queremos. Ele é poderoso porque nós não o
reconhecemos. Enquanto (existe) permanece ativo. A ignorância é a mãe de (todos os males). A
ignorância resultará na (morte, porque) aqueles que vivem na ignorância não foram, não (são) nem serão.
( ... ) será perfeito quando toda a verdade for revelada. Porque a verdade é como a ignorância: enquanto
está escondida repousa em si mesma, mas quando é revelada e reconhecida, passa a ser louvada porque é
mais forte do que a ignorância e o erro. Ela dá liberdade. A Palavra disse, "Se conhecerdes a verdade, a
verdade vos libertará" (Jo 8:32). A ignorância é uma escrava. Conhecimento é liberdade. Se conhecermos
a verdade, encontraremos os frutos da verdade dentro de nós. Se nos unirmos com ela, nos trará a
plenitude.
No momento temos as coisas manifestadas da criação. Dizemos, "Os fortes que são tidos em alta estima
são grandes indivíduos. E os fracos que são desprezados são os obscuros." Contraste esta situação com as
coisas manifestas da verdade: elas são fracas e desprezadas, enquanto as coisas ocultas são fortes e tidas
em alta estima. Os mistérios da verdade são revelados, ainda que por meio de modelos e imagens. A
câmara nupcial, no entanto, permanece oculta. É o santo do santo. O véu inicialmente ocultava (a forma)
como Deus controla a criação, mas quando o véu é rasgado e as coisas interiores são reveladas, esta casa
ficará desolada, ou melhor, será (destruída). E toda a deidade (inferior) fugirá daqui, mas não para os
santos (dos) santos, porque não será capaz de se misturar com a (luz) pura e com a plenitude (perfeita),
mas para baixo das asas da cruz (e debaixo) de seus braços. Esta arca será (sua) salvação quando a
enchente das águas surgir sobre eles. Se alguns pertencem a ordem sacerdotal, serão capazes de retirar-se
para dentro do véu com o sumo sacerdote. Por esta razão o véu não se rasgou somente no alto, pois neste
caso estaria aberto somente para os do alto; nem foi rasgado somente em baixo, pois neste caso teria sido
revelado somente para os de baixo. Mas foi rasgado de alto a baixo. Aqueles acima abriram para nós as
coisas abaixo, para que pudéssemos penetrar o segredo da verdade. Isto realmente é o que é tido em alta
consideração (e) que é forte! E iremos lá por meio de modelos inferiores e formas de fraqueza. Eles são
realmente inferiores quando comparados com a glória perfeita. Há uma glória que ultrapassa a glória e
um poder que ultrapassa o poder. Portanto, as coisas perfeitas se abriram para nós, juntamente com as
coisas ocultas da verdade. O santo dos santos foi revelado, e a câmara nupcial nos convida a entrar.
Enquanto ela estiver escondida, a fraqueza é realmente ineficaz, pois ela não foi removida do âmago da
semente do Espírito Santo. Eles são escravos do mal. Mas, quando ela for revelada, então, a luz perfeita
vai brilhar sobre todos. E todos os que estiverem em seu bojo (receberão a crisma). Então, os escravos
serão libertados, (e) os cativos serão resgatados. "(Toda) planta (que) meu pai que está nos céus (não
tiver) plantado será arrancada" (Mt 15:13). Aqueles que estiverem separados se unirão ( ... ) e serão
preenchidos. Quem (entrar) na câmara nupcial vai acender a (luz), porque ( ... ) assim como nos
casamentos que são ( ... ) acontece a noite. Aquele fogo ( ... ) só de noite e é apagado. Mas, por outro
lado, os mistérios daquele casamento são aperfeiçoados de dia e sob a luz. Nem aquele dia nem sua luz
jamais terminam. Se alguém tornar-se um filho da câmara nupcial, este receberá a luz. Se alguém não
recebê-la enquanto estiver aqui, não será capaz de recebê-la no outro lugar. Quem receber aquela luz não
será visto, nem poderá ser detido. E ninguém será capaz de atormentar uma pessoa como aquela, mesmo
quando ela estiver vivendo no mundo. E também, quando se retirar do mundo, ela já terá recebido a
verdade em imagens. O mundo tornou-se o reino (eon) eterno, porque o reino eterno é a plenitude para
ela. E isto ocorre desta forma: é revelado a ela sozinha, não escondido na escuridão e à noite, mas
escondido num dia perfeito e sob a luz sagrada.
Fonte: THE NAG HAMMADI LIBRARY
James M. Robinson (ed.)
Harper San Francisco, 1994, pg. 141-160
Tradução: Raul Branco
Revisão: Edilson Pedros
EVANGELHO
DE
MARIA MADALENA
Evangelho Segundo Maria Madalena
Este Evangelho foi escrito provavelmente no século II. Foi através de um fragmento copta, que ele
chegou até nós. O destaque fica para a estranha parábola que Jesus conta para Maria Madalena. Esta
passagem teria ocorrido após sua crucificação.
Salvador disse: " Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas estão unidas, elas dependem
umas das outras, e se separarão novamente em sua própria origem. Pois a essência da matéria somente se
separará de novo em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça."
Pedro lhe disse: " Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso também: o que é o pecado do mundo?" Jesus
disse: "Não há pecado ; sois vós que os criais, quando fazeis coisas da mesma espécie que o adultério, que
é chamado 'pecado'. Por isso Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para
conduzi-la a sua origem."
Em seguida disse: "Por isso adoeceis e morreis [...]. Aquele que compreende minhas palavras, que as
coloque em prática. A matéria produziu uma paixão sem igual, que se originou de algo contrário à
Natureza Divina. A partir daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende
coragem, e se estiverdes desanimados, procurais força das diferentes manifestações da natureza. Quem
tem ouvidos para ouvir que ouça."
Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: "A Paz esteja convosco. Recebei minha
paz. Tomai cuidado para ninguém vos afaste do caminho, dizendo: 'Por aqui' ou 'Por lá', Pois o Filho do
Homem está dentro de vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, então, pregai o
Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como
legislador, senão sereis cerceados por elas." Após dizer tudo isto partiu.
Mas eles estavam profundamente tristes. E falavam:"Como vamos pregar aos gentios o Evangelho ao
Reino do Filho do Homem? Se eles não o procuraram, vão poupar a nós?" Maria Madalena se levantou,
cumprimentou a todos e disse a seus irmãos: "Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois sua graça
estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos sua grandeza, pois Ele nos preparou e nos
fez homens". Após Maria ter dito isso, eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar
sobre as palavras do Salvador.
Pedro disse a Maria:"Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que qualquer outra mulher. Contanos
as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos."
Maria Madalena respondeu dizendo: " Esclarecerei a vós o que está oculto". E ela começou a falar essas
palavras: "Eu", disse ela, "eu tive uma visão do Senhor e contei a Ele: 'Mestre, apareceste-me hoje numa
visão'. Ele respondeu e me disse: 'Bem aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver. Pois, onde
está a mente há um tesouro'. Eu lhe disse: 'Mestre, aquele que tem uma visão vê com a alma ou com o
espírito?' Jesus respondeu e disse: "Não vê nem com a alma nem com o espírito, mas com a consciência,
que está entre ambos - assim é que tem a visão [...]".
E o desejo disse à alma: 'Não te vi descer, mas agora te vejo subir. Por que falas mentira, já que pertences
a mim?' A alma respondeu e disse:'Eu te vi. Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como
acessório e não me reconheceste.' Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria. "De novo
alcançou a terceira potência , chamada ignorância. A potência, inquiriu a alma dizendo: 'Onde vais? Estás
aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não julgues!' E a alma disse: ' Por que me julgaste apesar de eu
não haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o Todo se
está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais.' "Quando a alma venceu a terceira potência,
subiu e viu a quarta potência, que assumiu sete formas. A primeira forma, trevas,; a segunda , desejo; a
terceira, ignorância,; a quarta, é a comoção da morte; a quinta, é o reino da carne; a sexta, é a vã sabedoria
da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as sete potências da ira. Elas perguntaram à alma: "De
onde vens, devoradoras de homens, ou onde vais, conquistadora do espaço?' A alma respondeu dizendo: '
O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado..., e meu desejo foi consumido e a
ignorância morreu. Num mundo fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial
e também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio o
final do tempo propício, do reino eterno'."
Depois de ter dito isso, Maria Madalena se calou, pois até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André
respondeu e disse aos irmãos:"Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha parte, não
acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos carregam idéias estranhas". Pedro
respondeu e falou sobre as mesmas coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador:"Será que ele realmente
conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e
ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?" Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: "Pedro, meu
irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no meu coração ou que estou mentindo sobre o
Salvador?" Levi respondeu a Pedro: "Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma
mulher como adversário. Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o
Salvador a conhece bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É, antes, o caso de nos envergonharmos e
assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos o Evangelho, não
criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos legou."
Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.

A SOPHIA DE
JESUS CRISTO
A SOPHIA DE JESUS CRISTO
APRESENTAÇÃO
A chamada "Sophia" teve seu texto encontrado na Biblioteca de Nag Hammadi (em duas cópias, III,3 e
V,1), descoberta em 1945 no alto Egito, e também presente no Códex de Berlim - encontrado no séc. XIX.
Foi dirigido a uma assembléia que já conhecia o gnosticismo. Este texto foi reelaborado no séc. II d.C.,
na Escola de Valentino, a partir de 'Epístola de Eugnostos', que tem um conteúdo de gnosticismo mais
egípcio. Esta última - séc. I a.C. - é uma carta formal, mais curta e direta, escrita por um Instrutor a seus
discípulos, também encontrada em Nag Hammadi (III,4). As passagens colocadas entre colchetes [ ] em
itálico fazem parte da 'Epístola de Eugnostos' e foram aqui acrescentadas quando a diferença entre os
dois textos é expressiva. O texto 'A Sophia de Jesus, o Cristo de Deus' é apresentado na forma de
diálogos, enquanto na epístola os discípulos não são nominados, mas apenas as instruções.)
Após ele ressurgir de entre os mortos, seus doze discípulos e sete mulheres (1) continuaram a ser seus
seguidores e foram para a Galileia, até a montanha chamada 'Presságio e Alegria' (2).
Quando se reuniram, estavam perplexos, confusos sobre a realidade subjacente do universo, o plano, a
sagrada(3) providência e os poderes das autoridades (4) e sobre tudo que o Salvador estava fazendo com
eles no segredo (5) do plano sagrado.
Então, o Salvador apareceu, não em sua forma anterior, mas como um espírito invisível. E sua aparência
assemelhava-se a um grande anjo de luz. Mas não devo descrever a sua aparência. Nenhum corpo mortal
poderia suportá-la (6), somente um corpo físico puro e perfeito, como aquele sobre o qual ele nos ensinou
na Galileia, no monte chamado 'das Oliveiras' (7).
E ele disse: "A paz esteja com vocês! Minha paz eu lhes dou!" E todos eles ficaram maravilhados e
apreensivos.
O Salvador riu e disse a eles: "O que vocês estão pensando? Porque estão perplexos? O que estão
procurando (entender)?"
Filipe respondeu: "A respeito da realidade subjacente do universo e do plano".
O Salvador disse a eles: "Quero que saibam que todos os homens nascidos na terra, desde a fundação do
mundo até agora, sendo pó, apesar de terem inquirido sobre Deus, quem ele é e como é ele, não o
encontraram. Ora, os mais sábios entre eles especularam sobre o ordenamento (8) do mundo e seus
movimentos. Mas sua especulação não alcançou a verdade. Pois, é dito por todos filósofos que o
ordenamento é direcionado de três maneiras e por isso não há concordância entre eles.
Alguns deles dizem que o mundo é dirigido por si mesmo. Outros que é a providência (que o dirige). E
outros, que é o destino. Mas não é nenhum desses. Novamente, das três explanações que há pouco
mencionei, nenhuma está próxima da verdade e elas são dos homens.
Mas eu, que vim da Luz Infinita. Estou aqui - por conhecê-la - para que possa (9) falar-lhes a respeito da
natureza precisa da verdade. Tudo quanto seja de si mesmo é uma vida contaminada, pois é auto-gerado.
A providência não possui sabedoria nela. E o destino não discerne.
[Pois tudo quanto seja de si mesmo é vazio de vida, é auto-gerado. A providência é tola. E o destino é
algo sem discernimento.]
Mas a vocês é dado conhecer. E quem quer que seja merecedor do conhecimento, (o) receberá, aquele que
não tenha sido gerado pelo relacionamento impuro (10), mas pelo Primeiro Que Foi Enviado, pois ele é
imortal em meio aos homens mortais."
[Então, quem quer que seja capaz de se libertar destas três opiniões que há pouco mencionei e vir, por
meio de outra explanação, a reconhecer o Deus da verdade e concordar em tudo concernente a ele, esse
é imortal, habitando em meio aos homens mortais.]
Mateus disse-lhe: "Senhor, ninguém pode encontrar a verdade exceto através do senhor. Portanto, ensinanos
a verdade".
O Salvador falou: "Aquele QUE É é inefável. Nenhum princípio o conhece, nenhuma autoridade, nem
dependência, nem qualquer criatura desde a fundação do mundo até agora, com exceção (11) dele mesmo
e daqueles a quem ele queira revelar-se, através daquele que é da Primeira Luz. De agora em diante eu
sou o Grande Salvador. Pois ele é imortal e eterno.
Ora, ele é eterno, não tendo nascido, pois todo aquele que nasce, perecerá. Ele não foi gerado, não tendo
princípio, pois tudo que tem um princípio, tem um fim. Já que (12) ninguém o governa, ele não tem
nome, pois quem quer que tenha um nome é a criação de um outro (13). Ele é inominável, não tem forma
humana, pois todo aquele que tem forma humana é a criação de um outro. Ele tem a aparência de si
mesmo (14) - não como aquela que vocês viram e receberam, mas uma aparência estranha que supera
todas as coisas e é superior ao universo.
Ele olha para todos os lados e vê a si próprio a partir de si mesmo. Como é infinito, é eternamente
incompreensível. É imperecível e não tem semelhança (a qualquer coisa). Ele é o imutável bem. É sem
falhas. Eterno. Abençoado. Apesar de ser incognoscível, sempre conhece a si mesmo. Ele é imensurável.
Insondável. É perfeito, não tendo defeito. Ele é imperecivelmente abençoado. É chamado 'Pai do
Universo'."
Filipe disse: "Senhor, como, então, ele apareceu aos perfeitos?"
O Salvador perfeito respondeu-lhe: "Antes que qualquer coisa seja visível, dentre aquelas que são
visíveis, a majestade e a autoridade estão nele, visto que ele abarca inteiramente as totalidades, enquanto
que nada o abarca. Pois ele é todo mente. E é pensamento, consideração, reflexão, racionalidade e poder.
Todos são poderes iguais. São a fonte das totalidades. E todas as raças, desde a primeira até a última,
estavam em sua previsão, aquela do Pai Não-gerado e infinito."
[E todas as raças (desde a primeira) até a última, estão previstas pelo Não-gerado, pois (15) ele ainda
não surgiu à visibilidade.]
Tomé falou-lhe: "Porque esses surgiram e porque foram revelados?"
O perfeito Salvador respondeu: "Eu vim do Infinito, para que eu possa dizer-lhes todas as coisas. O
Espírito QUE É foi o progenitor, que tem o poder (de) um progenitor e a natureza de (dar) forma, para
que a grande fartura que estava oculta nele pudesse ser revelada. Por causa de sua compaixão e de seu
amor ele desejava dar fruto por si mesmo, para que ele não (gozasse) sua benevolência sozinho, mas
(que) outros espíritos da Geração Resoluta pudessem dar corpo e fruto, glória e honra na imperecibilidade
e em sua graça infinita; para que seu tesouro pudesse ser revelado pelo Deus Auto-Gerado, o pai de toda
imperecibilidade e daqueles que apareceram mais tarde. Mas eles não haviam alcançado ainda a
visibilidade. Porém existe uma grande diferença entre os imperecíveis."
Porém existia uma diferença entre os eons imperecíveis. Vamos, então, refletir (sobre isto) desta forma.
Ele exclamou dizendo: "Quem tem ouvidos para ouvir a respeito das infinidades, que ouça", e "Dirigi-me
àqueles que estão despertos."
E ele continuou ainda, dizendo: "Tudo que veio do perecível, perecerá, já que veio do perecível. Mas tudo
o que veio da imperecibilidade, não perecerá, mas se tornará imperecível (BG 89, 16-17 acrescenta: pois
se origina da imperecibilidade). Portanto, muitos homens se perderam porque eles não conheciam esta
diferença e morreram."
Maria disse a ele: "Senhor, como vamos então conhecer isto?"
O Salvador perfeito disse:
Porém isto é suficiente, pois é impossível para alguém disputar a natureza das palavras que acabei de falar
sobre Deus verdadeiro, bem-aventurado e imperecível.
Mas, se alguém quiser acreditar nas palavras (aqui) determinadas, que ele vá do que está oculto até o fim
do que está visível, e este Pensamento lhe instruirá sobre como a fé nas coisas que não são visíveis foi
encontrada no que é visível. Este é um princípio de conhecimento.
"Venham das coisas invisíveis até o fim das que são visíveis, e a própria emanação do Pensamento lhe
revelará como a fé nas coisas que não são visíveis foi encontrada naquelas que são visíveis, aquelas que
pertencem ao Pai Não-Gerado. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.
O Senhor do Universo não é chamado 'Pai', mas 'Antepassado'. (Porque o Pai é) o início (ou princípio)
daqueles que vão aparecer, mas ele (o Senhor) é (o) Antepassado sem início. Olhando-se dentro de si
mesmo num espelho, ele se parece com sua própria semelhança, porém sua aparência parecia como seu
Próprio-Pai Divino e (como) Confrontador 'daqueles confrontados', o Primeiro Pai Existente Não-Gerado.
Ele na verdade tem a mesma idade da Luz que veio antes dele, mas não é igual a ela em poder.
"E a seguir foi revelada uma grande multidão de seres auto-gerados confrontadores, iguais em idade e
poder, estando na glória (e) sem número, cuja raça é chamada 'A Geração sobre a Qual Não Há Reino'
'daquele em quem vocês mesmos apareceram destes homens.' E toda esta multidão sobre a qual não há
reino é chamada 'Filhos do Pai Não-Gerado, Deus, Salvador, Filho de Deus,' cuja semelhança está
consigo. Porém, ele é o Incognoscível, que está sempre pleno de glória imperecível e de alegria inefável.
Eles todos descansam nele, sempre se regozijam em alegria inefável na sua glória imutável e sua
jubilação imensurável. Isto nunca foi ouvido ou conhecido entre todos os eons e seus mundos até agora."
Mateus disse a ele: "Senhor, Salvador, como o Homem foi revelado?"
O Salvador perfeito disse: "Quero que vocês saibam que aquele que apareceu antes do universo no
infinito, o Pai construído e desenvolvido por Si Mesmo, sendo pleno de luz brilhante e inefável, no
princípio, quando ele decidiu que sua semelhança (deveria) se tornar um grande poder, imediatamente o
princípio (ou início) daquela Luz apareceu como Homem Andrógino e Imortal. Isto, para que por meio
daquele Homem Imortal eles pudessem alcançar a sua salvação e despertar do esquecimento por meio do
intérprete que foi enviado, que estará com vocês até o fim da pobreza dos ladrões.
Seu nome masculino é "Mente Perfeita Gerada". E seu nome feminino (é) "Toda-sábia Sophia Geradora."
Também é dito que ela se parece com seu irmão e consorte. Ela é a verdade incontestada; porque abaixo
daqui o erro, que existe com a verdade, a contesta.
"E seu consorte é a Grande Sophia, que deste o princípio lhe foi destinada para união pelo Pai Auto-
Gerado, do Homem Imortal 'que apareceu como Primeiro, divindade e reino,' pois o Pai, que é chamado
'Homem, Pai-Próprio,' revelou isto. E ele criou um grande eon, cujo nome é Ogdoad, para sua própria
majestade.
"Ele recebeu grande autoridade, e governou sobre a criação da pobreza. e governou sobre todas as
criações. Ele criou deuses, anjos (e) arcanjos, miríades sem número para o acompanhamento daquela Luz
e do Espírito masculino-tríplice, que é o de Sophia, seu consorte. Pois deste Deus por meio deste Homem
originou-se a divindade e o reino. Portanto, ele foi chamado 'Deus dos deuses,' 'Rei dos reis.'
"O Primeiro Homem tem sua mente singular, interior, e o pensamento - assim como ele é isto
(pensamento) - (e) a consideração, a reflexão, a racionalidade, o poder. Todos os atributos que existem são
perfeitos e imortais. Com relação a imperecibilidade, eles são na verdade iguais. (Porém) com respeito ao
poder, eles são diferentes, como a diferença entre pai e filho, (e filho) e pensamento, e o pensamento e o
resto.
"Como eu disse antes, entre as coisas que foram criadas, a mônada é a primeira. A díada segue-a, e a
tríada, até as décimas. As décimas, porém, governam as centésimas; as centésimas governam as
milésimas; as milésimas governam as décima-milésimas. Esta é a seqüência (entre os) imortais. O
Primeiro Homem é desta forma: Sua Mônada.
(As páginas 79 e 80 estão faltando. Elas foram substituidas pela seção correspondente de Eugnostos -
Código V, cujo começo é algo diferente da frase parcial final de III 78.)
Mais uma vez, esta é a seqüência (que) existe entre os imortais: a mônada e o pensamento são as coisas
que pertencem ao Homem Imortal. Os pensamentos (são) as dezenas, e as centenas são (os
ensinamentos), (e os milhares) são os conselheiros, (e) os dez mils (são) os poderes. Porém aqueles que
vêm do ... existem com seus ( ... ) (em) cada eon ( ... ) ( ... No princípio, o pensamento) e os pensamentos
(apareceram da) mente, (então) os ensinamentos dos pensamentos, os conselhos (dos ensinamentos), (e) o
poder (dos ) (conselhos).
E depois de tudo isto, tudo o que foi revelado apareceu de seu poder. E do que foi criado, tudo o que foi
moldado apareceu. Do que foi moldado apareceu o que foi formado. Do que foi formado, o que recebeu
nome. Assim surgiu a diferença entre os não-gerados do começo ao fim."
O que recebeu nome apareceu do que foi formado, enquanto a diferença entre as coisas geradas apareceu
do que recebeu (nome), do começo ao fim, pelo poder de todos os eons. Porém o Homem Imortal está
pleno de toda glória imperecível e de todo contentamento inefável. Todo seu reino se regozija em júbilo
eterno, aqueles que nunca foram ouvidos ou conhecidos em qualquer eon que (vieram) depois (deles e de
seus) mundos.
Então Bartolomeu disse a ele: "Como (é que ele) foi designado no Evangelho 'Homem' e 'Filho do
Homem'? A qual deles, então, é este Filho relacionado?" O Ser Divino disse a ele:
"Quero que vocês saibam que o Primeiro Homem é chamado 'Gerador, Mente Auto-aperfeiçoada'. Ele
refletiu com a Grande Sophia, sua consorte, e revelou seu unigênito, o filho andrógino. Seu nome
masculino é designado 'Primeiro Gerador Filho de Deus; seu nome feminino, 'Primeira Geradora Sophia,
Mãe do Universo.' Alguns a chamam 'Amor'. Porém, o Unigênito é chamado 'Cristo'. Como ele tem
autoridade de seu pai, ele criou uma multidão infindável de anjos como comitiva do Espírito e da Luz."
Em seguida (outro) (princípio) veio do (Homem) Imortal, que é (chamado) (Gerador) "Autoaperfeiçoado".
(Quando ele recebeu o consentimento) de seu (consorte), (a Grande Sophia, ele) revelou
(que o andrógino unigênito), (é chamado) "(Filho) Unigênito (de Deus)." Seu aspecto feminino (é) Sophia
(a Primeira)-gerada, (Mãe do Universo)", que alguns chamam "Amor". Ora, o Unigênito, como ele deriva
(sua) autoridade de seu (pai), Ele criou anjos, infindáveis miríades, como comitiva. Toda esta multidão de
anjos é chamada "Assembléia dos Divinos, as Luzes Sem Sombra". Quando estes se cumprimentam, seus
abraços tornam-se anjos como eles.
Seus discípulos disseram a ele: "Senhor, revela-nos a respeito daquele chamado 'Homem' para que nós
também possamos conhecer exatamente a sua glória."
O Salvador perfeito disse: "Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça. O Primeiro Pai Gerador é chamado
'Adão, Olho da Luz,' porque ele veio da Luz brilhante, (e) seus anjos sagrados, que são inefáveis (e) sem
sombras, sempre se regozijam com júbilo em suas reflexões, que eles receberam de seu Pai. Todo o reino
do Filho do Homem, que é chamado 'Filho de Deus,' está cheio de alegria inefável e sem sombra, um
imutável júbilo, (com eles) se regozijando a propósito de sua glória imperecível, que nunca foi ouvida até
agora, nem foi revelada nos eons que vieram depois com seus mundos. Eu vim do Auto-Gerado e da
Primeira Luz Infinita para que eu possa revelar tudo a vocês."
Mais uma vez seus discípulos disseram: "Diga-nos claramente como (aconteceu) que eles desceram das
invisibilidades, do (reino) imortal para o mundo que morre?"
O Salvador perfeito disse: "O Filho do Homem consentiu com Sophia, sua consorte, e revelou uma
grande luz andrógina. Seu nome masculino é designado como 'Salvador, Gerador de Todas as Coisas.' Seu
nome feminino é designado como "Sophia a Geradora de Tudo.' Alguns chamam-na de 'Pistis'.
Então o Salvador consentiu com sua consorte, Pistis Sophia, e revelou seis seres espirituais andróginos
que são do tipo daqueles que os precederam. Seus nomes masculinos são estes: primeiro, "Não-gerado";
segundo, "Auto-Gerado"; terceiro, "Gerador"; quarto, "Primeiro Gerador"; quinto, "Gerador de Tudo";
sexto, "Arqui-Gerador". Os nomes femininos também são estes: primeiro, "Sophia Totalmente Sábia";
segundo, "Sophia Mãe de Tudo"; terceiro, "Sophia Geradora de Tudo"; quarto, "Sophia, a Primeira
Geradora"; quinto, "Sophia Amor"; sexto, "Pistis Sophia".
(A partir) do consentimento daqueles que acabei de mencionar, apareceram pensamentos nos eons que
existem. Dos pensamentos, reflexões; das reflexões, considerações; das considerações, racionalizações;
das racionalizações, vontades; das vontades, palavras.
Então os doze poderes que acabo de discutir, consentiram uns com os outros. (Seis) machos (de cada um)
(e) (seis) fêmeas (de cada uma) foram reveladas, de tal forma que existem setenta e dois poderes. Cada
um dos setenta e dois revelou cinco (poderes) espirituais que (juntos) são os trezentos e sessenta poderes.
A união de todos eles é a vontade.
Portanto, nosso eon surgiu como a espécie de Homem Imortal. O tempo surgiu como a classe de Primeiro
Gerador, seu filho. (O ano) surgiu como o exemplo de (Salvador. Os) doze meses surgiram como o
símbolo dos doze poderes. Os trezentos e sessenta dias do ano surgiram como a classe dos trezentos e
sessenta poderes que apareceram do Salvador. Suas horas e momentos surgiram como os tipos de anjos
que deles vieram (os trezentos e sessenta poderes) (e) que são inumeráveis.
Todos os que vieram ao mundo, como uma gota da Luz, são enviados por ele ao mundo do Todo-
Poderoso, para que possam ser protegidos por ele. E o vínculo de seu esquecimento o atou à vontade de
Sophia, para que a matéria pudesse ser (revelada) por meio dele a todo o mundo em pobreza com relação
à sua arrogância e cegueira (do Todo-Poderoso) e a ignorância com que foi designado.
Porém eu vim das localidades acima, pela vontade da grande Luz, que escapou daquele vínculo. Eu
interrompi o trabalho dos ladrões. Despertei aquela gota que foi enviada de Sophia, para que ela possa dar
muitos frutos por meu intermédio e ser aperfeiçoada e não mais ser defeituosa. E para que possa (se
juntar) por meu intermédio, o Grande Salvador, para que sua glória possa ser revelada e que assim Sophia
possa ser justificada também com relação àquele defeito, para que seus filhos não se tornem outra vez
defeituosos, mas que possam alcançar a honra e a glória, subir a seu Pai e conhecer as palavras da Luz
masculina.
E vocês foram enviados pelo Filho, que foi enviado para que vocês pudessem receber a Luz e se
removerem do esquecimento das autoridades, e para que isto não possa mais ocorrer por sua causa, ou
seja, o relacionamento impuro que vem do fogo terrível que se origina de sua parte carnal. Pise sobre a
sua intenção maliciosa.
Então Tomas disse a (ele): "Senhor Salvador, quantos são os eons que ultrapassam os céus?"
O Salvador perfeito disse: "Louvo vocês porque perguntam a respeito dos grandes eons, pois suas raízes
estão nos infinitos. Ora, quando aqueles sobre os quais eu discuti anteriormente foram revelados, ele
(ofereceu)
(As páginas 109 e 110 estão faltando. Elas foram substituidas neste texto com a seção correspondente do
Código Gnóstico de Berlim (nº 8502), cujo início é um pouco diferente da frase parcial final de III 108.)
Ora, quando aqueles sobre os quais eu discuti anteriormente foram revelados, o Pai Auto-Gerado muito
em breve criou doze eons como comitiva para os doze anjos.
E em cada eon haviam seis (céus), e assim haviam setenta e dois céus dos setenta e dois poderes que
surgiram dele. E em cada um dos céus haviam cinco firmamentos, portanto existem (ao todo) trezentos e
sessenta (firmamentos) dos trezentos e sessenta poderes que surgiram deles.
Quando os firmamentos estavam completos, foram chamados "Os Trezentos e Sessenta Céus", de acordo
com o nome dos céus que estavam diante deles. E todos estes eram perfeitos e bons. E desta forma o
defeito da feminilidade apareceu.
E (Tomas) disse a ele: "Quantos são os eons dos imortais, começando das infinidades?"
O Salvador perfeito disse: "Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça. O primeiro eon é o do Filho do
Homem, que é chamado de 'Primeiro Gerador', que é chamado 'Salvador', que apareceu. O segundo eon
(é) o do Homem, que é chamado 'Adão, Olho da Luz'. O terceiro é o do filho do Filho do Homem, que é
chamado de 'Salvador'.
Aquilo que abraça estes é o eon sobre o qual não há reino, (o eon) do Deus Infinito Eterno, o Auto-
Gerado eon dos eons que estão nele, (os eons) dos imortais, que eu descrevi anteriormente, (os eons)
acima do Sétimo, que apareceu de Sophia, que é o primeiro eon.
Ora, o Homem Imortal revelou eons, poderes e reinos, e deu autoridade a todos que aparecem nele para
que possam exercitar seus desejos até as últimas coisas que estão acima do caos. Pois estes consentiram
uns com os outros e revelaram toda a magnificência, até mesmo do espírito, luzes numerosas que são
gloriosas e sem número. Estas foram chamadas no princípio, isto é, o primeiro eon, (o) segundo e (o
terceiro). O primeiro (é) chamado Unidade e Descanso.' Cada um tem seu (próprio) nome. O (terceiro)
eon foi designado 'Assembléia' devido ao grande número que apareceu: como um, uma multidão se
revelou.
Ora, como as multidões se reúnem e chegam a unidade, (BG 111, 2-5 acrescenta aqui: portanto, (eles) são
chamados 'Assembléia', devido àquela Assembléia que ultrapassa o céu) chamamos a elas de 'Assembléia'
do Oitavo.' Apareceu como andrógina e foi chamada parcialmente como macho e parcialmente como
fêmea. O macho é chamado 'Assembléia', enquanto que a fêmea é chamada 'Vida', para que possa ser
demonstrado que de uma fêmea veio a vida para todos os eons. E cada nome foi recebido, começando do
princípio.
"Pois desta concordância com seu pensamento, em breve apareceram os poderes que eram chamados
'deuses'. E (os) deuses dos deuses, por sua sabedoria revelaram deuses. (E os deuses) por sua sabedoria
revelaram senhores. E os senhores dos senhores, por seu pensamento revelaram senhores. E os senhores,
por seu poder revelaram arcanjos. Os arcanjos, por suas palavras revelaram anjos; destes, apareceram
semelhanças com estrutura, forma e nome para todos os eons e seus mundos.
"E os imortais, que acabo de descrever, todos eles têm autoridade do Homem Imortal, 'que é chamado
'Silêncio', porque ao refletir sem falar toda sua majestade foi aperfeiçoada.' Pois desde o momento que os
imperecíveis tiveram autoridade, cada qual criou um grande reino no Oitavo bem como tronos, templos
(e) firmamentos para sua própria majestade. Pois todos estes surgiram pela vontade da Mãe do Universo.
Então os Santos Apóstolos disseram a ele: "Senhor, Salvador, fale-nos a respeito daqueles que estão nos
eons, pois é necessário que perguntemos a respeito deles." O Salvador perfeito disse: "Se vocês
perguntarem a respeito de qualquer coisa, Eu lhes direi. Eles criaram hostes de anjos, números infindáveis
para seu acompanhamento e sua glória. Eles criaram espíritos virgens, as luzes inefáveis e imutáveis. Pois
elas não têm nenhuma doença nem fraqueza, mas simplesmente vontade. (BG 115,14 acrescenta aqui: E
elas apareceram num instante.)
"Desta forma os eons foram completados rapidamente com os céus e os firmamentos na glória do Homem
Imortal e de Sophia, sua consorte: (que são) a área da qual cada eon, o mundo e aqueles que vieram após,
tiraram (seu) modelo para sua criação de semelhança nos céus do caos e de seus mundos. E todas as
naturezas, começando da revelação do caos, estão na Luz que brilha sem sombra, no contentamento que
não pode ser descrito e no júbilo impronunciável. Eles se deleitam para sempre em virtude de sua glória
imutável e do descanso imensurável, que não pode ser descrito, entre todos os eons que apareceram
depois e todos seus poderes. Ora, tudo o que acabo de dizer a vocês, disse para que vocês possam brilhar
mais do que eles na Luz."
Mas isto é suficiente. Tudo o que acabo de dizer a vocês, disse de uma forma que vocês possam aceitar,
até que aquele que não precisa ser ensinado apareça entre vocês. Ele falará todas estas coisas a vocês com
alegria e no conhecimento puro.
Maria disse a ele: "Santo Senhor, de onde vieram seus discípulos, para onde vão e (o que) eles deveriam
fazer aqui?"
O Salvador perfeito disse a eles: "Quero que vocês saibam que Sophia, a Mãe do Universo e o consorte,
desejou por si só trazer todos estes à existência sem seu (consorte) macho. Mas, pela vontade do Pai do
Universo, para que sua bondade inimaginável possa ser revelada, ele criou aquela cortina entre os
imortais e aqueles que vieram depois, para que a consequência pudesse acompanhar
(As páginas 115 e 116 estão faltando. Elas foram substituidas aqui pela seção correspondente do Código
Gnóstico de Berlim , nº 8502.)
cada eon e o caos, e assim o defeito da fêmea pudesse (aparecer), e o Erro viesse a lutar com ela. E esta
tornou-se a cortina do espírito.
Dos eons acima das emanações da Luz, como já disse, uma gota da Luz e do Espírito desceram às regiões
inferiores do Todo Poderoso no caos, para que suas formas moldadas pudessem aparecer daquela gota,
pois isto é um julgamento sobre o Arqui-Gerador, que é chamado Yaldabaoth.' Aquela gota revelou suas
formas moldadas por meio do alento (sopro), como uma alma viva. Ela definhou e dormiu na ignorância
da alma. Quando ela se tornou quente com o alento (sopro) da Grande Luz do Macho, e tomou
pensamento, (então) nomes foram recebidos por todos os que estão no mundo do caos e por todas as
coisas que estão nele por meio daquele Ser Imortal, quando o alento soprou dentro dele.
Mas quando isto ocorreu, pela vontade da Mãe Sophia para que o Homem Imortal pudesse ajuntar ali as
vestes para um julgamento a respeito dos ladrões (ele) então recebeu com agrado o sopro daquele alento.
Mas como ele era semelhante à alma, não foi capaz de tomar aquele poder para si mesmo até que o
número do caos estivesse completo, (isto é,) quando o tempo determinado pelo grande anjo estiver
completo.
Ora, lhes ensinei a respeito do Homem Imortal e soltei as amarras dos ladrões dele. Quebrei os portões
dos impiedosos na presença deles. Humilhei a intenção maliciosa deles, e eles foram todos
envergonhados e se elevaram de sua ignorância. Por causa disto, então, vim aqui para que eles possam ser
unidos com aquele Espírito e Alento, aquele ( ..... ) e Alento, e que possam tornar-se de dois um, da
mesma forma como do primeiro, para que vocês possam dar muito fruto e subir a Ele Que É desde o
Princípio, em alegria e glória inefável, e (honra e) graça do (Pai do Universo).
"Quem conhece, (então), (o Pai em pura) gnosis (partirá) para o Pai (e repousará no) (Pai) Não-Gerado.
Mas (quem o conhece) (de forma defeituosa) partirá (para o defeito e para o resto (do Oitavo. Ora,) quem
conhece o (Espírito) Imortal de Luz no silêncio, por meio da reflexão e do consentimento na verdade, que
me traga sinais do Ser Invisível, e ele se tornará uma luz no Espírito do Silêncio. Quem conhece o Filho
do Homem na gnosis e no amor, que me traga um sinal do Filho do Homem, para que ele possa partir
para os lugares de moradia com aqueles no Oitavo.
"Vejam, eu revelei a vocês o nome do Ser Perfeito, toda a vontade da Mãe dos Anjos Sagrados, para que a
(multidão) masculina possa ser completada aqui, para que (possa aparecer nos eons,) (as infinidades e)
aqueles que (surgiram na) insondável (riqueza do Grande Espírito) Invisível, (para que) todos (possam
receber de sua bondade), mesmo a riqueza (de seu descanso) que não tem (reino sobre ele). Eu vim (do
Primeiro) Que Foi Enviado, para que eu pudesse revelar a vocês Aquele Que É desde o Princípio, por
causa da arrogância do Arqui-Gerador e de seus anjos, já que eles que são deuses. E eu vim para removêlos
de sua cegueira para que possam dizer a todos a respeito do Deus que está acima do universo.
Portanto, pisem sobre seus túmulos, humilhem sua intenção maliciosa, e destruam o seu jugo e assumam
o meu. Dei autoridade a vocês sobre todas as coisas como Filhos da Luz, para que vocês possam pisar
sobre o poder deles com (seus) pés."
Estas são as coisas (que o) bem aventurado Salvador (disse), (e ele desapareceu) do meio deles. Então,
(todos os discípulos) ficaram numa (grande alegria inefável) no (espírito) daquele dia em diante. (E seus
discípulos) começaram a pregar (o) Evangelho de Deus, (o Espírito) eterno imperecível. Amem.
Notas deste Texto
(1) Provável referência a doze que são mais íntimos, mais 'fortes', do núcleo mais interno - incluindo
mulheres - e mais outros sete seguidores do círculo não tão íntimo, como um grupo intermediário,
incluindo homens
(2) Poder ser uma referência a um local físico, de encontro, ou a um estado de consciência no qual os
discípulos se encontrassem para um aprofundamento nestas temáticas e que lhes tornava possível a
presença do Senhor e sua percepção.
(3) Ou 'divina'.
(4) Provavelmente uma alusão às potestades.
(5) No oculto, o nível interno, nos planos mais sutis onde ele se encontrava. Este, provavelmente, não é
o primeiro encontro que têm após a morte do Senhor.
(6) No sentido de lhe dar sustento, geração, de mantê-la.
(7) Referência ao estado de consciência elevado específico em que eram ministradas as instruções mais
reservadas.
(8) Como o universo passa do Caos à ordem.
(9) Ele tem esta capacidade, este poder
.
(10) Outra tradução: 'pela (semeadura ou) disseminação do atrito impuro'. Pode referir-se à geração
carnal em oposição à regeneração espiritual, ou à contaminação pelo contato (atrito) com as idéias
impuras.
(11) No Eugnosto a frase termina aqui com 'exceto só ele'.
(12) No Eugnosto não há esta relação de dependência entre estas duas orações. Diz: 'Ninguém o
determina. Ele
não tem nome'.
(13) Sobre este ponto, veja-se o Evangelho da Verdade atribuído a Valentino (séc II d.C.).
(14) No Eugnosto, 'Ele tem sua própria aparência'.
(15) Esta parte se encontra, no texto SJC, na resposta a Tomé.
Fonte e tradução: Raul Branco
(Membro da Sociedade Teosófica pela Loja Brasília, de Brasília-DF)
PISTIS SOPHIA
I
E sucedeu, quando Jesus ressuscitou de entre os mortos, que passou onze anos discorrendo com os Seus
discípulos e instruindo-os somente até às regiões do Primeiro Mandamento, até às regiões do Primeiro
Mistério, esse que está dentro do véu, dentro do Primeiro Mandamento, o qual é o Vigésimo Quarto
Mistério por fora e em baixo (esses vinte e quatro) que estão no Segundo Espaço do Primeiro Mistério, o
qual é antes de todos os Mistérios, o Pai em forma de Pomba.
E Jesus disse aos Seus discípulos: “Apareço fora do Primeiro Mistério, que é o Último Mistério, que é o
Mistério Vinte e Quatro”. E os Seus discípulos não sabiam nem entendiam que existisse coisa alguma
dentro desse Mistério, somente pensavam desse Mistério que era a cabeça do Universo e a cabeça de toda
a existência, que era o fim de todos os fins, porque Jesus, disse-lhes em relação a esse Mistério, que
envolve o Primeiro Mandamento e as Cinco Impressões e a Grande Luz e os Cinco Auxiliares e o Tesouro
Inteiro da Luz.
E por outro lado, Jesus não havia falado aos Seus discípulos da total expansão de todas as regiões do
Grande Invisível e dos Triplos Poderes e dos Vinte e Quatro Invisíveis e de todas as suas regiões e dos
seus Aeons e das suas ordens, nem de como estas se estenderam (essas que são as emanações do Grande
Invisível) e dos seus Não gerados e dos seus Autogerados e dos Gerados e dos seus dadores de Luz e dos
seus ímpares e dos seus regentes e das suas autoridades e dos seus senhores e dos seus Arcanjos e dos
seus Anjos e dos seus decanos e dos seus servidores e de todas as casas das suas esferas e de todas as
ordens de cada uma delas.
E Jesus não havia dito aos Seus discípulos da total expansão das emanações do Tesouro, nem das suas
ordens e como estão desdobradas, nem dos seus Salvadores, de acordo com a ordem de cada um deles,
como eram; também não lhes disse que guarda se encontra em cada porta do Tesouro da Luz, nem lhes
disse da região do Salvador Gémeo, o qual é o Filho do Filho; nem das regiões dos Três Amens, em que
regiões estão expandidos, nem em que região as Cinco Árvores estão expandidas; nem dos Sete Amens,
os quais são as Sete Vozes, qual é a sua região e como estão expandidas.
E Jesus não havia dito aos Seus discípulos de que tipo são os Cinco Auxiliares nem a que região foram
levados, nem como a Grande Luz se expandiu a si própria, nem a que região foi levada; tão pouco lhes
havia dito acerca das Cinco Impressões, nem do Primeiro Mandamento e a que região foram levadas,
somente havia discorrido com eles de forma geral, ensinando-lhes que existiam, porém nada lhes disse
acerca da sua expansão e da ordem das suas regiões, nem como são. Por este motivo não souberam que
também havia outras regiões dentro desse mistério.
E não havia dito aos Seus discípulos: “Saí de tal e tais regiões, até entrar nesse mistério e até que tive de
sair dele “, senão que ao ensinar-lhes disse: “Saí desse mistério “. Por tal motivo eles pensaram de tal
mistério que é o fim dos fins, que é a cabeça do Universo e que é a plenitude total, pois Jesus havia dito
aos seus discípulos: “Esse mistério envolve o Universo, do qual vos tenho falado desde o dia em que me
reuni convosco, até este dia “. Por este motivo os discípulos pensaram então que nada havia dentro do
mistério.
Sucedeu então que os discípulos se sentaram no Monte das Oliveiras a falar sobre estas palavras,
regozijando-se com grande satisfação e, sumamente alvoraçados, diziam uns aos outros: “Bemaventurados
somos antes de todos os homens da Terra porque o Salvador isto nos revelou e porque
recebemos a plenitude do fim total “, (isto diziam) enquanto Jesus se sentava um pouco afastado deles.
E sucedeu então que no Décimo Quinto dia da lua, no mês de Tybi, que é o dia de lua cheia; nesse dia
então, quando o sol havia aparecido no seu curso regular, apareceu por detrás dele uma Grande Força
luminosa brilhando de modo extraordinário e não havia medida para essa luz em simbiose com essa Força
pois tinha saído da Luz das Luzes e saíu do Último Mistério, o qual é o Vigésimo Quarto Mistério por
dentro e por fora (esses que estão nas Ordens do Segundo Espaço do Primeiro Mistério). E a luminosa
Força desceu sobre Jesus e envolveu-o completamente enquanto se encontrava sentado, afastado dos seus
discípulos e brilhou extraordinariamente e não havia medida para essa Luz que estava sobre ele.
E os Seus discípulos não viram Jesus devido à Grande Luz dentro da qual se encontrava ou que o
rodeava, pois os seus olhos estavam cegos devido à Grande Luz na qual Ele estava; somente viram a luz
que lançava muitos raios de luz.
E os raios de luz não eram semelhantes entre si senão que a luz era de diversos tipos desde baixo até
Acima, um raio mais excelso que o outro,... numa grande incomensurável Glória de Luz; estendia-se
desde a parte inferior da Terra até ao Céu. E quando os discípulos viram essa Luz sentiram grande temor e
agitação.
Sucedeu então, quando a Força Luminosa desceu sobre Jesus, que gradualmente o envolveu por
completo. Então Jesus ascendeu às Alturas, brilhando extraordinariamente numa Luz Incomensurável. E
os discípulos olhavam-no e nenhum deles falou enquanto Ele alcançava o Céu, senão que todos eles
guardaram profundo silêncio. Isto sucedeu no décimo quinto dia da lua, no dia no qual a lua está cheia, no
mês de Tybi.
Sucedeu então que, quando Jesus alcançou o Céu, três horas depois, todos os poderes do céu entraram em
agitação e se puseram em movimento uns contra os outros; eles e todos os Aeons e todas as suas regiões e
todas as suas Ordens e a terra inteira se agitou e todos aqueles que a habitavam e todos os homens do
mundo entraram em agitação e também os discípulos, e todos pensaram: Porventura o mundo será
arrebatado!
E todos os poderes nos céus não cessaram na sua agitação, eles e o mundo inteiro e puseram-se em
movimento uns contra outros, desde a terceira hora do décimo quinto dia da lua de Tybi até à nona hora
da manhã. E todos os Anjos e os seus Arcanjos e todas as Forças do Alto, louvaram os Interiores dos
interiores para que o mundo inteiro ouvisse as suas vozes, sem cessar, até à nona hora da manhã.
Mas os discípulos sentaram-se juntos com temor e estiveram sumamente com medo e perturbação devido
ao grande terramoto que havia sucedido e juntos se condoíam dizendo: Que será então? Porventura o
Salvador destruirá todas as regiões? Dizendo assim, todos se inclinavam até ao solo.
Enquanto diziam isto e se inclinavam até ao solo naquele tempo, na nona hora da manhã, os céus abriramse
e viram Jesus descer, resplandecendo excessivamente de tal modo que não havia medida para a Luz
que o rodeava. Não obstante, resplandeceu mais radiantemente que no momento em que havia ascendido
aos céus, para que os homens sobre a Terra não pudessem descrever a Luz que o possuía e lançou raios de
Luz em grande abundância e não havia medida para descrever os seus raios e a sua Luz junta não era
igual, mas sim de diversas classes e diversos tipos, alguns raios mais salientes que outros... e toda a Luz
junta se harmonizava. Era de tripla classe e cada uma sobressaía mais ante a outra... a segunda que estava
no meio era mais saliente que a primeira que estava em baixo e a terceira que estava por cima das outras
era mais saliente que as duas que estavam por baixo. E a Primeira Glória, a qual foi colocada por debaixo
de todas as outras parecia-se com a Luz que havia resplandecido com Jesus antes da sua Ascensão aos
Céus e via-se a si mesma como em sua própria Luz. E as Três Formas de Luz eram de diversos tipos e de
diversas classes, uma mais saliente que a outra...
E sucedeu então, quando os discípulos viram isto, que se atemorizaram com grande perturbação. Então
Jesus, misericordioso e compassivo, quando viu os Seus discípulos com grande perturbação falou-lhes
dizendo: “Tende valor. Sou Eu, não tenhais medo”.
E sucedeu então, quando os discípulos ouviram estas palavras, que exclamaram: “Senhor, se és tu, recolhe
a tua Luz de Glória em ti próprio para que possamos resistir-lhe, de contrário os nossos olhos estarão em
trevas; estamos perturbados, e toda a terra também está em perturbação devido à Grande Luz que te
rodeia”.
Então Jesus recolheu em Si próprio a glória da sua Luz e quando isto sucedeu, todos os discípulos se
encheram de valor encaminharam os seus passos até Jesus e prosternaram-se, glorificaram-nO
regozijando-se com grande júbilo e disseram-Lhe: “Rabi! Onde foste? Qual foi o teu ministério pelo qual
foste? Porque houve todas estas confusões e todos os terramotos que sucederam?”
Então Jesus, misericordioso, disse-lhes assim: “Regozijai-vos e alegrai-vos de hoje em diante porque fui
às regiões de onde emergi. De hoje em diante pois, falarei convosco sem véus, desde o princípio da
verdade até ao seu fim e falarei convosco sem analogias. De hoje em diante nada vos ocultarei do mistério
do Alto e daquela região da Realidade. Foi-Me concedido graças ao Inefável e graças ao Primeiro
Mistério de todos os mistérios falar convosco, desde o princípio até à plenitude, assim como de dentro
para fora e de fora para dentro. Portanto escutai que posso dizer-vos todas as coisas.
E sucedeu, quando Me sentei um pouco afastado de vós no Monte das Oliveiras, que meditei acerca da
Ordem do Ministério por graça daquele por quem fui enviado, que já estava consumado e que o Último
Mistério, que é o Vigésimo Quarto Mistério de dentro para fora, esses que estão no Segundo Espaço do
Primeiro Mistério, nas ordens desse espaço, ainda não me haviam enviado a minha veste. E sucedeu
então, quando soube que a Ordem do Ministério pela graça do qual fui enviado, estava consumado e que
por esse mistério, a minha veste não me havia sido enviada, a qual tinha sido deixada atrás nele até que o
seu tempo fosse concluído; meditando então nisto, sentei-Me no Monte das Oliveiras um pouco afastado
de vós.”
“E sucedeu quando o Sol saiu pelo Oriente, depois desses dias através do Primeiro Mistério, que existiu
desde o princípio, causa pela qual o Universo surgiu e fora do qual também Eu mesmo agora venho, não
antes da hora da minha crucificação, senão agora, sucedeu, que através do mandato desse mistério a
minha veste de Luz deveria ser enviada, a qual Me tinha sido concedida desde o princípio e que havia
deixado atrás no Último Mistério, que é o Vigésimo Quarto Mistério de dentro para fora, esses que estão
nas Ordens do Segundo Espaço do Primeiro Mistério.
Essa Veste a deixei então atrás no Último Mistério, até à hora que deveria ser consumado para poder usála
e começar a falar com a raça humana, revelando-lhe a verdade desde o princípio até ao fim e falando
com ela desde os Interiores dos interiores até aos exteriores dos exteriores e desde os exteriores dos
exteriores até aos Interiores dos interiores. Regozijai-vos por conseguinte e alegrai-vos, regozijai-vos
mais e mais profundamente porque vos foi concedido que fale primeiro convosco da Realidade desde o
princípio até ao fim.”
“Por esta razão, em verdade vos elegi desde o princípio até ao fim do Primeiro Mistério. Regozijai-vos e
alegrai-vos, porque quando parti deste mundo, trouxe comigo doze potestades, tal como vos disse desde o
princípio, as quais despojei dos doze redentores do Tesouro da Luz, de acordo com o mandato do
Primeiro Mistério. Estas, noutro tempo verti-as no ventre das vossas mães, quando vim ao mundo; essas,
são aquelas que agora estão nos vossos corpos. Pois estas potestades foram-vos concedidas ante o mundo;
porque sois vós quem o salvará e porque vós podereis suportar as ameaças dos governantes da Terra e as
ansiedades do mundo, os seus perigos e todas as suas perseguições, que os príncipes do alto acarretarão
sobre vós. Muitas vezes vos tenho dito que levei para vós a força dos doze redentores que se encontram
no Tesouro da Luz. Por tal motivo verdadeiramente vos disse desde o princípio, que não sois deste
mundo. Eu também não o sou. Apesar de todos os homens da Terra terem engendrado as suas almas da
força dos redentores dos Aeons. Porém, a força que está em vós, provém de Mim; as vossas Almas
residem no Alto. Trouxe doze potestades dos doze redentores do Tesouro da Luz, extraídos da parte do
meu poder que primeiramente recebi. E quando Me pus a caminho pelo mundo, cheguei ao meio dos
príncipes da esfera, com a forma de Gabriel, o Anjo dos Aeons; e os príncipes dos Aeons não Me
conheceram porque acreditaram que Eu era o Anjo Gabriel.”
“E sucedeu então, quando cheguei ao Meio dos Regentes dos Aeons, que olhei para baixo sobre o Mundo
da humanidade por ordem do Primeiro Mistério. Encontrei Elizabeth, a mãe de João, o Baptista, antes de
o haver concebido, semeei nela a força que havia recebido do IAO menor, o Digno, que está no Meio,
Aquele que tem o poder de proclamar antes que Eu e preparar o caminho e Baptizar com a água, do
perdão dos pecados. Essa força, por conseguinte, está no corpo de João.»
“Ademais, em lugar do espírito dos regentes a quem ele havia nomeado para agasalhar, encontrei o
espírito de Elias nos Aeons da esfera e o retirei dali e levei o seu espírito até à Virgem da Luz e ela
entregou-o aos seus receptores; eles conduziram-no à esfera dos regentes e verteram-no no ventre de
Elisabeth. Deste modo o Poder do IAO Menor, que está no Meio e o espírito do Profeta Elias, foram
ligados ao corpo de João, o Baptista. Por este motivo vós duvidásteis noutro tempo, quando vos afirmei:
«João disse: Eu não sou o Cristo», e vós dissesteis-Me: «Escrito está que: quando venha o Cristo, virá
Elias antes d’Ele e preparará o seu Caminho». Contudo, quando Me dizíeis isto, Eu respondi-vos:
«Verdadeiramente Elias veio e tem preparado todas as coisas tal como está escrito e eles têm feito para
Ele o que deveriam». E quando compreendi que vós não tínheis entendido aquilo que vos falei
relacionado com o espírito de Elias que está ligado a João, o Baptista, vos respondi abertamente: «Se
aceitais a João, o Baptista: Ele é Elias de quem vos falei que viria».
Jesus continuou na Sua prática dizendo: “Então, depois disso, aconteceu que por ordem do Primeiro
Mistério olhei para baixo, sobre o mundo da Humanidade, e encontrei Maria, a quem chamam «minha
mãe» de acordo ao corpo de matéria. Falei com ela como Gabriel e quando retornou do alto para Mim,
dali verti a Primeira Força que havia recebido de Barbelo, que é o corpo que tenho levado no alto. E em
vez do espírito, verti nela a força que recebi do Grande Sabaoth, o Digno, que está na região da Direita.
E as Doze Potestades dos Doze Redentores do Tesouro da Luz, que Eu havia recebido dos doze ministros
do Meio, verti-as na esfera dos regentes. E os decanos dos regentes e os seus liturgos acreditaram que eles
eram os espíritos dos regentes e os liturgos trouxeram-nos e ligaram-nos aos corpos das vossas mães. E
quando a vossa hora chegou, nascesteís no mundo sem espírito de regentes. E recebesteis a vossa parte da
força que o Último Auxiliar tinha inalado para a Mescla, força essa que está fundida com todos os
Invisíveis e todos os Regentes e todos os Aeons, numa palavra, o que está combinado com o mundo da
destruição, que é a Mescla. Esta força que desde o princípio ressaltei de Mim próprio, verti-a no Primeiro
Mandamento e o Primeiro Mandamento verteu uma parte desta na Grande Luz e a Grande Luz verteu
uma parte daquela que havia recebido nos cinco Auxiliares, e o Último Auxiliar tomou uma parte daquela
que recebeu e verteu-a na Mescla. E esta parte está em todos os que estão na Mescla, tal como vos acabo
de dizer.”
Jesus disse então isto aos Seus discípulos no Monte das Oliveiras. Continuou de novo na prática, dizendolhes:
“Regozijai-vos e alegrai-vos, agregai gozo ao vosso gozo, porque chegou a hora para que use a
minha veste, a qual foi preparada para Mim desde o princípio e que deixei no Último Mistério até à hora
da sua consumação. Agora, na hora da sua Consumação, é o momento em que serei ordenado pelo
Primeiro Mistério, para falar convosco de Verdade, desde o princípio até ao fim e desde os Interiores dos
interiores até aos exteriores dos exteriores, para que o mundo seja salvo por vós. Regozijai-vos e alegraivos
porque vós sois os escolhidos entre os homens da terra. Sois vós quem salvará o mundo.”
Sucedeu que, quando Jesus acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos, continuou com a sua
exposição e disse-lhes: “Vede aqui, que coloquei a minha Veste e com ela toda a Autoridade que Me foi
concedida através do Primeiro Mistério. Um momento mais e vos direi o mistério do Universo e a
plenitude do mesmo e nada vos ocultarei a partir desta hora. Eu os aperfeiçoarei por completo com toda a
perfeição e em todos os mistérios que são a perfeição de todas as perfeições e a grandeza de todas as
grandezas, a Gnose de toda a Gnose, os quais estão na minha Veste. Eu vos direi todos os mistérios, desde
os exteriores dos exteriores até aos interiores dos interiores. Porém escutai-Me, que posso dizer-vos todas
as coisas que Me sucederam.”
“E sucedeu então, que quando o sol havia saído pelo Oriente, desceu uma grande força de luz, na qual
estava a minha vestidura que havia deixado atrás no Vigésimo Quarto Mistério, tal como já vos havia dito
e encontrei um mistério escrito na minha veste, com cinco palavras provenientes do Alto: ZAMA ZAMA
OZZA RACHAMA OZAI, cuja solução é esta:
Oh! Mistério que não tem par no Mundo, por cuja causa surgiu o Universo — esta é a total saída e a
ascensão total que emanou todas as emanações e tudo o que está depois e por cuja razão surgiram todos
os mistérios —. Vem a nós porque somos vossos membros e semelhantes. Todos estamos contigo, somos
um e o mesmo. Tu és o Primeiro Mistério que existiu desde o princípio, no Inefável, antes de aparecer e o
Seu nome somos todos nós. Agora portanto, vimos encontrar-Te no último limite, o qual é o Último
Mistério desde dentro, Ele mesmo é um pedaço de nós. Agora portanto, enviamos-Te a vestidura que Te
pertence desde o princípio e que deixaste atrás no Último Limite, o qual é também o Último Mistério
desde dentro, até que seja consumada a sua hora de acordo com os mandamentos do Primeiro Mistério.
Vede aqui, a sua hora chegou; veste-a.
“Vem até nós para que nos aproximemos de Ti e Te vistamos com o Primeiro Mistério e toda a sua Glória,
por mandato dele próprio, no que o Primeiro Mistério nos concedeu e que consiste em duas Vestiduras de
modo a ornar-Te com elas, além daquela que Te enviamos porque és digno delas, desde o momento que
Tu és anterior a nós. Por este motivo, o Primeiro Mistério Vos enviou através de nós, o mistério de toda a
sua glória que consiste em duas vestes.
“Na Primeira está a Glória inteira de todos os Nomes de todos os Mistérios e todas as Emanações das
Ordens dos Espaços do Inefável.”
“E na Segunda está a Glória inteira do Nome de todos os Mistérios e de todas as Emanações que estão nas
Ordens dos Dois Espaços do Primeiro Mistério.”
“E nesta Terceira Veste, que recentemente Te enviámos, está a Glória do Nome do Mistério do
Revelador, que é o Primeiro Mandamento e do Mistério das Cinco Impressões e do Mistério do Grande
Enviado do Inefável, que é a Grande Luz e do Mistério dos Cinco Guias que são os Cinco Auxiliares. Há
mais nesta Veste, a glória do Nome do Mistério de todas as Ordens das Emanações do Tesouro da Luz e
dos seus Salvadores e do Mistério das Ordens das Ordens, que são os Sete Amens e as Sete Vozes e as
Cinco Árvores e os Três Amens e o Salvador Gémeo que é Filho do Filho e do Mistério dos Nove
Guardas das Três Portas do Tesouro da Luz. Há mais ainda ali, a Glória inteira do Nome de todos Aqueles
que estão na Direita e de todos Aqueles que estão no Meio. Mais ainda, há ali dentro, a Glória Eterna do
Grande Invisível que é o Grande Antecessor e o Mistério dos Três Triplos Poderes e o Mistério da sua
região total e o Mistério de todos os seus Invisíveis e de todos Aqueles que estão no Décimo Terceiro
Aeon e o Nome dos Doze Aeons e de todos os seus Regentes e de todos os seus Arcanjos e de todos os
seus Anjos e de todos Aqueles que estão nos Doze Aeons e o Mistério total do Nome de todos Aqueles
que estão no Destino e em todos os Céus e o Mistério completo do Nome de todos Aqueles que estão na
Esfera e dos seus Firmamentos e de todos os que estão neles e de todas as suas Regiões.”
“Eis que, por conseguinte, Te enviamos esta Veste que ninguém conhecia desde o Primeiro Mandamento
para baixo porque a Glória da Luz estava oculta nela e as esferas e todas as regiões do Primeiro
Mandamento para baixo não a conheceram. Apressa-Te portanto, põe em Ti esta Veste e vem até nós para
que possamos aproximar-nos de Ti e vestir-Te por mandato do Primeiro Mistério com as tuas duas Vestes
que existiram para Ti desde o Princípio com o Primeiro Mistério até que o tempo assinalado pelo Inefável
fosse consumado. Vem rapidamente até nós para que Te possamos vestir com elas, até que tenhas
conseguido o Mistério total da Perfeição do Primeiro Mistério que é assinalado pelo Inefável. Vem
rapidamente até nós para que tas coloquemos de acordo com as Ordens do Primeiro Mistério. Falta ainda
um momento, um pequeno momento e virás até nós e deixarás o Mundo. Vem, portanto, rapidamente para
que recebas a Tua Glória completa que é a Glória do Primeiro Mistério.”
“Sucedeu então que quando vi o Mistério de todas essas Palavras na Veste que Me enviaram e que vesti,
brilhei então excelsamente e ascendi às Alturas.”
“Apresentei-Me na Primeira Porta do Firmamento brilhando excessivamente e não havia meio de medir a
Luz que estava em Mim e as Portas do Firmamento foram sacudidas umas contra outras e todas se
abriram ao mesmo tempo.”
“E todos os Arcontes, Autoridades e todos os Anjos dali foram possuídos de agitação devido à Grande
Luz que estava em Mim. E eles viram a radiante Veste de Luz que Eu vestia e viram o Mistério que
contém os seus nomes e foi excessivo o seu temor E todos os laços que os uniam foram desatados e cada
um deixou a sua Ordem e todos se puseram de joelhos ante Mim, glorificaram-Me e disseram: «Como
passou entre nós o Senhor do Universo sem o sabermos ?» E todos eles juntos cantaram louvores aos
Interiores dos interiores porém a Mim não Me viram ainda que somente vissem a Luz. E atemorizaramse,
estando enormemente agitados e cantaram louvores aos Interiores dos interiores.”
“E deixei essa Região e ascendi à Primeira Esfera brilhando com enorme intensidade, quarenta e nove
vezes mais intensamente do que havia brilhado no Firmamento. Sucedeu então que, quando alcancei as
portas da Primeira Esfera, estas se abriram imediatamente depois de se terem sacudido.”
“Penetrei nas casas da esfera, brilhando radiantemente e não havia modo de medir a intensidade da Luz
que Me rodeava. E todos os Arcontes e todos Aqueles que estavam nessa Esfera se agitaram entre si. E
eles viram a grande Luz que estava em Mim e observaram com atenção a minha Veste e viram nela o
Mistério dos seus nomes. Ficaram possuídos de maior agitação e mostrando grande temor diziam: «Como
é que o Senhor do Universo passou entre nós sem o nosso conhecimento?» E todos os seus laços foram
desatados, as suas Regiões e as suas Ordens e cada um deixou a sua Ordem e todos se prostraram ante
Mim e ante a minha Veste. Adoraram-Me e cantaram juntos louvores aos Interiores dos Interiores com
grande temor e possuídos de uma grande agitação.”
“E abandonei essa Região e cheguei à Porta da Segunda Esfera, que é o Destino. Depois todas as suas
portas se agitaram e abriram-se por si mesmas e entrei na casa do Destino brilhando com grande
intensidade e não havia forma de medir a intensidade da Luz que estava em Mim, porque brilhei no
Destino quarenta e nove vezes mais do que na Primeira Esfera.”
“E todos os Arcontes e todos Aqueles que estão no Destino foram possuídos de uma grande agitação,
prosternaram-se e foram invadidos por um grande temor ao ver a imensa Luz que estava em Mim. E
observaram com atenção a minha Veste e viram nela o mistério dos seus nomes e com agitação e com
grande temor diziam: «Como foi que o Senhor do Universo passou entre nós sem que tivéssemos
conhecimento ?» E todos os laços das suas Regiões e das suas Ordens foram desatados. Todos eles vieram
imediatamente prosternar-se ante Mim, glorificaram-Me e juntos cantaram louvores aos Interiores dos
Interiores, estando possuídos de grande temor e grande agitação.”
“E abandonei essa região e ascendi à dos Aeons dos Regentes e cheguei ante os seus véus e as suas portas
brilhando com grande intensidade e não havia medida para a Luz que estava em Mim. Sucedeu então,
quando cheguei aos Doze Aeons, que os seus véus e as suas portas foram sacudidas umas contra outras.
Espontaneamente os seus véus (por si mesmos) se afastaram e as suas portas se abriram de par em par E
entrei nos Aeons brilhando com grande intensidade e não havia medida para a Luz que Me rodeava,
quarenta e nove vezes mais intensa que a Luz com que brilhei nas casas do Destino.”
“E todos os Anjos e Arcanjos dos Aeons e os seus Arcontes e os seus Deuses e os seus Senhores e as suas
Autoridades e os seus Tiranos e os seus Poderes e as suas Chispas de Luz e as suas Fontes de Luz e os
seus Inigualáveis e os seus Invisíveis e os seus Antecessores e os seus Triplos Poderes, viram-Me brilhar
intensamente e não havia modo de medir a intensidade da Luz que Me envolvia e foram (eles) possuídos
de grande agitação e um grande temor os invadiu quando viram a Grande Luz que estava em Mim. E na
sua grande agitação e em seu grande temor retiraram-se para a região do Grande Antecessor Invisível e
dos Três Grandes Poderes Triplos. E devido ao grande temor e à sua grande agitação, o Grande
Antecessor com os Três Poderes Triplos, continuaram no seu movimento de um a outro lado da sua região
e não puderam fechar todas as suas regiões devido ao grande temor que os invadia. E agitaram todos os
Aeons e todas as Esferas e todas as suas Ordens, invadidos de temor e agitação, devido à Grande Luz que
estava comigo, a qual não tinha o mesmo poder que tinha quando Eu estava na Terra, quando a Veste de
Luz veio até Mim, porque o Mundo não podia suportar a Luz tal como era na realidade; se tivesse sido
assim, o Mundo e tudo ao seu redor teria sido destruído nesse momento, pois a Luz que tinha comigo nos
Doze Aeons era de uma intensidade de 8700 miríadas mais do que a Luz que tinha quando estava no
mundo entre vós.”
“Sucedeu que todos aqueles que estavam nos Doze Aeons, quando viram a Luz que estava comigo, foram
possuídos de uma grande agitação e correram por todos os lados nos Aeons e todos os Aeons e todos os
Céus e as suas Ordens se agitaram uns contra os outros devido ao grande temor que possuíam porque
nada sabiam acerca do Mistério que havia sucedido. E além disso, o Grande Tirano e todos os tiranos em
todos os Aeons, começaram a lutar em vão contra a Luz, sem saberem contra quem estavam a luta, uma
vez que nada mais viam que a sobredominante Luz. Sucedeu então que, quando lutaram contra a Luz,
todos e cada um deles se debilitaram e foram expulsos dos Aeons e converteram-se nos habitantes da
Terra, mortos e sem alento de vida.”
“E tomei de todos uma terça parte dos seus poderes para que eles não participassem nas suas diabólicas
actividades e para que, se os homens que estão no mundo os invocarem nos seus mistérios, — esses a que
os Anjos que os violaram deram continuidade, quer dizer, as suas feitiçarias —, não possam lográ-lo em
tais invocações.”
“E o Destino e a Esfera sobre os quais têm autoridade, Eu os mudei de tal modo que passem Seis Meses
virados para a Esquerda e consigam as suas influências e que olhem Seis Meses para a Direita e
verifiquem as suas influências. Pelo mandado no Primeiro Mandamento e por mandato do Primeiro
Mistério, o Administrador da Luz colocou-os, vendo à Esquerda cada vez que conseguiam as suas
influências e os seus propósitos.”
“Sucedeu que quando cheguei à sua região, eles se amotinaram e lutaram contra a Luz. E retirei-lhes um
terço do seu poder para que não lograssem os seus diabólicos propósitos. E mudei o Destino e a Esfera
sobre os quais têm autoridade e coloquei-os olhando para a Esquerda por um espaço de Seis Meses e
levando a cabo as suas influências e coloquei-os outros Seis Meses virados para a Direita e efectuando as
suas influências.”
No momento em que disse isto aos Seus discípulos, também lhes disse: “O que tenha ouvidos para ouvir,
deixai-o ouvir”Então, quando Maria ouviu o Salvador dizer estas palavras, ficou a olhar fixamente o
espaço durante uma hora. E disse--Lhe: “Senho, permite-me falar abertamente.”
E Jesus, compassivo, respondeu a Maria: “Maria, bendita és, a quem aperfeiçoei em todos os Mistérios do
Alto, fala abertamente porque o teu coração é elevado ao Reino dos Céus, mais do que todos os teus
semelhantes.”
Então, disse Maria ao Salvador: “Senhor o que nos disseste: «O que tenha ouvidos para ouvir deixai-o
ouvir», havei-lo dito para que compreendamos o que disseste. Por isso Senhor eu posso falar sem
preconceitos.”
“Tu disseste: «Retirei um terço do poder dos Regentes dos Aeons e mudei o seu destino e a sua esfera
sobre os que eles dominam para que se a raça humana os invoca nos mistérios -esses que os Anjos que os
violaram lhes ensinaram para levar a cabo os seus propósitos diabólicos e ilícitos no mistério das suas
feitiçarias» —. Para que de agora em diante não logrem os seus ilícitos propósitos, Tu lhes retiraste o seu
poder e dos adivinhadores e seus consultores e daqueles que dizem, no mundo, aos homens, o que vai
suceder, para que eles, a partir deste momento, não saibam como predizer o que vem (porque Tu mudaste
as suas esferas e fizeste com que passem seis meses olhando à esquerda e obtendo as suas influências e
outros seis meses olhando para a direita e obtendo as suas influências). No que diz respeito a esta palavra,
Senhor, o poder que estava no Profeta Isaías falou assim e proclamou noutro tempo com espiritual
semelhança quando diz sobre a «Visão do Egipto»:
Onde então, oh Egipto!, estão os teus consultores e adivinhos e aqueles que chamam da Terra e aqueles
que bradam das suas entranhas?
Deixai-os então que declarem de hoje em diante as acções que o Senhor Sabaoth levará a cabo! Então o
poder que estava no Profeta Isaías e que foi anunciado antes da tua vinda consistia em que Tu retirarias o
poder dos Regentes dos Aeons e mudarias a sua esfera e o seu Destino para que nada possam saber daqui
em diante. Por este motivo também se disse: «Tu então não saberás o que fará o Senhor Sabaoth», quer
dizer, nenhum dos Regentes saberá o que farás daqui em diante, pois eles são Egipto, porque eles são
matéria. O poder que estava em Isaías, então predito e que a Ti se referia, dizendo: «De hoje em diante
não saberás o que fará o Senhor de Sabaoth», devido ao Poder de Luz que recebeste d’Ele, o Digno, que
está na Região da Direita e que hoje está no Teu corpo material, por esta razão, meu Senhor Jesus, Tu nos
disseste: «O que tenha ouvidos para ouvir que oiça», para que Tu, o mais poderoso, saibas de quem é o
coração que mais ardentemente se elevará ao Reino dos Céus.”
Sucedeu que, quando Maria concluiu estas palavras, Jesus disse: “Bem o disseste Maria porque tu és
bendita entre todas as mulheres da Terra e porque serás a plenitude de todas as plenitudes e a perfeição de
todas as perfeições”.
Quando Maria ouviu o Salvador dizer estas palavras, impressionou-se grandemente e aproximou-se de
Jesus, prostrou-se ante Ele, venerou os Seus pés e disse-Lhe: “Senhor, escuta-me, que desejo perguntar-Te
sobre o que disseste, antes de nos falares sobre as regiões onde foste “. Jesus respondeu a Maria dizendo:
“Fala com liberdade e não temas, todas as coisas que tenhas em dúvida, tas revelarei “.
E ela disse: “Senhor, conseguirão todos os homens que conhecem o Mistério da Magia de todos os
Regentes, de todos os Aeons do Destino e daqueles da esfera na forma em que os Anjos que violaram o
que lhes foi ensinado; se os invocam nos seus mistérios, quer dizer na sua diabólica magia, impedir as
boas ações?”
Jesus respondeu e disse a Maria:
“Eles não conseguirão como o conseguiram no princípio, porque lhes retirei um terço do seu poder
porém obterão o apoio daqueles que conhecem os Mistérios da Magia do Décimo Terceiro Aeon. E se eles
invocam os Mistérios da Magia desses que estão no Aeon Treze, seguramente os obterão, porque não
retirei o poder dessa Região, segundo Mandato do Primeiro Mistério.”
E sucedeu, quando Jesus acabou de dizer estas palavras, que Maria continuou novamente dizendo: “Então
meu Senhor! Os adivinhadores e consultores não declararão daqui em diante aos homens, o que há-de
ocorrer-lhes!”
E Jesus respondeu a Maria: “Se os profetizadores ou adivinhos encontram o Destino e a esfera virados
para a esquerda, de acordo com a sua primeira extensão, as suas palavras terão lugar e dirão o que há-de
ocorrer. Porém se encontram o Destino ou a esfera virados para a direita, as suas palavras não dirão a
verdade, pois Eu mudei as suas influências e os seus esquadros e os seus triângulos e os seus octógonos,
ao ver que as influências, desde o princípio e daí em diante, estavam continuamente viradas para a
esquerda e os seus esquadros e os seus triângulos e os seus octógonos. Agora fiz com que passem seis
meses virados para a esquerda e seis meses virados para a direita. Aquele que encontre os seus
considerados, desde o momento em que os mudei, ordenando-os de modo que passem seis meses olhando
para a sua esquerda e seis meses os seus cursos virados à direita, aquele que os observe desta forma,
saberá que as suas influências são seguras e declarará todas as coisas que hão-de fazer. Do mesmo modo,
os consultores, se invocam os nomes dos Arcontes e os encontram virados para a esquerda, dirão com
exactidão todas as coisas acerca das quais consultem os seus decanos. Pelo contrário, se os consultores
invocam os seus nomes, quando olham à direita, não terão de prestar-lhes ouvidos porque estão frente a
outra forma, em comparação com a sua anterior posição, na que Jeú os havia estabelecido, ao ver que são
outros os seus nomes quando estão virados p'rá esquerda e outros os seus nomes quando estão virados p'rá
direita e se os invocam quando estão virados para a direita, não dirão a verdade, pois os confundirão com
confusão e os ameaçarão com ameaças. Então aqueles que não conheçam o seu curso quando estejam
virados p'rá direita e os seus triângulos e os seus esquadros e todas as suas figuras, nada certo
encontrarão, senão que se confundirão em grande confusão e encontrar-se-ão a si próprios em grande
engano porque Eu mudei as obras que eles noutros tempos realizaram, nos seus esquadros, quando
estavam virados já à esquerda e os seus triângulos e os seus octógonos, nos quais continuamente se
ocupavam quando estavam virados p'rá esquerda e os fiz gastar seis meses para formar todas as suas
configurações viradas p'rá direita a fim de que se confundissem em confusão em toda a sua extensão. E
mais ainda, fi-los gastar seis meses virados p'rá esquerda e realizando as suas obras e as suas influências e
todas as suas configurações, a fim de que os Arcontes que estão nos Aeons e nas suas esferas e nos seus
céus e em todas as suas regiões, possam ser confundidos em confusão e enganados em enganos, de modo
que não possam compreender as suas próprias direcções.”
Sucedeu então, quando Jesus acabou de dizer estas palavras, enquanto Filipe, sentado, escrevia tudo o que
Jesus dizia, que Filipe se aproximou, caiu de joelhos e adorou os pés de Jesus, dizendo: “Meu Senhor e
Salvador, dá-me autoridade para discorrer ante Ti e perguntar sobre a Tua Palavra, antes que discorras
conosco relativamente às regiões às quais foste por motivo do Teu ministério.”
E o compassivo Salvador respondeu a Filipe: “Tens permissão de falar o que desejas.”
E Filipe respondeu, dizendo a Jesus: “Meu Senhor! Devido a que mistério mudaste a união dos Regentes
e dos seus Aeons e o seu Destino e a sua esfera e todas as suas regiões e os confundiste em confusão
quanto ao seu caminho e falseaste o seu curso? Fizeste-lhes isto para a salvação do mundo, ou não?”
E Jesus respondeu a Filipe e a todos os Seus discípulos em conjunto, dizendo-lhes: “Mudei o seu curso
pela salvação de todas as Almas. Amén, Amén, vos digo: Se Eu não tivesse mudado o seu curso, uma
hoste de Almas teria sido destruída e teriam perdido longo tempo, se os Arcontes dos Aeons e os Arcontes
do Destino e da esfera e de todas as suas regiões e todos os seus céus e todos os seus Aeons não tivessem
sido frustrados e as Almas teriam continuado longo tempo aqui fora e o término, o fim do número das
Almas perfeitas, ter-se-ía demorado, os quais contarão na Herança do Altíssimo através dos Mistérios e
estarão no Tesouro da Luz. Por tal motivo mudei os seus caminhos, para que caíssem em engano e em
agitação e entregassem o poder que está na matéria do seu mundo e que eles moldam nas Almas, a fim de
que aqueles que se salvam possam ser rapidamente purificados e elevados, eles e o inteiro poder e
aqueles que não se salvam, possam ser rapidamente destruídos.”
E sucedeu então, quando Jesus acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos, que Maria, a honesta
no seu discurso e a bendita, se aproximou, caiu aos pés de Jesus e disse: “Meu Senhor, permite-me falar
diante de Ti e não Te indigne que frequentemente Te incomode interrogando-Te “.
O Salvado, cheio de compaixão, respondeu dizendo a Maria: “Diz o que desejas e Eu revelar-Me-ei a ti
abertamente “.
Maria respondeu e disse a Jesus: “Meu Senhor! De que modo se têm demorado as Almas a si mesmas
aqui fora e quais as que serão rapidamente purificadas?”
E Jesus respondeu a Maria dizendo-lhe: “Bem dito Maria, interrogas bem com a tua excelente pergunta e
lanças Luz em todas as coisas com segura precisão. Portanto, de agora em diante nada te ocultarei, mas
revelar-te-ei todas as coisas com segurança e franqueza. Escuta pois, Maria, e vós discípulos, escutai:
Antes que Eu proclamasse todos os Arcontes dos Aeons e todos os Regentes do Destino e da Esfera, eles
estavam atados nas suas ataduras e às suas esferas e aos seus selos, tal como Jeú, o Supervisor da Luz, os
havia atado desde o princípio e cada um deles permanecia na sua Ordem e cada um viajava de acordo
com a sua direcção, tal como Jeú, o Supervisor da Luz, havia estabelecido.”
“E quando chegou o momento do número de Melchizedek, o Grande Receptor de Luz, este foi ao meio
dos Aeons e dos Arcontes, os quais estão confinados à Esfera e ao Destino e arrebatou a purificação da
Luz de todos os Regentes e dos Aeons e de todos os Arcontes do Destino e daqueles da Esfera -pois Ele
inspirava o que os punha em agitação — e pôs em movimento o Apressurado, que está por cima deles e
fê-los girar em círculos velozmente e Ele (o Apressurador) arrebatou o poder que neles havia e o alento
das suas bocas e as lágrimas dos seus olhos e o suor dos seus corpos. »
“E Melchizedek, o Receptor da Luz, purificou esses poderes e levou a sua luz ao Tesouro da Luz
enquanto os servidores de todos os Arcontes juntavam toda a matéria de todos eles. E os servidores dos
Regentes do Destino e os servidores da esfera que está debaixo dos Aeons tomam-na e moldam-na em
Almas de homens e gado e répteis e animais selvagens e pássaros e enviam-nas para baixo, para o mundo
da humanidade. E logo os receptores do sol e os receptores da lua, se olham de cima e veem as
configurações dos cursos dos Aeons e as configurações do Destino e da Esfera, então tomam-nas da
energia da Luz, e os receptores do sol obtêm-na já preparada e depositam-na até que a apresentam aos
receptores de Melchizedek, o Purificador da Luz. E trazem o seu material inútil à esfera que está por
baixo dos Aeons e moldam-no em Almas de homens, e moldam-no também em Almas de répteis e de
gado e de animais selvagens e de pássaros, de acordo com o círculo dos regentes dessa esfera e de acordo
com todas as configurações da sua revolução e repartem-nas neste mundo de humanidade e convertem-se
em Almas nesta região, tal como vos tenho dito.”
“Isto, o realizavam eles continuamente, antes que o seu poder fosse diminuído e se desvanecesse e
sentiram-se exaustos ou sem energias. O Poder começou a cessar neles de maneira que ficaram esgotados
de poder e a sua luz que estava na sua região cessou, o seu reino foi destruído e o Universo rapidamente
ascendeu.
Ocorreu que quando compreenderam isto e quando o número da cifra de Melchizedek, o Receptor da Luz,
teve lugar, então Ele teve que sair de novo e entrar no meio de todos os Arcontes do Destino e dos da
Esfera e os pôs em agitação e rapidamente os fez abandonar os seus círculos. E desde então viram-se
constrangidos a procurar o poder fora deles, fora do alento das suas bocas, das lágrimas dos seus olhos e
do suor dos seus corpos.
“E Melchizedek, o Receptor da Luz, purificou-os e, como continuamente faz, levou a sua luz ao Tesouro
da Luz. E todos os Arcontes dos Aeons e os Arcontes do Destino e os da Esfera voltam-se para a matéria
inútil, devoram-na e não lhe permitem ir converter-se em Almas no mundo. Eles devoram a sua matéria
para não se verem sem energia e esgotados e para que seu poder não cesse (neles) nem o seu reino se
destrua, a fim de poder prolongar-se e subsistir longo tempo até ao término do número de Almas perfeitas
que estarão no Tesouro da Luz.”
“Sucedeu então, quando os Arcontes dos Aeons e os do Destino e os da Esfera continuaram realizando
isto — voltando-se para si próprios, devorando a sua matéria inútil e não permitindo às Almas nascer no
mundo da humanidade a fim de poder continuar a ser Regentes e de que os seus poderes que estão nos
seus poderes, ou seja, as Almas, possam passar longo tempo aqui fora — persistiram em fazer isto
continuamente durante dois círculos. Assim, quando Eu quis ascender para exercer o ministério para que
fui chamado por Ordem do Primeiro Mistério, subi até junto dos tiranos dos Arcontes dos Doze Aeons,
com a minha Veste de Luz, brilhando tão extraordinariamente que não havia medida para a Luz que Me
envolvia.”
“E sucedeu então, quando os tiranos viram a grandiosa Luz que Me rodeava, que o Grande Adamas, o
Tirano e todos os tiranos dos Doze Aeons, juntos, começaram a lutar contra a Luz da Minha Veste,
desejando apoderar-se dela, a fim de permanecerem no seu império. Isto sem saber contra quem
lutavam.”
“Quando se aglomeraram e lutaram contra a Luz, a partir de então e por mandato do Primeiro Mistério,
Eu mudei os seus caminhos e os cursos dos Aeons e os cursos do seu Destino e da sua Esfera e virei-os
seis meses p'rá esquerda, para os triângulos e para os esquadros e para aqueles nos seus aspectos e para os
seus octógonos, tal como tinham estado antes. Porém, mudei a sua forma de girar ou de enfrentarem outra
ordem e fi-los enfrentar outros seis meses, à direita, as obras das suas influências nos esquadros e nos
seus triângulos e em todos aqueles nos seus aspectos e nos seus octógonos. E fi-los confundirem-se com
grande confusão e enganarem-se com grande engano — os Arcontes dos Aeons e todos os Arcontes do
Destino e os da Esfera — e coloquei-os em grande agitação e desde então já não são capazes de girar para
a sua matéria inútil e devorá-la afim de que as suas regiões continuem a permanecer e eles (eles próprios)
possam passar um longo tempo como Arcontes. Porém, quando lhes retirei um terço do seu poder, mudei
as suas esferas para que passassem algum tempo olhando à esquerda e algum tempo olhando à direita.
Mudei todo o seu caminho e todo o seu curso, fiz o caminho do seu curso acelerar-se para que possam ser,
rapidamente, purificados e rapidamente elevados. E abreviei os círculos e tornei o seu caminho mais
veloz e este será sumamente acelerado. Eles foram postos em confusão no seu caminho e desde então já
não foram capazes de devorar a matéria dos resíduos da purificação da sua luz.”
“Mais ainda, reduzi os seus tempos e os seus períodos de modo a que o perfeito número de Almas que
receberão os Mistérios e estarão no Tesouro da Luz se complete rapidamente. Se Eu não tivesse mudado
os seus cursos e abreviado os seus períodos, eles não teriam permitido a nenhuma Alma vir ao mundo
devido à matéria dos seus resíduos — que tivessem devorado — e teriam destruído muitas Almas. Por
este motivo vos disse antes: Abreviei os tempos da minha eleição, de outro modo nenhuma Alma poderia
ter sido salva. E abreviei os tempos e os períodos devido ao perfeito número de Almas que receberão os
Mistérios, quer dizer, os escolhidos, e se Eu não tivesse abreviado os seus períodos, nenhuma Alma
material teria sido salva, mas todas teriam perecido no fogo que está na carne dos Regentes. Estas são
pois as palavras sobre as quais, com precisão, me interrogaste.”
E sucedeu então, quando Jesus acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos, que todos caíram,
adoraram-nO e disseram-Lhe: “Bendito sejas ante todos os homens, pois nos revelastes estas grandes
façanhas
Jesus continuou o Seu discurso e disse aos Seus discípulos:
“Escutai o relativo às coisas que Me ocorreram entre os Regentes dos Doze Aeons e de todos os seus
Regentes e todos os seus Senhores e as suas Autoridades e os seus Anjos e os seus Arcanjos. Quando
viram a Veste de Luz que Eu trazia, eles e os seus ímpares, viram, cada um deles, o Mistério dos seus
nomes que estavam na Veste de Luz que Me envolvia. Caíram todos, adoraram a Veste de Luz que Me
cobria e choraram dizendo:
«Como é que o Senhor do Universo passou entre nós sem o sabermos ?» E todos juntos cantaram
Louvores aos Interiores dos interiores. E todos os seus triplos poderes e os seus antepassados e os seus
não gerados e os seus autogerados e os seus gerados e os seus Deuses e as suas Chispas de Luz e os seus
Portadores de Luz — numa palavra, todos os seus Grandes —viram os tiranos da sua região e que o seu
poder diminuía, que se tornavam débeis e caíam num grande, incomensurável temor Contemplaram o
Mistério dos seus Nomes na Minha Veste e propuseram-se vir adorar o Mistério dos seus Nomes que
estavam na Minha Veste, porém não puderam devido à Grande Luz que Me envolvia. Contudo, adoraram
um pouco afastados de Mim e adoraram a Luz da Minha Veste e choraram juntos, cantando Louvores aos
Interiores dos interiores.”
“Sucedeu então, quando isto ocorria entre os Tiranos que estavam por baixo destes Regentes, que todos
eles perderam poder e caíram ao solo nos seus Aeons e assemelharam-se aos mortos do mundo, sem
alento, como no momento em que lhes retirei o seu poder”
“Sucedeu em seguida, quando deixei esses Aeons, que cada um desses que era dos Doze Aeons esteve
sujeito à sua ordem e todos realizaram as suas obras como Eu havia estabelecido, para que passassem seis
meses, virados para a esquerda, realizando as suas Obras, nos seus esquadros e nos seus triângulos e
naqueles em seus aspectos e depois passassem outros seis meses virados para a direita, para os seus
triângulos e os seus esquadros e aqueles nos seus aspectos. Assim viajarão aqueles que estão no Destino e
na Esfera.”
“Então Eu ascendi aos véus do Décimo Terceiro Aeon. E sucedeu, quando lá cheguei, que os véus se
separaram por si próprios e se abriram ante Mim. Eu entrei no Décimo Terceiro Aeon e encontrei Pistis
Sophia por baixo do Aeon Treze. Estava só, colocada nessa região, sem ninguém junto dela, lamentandose
e gemendo porque não tinha sido admitida no Décimo Terceiro Aeon, a sua região imediata mais alta.
E também penava devido aos tormentos que o Obstinado, que é um dos três triplos poderes, lhe havia
infligido. Porém, quando vos falar dele e de sua expansão, dir-vos-ei o Mistério e de como tal coisa lhe
ocorreu.
“Sucedeu então, quando Pistis Sophía Me viu brilhando extraordinariamente e sem medida a Luz que Me
envolvia, que entrou em grande agitação e contemplou a Luz da Minha Veste. Viu o Mistério do seu
Nome na Minha Veste e toda a Glória do seu Mistério, pois anteriormente ela tinha estado na Região da
Altura, no Décimo Terceiro Aeon. E pôs-se a cantar louvores à Luz mais Alta que tinha visto no véu do
Tesouro da Luz.
E sucedeu então, quando ela persistiu em cantar louvores à Luz mais Alta, que todos os Regentes que
estão com os dois grandes triplos-poderes e o seu (dela) invisível que é o seu par e as outras vinte e duas
emanações invisíveis contemplaram a Luz — dado que Pistis Sophia e o seu Par, elas e as outras Vinte e
Duas emanações formam as Vinte e Quatro emanações que Antepassado invisível e os Dois grandes
Triplos Poderes emanaram.”
Quando Jesus disse isto aos Seus discípulos, sucedeu que Maria se aproximou d’Ele e Lhe disse: “Meu
Senhot ouvi-Te dizet há pouco — «Pistis Sophia é em si mesma uma das Vinte e Quatro Emanações» —
Porque é que então, não está na sua região? Pois disseste: «Encontrei-a debaixo do Décimo Terceiro
Aeon».”
A HISTÓRIA DE PISTIS SOPHIA
E Jesus respondeu e disse aos Seus discípulos: “Sucedeu, quando Pistis Sophia estava no Décimo
Terceiro Aeon, na Região de toda a sua família de Invisíveis, ou seja, as Vinte e Quatro Emanações do
Grande Invisível que, por mandato do Primeiro Mistério, Sophia contemplou a Luz. Ela viu a Luz do véu
do Tesouro da Luz e desejou chegar a essa região, embora não pudesse alcançá-la. Porém, deixou de
realizar o Mistério do Décimo Terceiro Aeon e cantou louvores à Luz das Alturas, que tinha visto na Luz
do véu do Tesouro da Luz.”
“Então sucedeu, quando ela cantava louvores à Região das Alturas, que todos os Regentes nos Doze
Aeons que estão por baixo a detestaram por ela ter cessado nos seus Mistérios e por ter desejado ir à
Altura e ficar por cima deles. Por este motivo enfureceram-se contra ela e detestaram-na, (como fez) o
grande triplo poder Obstinado, que é o terceiro triplo poder que está no Décimo Terceiro Aeon, o que se
tinha tornado desobediente, já que não tinha emanado em si próprio a purificação total do seu poder e não
tinha dado a purificação da sua luz no momento em que os Regentes deram as suas purificações, pois
desejava reger sobre os Treze Aeons e sobre os que estao em baixo.”
“Sucedeu então, quando os Regentes dos Doze Aeons estavam enfurecidos contra Pistis Sophía que está
por cima deles e a detestaram sobremaneira, que o Obstinado, o grande triplo poderoso de quem vos falei
agora, se uniu aos Regentes dos Doze Aeons e também se enfureceu contra Pistis Sophia e a odiou
excessivamente por ela ter pensado ir à Luz que está mais acima dela e emanou um grande poder com
rosto de leão e dele, fora da sua matéria, emanou uma hoste de outras violentas emanações materiais e
enviou-as às regiões inferiores, às partes do caos, a fim de que ficassem aí à espera de Pistis Sophia e lhe
retirassem o poder por ela ter pensado ir à Altura que está sobre todos eles e, mais ainda, por ter cessado
de desempenhar o seu Mistério lamentando-se continuamente e procurando a Luz que havia visto. E os
Regentes que persistem em manifestar o Mistério, detestaram-na e todos os guardiões que estão nas
portas dos Aeons também a detestaram.
Sucedeu desde então, por mandato do Primeiro Mistério, que o Obstinado, o grande triplo poderoso, que é
um dos triplos poderes, perseguiu Sophia no Décimo Terceiro Aeon, a fim de que olhasse para as Partes
inferiores, para que visse na Região o seu poder de Luz com rostos de leão e muito mais para além dele e
fosse a essa região para que a sua Luz pudesse ser-lhe suprimida.”
“Então ela olhou para baixo e viu a sua luz (a dele) nas Partes inferiores e não soube que era a Luz do
Obstinado, o triplo-poderoso, mas pensou que provinha da Luz que tinha visto desde o princípio na Altura
a qual procedia do véu do Tesouro da Luz. E pensou para si mesma: «Irei a essa Região sem o meu Par e
tomarei a Luz e em seguida moldarei Aeons de Luz, para poder ir à Luz das Luzes, que está no Alto das
Alturas».”
“Pensando desse modo, saiu da sua própria Região, a do Décimo Terceiro Aeon e desceu à dos Doze
Aeons. Os Regentes dos Aeons perseguiram-na e enfureceram-se contra ela, por ter pensado na grandeza.
Ela também abandonou a região dos Doze Aeons e entrou nas regiões do Caos e aproximou-se desse
poder de luz com rosto de leão, que a devoraria.”
“Todas as emanações materiais do Obstinado a rodearam e o Grande Poder de Luz com rosto de leão
devorou todos os Poderes de Luz de Sophia; retirou-lhe a sua Luz e devorou-a e a sua matéria foi lançada
ao Caos, converteu-se em Regente com rosto de leão no Caos, do qual uma parte é fogo e outra parte
obscuridade — isto é Yaldabaoth — de quem vos falei muitas vezes. Quando isto aconteceu, Sophia
sentiu-se exausta e o poder de luz com rosto de leão pôs-se a trabalhar para arrebatar a Sophia todos os
seus Poderes de Luz, ao mesmo tempo que todos os poderes materiais do Obstinado rodearam Sophia,
oprimindo-a na sua dor”
“E Pistis Sophia chorou excessivamente e gritou à Luz das Luzes que tinha visto desde o princípio e na
qual tinha tido Fé e expressou o seu Arrependimento, dizendo assim:
«1 — Oh Luz das Luzes!, em quem, desde o princípio, eu tive Fé; escuta-me agora, oh Luz!, no meu
Arrependimento! Salva-me, oh Luz!, pois entraram em mim maus pensamentos!
2 — Olhei, oh Luz!, para as Partes inferiores; vi ali uma luz e pensei: “Irei a essa região a fim de poder
tomar essa luz”.
E fui e encontrei-me a mim própria na escuridão que está no Caos de baixo e não pude apressar-me a
voltar à minha região porque todas as emanações do Obstinado me prenderam dolorosamente e o poder
rosto de leão tirou-me a minha Luz.
3 — E gritei pedindo ajuda, mas a minha voz não saiu das Trevas. E olhei para as Alturas para que a Luz
na qual eu tive Fé, me ajudasse.
4 — E quando olhei para as Alturas, vi todos os Regentes dos Aeons e como em seus Números olhavam
para baixo e se regozijavam à minha custa, mesmo quando eu não lhes fizera mal, mas eles detestavamme
sem motivo. E quando as emanações do Obstinado viram os Regentes dos Aeons regozijarem -se por
minha causa, souberam que os Regentes dos Aeons não viriam em minha ajuda; assim essas emanações
animaram-se e oprimiram-me dolorosamente, com violência e a luz que eu não tomei delas, tomaram-na
de mim.
5 — Agora e portanto, oh Luz da Verdade! Tu que sabes que eu fiz isto inocente, pensando que o poderluz
com rosto de leão Te pertencia, o pecado que cometi é evidente para Ti.
6 — Não permitas que me falte a minha Luz, oh Senhor! Pois eu, desde o princípio, tive Fé na Tua Luz,
oh Senhor! Oh Senhor dos Poderes! Que eu não sofra mais por falta da minha Luz!
7 — Pois por me teres induzido e por Amor à Tua Luz, caí nesta opressão e vejo-me coberta de vergonha.
8 — E pela ilusão da Tua Luz, converti-me numa estranha para a minha família, os Invisíveis, e para as
Grandes Emanações de Barbelo.
9 — Isto aconteceu-me, oh Luz!, por ter ambicionado a Tua morada e a ira do Obstinado caiu sobre mim;
ele, que não escutou o Teu mandato para emanar a emanação do seu poder porque eu estava no seu Aeon
sem desempenhar o seu mistério.
10 — E todos os Regentes dos Aeons se riram de mim.
11 — E eu estava nessa região, lamentando-me e procurando a Luz que vira nas Alturas.
12 — E os Guardiões das portas dos Aeons procuraram-me e todos os que permaneciam no seu Mistério
se riram de mim.
13 — Mas eu olhei as Alturas, para Ti e tive Fé (em Ti). Agora e portanto, oh Luz das Luzes!, encontrome
dolorosamente oprimida na escuridão do Caos. Se agora Tu desejas salvar-me, — grande é a Tua
Misericórdia —, escuta-me então de verdade e salva-me.
14 — Retira-me da escuridão desta matéria! Que não me submerja nela, que eu seja salva das emanações
do deus Obstinado que me tem oprimida e das suas más acções.
15 — Não permitas que me submerja nestas Trevas e não permitas que o poder rosto de leão devore por
completo todo o meu poder.. e não permitas que este Caos amortalhe o meu poder!
16 — Escuta-me, oh Luz!, pois a Tua Graça é preciosa e olha-me, para baixo, de acordo com a Grande
Misericórdia da Tua Luz!
17— Não me vires o rosto pois estou sumamente atormentada.
18 — Apressa-Te, escuta-me e salva o meu Poder!
19— Salva-me dos Regentes que me detestam, pois Tu sabes da minha dolorosa opressão e do meu
tormento, do tormento do meu Poder que eles me tiraram. Eles, que me colocaram em todo este mal,
estão ante Ti; trata-os segundo o Teu desejo.
20— O meu Poder olhou para diante no meio do Caos e no meio da Escuridão e esperei pelo meu Par, ele
que devia vir e lutar por mim, mas que não veio, o que eu procurei para que viesse e me emprestasse
Poder, mas que não encontrei.
21 — E quando procurei a Luz, eles deram-me Trevas e quando procurei o meu Poder, eles deram-me
matéria...
22 — Agora portanto, oh Luz das Luzes!, que a obscuridade e a matéria que as emanações do Obstinado
me trouxeram cheguem até eles, os observem e que sejam aí apanhados e castigados e que sejam forçados
a tropeçar e a não voltar à região do seu Obstinado.
23— Que permaneçam na escuridão e não vejam a Luz; que olhem o Caos para sempre e não lhes seja
permitido olhar para a Altura.
24 — Caiam sobre eles as suas próprias vinganças e que o Teu Juízo neles permaneça!
25 — Que não venham, daqui em diante, à sua região, ao seu deus Obstinado e que as suas emanações
não venham, daqui em diante, até às suas regiões; pois o seu «deus» é ímpio e obstinado, o qual pensou
que fiz este mal, por si mesmo, sem saber que, se não tivesse sido eu trazida para baixo de acordo com o
Teu Mandato, ele não teria tido qualquer autoridade sobre mim.
26— Porém quando Tu, por Teu próprio Mandato, me trouxeste para baixo, mais eles me perseguiram e
as suas emanações acrescentaram tormento à minha humilhação.
27— E eles tiraram-me o Poder de Luz e caíram sobre mim, oprimindo-me até à dor, a fim de levar toda a
Luz que havia em mim. Por isto em que me colocaram, que não ascendam ao Décimo Terceiro Aeon, a
Região da Justiça.
28 — E que não sejam considerados no lote d’Aqueles que se purificam a si próprios e à Luz e que não
sejam considerados entre Aqueles que rapidamente se arrependerão e rapidamente poderão receber
Mistérios na Luz.
29 — Pois eles tiraram-me a Luz e o meu Poder começou a cessar e fui destituída da minha Luz.
30 — Agora e portanto, oh Luz!, que estás em Ti e em mim, eu canto louvores ao Teu Nome, oh Luz!,
glorfïcando-Te.
31 — Que o meu «Canto» de louvor seja do Teu agrado, oh Luz! Como um Mistério admirável que guia
às portas da Luz, às quais Aqueles que se arrependerão, o pronunciarão e aos quais a Luz purificará.
32 — Agora e portanto, que todas as matérias se regozijem, que toda a Luz Te busque e que o poder das
estrelas que está em Ti, perdure.
33 — Pois a Luz ouviu as matérias e a ninguém deixará sem as haver purificado.
34 — Que as Almas e as matérias, louvem o Senhor de todos os Aeons e que as matérias e tudo o que
nelas há, o louvem.
35 — Pois Deus lhes salvará a Alma de todas as matérias e uma cidade será preparada na Luz e todas as
Almas que se salvem habitarão nessa Cidade e a Herdarão.
36—A Alma d’Aqueles que receberão os Mistérios habitará nessa Região e Aqueles que tenham recebido
Mistérios em seu Nome, morarão nela. »
Sucedeu então, quando Jesus havia dito estas palavras aos Seus discípulos, que também lhes disse: “Esta
é a canção de louvor que Pistis Sophia expressou no seu primeiro Arrependimento, arrependendo-se do
seu pecado, recitando tudo aquilo que lhe ocorreu. Agora, portanto: «O que tenha ouvidos para ouvir que
ouça» “.
Maria novamente se aproximou e disse-Lhe: “Meu Senhor, o meu Espírito de Luz tem ouvidos e eu oiço
com o meu Poder de Luz e o Teu Espírito que está em mim, serenou-me. Escuta pois e que eu possa falar
em relação ao Arrependimento que Pistis Sophia expressou, ao falar do seu pecado e de tudo o que lhe
ocorreu. O Teu Poder de Luz profetizou isto, anteriormente, através do Profeta David, no Salmo
Sexagésimo Oitavo:
«1 — Salva-me oh Deus! Pois as águas chegam até à minha Alma.
2 — Afundo-me ou estou já submersa no lodo do Abismo e impotente. Desci às profundidades do mar,
uma tempestade me submergiu.
3 — Permaneci em choro, a minha garganta emudeceu e os meus olhos entristeceram, esperando
pacientemente por Deus.
4— Aqueles que me odeiam sem motivo são muitos mais que os cabelos da minha cabeça; fortes são os
meus inimigos que violentamente me perseguem. Exigem-me aquilo que deles não tomei.
5 — Deus, Tu conheces a minha insensatez e as minhas faltas não se Te ocultam.
6 — Que os que em Ti esperam, oh Senhor! Senhor dos Poderes!, não se envergonhem por minha causa;
que aqueles que Te procuram não sofram vergonha por minha causa. Oh Senhor, Deus de Israel, Deus
dos Poderes!
7 — Pois por Tua causa suportei a vergonha; a vergonha cobriu o meu rosto.
8 — Converti-me numa estranha para a minha família, uma estranha para os filhos da minha mãe.
9 — Pois o zelo da Tua Casa me consumiu e as injúrias daqueles que Te vilipendiam caíram sobre mim.
10 — Dei forma à minha Alma à pressa e foi-me devolvida, para minha reprovação.
11 — Apliquei-me silícios e converti-me em provérbio para eles.
12 — Os que estão sentados às portas conversaram comigo e os que bebem vinho, cantaram perto de
mim.
13 — Porém, eu orei com a minha Alma a Ti, oh Senhor! O tempo da Tua benevolência chegou, oh Deus!
Na plenitude da Tua Graça, presta ouvidos, verdadeiramente, à minha salvação.
14 — Retira-me deste lodo. Que nele não me afunde. Permite que seja salva daqueles que me odeiam e
das profundidades das águas.
15 — Que não me afunde num fluxo de águas, que não me trague a profundidade, que o poço não feche a
sua boca sobre mim.
16 — Escuta-me, oh Senhor! Pela Tua grande Misericórdia, conforme a abundância da Tua Compaixão
olha para baixo, para mim.
17 — Não vires o Teu Rosto a esta Tua serva, pois estou oprimida.
18 — Escuta-me pressuroso, presta atenção à minha Alma e redime-a.
19— Salva-me dos meus inimigos pois Tu conheces a minha desgraça, a minha vergonha e a minha
desonra; todos os meus opressores estão ante Ti.
20— O meu coração sofreu a desgraça e a miséria e esperei por alguém que se preocupasse comigo,
porém não chegou; esperei pelo que havia de confortar-me, porém não o encontrei.
21 — Por alimento deram-me fel e para a minha sede deram-me vinagre a beber
22 — Sirva a sua mesa de armadilha para eles e de chamariz, recompensa e tropeço.
23 — Que os faças inclinar os seus dorsos a todo o momento.
24 — Derrama a Tua indignação sobre eles, assim como a Tua ira e que o Teu furor os intimide.
25 — Que a sua casa de campo se veja destruída, que não haja moradores nos seus aposentos.
26 — Pois eles perseguiram aquele a quem Tu havias castigado e aumentaram o ardor das suas feridas.
27— Porque acrescentaram iniquidade às suas iniquidades, que não entrem na Tua Justiça.
28 — Que sejam apagados do livro dos viventes e que não sejam inscritos entre os Justos.
29 — Sou uma pobre infeliz que também tem o coração partido. Porém, a salvação do Teu
Rosto foi o que me exaltou.
30 — Louvarei o Nome de Deus na «ode» e exaltá-lo-ei na canção de graças.
31 — Isto agradará mais a Deus que um touro jovem investindo com cornos e unhas.
32 — Que os infelizes vejam isto e se alegrem; que Te procurem, oh Deus! E que as suas
Almas vivam.
33 — Pois Deus ouviu o desventurado e não desprezou os prisioneiros.
34 — Que o Céu e a Terra louvem o Senhor, o mar e tudo que este contém.
35 — Pois Deus salvará Sião e as cidades da Judeia serão construídas e eles habitarão
nelas e as herdarão.
36 — A semente dos Teus servos a possuirá e aqueles que amem o seu Nome morarão
aí.»”
E sucedeu então, quando Maria acabou de dizer estas palavras a Jesus, no meio dos Seus discípulos, que
Lhe disse:
“Meu Senhor, esta é a solução do Mistério do Arrependimento de Pistis Sophia “.
E quando Jesus escutou estas palavras de Maria, disse-lhe:
“Bem o disseste Maria, a bendita, a plenitude ou plenitude bendita, tu a quem haverá de cantar-se como a
bendita em todas as gerações”.
Jesus prosseguiu com o Seu discurso e disse: “Pistis Sophia continuou e continua cantando louvores num
Segundo Arrependimento, expressando-se assim:
1 — Luz de Luzes em quem tive Fé, não me deixes na obscuridade até ao fim dos meus dias.
2 — Ajuda-me e salva-me através dos Teus Mistérios, inclina Teu ouvido para mim e salva-me.
3— Que o poder da Tua Luz me salve e me leve até aos mais altos Aeons, pois Tu me salvarás e guiarás à
altura dos Teus Aeons.
4 — Salva-me, oh Luz!, da mão deste poder rosto de leão e das mãos das emanações do deus Obstinado.
5 — Porque és Tu, oh Luz!, Aquele em cuja Luz tive fé e em cuja Luz confiei desde o princípio.
6 — Eu tive Fé nela desde o momento em que me emanou e naquele em que Tu mesmo fizeste que eu
emanasse e tive Fé na Tua Luz desde o princípio.
7— E quando tive Fé em Ti, os Regentes dos Aeons riram-se de mim, dizendo: «Ela cessou no seu
Mistério». Tu és o meu Salvador e Redentor e Tu és o meu Mistério, oh Luz!
8—A minha boca encheu-se de louvares. Que eu possa falar do Mistério da Tua grandeza a todo o
momento.
9 — Agora e portanto, oh Luz! Não me deixes no Caos até ao término dos meus dias. Não me abandones,
oh Luz!
10 — Pois todas as emanações do Obstinado me retiraram todo o meu Poder-Luz e me derrotaram. Elas
desejam arrebatar toda a minha Luz, por completo e vigiam o meu Poder
11 — Dizem umas às outras: «A Luz abandonou-a. Capturemos e arrebatemos toda a Luz que nela há. »
12 — Portanto, oh Luz! Não me deixes. Vira-Te, oh Luz! E salva-me das mãos dos inmisericordiosos.
13 — Que aqueles que arrebatam o meu Poder, caiam e se tornem impotentes. Que aqueles que
arrebatam o meu Poder -Luz se vejam envolvidos na escuridão e afundados na impotência.
Este é o Segundo Arrependimento que Sophia pronunciou cantando louvores à Luz.”
E quando Jesus acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos, perguntou-lhes: “Compreendeis a
forma como discorro convosco?
Pedro adiantou-se e disse a Jesus: “Meu Senhor, não aguentaremos esta mulher pois retira-nos a
oportunidade e não nos deixa falar, a nenhum de nós, já que discorre muitas vezes.
E Jesus, respondendo, disse aos Seus discípulos: “Deixai que aquele em quem se agitar o Poder do seu
Espírito se adiante e fale, para que compreenda o que digo; mas agora, Pedro, vejo que o teu Poder
compreendeu a solução do Mistério do Arrependimento que Pistis Sophia pronunciou. Portanto, Pedro,
expressa agora a idéia do seu Arrependimento no meio dos teus irmãos.”
E Pedro respondeu dizendo a Jesus: “Oh Senhor! Escuta, pois poderia explicar a idéia do seu
Arrependimento, a qual anteriormente o Teu Poder profetizou através do Profeta David que expressou
este Arrependimento no Septuagésimo Salmo:
1 — Oh Deus! Meu Deus, em Ti confiei! Não permitas que seja posto em desgraça para sempre.
2— Salva-me na Tua Virtude e livra-me; inclina o Teu ouvido para mim e salva-me.
3 — Sê para mim um Deus forte e um firme lugar onde me refugiar, pois Tu és a minha força e o meu
refúgio.
4 — Meu Deus, salva-me da mão do pecador e da mão do transgressor e do ímpio (Uno).
5— Pois Tu és a minha resistência, oh Senhor! Tu és a minha esperança desde a juventude.
6 — Eu próprio confiei em Ti desde o ventre da minha mãe. Tu me retiraste do seu ventre. A minha
recordação és sempre Tu.
7 — Cheguei a ser um louco para muitos, Tu és a minha ajuda e a minha força, Tu és o meu redentor, oh
Senhor!
8 — A minha boca está cheia de louvares. Que eu possa louvar a glória do Teu esplendor durante todo o
dia.
9 — Não me expulses de Ti nos dias da velhice; se a minha Alma desanima, não me abandones.
10— Pois os meus inimigos falam com maldade contra mim e aqueles que esperam pela minha Alma
aconselham-se contra ela.
11 — Dizem entre eles: Deus abandonou-o, persigamo-lo e apoderemo-nos dele, pois não há quem o
salve.
12 — Deus, apressa-Te a ajudar-me.
13 — Que aqueles que caluniam a minha Alma, sofram a vergonha e sejam destruídos. Que a vergonha e
a desgraça envolvam os que procuram o meu mal.
Esta é, pois, a solução do Segundo Arrependimento que Pistís Sophia expressou.
O Salvador respondeu a Pedro dizendo-lhe: “Muito bem Pedro! Esta é a solução do seu Arrependimento.
Bendito sejas ante todos os homens na Terra porque Eu te revelei estes Mistérios. Amén, Amén te digo:
aperfeiçoar-te-ei em toda a plenitude desde os mistérios do interior até aos mistérios do exterior e encherte-
ei com o Espírito, de modo que serás chamado «Espiritual, Aperfeiçoado em toda a plenitude». E
Amén, Amén te digo: dar-te-ei todos os Mistérios de todas as regiões do meu Pai e de todas as regiões do
Primeiro Mistério de forma que aquele a quem admitas na Terra, admitido será na Luz da Altura e aquele
a quem expulses na Terra, expulso será do Reino do meu Pai no Céu. Porém escuta, ouve atentamente
todos os Arrependimentos que Pistis Sophia expressou. “Ela continuou e expressou o Terceiro
Arrependimento, dizendo:
«1 — Oh Luz de Poderes! Atende-me e salva-me.
2 — Que aqueles que arrebatam a minha Luz careçam dela e permaneçam na escuridão. Que aqueles que
arrebatam o meu Poder retornem ao Caos e sejam postos em vergonha.
3 — Que retornem rapidamente à escuridão aqueles que me lastimam e dizem: “Agora somos os seus
amos “.
4 — Pelo contrário, que aqueles que procuram a Luz se regozijem e alvorocem e que aqueles que desejam
o Mistério digam sempre: “Que o Mistério seja exaltado “.
5 — Salva-me pois agora, oh Luz! Pois careço da minha Luz, a qual eles me arrebataram. Necessito do
meu Poder, que eles me retiraram. Assim pois, oh Luz! Tu és o meu Salvador e Tu és o meu Redentor. Oh
Luz! Retira-me prontamente deste Caos. »
E sucedeu então, quando Jesus acabou de dizer estas palavras, que falou assim aos Seus discípulos: “Este
é o Terceiro Arrependimento de Pistis Sophia.” E disse-lhes: “Permiti que aquele em quem surgiu o
Espírito sensitivo se adiante e fale sobre a idéia do Arrependimento que Pistis Sophia expressou
E ocorreu então, antes que Jesus acabasse de falar, que Martha se adiantou e caiu aos seus pés, beijou-os,
chorou em voz alta e expressou as suas lamentações e a sua humildade, dizendo: “Meu Senhor, tem
piedade, tem compaixão de mim e permite-me dizer da solução do Arrependimento que Pistis Sophia
expressou”.
E Jesus deu a mão a Martha e disse: “Bendito todo aquele que se humilha porque eles terão misericórdia
dele. Agora e portanto, Martha, és bendita, mas proclama já a solução da idéia do Arrependimento de
Pistis Sophia “.
E Martha respondeu a Jesus dizendo, no meio dos Seus discípulos: “Quanto ao Arrependimento que Pistis
Sophia expressou, oh meu Senhor Jesus, dele o teu Poder-Luz profetizou anteriormente, através de David,
no Salmo Sexagésimo Nono, dizendo:
1 — Oh Senhor Deus! Apressa-Te a ajudar-me.
2 — Permite que sejam confundidos e envergonhados os que perseguem a minha Alma.
3 — Que se retirem cheios de confusão e plenos de vergonha aqueles que se riem de mim.
4— Regozijem-se e alegrem-se todos aqueles que Te buscam e os que amam a Tua salvação, digam
sempre: «Glorificado seja Deus. »
5— Mas eu sou miserável e pobre, oh Senhor! Ajuda-me. Tu és o meu protector e a minha defesa, oh
Senhor! Não te demores.
Esta é a solução do Terceiro Arrependimento que Pistis Sophia expressara cantando louvares à Altura.”
Ocorreu então, quando Jesus ouviu Martha dizer estas palavras, que lhe disse: “Muito bem o disseste
Martha.”
E Jesus prosseguiu o Seu discurso e disse aos Seus discípulos: “Pistis Sophia continuou de novo, no
Quarto Arrependimento, recitando-o antes de se ter visto oprimida pela segunda vez, para que o poder
rosto de leão e com ele todas as emanações materiais que o Obstinado havia enviado ao Caos, não
arrebatassem toda a Luz que nela havia. E expressou pois o seu Arrependimento como se segue:
«1 — Oh Luz em quem confiei! Presta ouvidos ao meu Arrependimento e deixa que a minha voz chegue
à Tua morada.
2 — Não retires de mim a Tua Imagem-Luz, mas atende-me se eles me oprimem e salva-me prontamente
no momento em que Te chame.
3 — Pois os meus dias se desvanecem como um suspiro e converto-me em matéria.
4 — Eles retiraram-me a minha Luz e o meu Poder extinguiu-se. Esqueci o meu Mistério que já não
consumarei.
5 — Devido à voz do medo e ao poder do Obstinado, o meu Poder desvaneceu-se.
6 — Tornei-me num demónio à parte que mora na matéria e que carece de Luz e tornei-me num falso
espírito que está num corpo material e que carece de Luz e Poder
7 — Tornei-me num decano solitário no ar
8— As emanações do Obstinado oprimiram-me e o meu Par disse a si mesmo:
9 — Em vez da Luz que havia nela, eles encheram-na de Caos. Devorei o aprazível da minha própria
matéria e a angústia das lágrimas da matéria nos meus olhos, para que aqueles que me oprimem não
possam tirar-me o restante.
10 — Tudo isto caiu sobre mim por Teu mandato, oh Luz! E é por Tua ordem que eu estou aqui.
11 — O Teu mandato trouxe-me até baixo e estou na descida como um poder do Caos e o meu Poder está
paralisado em mim.
12 — Porém Tu, oh Senhor! És Luz Eterna e visitas aqueles que estão oprimidos para sempre.
13 — Agora e portanto, oh Luz! Surge e busca o meu Poder e a Alma que está em mim. A Tua ordem está
cumprida e o que Tu decretaste para mim nas minhas aflições. O meu momento chegou, aquele no qual
Tu terias de procurar o meu Poder e a minha Alma. Este é o momento decretado por Ti para buscar-me.
14 — Pois os Teus redentores buscaram o Poder que está na minha Alma, porque o número está completo
e também para que a sua matéria seja salva.
15 — E então, nesse momento, todos os Regentes dos Aeons materiais sentirão o temor da Tua Luz e
todas as emanações do Décimo Terceiro Aeon material sentirão o temor do Mistério da Tua Luz de modo
que os outros possam lograr a purificação da sua luz.
16— Pois o Senhor buscará o poder da tua Alma. Ele revelou o Seu Mistério.
17 — Para que possa observar o Arrependimento daqueles que estão nas regiões inferiores. Ele não
ignorou o seu Arrependimento.
18— Este é, pois, esse Mistério que chegou a ser modelo da raça que haverá de nascer. E essa raça
cantará louvares à Altura.
19 — Pois a Luz olhou para baixo da Altura da Sua Luz. Olhará para baixo para a matéria total.
20 — Para ouvir a lamentação daqueles que estão agrilhoados, para libertar o poder das Almas, o qual
está atado.
21 — De modo que possa pôr o Seu Nome na Alma e o Seu Mistério no Poder»”
Sucedeu então, enquanto Jesus pronunciava estas palavras, que lhes disse: “Este é o Quarto
Arrependimento que Pistis Sophia expressara; agora, portanto, deixai que aquele que entendeu entenda “.
E ocorreu então, ao dizer Jesus estas palavras, que João se adiantou, adorou o peito de Jesus e Lhe disse:
“Meu Senhor, ordena-me e permite-me dizer a solução do Quarto Arrependimento que Pistis Sophia expressou
“.
Jesus disse a João: “Dou-te a ordem e permito-te que digas a solução do Arrependimento que Pistis
Sophia expressou ‘.
E João respondeu dizendo: “Meu Senhor e Salvador, quanto a este Arrependimento que Pistis Sophia
expressou, o Teu Poder-Luz, que esteve em David, profetizou-o, anteriormente, no Salmo Centésimo
Primeiro:
1 — Senhor, ouve a minha súplica e permite que a minha voz chegue a Ti.
2 — Não desvies o Teu rosto de mim; inclina o Teu ouvido para mim no dia em que esteja oprimido;
ouve-me com prontidão no dia em que clame por Ti.
3 — Pois os meus dias desvanecem-se como fumo e os meus ossos estão secos como a pedra.
4 — Estou esgotado como o pasto e meu coração está seco pois esqueci-me de comer o meu pão.
5 — Da voz dos meus lamentos, os meus ossos rasgam-me a carne.
6 — Sou agora como um pelicano no deserto. Converti-me num «mocho de casa».
7 — Passei a noite em vigília; converti-me num «gorrião» solitário no telhado.
8 — Os meus inimigos vilipendiaram-me durante todo o dia e aqueles que me honravam injuriaram-me.
9— Pois comi cinzas em vez do meu pão e misturei a minha bebida com lágrimas.
10 — Devido à Tua ira e indignação. Pois Tu me levantaste e derrubaste.
11 — Os meus dias declinaram como uma sombra e estou esgotado como o pasto.
12 — Porém Tu, oh Senhor! Perduras para sempre, assim como a Tua lembrança na geração de todas as
gerações.
13 — Aparece e tem piedade de Sião, pois chegou o dia de se ter piedade dela. O preciso momento
chegou.
14 — Os Teus servos suspiraram pelas suas pedras e terão piedade do seu solo.
15 — E as Nações temerão o Nome do Senhor e os Reis da Terra temerão a Tua Soberania.
16— Pois o Senhor construirá Sião e revelar-se-á a Si próprio na Sua Soberania.
17 — Ele tomou em conta a oração do humilde e não desprezou as suas súplicas.
18 — Isto será registado para outra geração, e o povo que será criado louvará o Senhor.
19 — Porque Ele olhou para baixo, da Sua Santa Altitude. O Senhor olhou para baixo, do Céu sobre a
Terra.
20— Para escutar os lamentos dos acorrentados, para libertar os filhos daqueles que estão mortos.
21 — Para proclamar o Nome do Senhor em Sião e a sua glorificação em Jerusalém.
Isto, Senhor, é a solução do Mistério do Arrependimento que Pistis Sophia expressou.
E sucedeu então, quando João acabou de dizer estas palavras a Jesus, no meio dos discípulos, que Jesus
lhe respondeu:
“Bem dito João, o Puro, que reinarás no Reino da Luz “.
Jesus continuou o Seu discurso dizendo aos Seus discípulos:
“Ocorreu de novo que as emanações do Obstinado voltaram a oprimir Pistis Sophia no Caos, desejando
arrebatar-lhe toda a sua Luz; ainda não se tinha cumprido o mandato para retirá-la do Caos e ainda não se
tinha ordenado, através do Primeiro Mistério, salvá-la do Caos. Assim pois, quando todas as emanações
materiais do Obstinado a oprimiam, Ela clamou e expressou o seu Quinto Arrependimento dizendo:
1 — Luz de minha salvação, canto-Te o meu louvor na Região das Alturas e também no Caos.
2 — Canto a Ti o meu louvor com o hino que cantei nas Alturas e com ele Te louvei quando estive no
Caos. Permite-me chegar à Tua presença e ouve, oh Luz!, o meu
Arrependimento.
3 — Pois o meu Poder está cheio de obscuridade e a minha Luz esfumou-se no Caos.
4 — Cheguei a ser como os Regentes do Caos que entraram nas trevas que há em baixo. Tornei-me num
corpo material que não tem ninguém na Altura que o salve.
5 — Sou também como as matérias a quem o poder foi arrebatado e são arrojadas ao Caos, matérias, a
quem Tu não salvaste e que estão absolutamente condenadas por Teu mandato.
6 — Agora e portanto, puseram-me nas trevas de baixo, na obscuridade e entre matérias que estão mortas
e carecem de poder
7— Tu efectuaste o Teu mandato em mim e todas as coisas que decretaste.
8 — E o Teu Espírito afastou-se, abandonando-me. E mais ainda, por Teu mandato, as emanações do meu
Aeon não me ajudaram, detestaram-me e separaram-se de mim e, ainda assim, não estou totalmente
destruída.
9— E diminuiu em mim a minha Luz e clamei pela Luz com a Luz que ainda há em mim e elevei as mãos
para Ti.
10 — Agora e portanto, oh Luz! Não cumprirás o Teu mandato no Caos e os mensageiros que vêm de
acordo com as Tuas ordens não se elevarão na obscuridade e virão e serão Teus discípulos?
11 — Não gritarão o Mistério do Teu Nome no Caos?
12— Ou não pronunciarão talvez o Teu Nome numa matéria do Caos na qual Tu (Tu mesmo) não Te
purificarás?
13 — Mas Eu cantei-Te louvores, oh Luz! E o meu Arrependimento chegará a Ti na Altura.
14 — Deixa que a Luz venha até mim.
15 — Pois eles arrebataram a minha Luz e estou em tribulação por causa da Luz, desde o momento em
que fui emanada. E quando olhei a Luz na Altura e vi, em baixo, o poder da Luz no Caos, levantei-me e
caí.
16 — O Teu mandato veio sobre mim e os terrores que decretaste para mim levaram-me ao engano.
17 — E rodeando-me em grande quantidade, semelhante a água, mantiveram-se junto de mim o tempo
todo.
18— E por Teu mandato, não fizeste as emanações dos meus companheiros ajudarem-me, nem o meu Par
salvar-me das minhas aflições.
Este é pois, o Quinto Arrependimento que Pistis Sophia expressou no Caos, quando todas as emanações
materiais do Obstinado continuavam a oprimi-la.”
Quando Jesus disse estas palavras aos Seus discípulos, prosseguiu: “Quem tenha ouvidos para ouvir, que
oiça e aquele em quem o Espírito arde que se aproxime e diga a solução da idéia do Quinto
Arrependimento de Pistis Sophia”.
E quando Jesus acabou de dizer estas palavras, Filipe adiantou-se, levantou e poisou o livro que levava
nas mãos — pois é o Escriba de todos os discursos e actos praticados por Jesus, aproximou-se e disse:
“Meu Senhor, seguramente não foi só a mim que encarregaste de ocupar-se do Mundo e de escrever todos
os discursos que pronunciaremos e o que faremos todos nós e, todavia, Tu não me fizeste vir aqui para
dizer a solução dos Mistérios do Arrependimento de Pistis Sophia mas, constantemente, o meu Espírito
me abrasa constrangendo-me a adiantar-me aqui e dizer a solução do Arrependimento de Pistis Sophia
mas não tenho podido fazê-lo porque sou o Escriba de todos os discursos.
E sucedeu então, quando Jesus escutou Filipe, que lhe disse: “Escuta Filipe, bendito, com quem falo: és
tu, Tomé e Mateus a quem o Primeiro Mistério manda escrever todos os discursos que Eu direi e tudo o
que farei e todas as coisas que vereis. Mas, quanto a ti, o número de discursos que escreveste não está
ainda completo. Quando estiver, virás e proclamarás o que te agrade. Agora e portanto, vós os três tereis
de escrever todos os discursos que direi (todas as coisas que farei) e que vereis, a fim de que possais ser
testemunhas de todas as coisas do Reino dos Céus “.
Quando Jesus concluiu, disse aos Seus discípulos: “O que tenha ouvidos para ouvir que oiça “. Maria de
novo se adiantou e dando uns passos para o centro onde estavam reunidos colocou-se junto de Filipe e
disse a Jesus: “Meu Senhor, a Luz que está em mim tem ouvidos e eu estou pronta a escutar o meu Poder
porque compreendi a palavra que pronunciaste. Agora pois, meu Senhor, escuta o meu sincero discurso,
Tu que nos disseste: «O que tenha ouvidos para ouvir que oiça».
Como disseste a Filipe: «És tu, Tomé e Mateus a quem o Primeiro Mistério manda escrever todos os
discursos do Reino da Luz e ser testemunhas», escuta então e que eu proclame a solução dessas palavras.
São as que o Teu poder de Luz profetizou anteriormente, através de Moisés: «Todo o assunto estabelecerse-
á mediante Três Testemunhas».
As Três Testemunhas são Filipe, Tomé e Mateus.”
E ocorreu então que Jesus, ao escutar estas palavras, disse: “Bem falaste, Maria. Esta é a solução das
palavras. Agora e portanto, vem tu Filipe e proclama a solução do Quinto Arrependimento de Pistis
Sophia; depois tomarás assento e escreverás os discursos que Eu pronunciarei até que o correspondente
número de palavras que terás de escrever sobre o Reino da Luz esteja completo. Depois virás e
proclamarás o que o teu Espírito entenda. Mas agora proclama a solução do Quinto Arrependimento de
Pistis Sophia.
E Filipe respondeu a Jesus dizendo: “Meu Senhor, escuta a minha solução do seu Arrependimento. O Teu
Poder profetizou anteriormente, em relação a ele, através de David no seu Salmo Octogésimo Sétimo,
dizendo:
1 — Senhor, Deus da minha salvação, dia e noite Te chamei.
2 — Deixa-me chorar ante Ti; presta ouvidos à minha súplica, oh Senhor!
3 — Pois a minha Alma está cheia de maldade e fui arrastado para o mundo inferior
4 — Encontro-me entre aqueles que baixaram à fossa; sou como um homem que não tem quem o ajude.
5 — Os livres entre os mortos são como os assassinados que são arrojados para longe e dormem nas
tumbas, a quem Tu não recordas mais e são destruídos por meio das Tuas mãos.
6 — Puseram-me numa fossa inferior, na obscuridade e nas sombras da morte.
7 — A Tua ira apagou-se e os Teus cuidados chegaram até mim. (Selah).
8 — Tu afastaste de mim os meus amigos e eles tornaram-me abominável aos seus olhos. Abandonaramme
e eu nao posso sair daqui.
9—A minha vista obscureceu-se na minha miséria; chamei-Te, oh Senhor!, todo o dia e levantei para Ti
os meus braços.
10— Acaso não farás maravilhas com os mortos? Acaso os médicos não se levantam e Te confessam?
11 — Acaso não proclamarão o Teu Nome nas tumbas?
12 — E a Tua Virtude numa terra que esqueceste?
13 — Mas eu chamei-Te, oh Senhor! E a minha oração alcançar-Te-á pela manhã.
14 — Não retires de mim o Teu olhar.
15 — Pois sou miserável e sofro desde a minha juventude. E quando me exalto a mim mesmo, humilhome
e levanto-me.
16 — Os Teus desgostos chegaram a mim e os Teus terrores levaram-me ao engano.
17— Rodearam-me como a água. Tornaram-me prisioneiro durante todo o dia.
18—Afastaste de mim os meus companheiros e as minhas amizades da minha miséria.
Esta é, pois, a solução relativa ao Mistério do Quinto Arrependimento que Pistis Sophia pronunciou
quando esteve oprimida no Caos.”
E então, ao ouvir, Jesus, as palavras de Filipe, disse: “Bem falaste Filipe, Bem-Amado. Agora e portanto,
vem, senta-te e escreve a tua parte dos discursos que Eu pronunciarei, de todas as coisas que farei e de
tudo o que vejas”. Seguidamente, Filipe sentou-se e escreveu.
Depois, Jesus continuou o Seu discurso e disse aos Seus discípulos: “Então Pistis Sophia chamou a Luz, a
qual perdoou o seu pecado de abandonar a sua Região e descer à obscuridade. E ela proferiu o seu Sexto
Arrependimento, dizendo:
1 — Cantei-Te Louvores, oh Luz! Na obscuridade que em baixo há.
2 — Escuta o meu Arrependimento e que a Tua Luz atenda a minha súplica.
3 — Oh Luz! Se pensas no meu pecado não serei capaz de estar frente a Ti e Tu me abandonarás.
4 — Porém Tu, oh Luz! És o meu Salvador, pois pela Luz do Teu Nome tive Fé em Ti, oh Luz!
5 — E o meu Poder teve Fé no Teu Mistério. E ainda mais, o meu Poder confiou na Luz quando se
encontrava entre aqueles das Alturas e confiou n ‘Ela quando se encontrava no Caos de baixo.
6— Deixa que todos os poderes que há em mim confiem na Luz, agora, quando estou na obscuridade de
baixo e que possam confiar de novo na Luz se chegam à Região da Altura.
7— Porque Ela (a Luz) é quem teve compaixão de nós e nos guiou. Um grande Mistério de salvação há n
‘Ela.
8— E Ela levará todos os poderes para fora do Caos devido à minha transgressão, pois deixei a minha
Região e vim para baixo, ao Caos.
Agora e portanto, permita-se compreender àquele cuja mente seja exaltada.”
E sucedeu então que Jesus, ao terminar estas palavras, disse aos Seus discípulos: “Compreendeis a forma
em que discorro convosco?” André aproximou-se e disse: “Meu Senhor, em relação com a solução do
Sexto Arrependimento de Pistis Sophia, Teu Poder de Luz profetizou, anteriormente, através de David, no
Salmo Centésimo Vigésimo Nono, dizendo:
1 — Desde o mais profundo, clamei por Ti, oh Senhor!
2 — Escuta a minha voz; deixa que os Teus ouvidos estejam atentos à voz da minha súplica.
3 — Se conservas a lembrança das minhas iniquidades, oh Senhor! Quem será capaz de passar a Prova?
4 — Pois o perdão está nas Tuas mãos e por Teu Nome esperei por Ti, oh Senhor!
5 — A minha Alma esperou a Tua palavra.
6 — A minha Alma esperou no Senhor, desde a manhã até à noite. Deixa que Israel espere no Senhor
desde a manhã até à noite.
7- Porque a Graça está junto do Senhor e com Ele é grande a Redenção.
8 — Ele salvará Israel de todas as suas iniquidades.”
E Jesus disse: “Bem falaste, André bendito. Esta é a solução do seu Arrependimento. Amén, Amén te
digo, aperfeiçoar-te-ei nos Mistérios da Luz e em todos os Conhecimentos, desde os Interiores dos
interiores até aos Exteriores dos exteriores, desde o Inefável para baixo até às trevas das trevas, desde a
Luz das Luzes até à ... da matéria, desde todos os deuses até aos demónios, desde todos os senhores até
aos decanos, desde todas as autoridades até aos servidores, desde a Criação do Homem até às bestas
selvagens, do gado e dos répteis, a fim de que sejas chamado «Perfeito», aperfeiçoado em toda a
plenitude. Amén, Amén te digo: na Região em que estarei no Reino de Meu Pai, também estarás comigo.
E quando o Número Perfeito estiver completo, quando a mescla estiver dissolvida dar-te-ei ordem para
que tragas todos os deuses tiranos que não entregaram a purificação da sua luz e ordenarei ao Sábio Fogo,
sobre o qual passa o «Perfeito», para devorar esses tiranos até que entreguem a última purificação da sua
luz.”
E quando Jesus acabou de proferir estas palavras, disse aos Seus discípulos: “Compreendeis a maneira
como falo convosco?”
E Maria disse: “Sim meu Senhor, compreendo o que mencionaste. Relativamente às Tuas palavras,
disseste: Com a inteira dissolução da Mescla tomarás o Teu assento numa Luz-Poder e os Teus discípulos,
ou seja todos nós, sentar-nos-emos à Tua direita e julgarás os deuses tiranos que não renunciaram à
purificação da sua luz e o Sábio Fogo consumi-los-á até que renunciem à última luz que possuem; sobre
isto, a Tua Luz-Poder profetizou, anteriormente, através de David, no seu Salmo Octogésimo Primeiro,
dizendo: «Deus sentar-se-á na Assembléia (Sinagoga) dos Deuses e julgá-los-á».”
E Jesus disse: “Bem falaste, Maria”.
E Jesus continuou o Seu discurso dizendo aos Seus discípulos: “Sucedeu, quando Pistis Sophia expressou
o seu Sexto Arrependimento para o perdão da sua transgressão, que de novo se virou para a Altura afim
de saber se os seus pecados lhe haviam sido perdoados e se seria conduzida para fora do Caos. Porém, por
mandato do Primeiro Mistério, não foi, todavia, escutada deforma a que o seu pecado lhe fosse perdoado
e fosse conduzida para fora do Caos. Ao voltar-se para a Luz de modo a verificar se o seu
Arrependimento era aceite, viu todos os Regentes dos Doze Aeons rindo-se dela e regozijando-se por não
ter sido aceite o seu Arrependimento. Ao ver que se riam dela, ficou tão dorida que clamou à Altura, num
Sétimo Arrependimento, dizendo:
«1 — Oh Luz! Elevei o meu Poder para Ti, a minha Luz.
2 — Em Ti tive Fé. Não permitas que se riam de mim, não deixes que os Regentes dos Doze Aeons, que
me odeiam, se regozijem por minha causa.
3 — Pois todo aquele que tenha Fé em Ti não será envergonhado. Que os que arrebataram o meu Poder
permaneçam nas trevas e que disso não obtenham proveito, mas que este lhes seja retirado.
4 — Oh Luz! Mostra-me os Teus modos e neles serei salva; mostra-me os Teus caminhos pelos quais
serei retirada deste Caos.
5 — E guia-me na Tua Luz e deixa-me saber, oh Luz!, que Tu és o meu Salvador. Em Ti confio todo o
tempo.
6— Apressa-Te a salvar-me, oh Luz! Que a Tua Graça perdure para sempre.
7— Quanto à transgressão que cometi desde o princípio, na minha ignorância, não a leves em conta, oh
Luz!, mas salva-me através do Teu grande Mistério do Perdão dos pecados devido à Tua Bondade, oh
Luz!
8 — Pois boa e sincera é a Luz e por Ela me será dada a forma de ser salva da minha transgressão.
9 — E quanto aos meus Poderes que foram diminuídos por medo das emanações materiais do Obstinado,
retirá-los-á pouco depois do Teu mandato e mostrará em mim esses Poderes que foram diminuídos devido
ao ímpio, no seu conhecimento.
10 — Pois todos os Conhecimentos da Luz são meios de Salvação e Mistérios para todo aquele que busca
as Regiões da sua Herança e dos seus Mistérios.
11 — Pelo Mistério do Teu Nome, oh Luz! Perdoa a minha transgressão que é grande.
12 — A todo aquele que confie na Luz, Ela dará o Mistério adequado.
13 — E a sua Alma habitará nas regiões da Luz e Herdará seu Poder, o Tesouro da Luz.
14— A Luz dá Força a todos os que têm Fé n ‘Ela e o Nome do Seu Mistério pertence aos que n ‘Ela
confiam. E Esta mostrar-lhes-á a Região da Herança que está no Tesouro da Luz.


15 — Mas eu sempre tive Fé na Luz, pois Ela libertará os meus pés das ataduras das trevas.
16— Atende-me, oh Luz! E salva-me pois no Caos me foi retirado o meu Nome.
17— Devido a todas as emanações, as minhas aflições e a minha possessão foram multiplicadas
excessivamente. Salva-me do meu pecado e desta obscuridade.
18 — Vê o meu pesar e a minha angústia e perdoa o meu pecado.
19— Vigia os Regentes dos Doze Aeons que, por ciúmes, me detestam.
20 — Cuida do meu Poder, salva-me e não me deixes permanecer nas trevas, pois tive Fé em Ti.
21 — Eles riram-se do meu Poder por ter tido Fé em Ti, oh Luz!
22 — Agora e portanto, oh Luz! Salva os meus Poderes das emanações do Obstinado, por cuja culpa
estou angustiada. »
Agora pois, o sensato que o seja.”
Quando Jesus disse isto aos Seus discípulos, Tomé aproximou-se d’Ele e disse: “Meu Senhor eu sou
sensato, completamente sensato e o meu Espírito está pronto. Regozija-
-me, em extremo, o que nos revelaste. Certamente até agora tenho sido paciente com os meus irmãos,
para não Te irritar deixei que viessem até Ti e dessem a sua solução a cada Arrependimento de Pistis
Sophia. Agora e portanto, meu Senhor, eu direi que, no tocante à solução do Sexto Arrependimento de
Pistis Sophia, a Tua Luz-Poder profetizou já, através do profeta David, no seu Salmo Vigésimo Quarto,
tal como se segue:
«1 — Oh Senhor! Para Ti elevei minha Alma, oh Deus!
2 — Abandonei-me a Ti. Não permitas que seja posto em vergonha e que os meus inimigos se riam de
mim.
3 — Pois todo aquele que em Ti espera não será exposto à ignomínia. Deixa que sejam postos em
vergonha aqueles que cometem injustiças sem causa alguma.
4 — Oh Senhor! Mostra-me as Tuas rotas e ensina-me os Teus caminhos.
5 — Conduz-me pelo Caminho da Tua Verdade e ensina-me, pois és o meu Deus e o meu Salvador e em
Ti esperarei todo dia.
6 — Recorda o Teu perdão, oh Senhor! E os favores da Tua Graça, pois vêm da Eternidade.
7 — Mas não recordes os pecados da minha juventude e os da minha ignorância. Recorda-me segundo a
plenitude da Tua Misericórdia devido à Tua Bondade, oh Senhor!
8 — O Senhor é Bondoso e Sincero e por isso ensinará, aos pecadores, o Caminho.
9 — Ele guiará os mansos de coração no Juízo e ensinará, aos bondosos, o Caminho.
10 — Todos os aminhos do Senhor são Graça e Verdade para aqueles que buscam a sua Virtude e os seus
Testemunhos.
11—Pela Misericórdia do Teu Nome, oh Senhor! Perdoa o meu pecado pois é extremamente grande.
12 — Quem teme o Senhor? Ele restabelecerá as Leis de acordo com a sua Vontade.
13 — A sua Alma permanecerá no bem e a sua semente herdará a Terra.
14 — O Senhor é a Força de quem O teme e o Seu Nome a estes pertence para dar-lhes a conhecer a Sua
Vontade.
15 — Os meus olhos elevam-se sempre para o Senhor, pois Ele retirará os meus pés da armadilha.
16 — Olha-me e dá-me a Tua Graça pois sou um pária, um miserável.
17 — As aflições do meu coração aumentaram. Retira-me das minhas misérias.
18 — Vê a minha humilhação e a minha miséria e perdoa todos os meus pecados.
19— Olha para os meus inimigos, como aumentaram e como me odeiam, com ódio injusto.
20 — Preserva a minha Alma e salva-me. Não deixes que seja posto em vergonha pois em Ti esperei.
21 — O simples e verdadeiro em mim estão reunidos e em Ti esperei, oh Senhor!
22 — Oh Deus! Conduz Israel para longe de todas as suas aflições.
Quando Jesus escutou as palavras de Tomé, disse-lhe: “Bem e sagazmente falaste Tomé. Esta é a solução
do Sétimo Arrependimento de Pistis Sophia. Amén, Amén te digo, todas as gerações do Mundo te
louvarão na Terra pois te revelei isto que recebeste do Meu Espírito e te tornaste compreensivo, espiritual
e entendes o que digo. Daqui para diante, encher-te-ei plenamente da Luz e do Poder do Espírito para que
desde agora possas compreender tudo aquilo que te será dito e que terás de ver Dentro em pouco falar-teei
da Altura, fora do interior e dentro do exterior”.
Jesus prosseguiu o Seu discurso, dizendo aos Seus discípulos:
“Sucedeu então, quando Pistís Sophia expressou no Caos o seu Sétimo Arrependimento, que o Mandato
através do Primeiro Mistério ainda não tinha chegado para salvá-la e conduzi-la para fora do Caos.
Contudo, Eu, sentindo compaixão, conduzi-a sem mandato algum a uma espaçosa região do Caos. E
quando as emanações materiais do Obstinado viram que ela tinha sido levada a essa região, deixaram de
afligi-la com tanta intensidade pois pensaram que também seria levada para fora do Caos. Enquanto isto
sucedia, Pistis Sophia ignorava quem a havia ajudado; não me reconhecendo absolutamente, continuou e
persistiu cantando louvores à Luz do Tesouro que tinha visto e na qual havia tido Fé. Pensou que era Ela
(a Luz) quem a tinha ajudado; essa Luz, a quem cantava os seus louvores acreditando que era realmente a
Luz. Mas como verdadeiramente ela tinha tido Fé na Luz que realmente pertencia ao Tesouro, seria
levada para fora do Caos e o seu Arrependimento ser-lhe-ía aceite. Não obstante, o Mandato do Primeiro
Mistério não se tinha ainda realizado, para que o seu Arrependimento fosse aceite.
Escutai agora, que hei-de contar-vos todas as coisas que aconteceram a Pistis Sophia.”
“Sucedeu então, quando a conduzi a uma região do Caos relativamente espaçosa, que as emanações do
Obstinado cessaram por completo de a oprimir, acreditando que havia de ser conduzida completamente
para fora do Caos. E ocorreu que, quando as emanações do Obstinado se deram conta que Pistis Sophia
não tinha sido levada para fora do Caos, voltaram todas a oprimi-la violentamente. Foi por isso que ela
expressou o seu Oitavo Arrependimento porque não cessavam de afligi-la, oprimindo-a ao máximo. E
então expressou o seu Arrependimento, dizendo:
1 — Em Ti, oh Luz! Confiei. Não me deixes no Caos, guia-me e salva-me de acordo com a Tua Gnose.
2 — Atende-me e salva-me. Sê o meu Salvador, oh Luz! Salva-me e conduz-me até à Tua Luz.
3 — Pois Tu és o meu Salvador e me levarás até Ti. Pelo Mistério do Teu Nome guia-me e dá-me o Teu
Mistério.
4— Tu me salvarás deste poder rosto de leão que eles puseram como cilada para mim, pois Tu és o meu
Salvador.
5— E nas Tuas mãos colocarei a purificação da minha Luz. Tu me salvaste, oh Luz! De acordo com a Tua
Gnose.
6 — Tu me tornaste iracunda com aqueles que me vigiam e não serão capazes de me reter por completo
pois tive Fé na minha Luz.
7 — Regozijar-me-ei e cantar-Te-ei louvores pela compaixão que tens tido e por me haveres escutado e
salvo da angústia em que me encontrava. E Tu porás o meu Poder fora e livre do Caos.
8 — Não me deixaste nas mãos do poder rosto de leão mas guiaste-me a uma região que não está
atribulada.”
Quando Jesus terminou, disse aos Seus discípulos: “Sucedeu então que, quando o poder rosto de leão viu
que Pistis Sophia não tinha sido guiada para fora do Caos, voltou com todas as outras emanações
materiais do Obstinado e, todas elas, oprimiram novamente Pistis Sophia. E ocorreu então que, ao sentirse
oprimida, gritou no seu próprio Arrependimento:
«9 — Tem piedade de mim, oh Luz! Pois oprimem-me novamente. Devido ao Teu Mandato, a Luz em
mim, o meu Poder e o meu Entendimento ficam conturbados.
10 — O meu Poder começou a desvanecer-se enquanto me encontro nestas aflições, assim como o
número do meu tempo enquanto permaneço no Caos. A minha Luz diminuiu, pois eles arrebataram-me o
meu Poder e todas as forças em mim se agitam.
11 — Tornei-me impotente na presença de todos os Regentes dos Aeons que me odeiam e na presença das
Vinte e Quatro emanações em cuja Região estive. E o meu irmão, o meu «Par», teve medo de ajudar-me
devido àquilo em que fui colocada.
12 — E todos os Regentes da Altura me consideraram matéria sem Luz. Tornei-me num poder material
abandonado pelos Regentes.
13 — E todos os que moram nos Aeons disseram: Ela converteu-se no Caos. E desde então todas as
forças ímpias me rodearam propondo-se arrebatar a Luz que há em mim.
14 — Mas eu confiei em Ti, oh Luz! E disse: És o meu Salvador.
15 — E o meu Mandato, que decretaste para mim, está nas Tuas mãos. Salva-me das mãos das emanações
do Obstinado que me oprimem e perseguem.
16 — Envia-me a Tua Luz pois apareço sem valor ante Ti. Salva-me segundo a Tua compaixão.
17 — Não me desdenhes, pois Te cantei louvores. Deixa que Caos cubra as emanações do Obstinado e
faz com que sejam levadas para baixo, para as trevas.
18 — Que as suas bocas emudeçam, essas bocas que com manha me devorariam e que diriam:
“Retiremos-lhe toda a sua Luz “, não obstante eu não lhes ter feito mal. »
Quando Jesus acabou de fala, Mateus adiantou-se e disse:
“Meu Senhor, o Teu Espírito agitou-se em mim e a Tua Luz me tornou sábio para proclamar este Oitavo
Arrependimento de Pistis Sophia, pois o Teu Poder profetizou sobre isso anteriormente, através de David,
no Salmo Trigésimo, dizendo:
«1 — Em Ti, oh Senhor! Confiei.
Permite que jamais seja exposto à ignomínia. Salva-me segundo a Tua justiça.
2 — Inclina o Teu ouvido para mim. Salva-me prontamente. Sê para mim um Deus protector e uma
fortaleza de salvação.
3 — Pois Tu és o meu sustento e o meu refúgio. Por Teu Nome me guiarás e me alimentarás.
4 — E Tu me retirarás desta rede que eles, secretamente, estenderam para mim, pois és a minha
protecção.
5 — Nas Tuas mãos porei o meu Espírito. Tu me redímiste, oh Senhor! Deus da Verdade.
6 — Tu aborreceste-Te com aqueles que se prendem à vaidade, mas eu confiei.
7— E regozijar-me-ei no meu Senhor e alegrar-me-ei na Sua Graça. Pois Tu viste a minha humildade e
libertaste a minha Alma das suas necessidades.
8— E não me arrojaste nas mãos dos meus inimigos, ergueste-me num espaço aberto.
9 — Sê bondoso comigo, oh Senhor! Pois vejo-me atormentado; os meus olhos perturbam-se de ira, bem
como a minha Alma e o meu corpo.
10 — Gastaram-se mal os meus anos na tristeza e a minha vida perde-se em suspiros. O meu Poder
debilita-se na miséria e os meus ossos estão separados.
11 — Cheguei a ser motivo de riso para todos os meus inimigos e semelhantes.
Converti-me num problema para os meus amigos e aqueles que me veem afastam-se de mim.
12 — Permaneço esquecido nos seus corações tal como um cadáver e cheguei a ser como um barco em
ruína.
13 — Pois escutei a troça de muitos que me rodeiam e que, agrupando-se contra mim, se aconselham para
arrebatar a minha Alma.
14 — Mas eu confiei em Ti, oh Senhor! E disse: Tu és o meu Deus.
15— O meu destino está nas Tuas mãos. Salva-me das mãos dos meus inimigos e livra-me dos meus
perseguidores.
16 — Revela o Teu rosto ao Teu servo e liberta-me segundo a Tua Graça, oh Senhor!
17 — Não permitas que seja posto em vergonha pois por Ti chamei. Deixa que os ímpios sejam postos em
vergonha e lançados ao inferno.
18— Que os lábios dos hipócritas emudeçam, lábios esses, que falam iniquamente contra o justo com
soberba e escárnio.
Quando Jesus escutou estas palavras disse: “Bem dito Mateus. Agora e portanto, Amén te digo: quando o
Número Perfeito estiver completo e terminado o Universo, Eu tomarei Meu assento no Tesouro da Luz e
vós sentar-vos-eis nos Doze Poderes-Luz até que tenhamos restaurado todas as ordens dos Doze
Salvadores, na Região das Heranças de cada um deles “. E ao terminar isto, disse: “Compreendeis o que
vos digo?”
Maria adiantou-se dizendo: “Oh Senhor! Com respeito a esta matéria, Tu disseste-nos, tempos atrás, algo
semelhante:
«Esperásteis comigo nas tribulações e Eu legar-vos-ei um Reino como Meu Pai Me legou e podereis
comer e beber à minha mesa no Meu Reino e sentar-vos-eis em Doze Tronos e julgareis as Doze Tribos
de Israel. »“
E Ele respondeu: “Bem dito Maria “.
Jesus continuou a falar aos Seus discípulos: “E sucedeu então, quando as emanações do Obstinado
oprimiam Pistis Sophia no Caos, que ela expressou o seu Nono Arrependimento, como se segue:
1 — Oh Luz! Aniquila quem arrebatou o meu Poder e arrebata o poder daqueles que arrebataram o meu.
2 — Pois eu sou o Teu Poder e a Tua Luz. Vem e salva-me.
3 — Deixa que as trevas envolvam os meus opressores. Diz ao meu Poder: Eu sou Aquele que há-de
salvar-te.
4 — Que todos aqueles que arrebatam totalmente a minha Luz se vejam privados de poder. Que sejam
enviados ao Caos e se tornem impotentes; sim, esses que arrebatam totalmente a minha Luz.
5 — Que o seu poder se torne pó e que «Jeú», o teu Anjo, os aniquile.
6 — E se, porventura, chegassem à Altura, que a obscuridade os envolva, resvalem e retornem ao Caos. E
que o Teu Anjo «Jeú» os persiga e os arroje às trevas inferiores.
7 — E pois que usaram o poder rosto de leão como uma armadilha para mim, apesar de que nada lhes fiz
de mal, a sua luz lhes seja arrebatada pois oprimiram o meu Poder. Contudo, não serão capazes de mo
arrebatar.
8—Agora e portanto, oh Luz! Retira a purificação do poder rosto de leão, sem que ele o saiba — a idéia
que o Obstinado havia tido de levar a minha Luz — e retira-lhe a sua própria luz; que a luz seja
arrebatada, a esse poder rosto de leão, o qual pôs a armadilha para mim.
9 — Mas o meu Poder regozijar-se-á na Luz e alegrar-se-á de ser salvo por Ela.
10 — E todas as partículas do meu Poder, dirão: Não há maior Salvador do que Tu. Pois me salvarás da
mão do poder rosto de leão, o qual arrebatou o meu Poder e me salvarás das mãos daqueles que levaram o
meu Poder e a minha Luz.
11 — Pois eles contra mim se levantaram, mentindo acerca de mim e dizendo que eu conheço o Mistério
da Luz que está na Altura (a Luz na qual tive Fé) e me constrangeram (dizendo) diz-nos o Mistério da Luz
das Alturas — o qual desconheço.
12 — E vingaram-se com todo este malefício porque tive Fé na Luz das Alturas e deixaram o meu Poder
sem Luz.
13 — Mas enquanto me constrangiam, sentei-me na obscuridade e a minha Alma dobrou-se, lamentandose.
14 — Realiza-o, oh Luz! — Por esta razão Te louvo — salva-me. Eu sei que me salvarás porque cumpri,
a todo o momento, com a Tua vontade quando estava no meu Aeon, tal como os Invisíveis que estão na
minha Região e tal como o meu «Par» e chorava buscando incessantemente a Tua Luz.
15— Agora todas as emanações do Obstinado me rodearam e têm-se regozijado por minha causa e
oprimiram-me dolorosamente sem eu as conhecer. E têm-se distanciado e cessado de oprimir-me, porém,
não tiveram piedade de mim.
16 — Retornaram e têm-me humilhado e oprimido e cravaram os seus dentes em mim, desejando
arrebatar-me a Luz por completo.
17 — Durante quanto tempo permitirás, oh Luz!, que me oprimam? Salva o meu Poder dos seus maus
pensamentos e salva-me do poder rosto de leão pois sou a única dos Invisíveis que está nesta região!
18 — Cantar-Te-ei louvores, oh Luz! No meio daqueles que contra mim se unem e gritar-Te-ei no meio
dos que me oprimem.
19 — Agora e portanto, oh Luz! Não permitas que aqueles que me odeiam e desejam arrebatar o meu
Poder se regozijem com a minha desdita — esses que me detestam e lançam olhares fulminantes, ainda
quando nada lhes tenha feito.
20 — Certamente, me têm eles adulado com doces palavras, interrogando-me sobre os Mistérios da Luz
que desconheço e maliciosamente falaram mal de mim, irritando-se porque tive Fé na Luz da Altura.
21 — Abriram as suas fauces frente a mim e disseram: Certamente arrebatar-lhe-emos a sua Luz.
22 — Agora pois, oh Luz! Conheces a sua culpa; não afastes de mim a Tua ajuda.
23 — Reivindica-me e vinga-me rapidamente, oh Luz!
24 — Julga-me segundo a Tua Bondade. Assim pois, oh Luz de Luzes! Não permitas que me arrebatem a
minha Luz.
25 — E não deixes que digam nos seus corações: «O nosso poder está sedento da sua Luz». E que não
digam: «Consumimos o seu Poder».
26 — Mas permite antes, que a obscuridade chegue até eles e que aqueles que desejam arrebatar-me a
Luz se tornem impotentes. Que o Caos e as trevas envolvam os que dizem:
«Arrebataremos a sua Luz e o seu Poder».
27— Agora e portanto, salva-me e que eu me regozije, pois suspiro pelo Décimo Terceiro Aeon, a Região
da Virtude e sempre direi: Que a Luz do Teu Anjo «Jeú» brilhe mais e mais.
28 — E a minha língua cantar-Te-á louvores na Tua Gnose, eternamente, no Décimo Terceiro Aeon.”
Quando Jesus acabou de falar, disse aos Seus discípulos:
“O que seja Sábio entre vós, proclame a sua solução “.
Santiago adiantou-se, beijou o peito de Jesus e disse: “Meu Senhor, o Teu Espírito deu-me Sabedoria e
estou pronto para proclamar a solução. A esse respeito o Teu Poder profetizou anteriormente, através de
David, no Salmo Trigésimo Quarto, o seguinte relativamente ao Nono Arrependimento de Pistis Sophia:
«1 — Julga, Senhor, quem me injustiça e combate quem luta contra mim.
2 — Empunha a arma e o escudo e levanta-Te em meu socorro.
3 — Desembaínha uma espada e oculta-a dos meus opressores. Diz à minha Alma: “Eu sou a tua salvação
“.
4 — Sejam humilhados e expostos ao opróbío aqueles que perseguem a minha Alma; que caiam para trás
e sejam cobertos de vergonha aqueles que maquinam males contra mim.
5 — Que sejam como a palha levada pelo vento e que sejam perseguidos pelo Anjo do Senhor
6— Que seja obscuro e perigoso o seu caminho e que o Anjo do Senhor os assole.
7 — Pois sem razão alguma montaram uma armadilha a fim de me despojar e escarnecem de mim sem
qualquer motivo.
8 — Caia sobre eles, sem o saberem, uma armadilha e que o estratagema para mim escondido os apanhe e
nele caiam eles próprios.
9 — Mas a minha Alma alegrar-se-á no Senhor e regozijar-se-á na sua salvação.
10 — Todos os meus ossos dirão: Oh Senhor! quem há que se assemelhe a Ti? Tu que libertas o miserável
de quem o ultrapassa em força e salvas o infeliz, o pobre, das mãos de quem o despoja.
11 — Chegaram falsas testemunhas e interrogaram-me sobre que eu ignorava.
12 — Pagaram-me mal pelo bem e deixaram a minha Alma desamparada.
13— Quando me maltratavam, vesti-me de burel e com jejum mortifiquei-me e a minha oração voltou ao
meu peito.
14 — Servi-Te a Ti, ao meu próximo e ao meu irmão e humilhei-me a mim mesmo, tal como quem anda
em pesares e tristezas.
15 — Eles regozijaram-se com a minha desventura e agora estão cobertos de vergonha. Como praga se
uniram contra mim, sem eu o saber. Porém, foram separados e cheios de incertezas.
16 — Perturbaram-me, zombaram de mim e cravaram os seus dentes em mim.
17— Oh Senhor! Quando olharás para mim? Recupera-me dos danos que causaram à minha Alma e livrame
das garras dos seus leões.
18 — Te revelarei, oh Senhor!, na grande assembléia e cantar-Te-ei louvores no meio da multidão.
19 — Que não me tratem injustamente, como a um inimigo, não se riam de mim nem me pisquem os
olhos aqueles que, sem causa alguma, me odeiam.
20 — Pois eles, certamente, discorrem comigo com palavras de paz, ainda quando conspiram
maliciosamente contra mim.
21 — Abriram amplamente as suas fauces contra mim e disseram: “Por certo, os nossos olhos se saciaram
de olhá-lo “.
22 — Tu o viste, oh Senhor! Não guardes silêncio. Oh Senhor! Não Te retires de mim.
23— Levanta-Te, oh Senhor! Apressa a minha reivindicação, apressa a minha vingança, meu Deus e
Senhor
24 — Julga-me, oh Senhor!, segundo a Tua Justiça; que não se regozijem de mim, meu Deus!
25— E que não digam: “Bem feito, almas nossas”. Que não digam: “Nós devorámo-lo “.
26— Que sejam colocados em vergonha e em opróbio aqueles que se regozijam da minha desventura.
Que sejam cobertos de vergonha e desgraça os que contra mim falam.
27 — Que aqueles que desejam a minha justificação se alegrem e regozijem e aqueles que desejam a paz
do seu servo digam: “Que o Senhor seja louvado e exaltado “.
28 — A minha língua clamará na Tua santificação e para Tua honra durante todo o dia.»”
Quando Santiago terminou, disse-lhe Jesus: “Falaste bem, muito bem, Santiago. Esta é a solução do Nono
Arrependimento de Pistis Sophia. Amén, Amén, te digo: tu serás o primeiro no Reino dos Céus, antes que
todos os Invisíveis e todos os Deuses e Regentes que estão no Décimo Terceiro Aeon e no Décimo
Segundo Aeon. E não somente tu, mas também aqueles que realizem os Meus Mistérios.”
E quando Jesus terminou, disse aos Seus discípulos: “Compreendeis o modo como discorro convosco?”
Maria adiantou-se de novo e disse: “Sim, Senhor, isto é o que Tu nos disseste: «Os últimos serão os
primeiros e os primeiros serão os últimos». Assim pois, os que primeiro foram criados, antes de nós, são
os Invisíveis e, certamente, surgiram antes da humanidade; eles, os Deuses, os Regentes e os Homens que
receberão os Mistérios, serão os primeiros no Reino dos Céus.”
Jesus respondeu: “Bem dito Maria “.
De novo disse Jesus aos Seus discípulos: “Sucedeu então, quando Pistis Sophia proclamava o seu Nono
Arrependimento, que o poder rosto de leão novamente a oprimiu desejando arrebatar-lhe os seus Poderes.
Ela gritou à Luz dizendo:
«Oh Luz! Em quem tive Fé desde o Princípio e por cuja causa suportei grandes penas, ajuda-me!»
E nessa hora foi aceite o seu Arrependimento. O Primeiro Mistério escutou-a e por Seu Mandato fui
enviado. Fui ajudá-la e conduzi-a para fora do Caos, porque ela se tinha arrependido e também porque
havia tido Fé na Luz e suportado estas grandes penas e estes grandes perigos. Ela tinha sido enganada
pelo Obstinado, com aparência de Deus e por ninguém mais, à excepção de um Poder-Luz devido à sua
semelhança com a Luz na qual tinha tido Fé. Por esta razão fui enviado, por ordem do Primeiro Mistério,
para ajudá-la secretamente. Contudo, não fui à Região dos Aeons, senão que passei entre eles sem que um
só Poder o soubesse, nem os do Interior do interior, nem os do Exterior do exterior, excepto o Primeiro
Mistério.
E ocorreu então, quando fui ao Caos ajudá-la, que ela Me viu. Compreendendo, brilhou excessivamente e
Me enchi de compaixão por ela; pois Eu não era Obstinado como o poder rosto de leão que arrebatara a
Luz-Poder a Sophia e a oprimira a fim de arrebatar-lhe toda a Luz.
Assim pois, Sophia viu-Me brilhar dez mil vezes mais que o poder rosto de leão e viu que estava cheio de
compaixão por ela.
Soube que Eu vinha da Altura das Alturas, em cuja Luz ela tinha tido Fé desde o Princípio.
Pistis Sophia, então, encheu-se de valor e proferiu o Décimo Arrependimento, dizendo:
«1 — Por Ti clamei, na minha opressão, oh Luz das Luzes! E Tu escutaste-me.
2 — Oh Luz! Salva o meu Poder dos lábios injustos e sem lei. E das astutas armadilhas.
3 — A Luz que com subtil ardil fora arrebatada, será levada para Ti.
4 — Pois as armadilhas do Obstinado e os laços dos inmisericordiosos estão por todo o lado.
5 — Ai de mim, longe da minha morada e vivendo no Caos.
6 — O meu Poder estava nas Regiões que não são as minhas.
7 — E implorei àqueles ímpios. E quando lhes implorei, lutaram contra mim sem motivo algum. »“
Quando Jesus terminou, disse aos Seus discípulos: “Agora e portanto, aquele em quem o Espírito se agite,
venha e diga a solução do Décimo Arrependimento de Pistis Sophia”.
Pedro respondeu dizendo: “Oh Senhor! Quanto à Tua Luz-Poder, profetizaste anteriormente, através de
David, no seu Salmo Centésimo Décimo Nono, dizendo:
«1 — Clamei por Ti na minha opressão, oh Senhor! E Tu me escutaste.
2 — Oh Senhor! Salva a minha Alma dos lábios injustos e das línguas maliciosas.
3 — Que se Te dará a Ti ou acrescentará com uma língua maliciosa?
4—As flechas do forte foram afiadas com o carvão do deserto.
5 — Ai de mim que vivo longe da minha morada, nas tendas de Kedar
6— A minha Alma morou em muitas regiões, como hóspede.
7— Fui pacífico com aqueles que odiavam a Paz. Se eu lhes falava, lutavam contra mim sem motivo
algum. »
Esta é pois, oh Senhor!, a solução do Décimo Arrependimento de Pistis Sophia, o que ela expressou
quando as emanações do Obstinado a oprimiram; estas e o seu poder rosto de leão, quando todos a
oprimiam excessivamente.”
E Jesus respondeu: “Bem dito e muito bem, Pedro.
Esta é a solução do Décimo Arrependimento de Pistis Sophia.”
Jesus continuou o Seu discurso dizendo aos Seus discípulos:
“Sucedeu então que, quando o poder rosto de leão Me viu e viu que chegava até Pistis Sophia brilhando
excessivamente, pôs-se ainda mais furioso e arrojou de si mesmo múltiplas emanações sumamente
violentas. Quando isto aconteceu, Pistis Sophia expressou o seu Décimo Primeiro Arrependimento, dizendo:
«1 — Porque é que o grande poder se enlaçou no mal?
2 — O seu conjuro arrebatou a Luz que em mim havia e, como afiado ferro, retirou o meu Poder
3 — Preferi descer ao Caos do que permanecer no Décimo Aeon, a Região da Virtude.
4 — E eles astutamente me levaram, a fim de consumirem toda a minha Luz.
5 — Por esta razão, a Luz retirar-lhes-á toda a sua luz e também toda a matéria se converterá em nada.
Ser-lhes-á retirada toda a sua luz e não lhes será permitido permanecer no Décimo Terceiro Aeon, o seu
lugar de morada e não terão o seu Nome na Região daqueles que viverão.
6 — E as Vinte e Quatro emanações verão o que te sucedeu, oh poder rosto de leão! E temerão e não
desobedecerão mas darão a purificação das suas Luzes.
7— E ver-te-ão e regozijar-se-ão dizendo: Olhai uma emanação que não deu a purificação para poder ser
salva, mas que alardeou de si própria na abundância da Luz do seu Poder, a qual não emana do Poder que
nele há e que afirmou: "Levarei comigo a Luz de Pistis Sophia, a qual não me será retirada". »
Agora e portanto, que aquele cujo Poder tenha surgido venha e proclame a solução do Décimo Primeiro
Arrependimento de Pistis Sophia.”
Então Salomé aproximou-se e disse: “Meu Senhor, a Tua Luz-Poder foi profetizada anteriormente,
através de David, no seu Salmo Quinquagésimo Primeiro, dizendo:
«1 — Porque é que o poderoso alardeia de si próprio, na sua maldade?
2 — A tua língua estudou a iniquidade todo o dia e, como afiada navalha, praticaste habilmente com ela.
3 — Tu amaste o mal mais do que o bem; quiseste apregoar o mal, mais do que a Virtude.
4 — Tu amaste as palavras hipócritas e a astuta língua.
5— Pelo que Deus te abandonará totalmente e te desenraizará da tua morada e arrojará fora da vida
(Selah) as tuas raízes.
6 — O Justo vê-lo-á e temerá; eles desprezá-lo-ão dizendo:
7— Olhai, é um homem que não confiou na ajuda de Deus, mas apenas na sua grande riqueza e que
sobressaiu na sua vaidade.
8 — Porém eu sou como a oliveira carregada de frutos na “Casa de Deus “. Confiei na Graça de Deus
desde toda a Eternidade.
9 — E reconhecer-Te-ei, pois Tu procedeste lealmente comigo; e esperarei no Teu Nome, o que será
favorável na presença dos Teus Santos. »
Esta é pois, meu Senhor, a solução do Décimo Primeiro Arrependimento de Pistis Sophia.
Ao surgir o Teu Poder-Luz em mim, falei de acordo com a Tua Vontade.”
Sucedeu então que, quando Jesus escutou as palavras de Salomé, disse: “Falaste bem, Salomé. Amén,
Amén te digo: aperfeiçoar-te-ei em todos os Mistérios do Reino da Luz”.
E Jesus continuou no Seu discurso dizendo aos Seus discípulos: “Ocorreu então que cheguei até ao Caos
brilhando extraordinariamente para arrebatar a luz do poder rosto de leão. Como Eu brilhava
intensamente, ele sentiu temor e chamou em sua ajuda o deus Obstinado.
Imediatamente o deus Obstinado procurou o Décimo Terceiro Aeon e olhou para o interior do Caos,
sumamente iracundo e desejando ajudar o poder rosto de leão. De imediato, o poder rosto de leão e todas
as suas emanações rodearam Pistis Sophia desejando arrebatar toda a Luz que nela havia. Aconteceu
então, quando oprimiam Sophia, que Ela gritou ao Alto pedindo-Me ajuda e então, quando olhou para o
Alto, viu o Obstinado sumamente iracundo e sentindo temor, expressou o Décimo Segundo
Arrependimento relativamente ao Obstinado e às suas emanações. E gritou-Me dizendo:
«1 — Oh Luz! Não esqueças o meu canto de louvores.
2 — Pois o Obstinado e o seu poder rosto de leão têm aberto as suas fauces contra mim e actuado
astutamente.
3 — E têm-me rodeado desejando arrebatar o meu Poder e odeiam-me por Te ter cantado louvores.
4— Em vez de me amarem, difamaram-me. Porém, eu cantei louvores.
5— Contra mim fizeram maquinações para arrebatar o meu Poder, por Te haver cantado louvores, oh
Luz! E odeiam-me por Te ter amado.
6 — Que a obscuridade caia sobre o Obstinado e o Regente da maior escuridão permaneça junto a ele.
7 — E quando Tu lhe deres a sentença, toma dele o seu poder e anula os actos que tem urdido para me
arrebatar a Luz.
8 — E que todos os seus poderes, assim como a luz que nele há, se acabem e outro dos Três Triplos
Poderes receba a sua soberania.
9 — Que todos os poderes das suas emanações careçam de influência e que a sua matéria fique sem Luz.
10 — Que as suas emanações permaneçam no Caos e não ousem ir à sua Região.
11 — Que o Receptor, o Purificador das Luzes, purifique todas as luzes que há no Obstinado e as retire
das suas emanações.
12 — Que os Regentes da obscuridade inferior dominem as suas emanações e não permitam que
nenhuma venha a morar na sua Região. E não permitas que no Caos alguém atenda ao poder das suas
emanações.
13 — Deixa que levem a luz que há nas suas emanações e limpa o seu nome do Décimo Terceiro Aeon,
ou melhor ainda, retira o seu nome dessa região, para sempre.
14— E permite que ponham no poder rosto de leão, o pecado que ele emanou ante a Luz e não apague as
iniquidades da matéria que o produziu.
15 — Que o seu pecado esteja eternamente ante a Luz e que não lhe seja permitido olhar para além do
Caos e retirar os seus nomes de todas as regiões.
16 — Pois não se compadeceram, mas oprimiram a todo aquele cuja Luz e Poder arrebataram, bem como
a mim, de comum acordo com quem aí me colocou. E desejaram arrebatar a minha Luz.
17— Eles quiseram descer ao Caos. Deixa-os, pois, aí permanecer e que daí não saiam. Não desejaram a
Região da Virtude como morada e jamais serão levados aí.
18 — Ele envolveu-se na obscuridade como roupagem e entrou nela como na água, introduzindo também
nela os seus poderes, como o azeite.
19— Deixa-o envolver-se a si mesmo no Caos, como numa veste e cingir a obscuridade como um
cinturão, para sempre.
20 — Que isto ocorra a quem, em Nome da Luz, me trouxe aqui, dizendo: Arrebatemos-lhe todo o Poder
21 — Porém Tu, oh Luz! Tem piedade de mim pelo Mistério do Teu Nome e salva-me pela bondade da
Tua Graça.
22 — Pois eles arrebataram a minha Luz e o meu Poder e este desmoronou-se internamente de modo que
não pude estar erguida no seu centro.
23 — Cheguei a ser como matéria caída, arrojada daqui para acolá, tal como um demónio no ar
24 — O meu Poder pereceu porque não possuo Mistério e a minha matéria diminuiu por falta de Luz,
pois eles arrebataram-na.
25 — E têm escarnecido de mim, olhando-me e movendo as suas cabeças de modo trocista.
26 — Ajuda-me segundo a Tua Misericórdia. »
Agora e portanto, que aquele cujo Espírito esteja preparado, venha e expresse a solução do Décimo
Segundo Arrependimento de Pistis Sophia.”
E André levantou-se e disse: “Meu Senhor e Salvador, o Teu Poder-Luz profetizou, anteriormente,
através de David, em relação a este Arrependimento expresso por Pistis Sophia, dizendo, no Salmo
Centésimo Oitavo:
«1 — Oh Senhor! Não guardes silêncio ante o meu “Canto” de louvores.
2 — Pois as bocas do pecador e do malicioso abriram-se e com a língua astuta e enganosa falaram mal de
mim nas minhas costas.
3 — E me vexaram com palavras odiosas e lutaram contra mim sem motivo algum.
4 — Em vez de me amarem, caluniaram-me; mas eu orei.
5 — Deram-me maldade por bondade e ódio por amor
6 — Coloca um pecador sobre ele e deixa que o caluniador permaneça à sua mão direita.
7— Que quando julgado seja condenado e que a sua oração se converta em pecado.
8 — Que se encurtem os seus dias e que outro receba a sua soberania.
9 — Que os seus filhos fiquem órfãos e a sua esposa, viúva.
10 — Que os seus filhos sejam levados para longe e obrigados a implorar; que sejam expulsos das suas
casas!
11 — Que o seu prestamista se apodere de tudo quanto possua e que pessoas estranhas saqueiem os seus
bens.
12 — Que não haja homem algum que o apoie e que ninguém tenha piedade dos seus órfãos.
13 — Que os seus filhos sejam exterminados e o seu nome apagado numa só geração.
14 — E que o pecado do pai desses filhos fique na frente do Senhor e não se apague o pecado da sua mãe.
15 — Que esteja sempre presente, nos seus pecados, ante Senhor, porém, que a sua memória seja
arrancada da Terra.
16— Pois ele não pensou em apiedar-se e perseguiu o homem pobre e coitado, assim como também a
criatura aflita para aniquilá-la.
17 — Gostava de amaldiçoar, mas as suas maldições recaíram sobre ele. Não desejava bênçãos e estas
estarão fora do seu alcance.
18 — Revestiu-se a si próprio com a maldição como roupagem e penetrou no seu interior como a água e o
azeite nos seus ossos.
19 — Que seja para ele uma veste na qual está envolvido e como um cinturão com que está sempre
cingido.
20— Esta é a obra daqueles que me caluniam ante o Senhor e falam indevidamente contra a minha Alma.
21 — Porém Tu, oh Senhor Deus! Sê misericordioso comigo; pelo Teu Nome, salva-me.
22 — Pois sou pobre e miserável, o meu coração é um tumulto no meu interior
23 — Sou eliminado como uma sombra que se dilui e sacudido como se sacode os insectos.
24 — Os meus joelhos são débeis e magra a minha carne.
25 — Sou objecto de riso; eles veem-me e movem as suas cabeças em tom de mofa.
26 — Ajuda-me, oh Senhor Deus! E salva-me pela Tua Graça.
27 — Que eles saibam que esta é a Tua mão e que Tu, oh Senhor!, os formaste. »
Esta é, pois, a solução do Décimo Segundo Arrependimento expresso por Pistis Sophia quando se
encontrava no Caos.”
E Jesus continuou no Seu discurso dizendo aos Seus discípulos:
“Sucedeu logo que Pistis Sophia gritou-Me de novo, dizendo:
«Oh Luz de Luzes! Atravessei os Doze Aeons, desci deles e, por tal motivo, expressei Doze
Arrependimentos, um por cada Aeon. Agora e portanto, oh Luz de Luzes! Perdoa a minha transgressão,
que é muito grande, uma vez que abandonei as Regiões da Altura e vim morar nas regiões do Caos. »
Quando Pistis Sophia disse isto, continuou com o seu Décimo Terceiro Arrependimento, dizendo:
«1 — Escuta o meu “Canto” de louvor a Ti, oh Luz de Luzes! Ouve o meu Arrependimento pelo Aeon
Treze, a Região fora da qual estive a fim de que o Décimo Terceiro Arrependimento do Aeon Treze se
cumpra — o Décimo Terceiro daqueles Aeons que transpuz e fora dos quais estou.
2 —Agora e portanto, oh Luz de Luzes! Escuta o meu "Canto" de louvores a Ti no Aeon Treze, a minha
Região, fora da qual me encontro.
3 — Salva-me oh Luz! No Teu Grande Mistério e perdoa o meu pecado em Teu perdão.
4 — Dá-me o Baptismo e perdoa os meus pecados, purifica-me da minha transgressão.
5 — O meu pecado é o rosto de Leão, que nunca Te será ocultado pois, devido a ele, desci.
6 — E só eu, entre os Invisíveis em cujas Regiões estive, pequei e desci ao Caos. E mais ainda porque
pequei, que o Teu Mandamento se cumpra. »
Isto foi o que disse Pistis Sophia. Agora e portanto, que aquele cujo Espírito tenha urgência em entender
as suas palavras, venha aqui e proclame o seu pensamento.”
Martha adiantou-se e disse: “Meu Senhor! O meu Espírito tem urgência em proclamar a solução do que
Pistis Sophia expressou. O Teu Poder o profetizou anteriormente, através de David, no seu Salmo
Quinquagésimo, dizendo:
«1 — Sê bondoso comigo, oh Deus! Pela Tua grande Bondade. Pela Tua grande Piedade apaga o meu
pecado.
2 — Lava-me totalmente da minha iniquidade.
3 — E que o meu pecado jamais esteja presente ante Ti.
4— Sê justo ao julgar-me e que as Tuas palavras prevaleçam quando seja julgado. »
Esta é a solução das palavras expressas por Pistis Sophia.”
E disse-lhe Jesus: “Falaste bem, Martha bendita”.
E Jesus continuou com o Seu discurso dizendo aos Seus discípulos: “Sucedeu então, quando Pistis Sophia
pronunciou estas palavras, que se havia cumprido o tempo para que ela fosse conduzida para fora do
Caos. E sem o Primeiro Mistério, por Mim mesmo, enviei um Poder-Luz ao Caos para que conduzisse
Pistis Sophia das profundas regiões às altas regiões do Caos, onde chegasse o Mandato do Primeiro
Mistério e pudesse então ser conduzida para fora do Caos. E o Meu Poder-Luz conduziu Pistis Sophia
para as regiões superiores do Caos.
Sucedeu então que, quando as emanações do Obstinado notaram que Pistis Sophia era conduzida para as
regiões superiores do Caos, se apressaram atrás dela desejando baixá-la de novo às regiões inferiores.
Então, o Meu Poder-Luz, que Eu tinha enviado para conduzir Sophia para fora do Caos, brilhou
extraordinariamente e, quando ela se viu nas regiões superiores do Caos, cantou novamente os seus
louvores, clamando:
«1 — Cantar-Te-ei louvores, oh Luz! Pois desejei vir para Ti. Cantar-Te-ei louvores, oh Luz! Pois és o
meu Guia.
2 — Não me deixes no Caos, salva-me, oh Luz das Alturas! Pois és quem tenho louvado.
3 — Tu me enviaste a Tua Luz através de Ti Própria e salvaste-me. Tu me conduziste até às regiões
superiores do Caos.
4 — Que as emanações do Obstinado, que me persegue, se afundem nas regiões inferiores do Caos e não
alcancem as partes superiores para me verem.
5 — E que a maior obscuridade as cubra e a mais escura treva desça sobre elas. Não permitas que me
vejam na Luz do Teu Poder, que enviaste para salvar-me, para que assim não logrem novo domínio sobre
mim.
6— E não permitas que a resolução que tomaram de arrebatar o meu Poder tenha efeito. E tal como
falaram contra mim para me arrebatarem a Luz, assim lhes seja retirada a sua, em vez da minha.
7 — Propuseram-se arrebatar toda a minha Luz, mas não puderam fazê-lo pois o Teu Poder-Luz estava
em mim.
8 — Posto que formaram conselho sem o Teu Mandato, oh Luz! Não foram capazes de arrebatar a minha
Luz.
9 — E porque tive Fé na Luz, não temerei; a Luz é o meu Guia e não temerei. »
Agora e portanto, que aquele cujo Poder esteja exaltado diga a solução das palavras que Pistis Sophia
pronunciou.”
E sucedeu, quando Jesus terminou de pronunciar estas palavras, que Salomé se adiantou e disse: “Meu
Senhor, o meu poder constrange-se a proclamar a solução das palavras expressadas por Pistis Sophia. O
Teu Poder profetizou-as anteriormente, através de Salomão, dizendo:
«1 — Expressar-Te-ei a minha gratidão oh Senhor! Pois Tu és o meu Deus.
2 — Não me abandones Senhor, pois és a minha esperança.
3 — Tu reivindicaste-me e eu vejo-me salvo por Ti.
4 — Que caiam os que me perseguem.
5 — Que uma nuvem de fumo cubra os seus olhos e a névoa os obscureça; não permitas que vejam o dia
para que não possam capturar-me.
6 — Que a sua resolução se torne inoperante e que tudo quanto tramam caia sobre eles.
7 — Urdiram uma resolução e esta não lhes surtiu efeito.
8 — E têm dominado, pois são poderosos, mas tudo quanto vilmente prepararam recaiu sobre eles.
9 — A minha esperança está no Senhor e não temerei pois Tu és o meu Deus, meu Salvador»”
E ocorreu então, quando Salomé acabou de falar, que Jesus lhe disse: “Falaste bem Salomé e muito bem.
Esta é a solução das palavras pronunciadas por Pistis Sophia.”
Jesus continuou então com o Seu discurso, dizendo aos Seus discípulos: “Sucedeu então, quando Pistis
Sophia acabou de dizer estas palavras, no Caos, que o Poder-Luz que enviei para salvá-la se converteu
numa auréola sobre a sua cabeça e, daí em diante, as emanações do Obstinado já não teriam domínio
sobre Ela. E quando essa auréola se formou, todas as matérias vis, dela foram sacudidas e purificadas.
Pereceram e permaneceram no Caos, enquanto as emanações do Obstinado a contemplavam e se regozijavam.
E a purificação da Luz Pura que em Pistis Sophia havia, deu força à Luz do meu Poder-Luz que se
tinha convertido em auréola ao redor da sua cabeça.
Assim, ocorreu que ao rodear a auréola a Luz Pura de Sophia, esta Luz já não se separou da Auréola do
Poder Luz-Chama, de modo que as emanações do Obstinado não as roubaram e, quando isso sucedeu, a
Pura Luz do Poder de Sophia, iniciou um cântico de louvores. Louvou o meu Poder-Luz, que era a
Auréola ao redor da sua cabeça, e cantou assim:
«1 —A Luz converteu-se na Auréola ao redor da minha cabeça e já não me separarei dela; assim, as
emanações do Obstinado não a roubarão de mim.
2 — E mesmo quando todas as matérias forem sacudidas, eu não o serei.
3 — E mesmo quando todas as minhas matérias pereçam e permaneçam no Caos — essas emanações que
o Obstinado vê - eu não perecerei.
4 — Pois a Tua Luz está em mim e eu estou com a Luz. »
Estas foram as palavras de Pistis Sophia. Agora e portanto, aquele que compreende o sentido das suas
palavras venha aqui e proclame a sua solução.”
Então Maria, a Mãe de Jesus, adiantou-se e disse: “Meu Filho segundo o Mundo, Meu Deus e Salvador
segundo a Altura, permite-me proclamar a solução das palavras que Pistis Sophia pronunciou “.
E Jesus respondeu dizendo: “Tu também, Maria, recebeste d’Aquele que está em «Barbelo» de acordo
com a matéria e recebeste semelhança com a Virgem da Luz segundo a Luz; tu e a outra Maria, a Bendita;
e por ti a obscuridade foi levantada e de ti proveio o corpo material em que estou — o qual purifiquei e
refinei — agora e portanto, ordeno-te que proclames a solução das palavras expressas por Pistis Sophia “.
E Maria, a Mãe de Jesus, respondeu dizendo:
Meu Senhor, o Teu Poder-Luz profetizou anteriormente, relativamente a estas palavras, através de
Salomão na sua «Ode» Décima Nona, dizendo:
«1 — O Senhor está sobre a minha cabeça como uma auréola, e não me separei d’Ele.
2 — A Auréola, Coroa de Luz, foi, em verdade, tecida para mim e fiz com que as suas varinhas
florescessem em mim.
3 — Mas de uma coroa murcha não surgirão tais rebentos. Mas Tu estás vivo na minha cabeça e em mim
floresceste.
4 — Os Teus frutos estão pletóricos e perfeitos, cheios de salvação. »“
Sucedeu então que, quando Jesus escutou a Sua Mãe Maria falar assim, lhe disse: “Falaste bem, muito
bem; Amén, Amén, Eu te digo: proclamar-te-ão Bendita desde um confim ao outro da Terra, pois a
promessa do Primeiro Mistério mantém-se contigo e, através dessa promessa, tudo aquilo proveniente da
Terra e da Altura será salvo, e essa promessa é o princípio e o fim”.
E Jesus continuou o Seu discurso dizendo aos Seus discípulos: “Quando Pistis Sophia expressou o
Décimo Terceiro Arrependimento — nesse momento cumpria-se o Mandato de todas as atribulações
decretadas para Pistis Sophia — para cumprimento do Primeiro Mistério, que teve lugar desde o
Princípio, chegara o momento de salvá-la do Caos e ser conduzida para fora da obscuridade, pois o seu
Arrependimento havia sido aceite através do Primeiro Mistério. Esse Mistério enviou-Me um Grande
Poder-Luz da Altura, que haveria de ajudar Pistis Sophia e conduzi-la para fora do Caos. Assim, olhei
através dos Aeons para a Altura e vi esse Poder-Luz que o Primeiro Mistério Me enviava e que havia de
salvar Pistis Sophia do Caos.”
“E quando o vi descer dos Aeons até Mim, apressando-se — Eu estava sobre o Caos — outro Poder-Luz
saiu de Mim, também para ajudar Pistis Sophia. E o Poder-Luz que Me tinha chegado do Alto através do
Primeiro Mistério, desceu até ao Poder-Luz que de Mim havia saído e ambos se juntaram e converteramse
num Grande Raio de Luz.”
Quando Jesus disse isto aos Seus discípulos, exclamou:
“Compreendeis a forma como discorro convosco?”
Maria adiantou-se de novo e disse: “Meu Senhor, compreendo o que dizes. Relativamente à solução
destas palavras, a Tua Luz profetizou anteriormente, através de David, no Salmo Octogésimo Quarto,
dizendo:
«10 — A Graça e a Bondade encontraram-se e a Virtude e a Paz procuraram-se uma à outra.
11 — A Verdade brotou da Terra e a Virtude, do Céu, olhou para baixo.»
Então a Graça é o Poder-Luz que desceu através do Primeiro Mistério, porque o Primeiro Mistério
escutou Pistis Sophia e teve piedade das suas atribulações. Por outro lado, a Verdade é o Poder que saiu
de Ti, pois cumpriste com a Verdade a fim de salvá-la do Caos.
A Virtude é, além disso, o Poder que veio através do Primeiro Mistério para guiar Pistis Sophia.
A Paz é também o Poder que saiu de Ti para entrar nas emanações do Obstinado e retirar delas as Luzes
de que fora privada Pistis Sophia, isto é, para que Tu pudesses reuni-las em Pistis Sophia e pudesses pólas
em Paz com o seu Poder.
A Verdade, por outro lado, é o Poder que de Ti emanou quando estavas nas regiões inferiores do Caos.
Por tal motivo, o Teu Poder disse, através de David: «A Verdade brotou da Terra», pois estavas nas
regiões inferiores do Caos. A Virtude que tinha olhado para baixo, do Céu, é o Poder que desceu da Altura
através do Primeiro Mistério e que entrou em Pistis Sophia.”
E sucedeu que, quando Jesus escutou estas palavras, disse: “Bem falaste, Maria, a Bendita, que herdarás
todo o Reino da Luz." Então Maria, a Mãe de Jesus, adiantou-se também e disse: “Meu Senhor e Meu
Salvador, ordena-me também que repita estas palavras “. E Jesus respondeu-lhe: “Não impedirei, pelo
contrário, incitarei aquele cujo Espírito compreenda, a expressar a idéia que o moveu. Agora e portanto,
Maria, Minha Mãe segundo a matéria, tu quem Eu tive por morada, convido-te a que expresses a idéia do
discurso.”
E Maria respondeu dizendo: “Meu Senhor, no que respeita às palavras que o Teu Poder expressou,
profetizando através de David: A Graça e a Virtude encontraram-se e a Virtude e a Paz beijaram-se uma à
outra. A Verdade brotou da Terra e a Virtude olhou para baixo, do Céu. O Teu Poder profetizou também
sobre Ti.”
“Quando eras criança, antes que o Espírito estivesse em Ti, estando Tu, um dia no vinhedo com José, o
Espírito veio da Altura e chegou até Mim, a minha casa. E era como Tu. Eu não O conhecia contudo,
pensei que Ele eras Tu. O Espírito disse-me: «Onde está Jesus, o meu irmão, para que me reúna com Ele?
Quando me disse isto, surpreendi-me e pensei que era um fantasma que desejava irritar-me. De modo que,
agarrei-O e atei-O aos pés da cama, em minha casa. Imediatamente saí para o campo e caminhei até
chegar junto de Ti e de José, no campo. Encontrei-Vos no vinhedo e José escorava as vides. E sucedeu
que, quando falei a José do ocorrido, Tu entendeste as minhas palavras, alegraste-Te e disseste: — Onde
está para que Eu o veja! — De outra maneira aguardá-lO-ei neste lugar. - E então, quando José Te ouviu
dizer essas palavras, surpreendeu-se. Descemos juntos, entrámos em casa e encontrámos o Espírito atado
à cama. Olhámos-Te e olhámo-Lo e Tu eras igual a Ele. E Ele que estava atado à cama ficou livre, tomou-
Te nos Seus braços e beijou-Te e Tu também O beijaste e convertesteis-Vos em Um. Estas são pois, as
palavras e a solução.
A Graça é o Espírito que chegou a Ti da Altura, através do Primeiro Mistério, pois teve piedade da Raça
Humana e enviou Seu Espírito para que Ele pudesse perdoar os pecados de todos os homens e estes
recebessem os Mistérios e Herdassem o Reino da Luz. A Verdade, por seu lado, é o Poder que fez de mim
a Sua morada.”
“Quando saiu de Barbelo, converteu-se no corpo material para Ti e proclamou a Região da Verdade. A
Virtude é o Teu Espírito que trouxe os Mistérios da Altura para dá-los à raça humana. A Paz, por seu lado,
é o Poder que morou no Teu corpo material segundo o mundo, que baptizou a raça humana para tornar os
homens estranhos ao pecado e pó-los em Paz com o Teu Espírito, de modo que estejam em Paz com as
emanações da Luz. Isto é: a Graça e a Verdade beijaram-se uma à outra. E em: «A Verdade brotou da
Terra», a Verdade é o Teu corpo material que surgiu de mim segundo o mundo dos homens e proclamou
tudo o que se relaciona com a Região da Verdade. E também em: «A Virtude é o Poder que olhou da
Altura» a que dará os Mistérios da Luz à raça humana para que os homens se tornem virtuosos, bons e
herdem o Reino da Luz.
E sucedeu então que, quando Jesus escutou as palavras pronunciadas por Sua Mãe, Maria, disse: “Bem
falaste Maria, muito bem”.
A outra Maria adiantou-se e disse: “Meu Senhor, tolera-me e não Te irrites comigo. Sim, desde o
momento em que a Tua Mãe falou contigo sobre a solução destas palavras, o meu Poder incitou-me a
adiantar-me e proclamar a sua solução.”
E Jesus respondeu-lhe: “Ordeno-te que proclames a sua solução “.
E Maria disse: “Meu Senhor, «A Graça e a Virtude encontraram-se»; assim, pois, a Graça é o Espírito que
chegou a Ti, quando recebeste o Baptismo das mãos de João. A Graça é, portanto, o Espírito Divino que a
Ti chegou. Ele teve piedade da raça humana, desceu e encontrou-se com o Poder de Sabaoth, o Bom, que
está em Ti e trouxe os Mistérios da Altura para dá-los à raça humana. A Paz, por outro lado, é o Poder de
Sabaoth, o Bom, que está em Ti, o que baptizou e perdoou a raça humana, pondo em Paz os homens com
os Filhos da Luz.”
E Jesus, quando escutou Maria, disse-lhe: “Bem falaste Maria, Herdeira do Reino da Luz”.
E de novo Maria, a Mãe de Jesus, aproximou-se d’Ele, caiu de joelhos e beijou os pés de Jesus dizendo:
“Meu Senhor, meu Filho e Salvador, não Te irrites comigo, mas perdoa que mais uma vez expresse a
solução destas palavras. «A Graça e a Verdade uniram-se». Somos nós, Maria a Tua Mãe e Isabel a Mãe
de João, as que se encontram. É a Graça, então, o Poder de Sabaoth em mim e que de mim saiu e que és
Tu. E tiveste piedade da raça humana. A Verdade, por seu lado, é o Poder que estava em Isabel e que era
João, o qual veio e proclamou o «Caminho» da Verdade que eras Tu e quem o proclamou ante Ti.
E também «A Graça e a Verdade encontraram-se» — sois Vós, meu Senhor, e João, que vos encontrásteis
quando recebeste o Baptismo e novamente Tu e João sois «A Virtude e a Paz. que se beijaram uma à
outra».”
«A Verdade brotou da Terra e a Virtude olhou para baixo, do Céu», significa que durante o tempo em que
Te deste a Ti mesmo, tomaste a forma de Gabriel, olhaste para mim do Céu e falaste comigo. E quando
falaste comigo, surgiste em mim e eras a Verdade, a qual é o Poder de Sabaoth, o Bom, que está no Teu
corpo material e que é a Verdade que brotou da Terra.”
Quando Jesus ouviu as palavras de Maria, a Sua Mãe, disse-lhe: “Falaste bem e muito bem. Esta é a
solução de todas as palavras referentes ao que o Meu Poder-Luz profetizou anteriormente, através do
profeta David”.
NOTA DE UM ESCRIBA
“Agora, estes são os Nomes que Eu darei desde o Porvir sem limites. Escrevei-os como um símbolo e que
daqui em diante sejam revelados aos Filhos de Deus.
Este é o Nome do Imortal: AAA, 000 e este é o Nome da Voz pela qual o Homem Perfeito se pôs em
movimento: I I I . E estas são as interpretações dos Nomes destes Mistérios: do primeiro (Nome) que é
AAA, a sua interpretação é FFF; do segundo cujo Nome é MMM, ou melhor 000, a sua interpretação é
AAA; do terceiro que é PsPsPs, a sua interpretação é 000; do quarto que é FFF, a sua interpretação é
NNN; do quinto que é DDD, a sua interpretação é AAA.
Aquele que está no Trono é AAA.
Esta é a interpretação do segundo: AAAA, AAAA, AAAA.
Esta é a interpretação do Nome Completo.”
II
João adiantou-se e disse: “Oh Senhor! Ordena-me também que diga a solução das palavras que o Teu
Poder-Luz profetizou, anteriormente, através de David”.
E Jesus respondeu, dizendo: “Também a ti, João, ordeno que expresses a solução das palavras que o Meu
Poder-Luz profetizou através de David”.
“10 — A Graça e a Verdade encontram-se e a Virtude e a Paz beijaram-se uma à outra.
11 — A Verdade brotou da Terra e a Virtude olhou para baixo, do Céu.”
E João respondeu dizendo: “Isto é o que Tu nos disseste anteriormente: «Vim da Altura, entrei em
Sabaoth, o Bom, e abracei o Poder-Luz que nele há. Assim pois, Graça e Verdade encontraram-se». Tu és
a Graça. Tu que foste enviado das Regiões da Altura, através do Teu Pai, o Primeiro Mistério que olhou o
interior e onde Te enviou para que tivesses piedade do mundo inteiro. A Verdade, por outro lado, é o
Poder de Sabaoth, o Bom, que em Ti se enlaçou e a quem puseste à esquerda. Tu, o Primeiro Mistério que
olhou para o exterior. E o Pequeno Sabaoth, o Bom, tomou-a e pó-la na matéria de Barbelo, proclamando
o concernente às Regiões da Verdade a todas as regiões daqueles que estão à esquerda.”
“E essa matéria de Barbelo é, então, o que actualmente é Teu corpo.” “E quanto à «Virtude e à Paz» que
«se beijaram uma à outra», a Virtude és Tu, que trouxeste todos os Mistérios através do Teu Pai, o
Primeiro Mistério (que olhou para dentro) e baptizaste este Poder de Sabaoth, o Digno; Tu és Aquele que
foi à Região dos Regentes e lhes deu os Mistérios da Altura, tornando-os, então, virtuosos e bons.
A «Paz» é, por outro lado, o Poder de Sabaoth que é a Tua Alma, a qual entrou na matéria de Barbelo.
Assim, pois, os Regentes dos Seis Aeons de Yabraoth fizeram a Paz com o Mistério da Luz. E a
«Verdade» que «brotou da Terra» é o Poder de Sabaoth, o Bom, que saiu da Região da Virtude que jazia
fora do Tesouro da Luz e que veio à região daqueles que estavam à esquerda. Entrou na matéria de
Barbelo e proclamou os Mistérios da Região da Verdade.
A «Virtude», por seu lado, que olhou para baixo, do Céu, és Tu, o Primeiro Mistério que olhou para o
exterior, para baixo, Tu que saíste dos espaços da Altura com os Mistérios do Reino da Luz e Tu que
desceste nessa Veste de Luz, que recebeste das mãos de Barbelo, a (Vestimenta) que é Jesus, nosso
Salvador e na qual desceste sobre Ele como uma Pomba.”
E sucedeu então, quando João disse tais palavras, que o Primeiro Mistério, que olhou para o exterior, lhe
disse: “Falaste bem, João, meu amado irmão “.
O Primeiro Mistério continuou dizendo de novo: “Ocorreu portanto, que o Poder que havia descido da
Altura, ou seja Eu mesmo, que meu Pai enviou para salvar Pistis Sophia do Caos e o Poder que de Mim
saiu e a Alma que Eu tinha recebido de Sabaoth, o Digno, uniram-se entre si e converteram-se num só
Raio de Luz que brilhava excessivamente. E chamei Gabriel e Miguel para que saíssem dos Aeons por
mandato de Meu Pai, o Primeiro Mistério, que olhou o interior e dei-lhes o Raio de Luz e deixei-os descer
ao Caos para ajudar Pistis Sophia e tomar os Poderes-Luz que as emanações do Obstinado lhe tinham
arrebatado, para entregá-las a Pistis Sophia.
E em seguida, quando levaram o Raio de Luz ao Caos, ele brilhou extraordinariamente em todo o Caos e
derramou-se sobre todas as regiões. E quando as emanações do Obstinado viram grande Raio de Luz,
aterrorizaram-se. O Raio tomou delas todos os Poderes-Luz que haviam arrebatado a Pistis Sophia e as
emanações do Obstinado não puderam atrever-se a tocar a Luz do Raio no obscuro Caos, nem mesmo
com os artifícios do Obstinado que rege essas emanações.”
“E Gabriel e Miguel levaram o Raio de Luz ao corpo de matéria de Pistis Sophia e verteram nela todos os
Poderes que lhe haviam sido arrebatados. E, então, o seu corpo material brilhou por toda a parte e todos
os Poderes, cuja Luz havia sido arrebatada, recuperaram-na e cessaram de precisar dela, assim que
obtiveram a Luz que lhes fora arrebatada. A Luz fora-lhes dada através de Mim.
E Miguel e Gabriel, que haviam administrado e trazido o Raio de Luz ao Caos, deram-lhes os Mistérios
da Luz; eles, a quem foi confiado o Raio de Luz, o qual lhes dei e trouxe ao Caos. E Miguel e Gabriel não
tomaram para si mesmos a Luz das Luzes de Sophia, que retiraram das emanações do Obstinado.
Sucedeu então que, quando o Raio de Luz integrou em Pistis Sophia todos os Poderes-Luz que lhe
haviam sido arrebatados pelas emanações do Obstinado, toda ela se tornou luminosa e os Poderes-Luz
que haviam permanecido em Pistis Sophia e que não haviam sido arrebatados pelas emanações do Obstinado,
rejubilaram e encheram-se de Luz. E as Luzes que foram vertidas em Pistis Sophia avivaram o
corpo da sua matéria em que não havia Luz e que estava a ponto de perecer ou havia perecido. E
elevaram nela todos os Poderes que estavam a ponto de dissolver-se. E tomaram para si um Poder-Luz e
tornaram a ser o que haviam sido e cresceram de novo no sentido da Luz.
E todos os Poderes-Luz de Sophia se conheceram mutuamente mediante o Meu Raio de Luz e foram
salvos através da Luz desse Raio.”
“E o Meu Raio de Luz, quando retirou das emanações do Obstinado as Luzes que elas tinham arrebatado
a Pistis Sophia, verteu-as nela e girando sobre si próprio saiu da profundidade do Caos.”
Quando o Primeiro Mistério mencionou o que ocorreu a Pistis Sophia no Caos, perguntou aos discípulos:
“Compreendeis a forma como discorro convosco?” Pedro adiantou-se e disse: “Meu Senhor, no que
concerne à solução das palavras que pronunciaste, o Teu Poder-Luz profetizou, anteriormente, através de
Salomão, nas suas Odes:
«1 — Um Raio chegou e converteu-se em grande inundação.
2 — Tudo derrubou à sua passagem e retornou para o Templo.
3— Represas e edifícios não puderam resistir-lhe, nem aqueles que os tinham construído.
4 — Passou sobre a Terra inteira, inundando-a.
5 — Os que estavam sobre a areia seca beberam. A sua sede foi saciada e mitigada com a dádiva vertida
da mão do Mais Alto.
6 — Benditos sejam os Ministros dessa dádiva, a quem a água do Senhor foi confiada.
7 — Eles refrescaram os lábios gretados. Aqueles cujo poder fora arrebatado, alegraram-se de coração e
avivaram as Almas derramando água nos seus alentos
para que não morressem.
8 — Levantaram os membros caídos e deram Poder à sua sinceridade e Luz aos seus olhos.
9 — Pois todos eles se conheceram a si próprios no Senhor e salvaram-se através da água da Vida Eterna.
»
Deixa-me, portanto, Meu Senhor, expressar com franqueza pois o Teu Poder profetizou através de
Salomão: « Um Raio veio e converteu-se em grande inundação», isto é: o Raio de Luz derramou-se no
Caos sobre todas as regiões das emanações do Obstinado.
E novamente a palavra que o Teu Poder pronunciou através de Salomão: «Tudo derrubou à sua passagem
e retornou para o Templo», quer dizer: retirou todos os Poderes-Luz das emanações do Obstinado, aqueles
que estas haviam tomado de Pistis Sophia e verteu-os nela novamente.
E Tu, pela sua boca, de novo disseste: «Represas e edifícios não puderam resistir-lhe», isto é: as
emanações do Obstinado não puderam reter o Raio de Luz dentro das paredes da obscuridade e do Caos.
E de novo as Tuas palavras: «Passou sobre a Terra inteira, inundando-a», quer dizer: quando Gabriel e
Miguel o levaram até ao corpo de Pistis Sophia derramaram nela todas as Luzes que as emanações do
Obstinado lhe haviam arrebatado e o seu corpo material brilhou.
E o que disseste: «Aqueles que estavam na areia seca beberam», isto é: tudo aquilo em Pistis Sophia, cuja
Luz fora anteriormente arrebatada, obteve Luz.
E logo em seguida: «A sua sede foi saciada e mitigada», quer dizer: os seus Poderes cessaram de carecer
da Luz porque a sua Luz, que tinha sido arrebatada, foi-lhes dada de novo.
E novamente, tal como o Teu Poder dissera: «Com a dádiva vertida do Mais Alto», isto é: a Luz foi-lhes
dada através do Raio de Luz que proveio de Ti, o Primeiro Mistério.
E como dissera o Teu Poder: «Benditos sejam os Ministros dessa dádiva», isto é o que Tu pronunciaste:
Miguel e Gabriel que administraram, trouxeram o Raio de Luz ao Caos e também o levaram daí por
diante. Darão Eles os Mistérios da Luz e da Altura, Eles a quem foi confiado o Raio de Luz.
E de novo, segundo o Teu Poder dissera: «Eles refrescaram os lábios gretados», isto é: Gabriel e Miguel
não tomaram as Luzes de Pistis Sophia para si, essas Luzes que retiraram às emanações do Obstinado,
mas verteram-nas em Pistis Sophia.
E novamente: «Aqueles cujo Poder fora arrebatado alegraram-se de coração», isto é: todos os outros
Poderes de Pistis Sophia, que não haviam sido arrebatados pelas emanações do Obstinado, se alegraram
infinitamente e se encheram da Luz dos seus companheiros de Luz, pois estes tinham-na derramado neles.
E a palavra que o Teu Poder expressou: «Avivaram as Almas, vertendo em seus alentos para que não
morressem», quer dizer: quando Eles verteram as Luzes em Pistis Sophia, avivaram o corpo material do
qual elas haviam tomado, anteriormente, as suas Luzes e que estava a ponto de perecer.
E de novo a palavra que o Teu Poder expressou: «Eles levantaram os membros caídos ou que não
deveriam cair», quer dizer: quando Eles verteram nela as Luzes, levantaram todos os Poderes que
estavam a ponto de ser dissolvidos.
E novamente, tal como o Teu Poder-Luz dissera: «Eles receberam de novo a sua Luz e voltaram a ser o
que haviam sido» e novamente: «Todos eles se conheceram a si próprios no Senhor», isto é: todos os
Poderes de Pistis Sophia se conheceram uns aos outros através do Raio de Luz.
E de novo: «Eles salvaram-se através da água da Vida Eterna», isto é: eles são salvos mediante o Raio de
Luz.
E novamente a Tua palavra: «O Raio de Luz derrubou tudo à sua passagem e retornou para o Templo»,
isto é: quando o Raio de Luz tomou todos os Poderes-Luz de Pistis Sophia do poder das emanações do
Obstinado, verteu-as em Pistis Sophia e girou sobre si mesmo, saiu do Caos e veio para Ti, Tu que és o
Templo.
Esta é a solução de todas as palavras que a Tua Luz-Poder expressou através da Ode de Salomão.”
E ocorreu então, quando o Primeiro Mistério escutou as palavras de Pedro que lhe disse: “Bem disseste,
Pedro Bendito. Esta é a solução das palavras que foram ditas.
O Primeiro Mistério continuou novamente o Seu discurso dizendo: “Assim sucedeu antes de Eu conduzir
Pistis Sophia para fora do Caos, pois não Me tinha sido ordenado através de Meu Pai, o Primeiro Mistério
que olha para o interior, que o fizesse. Nesse momento, depois de as emanações do Obstinado se
aperceberem que o Meu Raio de Luz lhes tinha retirado os Poderes-Luz que haviam arrebatado a Pistis
Sophia, vertendo-os nela e quando viram novamente Pistis Sophia brilhando como brilhara desde o
princípio, enfureceram-se contra ela e de novo gritaram ao seu Obstinado para que viesse ajudá-las a
arrebatar novamente os Poderes a Pistis Sophia.”
“E o Obstinado enviou, fora da Altura do Décimo Terceiro Aeon, outro grande Poder-Luz que desceu ao
Caos, como seta voadora, para que ajudasse as suas emanações a arrebatar de novo as Luzes de Pistis
Sophia. E quando o Poder-Luz desceu, as emanações do Obstinado que estavam no Caos e que oprimiam
Pistis Sophia, encheram-se de valor e perseguiram-na, para grande terror e enorme alarme de Pistis
Sophia. E algumas emanações do Obstinado oprimiram-na.”
“Uma delas transformou-se a si mesma numa grande serpente, outra em basilisco de sete cabeças e ainda
outra tomou a forma de um dragão. E mais ainda, o primeiro poder do Obstinado, o rosto de leão e todas
as suas numerosas emanações vieram juntas e oprimiram Pistis Sophia conduzindo-a novamente às
regiões inferiores do Caos, assustando-a excessivamente.”
“Então ocorreu que, fora dos Doze Aeons, Adamas, o Tirano, olhou para baixo. Ele também sentia ira
contra Pistis Sophia porque ela desejava ir à Luz das Luzes que estava sobre todos eles. Por isso
detestava-a.
Sucedeu pois que, quando Adamas, o Tirano, olhou para baixo dos Doze Aeons, viu as emanações do
Obstinado oprimindo Pistis Sophia, desejosas de arrebatar todas as suas Luzes. Então, o poder de Adamas
desceu ao Caos, até às emanações do Obstinado, precipitando-se sobre Pistis Sophia, acontecendo então
que o poder rosto de leão e as emanações com a forma de serpente, de basilisco e de dragão e muitas
outras emanações do Obstinado, todas juntas, rodearam Pistis Sophia procurando arrebatar-lhe os seus
Poderes, oprimindo-a excessivamente e ameaçando-a. Então, ao sentir-se assim oprimida, alarmou-se
muito Pistis Sophia e gritou novamente à Luz, cantando os seguintes louvores:
«1 — Oh Luz! Tu que me tens ajudado, deixa que a Tua Luz venha até mim.
2 — Pois és o meu protector e eu venho até Ti, oh Luz! Com a minha Fé em Ti, oh Luz!
3 — Pois és o meu Salvador das emanações do Obstinado e de Adamas, o Tirano e Tu hás-de salvar-me
das suas violentas ameaças. »
“Quando Pistis Sophia acabou de dizer isto, o Primeiro Mistério, que vê o interior, Eu, por mandato do
Meu Pai, enviei de novo Gabriel, Miguel e o grande Raio de Luz para que pudessem ajudar Pistis Sophia.
Ordenei a Gabriel e a Miguel que tomassem nas suas mãos Pistis Sophia e a elevassem de modo que os
seus pés não tocassem na obscuridade abaixo deles e ordenei-lhes, além disso, que a guiassem pelas
regiões do Caos e a levassem para fora.
Então, quando os Anjos desceram ao Caos com o Raio de Luz, ocorreu que as emanações do Obstinado e
as emanações de Adamas viram que o Raio de Luz brilhava de forma extraordinária, sem que houvesse
medida possível para a sua Luz e, aterrorizadas, retiraram-se de Pistis Sophia. O grande Raio de Luz
rodeou Pistis Sophia por toda a parte, pela direita, pela esquerda e por todos os lados, convertendo-se
numa auréola de Luz ao redor da sua cabeça.
E aconteceu que, quando o Raio de Luz rodeou Pistis Sophia, esta sentiu grande valor. A Luz não cessou
de rodeá-la e ela não mais temeu as emanações do Obstinado, os habitantes do Caos nem o novo poder
que o Obstinado havia lançado ao Caos como seta voadora, nem tremeu mais de medo ante o poder de
Adamas, proveniente dos Aeons.”
“Mais ainda, por Meu mandato, o Primeiro Mistério que vê o Interior, o Raio de Luz que rodeava Pistis
Sophia por todos os lados brilhou mais intensamente e Pistis Sophia apareceu no meio da Luz, com uma
grande Luz à sua esquerda e à sua direita e por todos os lados, formando uma auréola ao redor da sua
cabeça. E todas as emanações do Obstinado não puderam mudar de novo os seus rostos, nem suportar o
choque da grande Luz do Raio, que era uma auréola ao redor da sua cabeça. E todas as emanações do
Obstinado caíram, umas à direita de Pistis Sophia, pois esta brilhava exuberantemente e muitas outras
caíram à sua esquerda e não foram capazes de se aproximar de Pistis Sophia por causa da sua grande Luz.
Caíram umas sobre as outras e não puderam inflingir mal algum a Pistis Sophia, porque ela havia
confiado na Luz.”
“E por mandato de Meu Pai, o Primeiro Mistério que vê o Interior, ou seja, Eu próprio, desci ao Caos
brilhando extraordinariamente, aproximei-me do poder rosto de leão que brilhava excessivamente e
retirei-lhe toda a sua luz contendo todas as emanações do Obstinado para que, daí em diante, não
retornassem à sua região, o Décimo Terceiro Aeon. Retirei o poder de todas as emanações do Obstinado e
estas caíram impotentes no Caos. E guiei Pistis Sophia para diante, indo ela à direita de Gabriel e de
Miguel.
E o grande Raio de Luz entrou nela novamente e Pistis Sophia contemplou com os seus olhos os inimigos
de quem Eu tinha tomado o seu Poder-Luz. E conduzi Pistis Sophia para fora do Caos, oprimindo Ela,
debaixo dos seus pés, a emanação rosto de serpente do Obstinado e, mais ainda, calcando com os seus pés
a emanação com a forma de basilisco de sete cabeças e o poder rosto de leão e rosto de dragão. Fiz com
que Sophia continuasse sobre a emanação basilisco de sete cabeças do Obstinado e esta foi mais poderosa
que todos nos seus feitos maldosos.
E Eu, o Primeiro Mistério, aproximei-me dela e retirei-lhe todos os seus poderes e fiz perecer toda a sua
matéria para que dela não ficasse semente alguma que pudesse surgir”
E quando o Primeiro Mistério disse isto aos Seus discípulos, interrogou-os: “Compreendeis a forma com
que discorro convosco?”
Santiago adiantou-se e disse: “Meu Senhor, no que respeita à solução das palavras que pronunciaste, a
Tua Luz-Poder profetizou, anteriormente, através de David, no Nonagésimo Salmo:
«1 — Aqueles que vivem sob a protecção do Altíssimo morarão à sombra do Deus do Céu.
2 — Ele dirá ao Senhor: Tu és o meu refúgio e a minha protecção, meu Deus, em quem confio.
3 — Pois Ele livrar-me-á das armadilhas dos caçadores e da voz poderosa.
4 — Proteger-te-á com o Seu alento e acolher-te-á sob as Suas asas. A Sua Verdade envolver-te-á como
escudo.
5 — Não temerás o terror da noite, nem a seta que voa de dia.
6 — Nem o que se move furtivamente na escuridão, nem a calamidade e o demónio em pleno meio-dia.
7 — Mil cairão à tua esquerda e dez mil à tua direita, mas não se aproximarão de ti.
8— Pelo contrário, com os teus próprios olhos verás o castigo dos pecadores.
9 — Pois Tu, oh Senhor! És a minha esperança. Estabeleceste o Altíssimo como refúgio para ti.
10 — O mal não virá sobre ti e o castigo divino não alcançará a tua morada.
11 — Porque ordenará aos Seus Anjos, para teu bem, que vigiem todos os teus caminhos.
12 — E te levem nas suas mãos para que o teu pé jamais tropece em alguma pedra.
13 — Passarás sobre a Serpente e o Basilisco e calcarás o Leão e o Dragão.
14 — Porque ele confiou em Mim, salvá-lo-ei. Ampará-lo-ei, porque ele conhece o Meu Nome.
15—Invocar-Me-á e escutá-lo-ei. Eu estou a seu lado na sua atribulação, salvá-lo-ei e honrá-lo-ei.
16 — E acrescentá-lo-ei com dilatados dias e mostrar-lhe-ei a Minha salvação. »
Isto, Meu Senhor, é a solução das palavras que Tu pronunciaste. Escuta-me, pois, para que eu as diga
abertamente.
É assim, pois, o que expressaste através de David: «Aqueles que moram sob a protecção do Altíssimo
permanecerão à sombra do Céu» significa que quando Sophia confiava na Luz, morava sob a Luz do Raio
de Luz que, através de Ti, veio da Altura.
E as palavras que o Teu Poder expressou através de David, dir-tas-ei Senhor: «Tu és a minha protecção e
o meu refúgio, meu Deus em quem confio», são as palavras com as quais Pistis Sophia cantou os seus
louvores: «Tu és a minha protecção e venho a Ti».
E também as palavras que o Teu Poder expressou: «Meu Deus, em quem confio, Tu me salvarás das
armadilhas dos caçadores e da ameaça», são as que Pistis Sophia exclamou:
«Oh Luz! Eu tenho Fé em Ti, pois Tu me salvarás das emanações do Obstinado e das de Adamas, o
Tirano e me salvarás também de todas as suas poderosas ameaças».
E as palavras que o Teu Poder expressou através de David:
«Ele cobrir-te-á com o seu peito e estarás confiante sob as Suas asas» significam que Pistis Sophia esteve
na Luz do Raio de Luz, o qual provinha de Ti e continuou com firme confiança na Luz, a da sua direita e
a da sua esquerda, que são as asas do Raio de Luz.
E a mensagem que o Teu Poder-Luz transmitira através de David: «A Verdade rodear-te-á como uma
couraça», é a Luz do Raio de Luz que rodeou Pistis Sophia por todos os lados, como uma couraça.
E as palavras que o Teu Poder expressou: «Ele não temerá o terror da noite» significam que Pistis Sophia
não temeu os alarmes e os terrores entre os quais foi colocada dentro do Caos que é a «noite».
E aquilo que disseste: «Não temerás a seta que voa de dia», significa que Pistis Sophia não temeu o poder
que o Obstinado finalmente enviara do Alto, que chegou ao Caos como seta voadora, por isso o Teu
Poder-Luz disse: «Não temerás a seta que voa em pleno dia», pois esse poder chegou do Décimo Terceiro
Aeon, senhor dos Doze Aeons e quem dá a Luz a todos os Aeons. Por isso Ele (David) disse «dia».
E também as palavras que o Teu Poder pronunciou: «Não temerá coisa alguma que se mova furtivamente
na escuridão», significam que Sophia não teve temor da emanação rosto de leão, que a assustara no Caos
e que é a «obscuridade».
E a Tua mensagem: «Não temerás a calamidade e o demónio em pleno meio-dia» significa que Pistis
Sophia não temeu a emanação-demónio do Tirano Adamas, que a lançara ao solo com grande infortúnio e
que tinha saído de Adamas, fora do Décimo Segundo Aeon. Por tal motivo o Teu Poder expressou:
«Ele não temerá do demónio, o infortúnio do meio-dia» («meio-dia», porque chegou dos Doze Aeons que
são o «meio-dia», e da «noite» porque saiu do Caos, que é a «noite»), pois saiu do Décimo Segundo Aeon
o qual é a metade entre ambos. Portanto o Teu Poder-Luz disse «meio-dia», porque os Doze Aeons estão
entre o Décimo Terceiro Aeon e o Caos.
E de novo as palavras que o Teu Poder-Luz pronunciou através de David: «Mil cairão à sua esquerda e
dez mil à sua direita, porém não se aproximarão», significam que quando as emanações do Obstinado,
que são sumamente numerosas, não puderem suportar a grande Luz do Raio de Luz, muitas delas cairão à
esquerda de Pistis Sophia e muitas à sua direita e não poderão aproximar-se para lhe causar dano. E as
palavras que o Teu Poder-Luz expressou através de David: «Pelo contrário, com os teus próprios olhos
verás o castigo dos pecadores, pois Tu, oh Senhor! És a minha esperança», significam que Pistis Sophia
viu os seus inimigos, ou seja, as emanações do Obstinado caírem umas sobre as outras e não só viu isto
com os seus próprios olhos, mas Tu mesmo, meu Senhor, o Primeiro Mistério, tomaste o Poder-Luz que
há no poder rosto de leão e tomaste o poder de todas as emanações do Obstinado e ainda os fizeste
prisioneiros no Caos. Assim, desde então, elas não retornaram à sua própria região.
Então e portanto, Pistis Sophia viu os seus inimigos, ou seja, as emanações do Obstinado e tudo o que
David profetizara com respeito a ela, quando disse: «Pelo contrário, com os teus próprios olhos verás o
castigo dos pecadores». Não só ela viu com os seus próprios olhos como caíam umas sobre as outras no
Caos, mas também viu o castigo que receberam.
O que as emanações do Obstinado fizeram, arrebatar a Luz de Sophia, foi-lhes feito por Ti. Retiraste o
Poder-Luz que havia nelas, em vez das Luzes de Sophia, que teve Fé na Altura.
E o que o Teu Poder-Luz expressou através de David: «Tu estabeleceste o Altíssimo como refúgio para ti
próprio e o mal não chegará a ti nem o castigo divino à tua morada», significa que, quando Pistis Sophia
teve Fé na Luz e se viu perseguida, cantou louvores a Ela e as emanações do Obstinado não puderam
infligir-lhe dano algum, nem lamentá-la, nem aproximar-se dela.
E a mensagem do Teu Poder-Luz, através de David: «Ele ordenará aos Seus Anjos, para teu bem, que
guardem todos os teus caminhos e te levem nas suas mãos para que o teu pé não tropece em pedra
alguma», significando que Tu ordenaste a Gabriel e a Miguel que guiassem Pistis Sophia por todas as
regiões do Caos até a conduzir para fora e que a levantassem com as suas mãos para que o seu pé não
tocasse a obscuridade de baixo e para que aqueles que estivessem debaixo da obscuridade não a
aprisionassem.
E as Tuas palavras pronunciadas através de David: «Passarás sobre a Serpente e o Basilisco e calcarás o
Leão e o Dragão. Pois ele confiou em Mim, Eu o salvarei e o ampararei, porque ele conhece o Meu
Nome», significam que, quando Pistis Sophia esteve prestes a sair do Caos, passou sobre as emanações
do Obstinado e sobre as que tinham rosto de serpente e de basilisco de sete cabeças e passou sobre o
poder rosto de leão e sobre o poder rosto de dragão. Porque ela teve Fé na Luz, salvou-se de todos eles.
Esta é, meu Senhor, a solução das palavras que pronunciaste.”
E sucedeu então que, quando o Primeiro Mistério escutou estas palavras, disse: “Bem falaste Santiago,
Meu muito amado”.
E o Primeiro Mistério continuou, de novo, o Seu discurso dizendo aos Seus discípulos: “Ocorreu então,
quando conduzi Pistis Sophia para fora do Caos, que ela exclamou:
«1 — Estou a salvo do Caos e livre das ataduras da obscuridade. Cheguei a Ti, oh Luz!
2 — Pois Tu foste a Luz que me envolveu, salvando-me e ajudando-me.
3 — As emanações do Obstinado, contra as quais lutara, obstruíste-as com a Tua Luz e não puderam
aproximar-se, pois a Tua Luz estava em mim e salvou-me mediante o seu Raio Luminoso.
4 — Porque as emanações do Obstinado me constrangeram, arrebataram o meu Poder e arrojaram-me ao
Caos sem a minha Luz. Assim, pois, converti-me numa pesada matéria, em comparação com elas.
5— Porém, imediatamente veio a mim um Raio de Luz, através de Ti, que me salvou. Brilhava à minha
esquerda e à minha direita e envolvia-me por todos os lados, de tal modo que não havia parte de mim sem
Luz.
6 — E Tu cobriste-me com a Luz do Teu Raio e retiraste de mim todas as más matérias e eu serei
perdoada de todas elas pela Tua Luz.
7— E foi o Teu Raio de Luz que me elevou e que retirou de mim as emanações do Obstinado que me
constrangiam.
8 — E converti-me na Tua Luz e em Luz Purificada no Teu Raio.
9 — E as emanações do Obstinado, que me constrangiam, retiraram-se de mim. E eu brilho no Teu grande
Poder, pois salvaste-me para sempre. »
Este é o Arrependimento que expressou Pistis Sophia quando saiu do Caos e foi libertada das amarras do
Caos. Agora e portanto, quem tenha ouvidos para ouvir que oiça.
E sucedeu então, quando o Primeiro Mistério acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos, que
Tomé se aproximou e disse: “Meu Senhor, o que alberga a Luz tem ouvidos e a minha mente
compreendeu as Tuas palavras. Agora e portanto ordena-me que estabeleça claramente a solução dessas
palavras”. E o Primeiro Mistério respondeu a Tomé: “Ordeno-te que estabeleças a solução do Cântico que
Pistis Sophia entoou para Mim”.
Tomé respondeu dizendo: “Meu Senhor, no que respeita ao Cântico de Pistis Sophia, cantado quando foi
salva do Caos, o Teu Poder-Luz profetizou, anteriormente, através de Salomão, o filho de David, nas suas
Odes:
«1 — Fui Salvo das amarras e voei para Ti, oh Senhor!
2 — Pois tens estado à minha Direita salvando-me e auxiliando-me.
3— Tu obstruíste os meus adversários e eles não se mostraram porque o Teu Rosto estava comigo,
salvando-me pela Tua Graça.
4 — Eu fui desprezado à vista de muitos e condenado, sendo como chumbo para os seus olhares.
5 — Através de Ti, obtive um Poder que me ajudou pois Tu puseste lâmpadas à minha Direita e à minha
Esquerda, de modo que por nenhum lado me faltasse Luz.
6— Amparaste-me com a sombra da Tua Graça e eu mudei camadas de pele.
7 — Com a Tua mão Direita levantaste-me e retiraste-me a enfermidade.
8 — Tornei-me poderoso na Tua Verdade e purifiquei-me na Tua Virtude.
9 — Os meus adversários retiraram-se de mim e fui justificado pela Tua Bondade, porque o Teu apoio
dura eternamente. »
Esta é, Senhor, a solução do Arrependimento que Pistis Sophia expressou quando foi salva do Caos.
Escutai-a para que possa dizê-la abertamente.
Assim pois, a mensagem do Teu Poder-Luz, através de Salomão: «Fui salvo das ataduras e voei para Ti,
oh Senhor!», representa as palavras de Pistis Sophia: «Estou livre das ataduras da obscuridade e vim para
Ti, oh Luz!».
E as palavras do Teu Poder: «Estiveste à minha Direita, salvando-me e auxiliando-me», são também as
palavras que Pistis Sophia pronunciou: «Foste a Luz que me envolvia, salvando-me e auxiliando-me».
E as palavras do Teu Poder-Luz: «Tu obstruíste os meus adversários e eles não se mostraram», são as
palavras de Pistis Sophia: «E as emanações do Obstinado, contra as quais lutara, Tu as obstruíste
mediante a Tua Luz e não puderam aproximar-se de mim».
E as palavras do Teu Poder: «O Teu Rosto estava comigo, salvando-me na Tua Graça», são as palavras de
Pistis Sophia:
«A Tua Luz estava comigo, salvando-me com o Teu Raio de Luz».
E as palavras do Teu Poder: «Eu fui desprezado à vista de muitos e condenado», são as palavras
pronunciadas por Pistis Sophia: «As emanações do Obstinado constrangeram-me e retiraram-me o meu
Poder e fui desprezada ante eles e arrojada ao Caos sem a minha Luz».
E as palavras do Teu Poder: «Converti-me em chumbo ante os seus olhares», são as de Pistis Sophia:
«Quando eles arrebataram a minha Luz tornei-me matéria inerte frente a eles».
E mais ainda, as palavras do Teu Poder: «Através de Ti obtive um Poder que me ajudou», são também as
palavras de Pistis Sophia: «E logo veio até mim uma Luz-Pode, através de Ti, que me salvou».
E as palavras do Teu Poder: «Fui liberto de camadas de pele», são também as de Pistis Sophia: «E
purificaram-me das minhas más matérias e fui levantada sobre elas na Tua Luz».
E as palavras do Teu Poder expressas através de Salomão:
«Foi a Tua mão Direita que me levantou e me retirou a enfermidade», são as palavras de Pistis Sophia: «E
o Teu Raio de Luz levantou-me na Tua Luz e retirou de mim as emanações do Obstinado que me
constrangiam».
E as palavras do Teu Poder: «Tornei-me poderoso na Tua Verdade e purificado na Tua Virtude», são as de
Pistis Sophía:
«Tornei-me poderosa na Tua Luz e purifiquei a minha Luz no Teu Raio».
E as palavras do Teu Poder: «Os meus adversários retiraram-se de mim», são as pronunciadas por Pistis
Sophia: «As emanações do Obstinado, que me constrangiam, retiraram-se de mim».
E as palavras do Teu Poder expressas através de Salomão:
«Fui justificado na Tua Bondade, porque o Teu apoio dura eternamente», são as palavras de Pistis Sophia:
«Fui salva pela Tua Bondade, pois Tu a todos salvaste».
Esta é pois, oh meu Senhor!, a solução do Arrependimento que Pistis Sophia expressou quando foi salva
do Caos e liberta de todas as amarras da obscuridade.”
E sucedeu então que, quando o Primeiro Mistério ouviu Tomé dizer estas palavras, disse: “Falaste bem,
muito bem, Tomé Bendito. Esta é a solução do Cântico de Pistis Sophia”.
E o Primeiro Mistério continuou, dizendo aos Seus discípulos: “Pistis Sophia continuou a cantar-Me
louvores, dizendo:
«1 — Canto para Ti um Cântico. Através do Teu Mandato levaste-me por baixo do mais alto Aeon que
está em cima e conduziste-me até às regiões que estão em baixo.
2 — E novamente, através do Teu Mandato, salvaste-me das regiões inferiores e, através de Ti, colocaste
aí a matéria dos meus Poderes-Luz e eu vi-a.
3— E dissipaste em mim as emanações do Obstinado que me constrangiam e me eram hostis e conferisteme
poder para libertar-me das amarras das emanações de Adamas.
4 — E Tu aniquilaste o Basilisco de sete cabeças arremessando-o com as Tuas mãos e puseste-me sobre a
sua matéria. Destruíste-o para que a sua semente não torne a surgir
5 — E estiveste comigo, dando-me forças em tudo isto e a Tua Luz rodeou-me por todos os lados e
através de Ti tornaste impotentes todas as emanações do Obstinado.
6 — Pois Tu tomaste deles o Poder da sua Luz e desobstruíste o meu caminho para conduzir-me para fora
do Caos.
7 — E me retiraste das obscuridades materiais e tomaste delas os meus Poderes, aos quais haviam
arrebatado a Luz.
8 — Puseste neles Luz Purificada e em todos os meus membros, nos quais não havia Luz, puseste Luz
Purificada da Luz da Altura.
9 — E desobstruíste o caminho deles (os meus membros) e a Luz do Teu Rosto tornou-se indestrutível na
minha vida.
10— Conduziste-me acima do Caos, região do Caos, região de caos e extermínio, a fim de que todas as
matérias que nessa região há, fossem libertados, que todos os meus Poderes fossem renovados na Tua Luz
e que a Tua Luz em todos estivesse. »
Este é, repito, o segundo Cântico que Pistis Sophia entoou. Aquele que tenha compreendido este
Arrependimento, venha e diga-o.”
E sucedeu então, quando o Primeiro Mistério acabou de dizer estas palavras, que Mateus se adiantou e
disse: “Eu entendi a solução do «Canto» que Pistis Sophia entoou. Agora, portanto, ordena-me que o
divulgue abertamente
E o Primeiro Mistério respondeu e disse: “Eu ordeno-te, Mateus, que divulgues a interpretação do Canto
que Pistis Sophia entoou”.
E Mateus respondeu e disse: “Acerca da interpretação do Cântico que Pistis Sophia entoou, assim a Tua
Luz-Poder profetizou, anteriormente, nas Odes de Salomão:
«1 — Aquele que me fez descer das mais Altas Regiões que estão em cima conduziu-me para fora das
regiões que estão no fundo inferior.
2 — Aquele que levou os do Meio instruiu-me acerca deles.
3 — Aquele que disseminou os meus inimigos e adversários conferiu-me fortaleza sobre as ataduras, para
enfraquecê-las.
4 — Aquele que esmagou a serpente das sete cabeças com as suas mãos elevou-me sobre as raízes dela,
para que eu possa extinguir a sua semente.
5 — E Tu estavas comigo, ajudando-me e o Teu Nome rodeava-me em todas as regiões.
6— A Tua “Destra” destruiu o veneno do difamador. A Tua mão tornou clara a Senda para os que Te são
fiéis.
7— Tu livraste-os das tumbas e retiraste-os de entre os cadáveres.
8 — Tomaste ossos mortos e vestiste-os com um corpo e àqueles que estavam inertes, concedeste a
actividade da vida.
9— A Tua Senda tomou-se indestrutível e o Teu Rosto também.
10 — Tu encaminhaste os séculos dos séculos para além da dissolução e renovação da Tua Luz, para que
seja um alicerce para eles.
11 — Encheste-os de riquezas e converteram-se em lugares de morada.»
Esta é, então, meu Senhor, a solução do Cântico que Pistis Sophia entoou. Escuta com atenção para que
eu possa dizê-la abertamente.
A palavra que o Vosso Poder pronunciou através de Salomão: «Aquele que me fez descer das mais Altas
Regiões que estão em cima, também me conduziu para fora das regiões que estão no fundo inferior», é a
palavra que Pistis Sophia enunciou:
«Eu canto-Te louvores. Através do Teu Mandamento fizeste-me descer deste Aeon que está em cima e
conduziste-me às regiões de baixo. E, novamente, através do Teu Mandamento salvaste-me e conduzisteme
para fora das regiões que estão em baixo».
E a palavra que o Teu Poder enunciou através de Salomão:
«Aquele que levou os do Meio, instruiu-me acerca deles», é a palavra que Pistis Sophia pronunciou: «E,
novamente, através do Teu Mandamento induziste a matéria a ser purificada no centro da minha força e
eu o observei».
E, além disso, a palavra que o Teu Poder expressou através de Salomão: «Aquele que disseminou os meus
inimigos e adversários», é a palavra que Pistis Sophia pronunciou. «Tu disseminaste, para longe de mim,
todas as emanações da minha própria decisão que me detinham e me eram hostis».
E a palavra que a Tua Força tinha enunciado: «Foi-me concedida Sabedoria sobre as ataduras para
enfraquecê-las», é a palavra que Pistis Sophia pronunciou: «E Ele conferiu-me Sabedoria para que
pudesse escapar das ataduras dessas emanações».
E a palavra que o Teu Poder enunciou: «Aquele que esmagou a serpente das sete cabeças com as suas
mãos e me elevou sobre as raízes dela para que eu possa extinguir a sua semente», é a palavra que Pistis
Sophia pronunciou: «E Tu esmagaste a serpente das sete cabeças com as Tuas mãos e me elevaste sobre
esta matéria. Tu destruíste-a de modo que a sua semente já não possa voltar a frutificar».
E a palavra que o Teu Poder pronunciou: «E Tu estavas comigo, ajudando-me», é a palavra que Pistis
Sophia mencionou: «E Tu estavas comigo, comunicando-me Força em tudo isto».
E a palavra que o Teu Poder enunciou: «E o Teu Nome rodeava-me por todas as regiões» é a palavra que
Pistis Sophia mencionou: «E a Tua Luz rodeava-me por todos os lados».
E a palavra que o Teu Poder mencionou: «E a Tua “Destra” destruiu o veneno dos caluniadores» é a
palavra que Pistis Sophia expressou: «E através de Ti, as emanações do Obstinado perderam a sua força,
porque Tu lhes retiraste a luz da sua força».
E a palavra que o Teu Poder enunciou: «A Tua mão aclarou o Caminho para os que Te são fiéis» é a
palavra que Pistis Sophia mencionou: «Tu fizeste “Recto” o meu caminho para retirar-me do Caos,
porque tive Fé em Ti».
E a palavra que o Teu Poder enunciou: «Tu libertaste-os das tumbas e os retiraste dos cadáveres» é a
palavra que Pistis Sophia expressou: «Tu libertaste-me do Caos e retiraste-me das trevas materiais, isto é,
para fora das obscuras emanações que estão no Caos, do qual retiraste a Luz».
E a palavra que a Tua Força mencionou: «Tu apoderaste-Te dos ossos mortos e vestiste-os com um corpo
e àqueles que estavam inertes, deste a actividade da vida» é a palavra que Pistis Sophia expressou: «E Tu
apoderaste-Te de todos os meus Poderes, nos quais não havia Luz e concedeste-lhes a Luz Purificada e
aos meus membros, nos quais não se manifestava qualquer Luz, Tu deste Luz-Vida desde as Tuas
Alturas».
E a palavra que o Teu Poder enunciou: «O Teu Caminho tomou-se indestrutível e o Teu Rosto também» é
a palavra que Pistis Sophia mencionou: «E Tu endireitaste o meu caminho para Ti e a Luz do Teu Rosto
tomou-se para mim em vida indestrutível».
E a palavra que o Teu Poder enunciou: «Tu encaminhaste o meu Aeon por cima da destruição de modo
que tudo possa ser libertado e renovado» é a palavra que Pistis Sophia expressou: «E a Tua Luz tem
estado em todas elas».
E a palavra que a Tua Luz-Poder enunciou através de Salomão: «Tu encheste-o de riquezas e ele
converteu-se num recinto sagrado» é a palavra que Pistis Sophia mencionou: «Tu lançaste a Luz da Tua
Torrente sobre mim e eu converti-me em Luz Purificada».
Esta é então, meu Senhor, a solução do Cântico que Pistis Sophia proferiu.”
E então sucedeu que, quando o Primeiro Mistério ouviu Mateus pronunciar estas palavras, disse: “Bem o
disseste Mateus, muito amado. Esta é a solução do Cântico que Pistis Sophia entoou”.
E o Primeiro Mistério continuou e disse:
«1 — Eu declaro: Tu és a Luz das Alturas porque me salvaste e conduziste para Ti e não permitiste que as
emanações do Obstinado, que me são hostis, me privassem da minha Luz.
2 — Oh Luz de Luzes! Eu canto-Te louvores; Tu me salvaste.
3— Oh Luz! Tu conduziste a minha Força para fora do Caos e salvaste-me daqueles que desceram às
Trevas. »
Estas palavras também as havia pronunciado Pistis Sophia. Agora, portanto, aqueles cujas mentes se
tenham tornado compreensivas, compreendendo as palavras que Pistis Sophia pronunciou, que se
adiantem e ofereçam a solução.”
E então aconteceu, quando o Primeiro Mistério tinha acabado de dizer estas palavras aos Seus discípulos,
que Maria se adiantou e disse: “Meu Senhor, a minha mente está sempre disposta a aguardar e, em todo o
momento, a adiantar-se para dar a solução das palavras pronunciadas. Porém, eu tenho temor de Pedro
porque ele me ameaçou e odeia o nosso sexo.
E quando ela disse isto, o Primeiro Mistério disse-lhe: “Todo aquele que se tenha sentido pleno do
Espírito da Luz deve adiantar-se e pronunciar a solução do que Eu digo e ninguém poderá evitar que o
faça. Agora, portanto, oh Maria! Dá-nos a solução das palavras que Pistis Sophia pronunciou.
Então Maria respondeu e disse ao Primeiro Mistério, rodeado pelos Seus discípulos:
“Meu Senhor, com respeito à solução das palavras que Pistis Sophia proferiu, do mesmo modo, a Tua
Luz-Poder profetizou através de David:
«1 — Exaltar-Te-ei, oh Senhor! Porque Tu me recebeste e não deste alento aos meus inimigos.
2 — Oh Senho, meu Deus! Por Ti clamei e Tu me curaste.
3 — Oh Senhor! Libertaste a minha Alma do Inferno, salvaste-me daqueles que caíram ao Abismo. »
E quando Maria mencionou isto, o Primeiro Mistério disse-lhe: “Bem e subtilmente o fizeste, Maria, tu és
Bendita “.
E continuou na Sua dissertação e disse aos Seus discípulos: “Sophia continuou também neste Cântico e
disse:
«1 — A Luz foi o meu Salvador.
2 — E mudou as minhas Trevas para Luz e rasgou o Caos que me envolvia, cingindo-me com Luz. »“
E aconteceu então, quando o Primeiro Mistério acabou de dizer estas palavras, que Martha se adiantou e
disse: “Meu Senhor, o Teu Poder profetizou no passado, através de David, acerca destas palavras:
«10 — O Senhor converteu-se no meu Auxiliador.
11 — Ele transformou a minha lamentação em júbilo; rasgou a minha túnica de pesar e cingiu-me com
alegria. »“
E ocorreu que, quando o Primeiro Mistério escutou de Martha estas palavras, disse: “Bem o disseste e
muito bem, Martha “.
E o Primeiro Mistério continuou dizendo aos Seus discípulos: “Pistis Sophia também continuou o Cântico
e disse:
«1 — Oh meu Poder, entoa louvores à Luz e não esqueças todos os poderes da Luz que te foram
concedidos.
2 — E os poderes que em ti há, louvem o Nome do Seu Santo Mistério.
3 — O qual perdoa toda a sua transgressão, que te salva de todas as angústias com as quais as emanações
do Obstinado te limitaram.
4 — O qual salvou a tua Luz das emanações do Obstinado que correspondem à destruição, que te coroou
com a Luz na Sua compaixão, até te salvar.
5 — O qual te inundou de Luz Purificada. E o teu Princípio renovar-se-á como um Invisível das Alturas. »
Com estas palavras Pistis Sophia entoou louvores, porque Ela foi salva e recordava tudo o que Eu fiz por
ela.”
E aconteceu então que, quando o Primeiro Mistério acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos,
novamente lhes disse: “O que tenha entendido a solução destas palavras, adiante-se e declare-o
abertamente “.
Maria adiantou-se de novo e disse: “Meu Senhor, acerca destas palavras com as quais Pistis Sophia
entoou louvores, a Tua Luz-Poder profetizou, através de David, assim:
«1 — Minha Alma, Bendito seja o Senhor! Que todo o meu Ser louve o Seu Santo Nome.
2 — Minha Alma, louvado seja o Senhor e não esqueça as Suas recompensas.
3 — O que perdoa todas as tuas iniquidades, que cura todas as tuas enfermidades.
4— O que redime a tua vida da dissolução, que te coroa com Graça e Compaixão.
5 — O que satisfaz os teus anelos com coisas boas. A tua juventude renovar-se-á como a de uma águia. »
Isto é: Sophia será como os Invisíveis que estão nas Alturas. Por isso ele afirmou «como uma águia»
porque o ninho da águia está nas alturas, tal como estão nas Alturas os Invisíveis. Isto é, Pistis Sophia
brilhará tal qual os Invisíveis, como acontecia desde o Princípio.”
E aconteceu então que, quando o Primeiro Mistério ouviu Maria expressar estas palavras, lhe disse: “Bem
o disseste Maria Bem-Aventurada”.
E depois, sucedeu que o Primeiro Mistério continuou novamente o Seu discurso e disse aos Seus
discípulos: “Eu tomei Pistis Sophia e conduzi-a a uma região abaixo do Décimo Terceiro Aeon e
introduzi-a em um novo Mistério da Luz que não é o do seu Aeon, a região dos Invisíveis. Além disso,
dei-lhe um «Cântico» da Luz de modo que, daí em diante, os Regentes dos Aeons não tivessem poder
sobre Ela.
E levei-a a essa região até que pudesse ir, por ela própria, até à sua região mais elevada. E aconteceu
então, quando a levei a essa região, que pronunciou este Cântico, assim:
«1 — De facto tive Fé na Luz e Ela recordou-se de mim e escutou o meu Cântico.
2 — Ela conduziu os meus Poderes para fora do Caos e das baixas trevas de toda a matéria e levantoume.
Ela transportou-me a um Aeon mais alto e mais seguro, sublime e grandioso e mudou o meu lugar no
caminho que conduz à minha região.
3— E entregou-me a um Novo Mistério que não está no meu Aeon e deu-me um «Cântico» da Luz.
Agora, portanto, oh Luz! Todos os Regentes verão o que Tu fizeste em mim, temerão e terão Fé na Luz.»
Este Cântico entoou-o Pistis Sophia, regozijando-se porque havia sido conduzida para fora do Caos e
levada a regiões que estão abaixo do Décimo Terceiro Aeon.
Agora, portanto, aquele cuja mente esteja tranquila e tenha compreendido a solução do pensamento do
Cântico que Pistis Sophia entoou, adiante-se e diga-o.”
André adiantou-se e disse: “Meu Senhor, isto é o que a Tua Luz-Poder profetizou, anteriormente, através
de David:
«1 — Com paciência esperei o Senhor. Ele escutou e atendeu os meus lamentos.
2 — Ele conduziu a minha Alma para fora do Abismo de miséria e do asqueroso lodo. Colocou os meus
pés numa rocha e endireitou os meus passos.
3 — Ele pôs na minha boca um novo Cântico, um Cântico de louvor ao nosso Deus. Muitos verão e
temerão e abrigarão esperanças no Senhor»”
E aconteceu então, quando André expressou o pensamento de Pistis Sophia, que o Primeiro Mistério lhe
disse: “Bem o disseste André Bem-Aventurado “.
E Ele continuou na Sua dissertação e disse aos Seus discípulos: “Estes são os acontecimentos por que
passou Pistis Sophia.
E aconteceu então, quando Eu a conduzi à Região que está por baixo do Décimo Terceiro Aeon e estava
para voltar à Luz e separar-Me dela, que Me disse:
«Oh Luz de Luzes! Tu irás à Luz e deixar-me-ás.
E o tirano Adamas saberá que Tu me deixaste e saberá que o meu Salvador não está presente. E regressará
a esta região, ele e todos os seus Regentes que me odeiam e o Obstinado repartirá os poderes pela sua
emanação com rosto de leão, de modo que todos eles virão, forçar-me-ão e tomarão toda a minha Luz
para que eu fique indefesa e novamente sem Luz.
Agora, portanto, oh Luz e minha Luz! Retira-lhes a força da sua luz, para que não possam deter-me de
hoje em diante».”
“E sucedeu então que, quando Eu escutei essas palavras que Pistis Sophia havia dito, lhe respondi
dizendo: Meu Pai que me engendrou ainda não Me concedeu poder para retirar-lhes a luz. Porém, Eu
selarei as regiões do Obstinado e de todos os seus Regentes que te odeiam, porque tu tiveste Fé na Luz. E
também selarei as regiões de Adamas e dos seus Regentes para que nenhum possa combater contigo, até
que se complete o seu tempo e chegue a estação em que Meu Pai me ordene retirar-lhes a luz.”
“E depois disse-lhe a ela: Escuta que vou falar contigo acerca do seu tempo, quando isto que vos digo
haja ocorrido. Sucederá quando se completarem Três vezes.
Pistis Sophia respondeu e disse-Me: «Oh Luz! Como poderei saber quando se cumprem as três vezes para
que me regozije porque está próxima a data em que lhes retirarás a Luz-Poder, a todos eles que me
odeiam, por ter tido Fé na Tua Luz?»”
“E Eu respondi dizendo-lhe: Se vês a Porta do Tesouro da Grande Luz que está aberta depois do Décimo
Terceiro Aeon e, se é à esquerda, quando essa Porta estiver aberta, as Três Vezes estarão completas.
Pistis Sophia respondeu de novo e disse: «Oh Luz! Como saberei — já que estou nesta região — que essa
Porta se abriu?».”
“E Eu respondi-lhe e disse: Quando a Porta se abrir, aqueles que estão em todos os Aeons sabê-lo-ão
porque a Grande Luz prevalecerá em todas as Suas Regiões. Porém, vê, Eu agora ajustei de modo que
eles não exerçam má vontade sobre ti, até que se completem as Três Vezes.
E tu terás o Poder para ir aos seus Doze Aeons quando te agrade e também regressar e entrar na tua
Região que está por baixo do Décimo Terceiro Aeon e entrar na tua Região da qual desceste. Então sim,
cumpriram-se as Três Vezes e o Obstinado e todos os seus regentes novamente te forçarão para retirar-te a
Luz, enfurecidos contigo e pensando que tu aprisionaste o seu poder no Caos. Ele estará furioso contigo
por lhe haver retirado a luz, para mandá-la para o Caos e chegar à sua emanação, de modo que ele possa
sair do Caos e subir à sua Região.
Adamas tratará de conseguir tudo isto. Porém retirar-lhe-ei todas as forças e dar-tas-ei. Eu virei tomá-las
dele.
Agora, portanto, se te pressionam nesses momentos, entoa louvores à Luz e Eu não demorarei a ajudar-te.
Rapidamente irei até ti a essas regiões que estão abaixo. E descerei às suas regiões para retirar-lhes a luz.
E virei a esta Região onde te levei e que está abaixo do Décimo Terceiro Aeon, até que te leve à Região
da qual vieste.
E sucedeu então, quando Pistis Sophia ouviu estas palavras, que se regozijou muito. Contudo, Eu levei-a
à Região que está abaixo do Décimo Terceiro Aeon. Fui para a Luz e separei-Me dela.”
E todos estes acontecimentos foram relatados pelo Primeiro Mistério aos Seus discípulos, para que eles
passassem por Pistis Sophia.
E sentou-se no Monte das Oliveiras, narrando todas estas coisas no meio dos Seus discípulos. Ele
continuou e disse-lhes:
“Depois disto voltou a suceder que, enquanto Eu estava no mundo dos homens, quando me sentei no
caminho que está nesta região, o Monte das Oliveiras, antes que me enviassem a minha «Túnica» que Eu
tinha depositado no Mistério Vigésimo Quarto, do Interior, porém o primeiro do exterior, que o Grande
Incontível no qual Eu estava envolvido, antes que Eu subisse às Alturas para receber a minha Segunda
Veste (enquanto Eu estava sentado nesta região, que está no Monte das Oliveiras), que se havia cumprido
o tempo daquilo que Eu tinha dito a Pistis Sophia:
Adamas e todos os seus Regentes pôr-lhe-ão impedimentos.”
“E sucedeu então, quando chegou esse momento e estando Eu no mundo dos homens, sentado contigo
nesta região que é o Monte das Oliveiras, que Adamas olhou para baixo do Décimo Segundo Aeon e viu
as regiões do Caos e também a diabólica força que nele existe e que não possuía qualquer luz, porque Eu
a havia retirado. Ele viu que estava muito obscuro e que não podia ir a essa região ou seja ao Décimo
Segundo Aeon.”
“Então Adamas voltou a recordar Pistis Sophia e enfureceu-se muitíssimo, pensando que tinha sido ela
que havia apreendido a sua força no Caos e pensando ser ela quem tinha levado a sua luz. Apinhou ira
sobre ira e emanou de si mesmo uma tenebrosa emanação e outra caótica e diabólica para perseguir, com
elas, Pistis Sophia. E fez aparecer uma região tenebrosa, na sua região, para restringir Sophia. E, acompanhado
de vários dos seus Regentes, perseguiram Pistis Sophia para que as duas tenebrosas emanações
emitidas por Adamas pudessem lançá-la no obscuro caos que ele tinha feito e a restringissem nessa
região, acossando-a até lhe retirar toda a Luz. Adamas queria retirar a Luz a Pistis Sophia para a dar às
duas negras e violentas emanações, de modo que estas a levassem ao grande Caos que está em baixo, nas
Trevas e a lançassem no meio do seu obscuro e caótico poder. Isto no caso de ser capaz de vir a essa
região, dado que havia ficado excessivamente obscuro, uma vez que Eu lhe havia retirado a sua Luz-
Poder.
E sucedeu então, quando eles perseguiram Pistis Sophia, que ela tornou a gritar e entoou louvores à Luz,
pois Eu tinha-lhe dito: Se fores restringida e Me cantares louvores, Eu virei rapidamente ajudar-te. E
sucedeu então, quando Ela foi restringida e Eu me sentei contigo nesta região que está no Monte das
Oliveiras, que Ela entoou louvores à Luz, dizendo:
«1 — Oh Luz de Luzes! Eu tive Fé em Ti. Salva-me de todos estes Regentes que me perseguem e ajudame.
2 — Que, na verdade, eles nunca me retirem a Luz, como fez a força com rosto de leão. Porque a Tua Luz
não está comigo, nem a Tua torrente luminosa para salvar-me. E, mais ainda, Adamas está muito colérico
comigo e diz-me: Tu aprisionaste a minha força no Caos.
3— Agora, portanto, oh Luz de Luzes! Se eu fiz isto e a tornei prisioneira, se eu cometi alguma injustiça a
essa força.
4 — Ou se eu a restringi, como ela me restringiu, então permite que todos os Regentes que me
perseguem, me retirem a Luz e me deixem vazia.
5 — E que o inimigo Adamas persiga a minha Força e que dela tome posse e retire a minha Luz,
arrojando-a dentro dos seus negros poderes que estão no Caos e aí conserve a minha Força.
6 — Agora, portanto, oh Luz! Apoia em mim a Tua ira e levanta a Tua Força sobre os meus inimigos que
se levantaram contra mim até ao fim.
7 — Rápido, rápido como disseste: Eu ajudar-te-ei.»”
E sucedeu então que, quando o Primeiro Mistério acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos,
disse ainda: “Quem haja entendido as palavras que pronunciei adiante-se e explique a sua solução”.
Santiago adiantou-se e disse: “Meu Senhor, acerca deste «Cântico» que Pistis Sophia entoou, a Tua Luz-
Poder profetizou assim, anteriormente, através de David no Sétimo Salmo:
«1 — Oh meu Senhor, meu Deus! Em Ti coloquei as minhas esperanças. Livra-me dos meus
perseguidores e salva-me.
2 — E, na verdade, ele nunca teria roubado a minha Alma como um leão, sem que ninguém a pudesse
libertar e salvar.
3 — Oh Senhor, meu Deus! Se eu fiz isto, se cometi injustiça por minhas mãos
4 — Se paguei da mesma forma àqueles que me pagaram com o mal, então permite que caia vazia ante os
meus inimigos.
5—E permite que eles (os meus inimigos) persigam a minha Alma, espezinhem no solo a minha vida e
arrojem ao pó a minha honra (Selah).
6 — Levanta-Te oh Senhor! Na Tua ira, levanta-Te para terminar com os meus inimigos.
7—Levanta-Te conforme o Teu mandamento.»”
E sucedeu então que, quando o Primeiro Mistério ouviu Santiago pronunciar estas palavras, lhe disse:
“Bem o disseste Santiago, meu amado “.
E o Primeiro Mistério continuou e disse aos Seus discípulos: “E sucedeu então, quando Pistis Sophia
acabou de dizer as palavras deste «Cântico», que ela olhou para trás a fim de ver se Adamas e os seus
Regentes tinham regressado ao seu Aeon. E viu-os continuarem a persegui-la. Então, ela voltou-se para
eles e disse-lhes:
«1 — Porque me perseguem e chamam. Eu não deveria Ter ajuda e a Luz não deveria livrar-me de vós?
2 — Agora, portanto, o meu defensor é uma Luz Forte. Porém, deve padecer muito tempo até que me
diga: Eu virei ajudar-te. E não atrairá sempre a Sua ira contra ti. Porém, este é o momento do qual Ele me
falou.
3 — Agora, portanto, se vós não regressais e não deixais de me perseguir, a Luz preparará a Sua Força e
estará pronta com todo o Seu Poderio.
4 — E o Seu Poder preparou-se a si mesmo e pode, deste modo, retirar as luzes que em vós há e
submergir-vos na obscuridade. O Seu Poder preparou isto para que aconteça. Assim, Ele pode dispôr dos
vossos poderes e arrojá-los ao solo. »
E quando Pistis Sophia disse isto, lançou um olhar à Região de Adamas e viu a tenebrosa e caótica região
que ele tinha produzido. Viu também as duas emanações excessivamente violentas que Adamas havia
emanado para que pudessem capturar Pistis Sophia e lançá-la ao caos que ele havia feito, assim como
restringi-la e acossá-la nessa região, até que elas lhe retirassem toda a sua Luz.
E sucedeu que, quando Pistis Sophia viu estas duas tenebrosas emanações e a tenebrosa região que
Adamas tinha produzido, teve medo e gritou à Luz:
«1 — Oh Luz! Adamas, o que produz a violência, está iracundo e produziu uma tenebrosa emanação.
2 — E também emanou outro caos tenebroso e caótico e tem-no pronto.
3 — Agora, portanto, oh Luz! Desse caos que ele produziu para lançar-me e retirar a minha Luz-Poder,
retira Tu a sua própria luz.
4 — E o plano que idealizou, para retirar-me a Luz, será usado para lhe retirar a sua. E a injustiça de que
falou, de retirar-me as Luzes, exerce-a nele e retira-lhe Tu toda a que ele possui. »
Estas foram as palavras que Pistis Sophia pronunciou no seu Cântico. Agora e por conseguinte, aquele
que estiver tranquilo em Espírito, que se adiante e dê a solução das palavras que Pistis Sophia disse neste
«Cântico».”
Martha novamente se adiantou e disse: “Meu Senhor, eu estou tranquila em Espírito e entendo as palavras
que expressas. Agora, portanto, autoriza-me a dar a solução, abertamente “.
E o Primeiro Mistério respondeu e disse a Martha: “Autorizo-te, Martha, a explicar a solução das palavras
que Pistis Sophia pronunciou no seu Cântico “.
E Martha respondeu e disse: “Meu Senhor, estas são as palavras que a Tua Luz-Poder profetizou,
anteriormente, através de David, no Sétimo Salmo, dizendo:
«12 — Deus é um defensor justiceiro, forte e dorido, que não incita a Sua ira em cada dia.
13 — Se não mudais, Ele afiará a Sua espada; já esticou o Seu arco e tem-no pronto.
14 — E já preparou os Seus instrumentos de morte. Já fez as Suas flechas para aqueles que vai queimar.
15 — Eis aqui! A injustiça esteve em momento crítico, gerou mal e produziu iniquidade.
16 — Cavou um fosso e tornou-o vazio. Cairá, assim, no buraco que produziu.
17 — O mal regressará e a sua injustiça cairá sobre a sua cabeça. »
Quando Martha disse isto, o Primeiro Mistério que viu para além disso, respondeu-lhe: “Bem o disseste
Martha Bem-Aventurada “.
E sucedeu então, quando Jesus acabou de contar aos Seus discípulos todos os acontecimentos que Pistis
Sophia havia passado, quando esteve no Caos e o modo como ela havia entoado louvores à Luz, que a
devia salvar e retirá-la do Caos para a levar aos Doze Aeons e ainda a forma como a tinha salvo das
aflições com as quais os Regentes do Caos a haviam restringido, porque ela queria ir para a Luz, que
Jesus continuou o Seu discurso e disse aos Seus discípulos: “E sucedeu, depois de tudo isto, que Me
apoderei de Pistis Sophia e conduzi-a ao Décimo Terceiro Aeon, brilhando extraordinariamente, sendo
incomensurável a Luz que Me rodeava. Entrei na Região dos Vinte e Quatro Invisíveis que brilhavam
intensamente e eles entraram em grande confusão. Viram que Sophia estava comigo. A ela, conheciam-na,
porém, não sabiam quem Eu era e consideravam-Me uma emanação da Terra-Luz.
E sucedeu que, quando Pistis Sophia viu os seus semelhantes, os Invisíveis, regozijou-se muitíssimo e
glorificou-Me, desejando proclamar as maravilhas que Eu lhe havia prodigalizado em baixo, no mundo
dos seres humanos, até a ter salvo. Ela foi ao centro dos Invisíveis e, no meio deles, entoou-Me louvores
dizendo:
«1 — Eu dar-Te-ei Graças, oh Luz! Porque és Salvadora, Tu és Libertadora, para sempre.
2 — Entoarei este Cântico à Luz porque me salvou e me libertou das mãos dos Regentes, meus inimigos.
3 — E Tu protegeste-me em todas as Regiões, salvaste-me das amarras e das profundezas do Caos e, fora
dos Aeons, dos Regentes da Esfera.
4 — E quando Eu saí das Alturas e percorri as Regiões em que não há Luz e não podia regressar ao
Décimo Terceiro Aeon, a minha morada.
5— Porque não havia em mim Luz nem Poder. O meu Poder tinha-se debilitado completamente.
6 — E a Luz salvou-me de todas as minhas aflições. Eu entoei louvores à Luz e Ela escutou-me quando
estava limitada.
7— Guiou-me na criação dos Aeons para levar-me ao Décimo Terceiro Aeon, a minha morada.
8 — E eu dar-Te-ei Graças, oh Luz! Porque me salvaste e pelos Teus grandiosos trabalhos entre a raça dos
homens.
9— Quando me faltou a minha Força, Tu deste-ma e quando me faltou a Luz, Tu inundaste-me com Luz
Purificada.
10 — Eu estava nas trevas e na sombra do Caos, prisioneira das terríveis cadeias do Caos e não tinha
nenhuma Luz.
11 — Porque eu provoquei quem comanda a Luz e transgredi. Encolerizei quem comanda a Luz porque
saí da minha Região.
12 — Quando desci, perdi a minha Luz, fiquei então sem Ela e ninguém me ajudava.
13— E na minha aflição entoei louvores à Luz que me salvou dessa aflição.
14 — E também rompeu as amarras e retirou-me das trevas e da aflição do Caos.
15 — E dar-Te-ei Graças, oh Luz! Porque me salvaste e pelos maravilhosos trabalhos que levaste a efeito
na raça dos homens.
16 — E Tu quebraste as grades superiores das trevas e os dardos do Caos.
17— E permitiste-me partir da região em que eu havia transgredido e me tinham retirado a Luz porque
havia transgredido.
18 — Eu terminei com os meus Mistérios e desci às portas do Caos.
19 — E quando fui constrangida entoei louvores à Luz que me salvou de todas as minhas aflições.
20 — Tu enviaste a Tua corrente que me deu forças e me salvou de todas as minhas aflições.
21 — Eu dar-Te-ei Graças, oh Luz! Porque me salvaste e pelos Teus maravilhosos trabalhos na raça dos
homens. »
É este, então, o «Cântico» que Pistis Sophia entoou no meio dos Vinte e Quatro Invisíveis, desejando que
eles soubessem que Eu fui ao mundo dos homens e lhes comuniquei os Mistérios das Alturas.
Agora, portanto, aquele que estiver exaltado nos seus pensamentos, adiante-se e diga a solução do
Cântico que Pistis Sophia entoou.”
E sucedeu então, quando Jesus acabou de dizer estas palavras, que Filipe se adiantou e disse: “Jesus, meu
Senhor, os meus pensamentos estão exaltados e eu entendi a solução do Cântico que Pistis Sophia entoou.
O profeta David profetizou acerca disto, anteriormente, no Salmo Centésimo Sexto, dizendo:
«1 — Dai graças a Deus porque Ele é Bom e a Sua Graça é Eterna.
2 — Que os liberados do Senhor digam isto porque foi Ele que os libertou das mãos dos seus inimigos.
3 — Ele conduziu-os das suas terras, do Este e do Oeste, do Norte e do Mar
4 — Eles vaguearam pelo deserto, num País sem água e não encontraram o caminho para a cidade da sua
morada.
5 — Esfomeados e sedentos, as suas Almas esvaíam-se.
6 — Ele salvou-os das suas necessidades. Eles chamaram o Senhor e Ele escutou-os na sua aflição.
7— E conduziu-os por uma Senda Recta, para que pudessem ir à região das suas moradas.
8 — Que deem graças ao Senhor pela Sua Bondade e pelos Seus maravilhosos Trabalhos com os filhos
dos homens.
9 — Porque Ele deixou satisfeita uma Alma faminta; Ele saciou uma Alma faminta com coisas boas.
10— Eles estavam sentados nas trevas e à sombra da morte. Estavam acorrentados com ferro e miséria.
11 — Porque eles tinham provocado a ira de Deus e encolerizado a determinação do Altíssimo.
12 — O seu coração foi humilhado nas suas misérias, tornaram-se débeis e ninguém os ajudou.
13 — Eles clamaram ao Senhor na sua aflição e Ele salvou-os das suas necessidades.
14 — Ele conduziu-os para fora das trevas e da sombra da morte e destruiu a sua sujeição.
15 — Que deem graças ao Senhor pela Sua Bondade e os Seus maravilhosos Trabalhos com os filhos dos
homens.
16— Porque Ele destroçou as portas de bronze e rompeu os ferrolhos de ferro.
17 — Ele tomou-os para Si, fora da senda das suas iniquidades, dado que eles haviam descido muito
devido às suas iniquidades.
18 — Os seus corações detestavam toda a classe de carne e estavam próximo dos umbrais da morte.
19 — Eles clamaram ao Senhor na sua aflição e Ele salvou-os das suas necessidades.
20 — Ele enviou a Sua palavra, curou-os e libertou-os das suas misérias.
21 — Que deem graças ao Senhor pela Sua Bondade e os Seus maravilhosos Trabalhos com os filhos dos
homens. »
Então, meu Senhor, esta é a solução do Cântico que Pistis Sophia entoou. Escuta meu Senhor, para que eu
possa dizê-lo claramente. Na verdade, a palavra que David proferiu: «Dai graças ao Senhor, porque Ele é
Bom e a Sua Graça é Eterna» é a palavra que Pistis Sophia exprimiu: «Eu dar-Te-ei graças, oh Luz!
Porque Tu és a minha salvadora e emancipadora, para sempre».
E a palavra que David expressou: «Deixai que os emancipados do Senhor digam isto, porque Ele libertouos
das mãos dos seus inimigos» é a palavra que Pistis Sophia também expressou: «Eu entoei este Cântico
à Luz, porque me salvou das mãos dos Regentes, meus inimigos». Assim como o resto do Salmo.
Esta é então, meu Senhor, a solução do «Cântico» que Pistis Sophia entoou no meio dos Vinte e Quatro
Invisíveis, desejando que eles soubessem dos maravilhosos trabalhos que Tu fizeste por ela e desejando
que eles saibam que Tu entregaste os Teus Mistérios à raça dos homens.”
TERMINA A HISTÓRIA DE PISTIS SOPHIA
Então, depois de tudo isto, de novo sucedeu que Maria se adiantou, glorificou os pés de Jesus e disse:
“Meu Senhor, que não Te desgoste se eu Te interrogo, porque interrogamos, em relação a tudo isto, com
exactidão e certeza.
Tu disseste-nos, anteriormente: «O que procura encontra e ao que chama abre-se-lhe. Porque aquele que
procura encontrará e a todo aquele que chama abrir-se-lhe-á».
Agora, portanto, meu Senhor, a quem é que buscaremos ou a quem é que chamaremos? Ou melhor dito,
quem é que estará apto a dar-nos a explicação das palavras relativas ao que perguntamos? Ou melhor
ainda, quem conhece a potestade das palavras relativas ao que perguntamos? Tu depositaste «Mente de
Luz» na nossa mente e concedeste-nos Inteligência e um pensamento sumamente exaltado. Por isso, não
existiu ninguém no mundo dos homens nem na Altura dos Aeons que pudesse dar a explicação das
palavras relativas às nossas interrogações excepto Tu. Tu que conheces o Universo e nele estás consumado.
Nós não interrogamos como o fazem os homens do mundo, mas segundo a Gnose da Altura, que nos
ensinaste, isto é, interrogamos de excelente modo, tal como nos ensinaste.
Agora, portanto, meu Senhor, não Te desgostes comigo e revela-me tudo o que se relacione com o que Te
perguntarei.”
Sucedeu que, quando Jesus ouviu Maria Magdalena pronunciar estas palavras, lhe respondeu: “Pergunta o
que desejes saber, que Eu to revelarei com exactidão e certeza. Amén, Amén te digo: regozija-te com
grande júbilo e alegra-te com grande satisfação. Se perguntas tudo com exactidão, então Eu alegrar-Me-ei
intensamente porque tu interrogas na forma como se deve interrogar tudo. Com exactidão. Agora,
portanto, pergunta o que querias saber, que Eu o revelarei com alegria.”
Sucedeu então que, quando Maria escutou, do Salvador, estas palavras, se regozijou com grande júbilo e
sumamente alegre disse a Jesus: “Meu Senhor e Salvador, como são, então, os Vinte e Quatro Invisíveis?
De que tipo ou, dizendo melhor, de que classe são eles, ou de que classe é a sua Luz?”
E Jesus respondeu e disse a Maria: “O que é que há no mundo que seja assim? Ou melhor, que região há
neste mundo que se lhes possa comparar? Portanto, de que modo sou Eu semelhante a eles? Ou ainda
melhor, quem sou Eu para falar a respeito deles? Porque não existe nada neste mundo que se lhes possa
comparar, nem forma alguma que se lhes assemelhe. Por isso, nada existe neste mundo que tenha o mérito
do Céu. Amén vos digo: cada um dos Invisíveis é nove vezes maior que o Céu e a Esfera superior e os
Doze Aeons juntos, tal como Eu já vos disse anteriormente.
E não existe Luz neste mundo que sobressaia mais que a Luz do Sol. Amén, Amén, vos digo: os Vinte e
Quatro Invisíveis brilham dez mil vezes mais que a Luz do Sol que está neste mundo, como já vos disse,
tempos atrás. Porque a Luz do Sol, na sua verdadeira forma, não está neste mundo, uma vez que a sua
Luz penetra através de muitos véus e regiões. Mas essa Luz do Sol na sua verdadeira forma, que está na
Região da Virgem de Luz, brilha dez mil vezes mais que os Vinte e Quatro Invisíveis e o Grande Invisível
Antepassado e também o grande Deus Tríplice-Poder, tal como vos tinha dito, anteriormente.
Agora, portanto, Maria, não há forma neste mundo, nem Luz, nem figura que seja comparável aos Vinte e
Quatro Invisíveis e que se possa assemelhar a eles. Porém, Eu conduzir-vos-ei, assim como aos vossos
irmãos e condiscípulos, a todas as Regiões da Altura e levar-vos-ei aos Três Espaços do Primeiro
Mistério, exceptuando as Regiões do Espaço do Inefável e vós apreciareis todas as suas formas
verdadeiras, sem nenhuma semelhança. E se vos conduzo à Altura apreciareis a Sua Glória. Então,
ficareis grandemente assombrados.”
“E se Eu vos conduzir à Região dos Regentes do Destino, vereis então a glória na qual se encontram e
devido à sua predominante glória, vós considerareis este mundo como a Treva das Trevas e vereis todo o
mundo dos homens como uma mancha de escombros, devido à enorme distância a que dele (o Destino)
está e devido à grande linhagem que é consideravelmente maior que ele.”
“E se vos conduzir aos Doze Aeons, vereis então a glória na qual eles se encontram. E, devido à sua
grande glória, a região dos Arcontes do Destino será por vós considerada como a Treva das Trevas e terá
para vós a condição de uma mancha de escombros, devido à enorme distância a que dele está e pela
grande condição que é consideravelmente maior que eles, tal como vos disse anteriormente.
“E se, além disso, vos conduzir ao Aeon Treze, vereis então a glória em que eles se encontram e
considerareis os Doze Aeons como Trevas das Trevas e vereis a região dos Doze Aeons semelhante a uma
mancha de escombros devido à enorme distância que dele está (Aeon Treze) e a grande condição que é
consideravelmente maior que a anterior.”
“E se vos conduzir à Região dos que estão no «Meio», vereis então a glória na qual eles se encontram e os
Treze Aeons serão, por vós, considerados as Trevas das Trevas.
E novamente vereis os Doze Aeons, o Destino Completo, a Ordem Completa, todas as Esferas e todas as
outras nas quais eles se encontram e que terão para vós a condição de uma mancha de escombros, devido
à enorme distância que a sua regíão está dela e devido à grande condição que é consideravelmente maior
que a anterior.’
“E se vos conduzir à Região dos da Direita vereis então a glória na qual se encontram e, a Região dos do
Meio, considerá-la-eis como a noite que está no mundo dos homens. E se olhardes para os do Meio, esta
região terá para vós a condição de uma mancha de escombros, devido à grande distância a que está da
Região dos da Direita.”
“E se vos conduzir à Terra de Luz que está no Tesouro da Luz, vereis a glória na qual eles se encontram.
Então, aos da Região da Direita, considerá-los-eis como a Luz do Meio-Dia no mundo dos homens,
quando o Sol ainda não se pôs e se olhardes para a Região dos da Direita esta terá para vós a condição de
uma mancha de escombros, devido à grande distância a que está do Tesouro da Luz.”
“E se vos conduzir à Região dos que receberam as Heranças e os Mistérios da Luz vereis a glória da Luz
na qual se encontram e, a Terra da Luz, considerá-la-eis como a Luz do Sol que está no mundo dos
homens. E se olhardes para a Terra da Luz, ireis considerá-la como uma mancha de escombros, devido à
enorme distância a que se encontra desta Região e devido à grandeza desta que é consideravelmente
maior que a anterior”
Sucedeu então que, quando Jesus acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos, Maria Magdalena se
adiantou e disse: “Meu Senhor, não Te desgostes comigo se Te interrogo, pois nós Te interrogamos com
exactidão relativamente a tudo “.
E Jesus respondeu dizendo a Maria: “Pergunta o que desejes saber que Eu o revelarei abertamente e sem
analogias. Tudo, relacionado com o que perguntes, dir-te-ei com exactidão e certeza. Eu aperfeiçoar-te-ei
em todo o Poder e com toda a Plenitude desde o Interior dos Interiores até ao Exterior dos Exteriores,
desde o Inefável até às Trevas das Trevas; assim serás chamada «a Plenitude Aperfeiçoada em toda a
Gnose». Agora, por conseguinte, Maria, pergunta o que mais queiras saber, que Eu te revelarei com
grande júbilo e regozijo.”
Sucedeu então, quando Maria escutou estas palavras do Salvador, que se regozijou sumamente com
grande alegria e disse: “Meu Senhor, serão os homens do mundo que receberam os Mistérios da Luz,
superiores às emanações do Tesouro, no Teu Reino? Porque Tu disseste. «Se vos conduzir à Região daqueles
que receberam os Mistérios da Luz, será a região das emanações da Terra da Luz considerada por
vós como uma mancha de escombros devido à enorme distância a que está daquela região e pela grande
Luz em que ela se encontra, quer dizer, a Terra da Luz é o Tesouro, a Região das Emanações». Portanto
meu Senhor, serão os homens que receberam os Mistérios, superiores à Terra da Luz e superiores às
Emanações no Reino da Luz?”
E Jesus respondeu e disse a Maria: “Na verdade, subtilmente perguntas em relação a tudo, com exactidão
e certeza. Porém, escuta atentamente Maria, porque posso falar-te acerca da Consumação do Aeon e da
Ascensão do Universo. Todavia, isto não se realizará. Contudo, disse-vos: «Se vos conduzir à Região das
Heranças d’Aqueles que receberam o Mistério da Luz, o Tesouro da Luz, a Região das Emanações será
então, por vós, considerada como uma mancha de escombros única e como a luz do Sol em pleno dia».”
“Portanto, Eu disse: «Isto realizar-se-á no momento da consumação e ascensão do Universo».
Os Doze Salvadores do Tesouro e as Doze Ordens de cada um d’Eles, que são as Emanações das Sete
Vozes e das Cinco Árvores, estarão comigo na Região das Heranças da Luz, sendo Reis comigo no Meu
Reino, sendo cada um d’Eles Rei sobre as Suas emanações e, além disso, sendo cada um deles Rei
segundo a sua glória, grandeza e pequenez.
E o Salvador das Emanações da Primeira Voz estará na Região das Almas daqueles que receberam o
«primeiro mistério» do Primeiro Mistério, no Meu Reino. E o Salvador das Emanações da Segunda Voz
estará na Região das Almas daqueles que receberam o «segundo mistério» do Primeiro Mistério.
De igual modo, estará também o Salvador das Emanações da Terceira Voz na Região das Almas daqueles
que receberam o «terceiro mistério» do Primeiro Mistério nas Heranças da Luz.
E o Salvador das Emanações da Quarta Voz do Tesouro da Luz estará na Região das Almas daqueles que
receberam o «quarto mistério» do Primeiro Mistério nas Heranças da Luz.
E o Quinto Salvador da Quinta Voz do Tesouro da Luz estará na Região das Almas daqueles que
receberam o «quinto mistério» do Primeiro Mistério nas Heranças da Luz.
E o Sexto Salvador das Emanações da Sexta Voz do Tesouro da Luz estará na Região das Almas daqueles
que receberam o «sexto mistério» do Primeiro Mistério.
E o Sétimo Salvador das Emanações da Sétima Voz do Tesouro da Luz estará na Região das Almas
daqueles que receberam o «sétimo mistério» do Primeiro Mistério no Tesouro da Luz.
E o Oitavo Salvador que é o Salvador das Emanações da Primeira Árvore do Tesouro da Luz estará na
Região das Almas daqueles que receberam o «oitavo mistério» do Primeiro Mistério nas Heranças da
Luz.
E o Nono Salvador que é o Salvador das Emanações da Segunda Árvore do Tesouro da Luz estará na
Região das Almas daqueles que receberam o «nono mistério» do Primeiro Mistério nas Heranças da Luz.
E o Décimo Salvador que é o Décimo Salvador das Emanações da Terceira Árvore do Tesouro da Luz
estará na Região das Almas daqueles que receberam o «décimo mistério» do Primeiro Mistério nas
Heranças da Luz.
De igual forma, também o Décimo Primeiro Salvador, que é o Salvador da Quarta Árvore do Tesouro da
Luz, estará na Região das Almas daqueles que receberam o «décimo primeiro mistério» do Primeiro
Mistério nas Heranças da Luz.
E o Décimo Segundo Salvador, que é o Salvador das Emanações da Quinta Árvore do Tesouro da Luz,
estará na Região das Almas daqueles que receberam o «décimo segundo mistério» do Primeiro Mistério
nas Heranças da Luz.”
“E os Sete Amens, as Cinco Árvores e os Três Amens estarão à Minha Direita, sendo Reis das Heranças
da Luz. E o Salvador Gémeo que é o Filho do Filho e os Nove Guardiões estarão também à Minha
Esquerda, sendo Reis nas Heranças da Luz.”
“E cada um dos Salvadores governará sobre as Ordens das suas emanações nas Heranças da Luz, como
também o fizeram no Tesouro da Luz.”
“E os Nove Guardiões do Tesouro da Luz serão superiores aos Salvadores nas Heranças da Luz. E o
Salvador Gémeo será superior aos Nove Guardiões no Reino. E os Três Amens serão superiores ao
Salvador Gémeo no Reino. E as Cinco Árvores serão superiores aos Três Amens nas Heranças da Luz.”
“E «Jeú» e o «Guardião do Véu da Grande Luz», assim como o «Receptor de Luz», os «dois Magnos
Guias» e o «Grande Sabaoth, o Digno», serão Reis no Primeiro Salvador da Primeira Voz do Tesouro da
Luz. O Salvador estará na Região d’Aqueles que receberam o «primeiro mistério» do Primeiro Mistério.
Porque, na verdade, «Jeú» é o Guardião da Região d’Aqueles da Direita e «Melchizedek», o Magno
Receptor da Luz e os «dois Magnos Guias» emanaram da Luz Purificada, Inteiramente Pura, da primeira
até à «Quinta Árvore».
«Jéu» é, na verdade, o «Veedor da Luz», que emanou, em primeiro lugar, da Luz Pura da «Primeira
Árvore». Por outro lado, o Guardião do Véu d’Aqueles da Direita emanou da «Segunda Árvore». Os Dois
Guias, por seu lado, emanaram da Pura e Inteiramente Purificada Luz da «Terceira» e «Quarta Árvores»
do Tesouro da Luz. «Melchizedek», além disso, emanou da «Quinta Árvore». Por fim, «Sabaoth, o
Digno», a quem chamei «Meu Pai», emanou de «Jeú», o Veedor da Luz.
Estes seis, pois, por mandato do Primeiro Mistério que é o supremo «Auxiliar» ficaram na Região dos da
Direita, para a «economia da colheita da Luz Suprema dos Aeons» dos Regentes dos Mundos e de todas
as Raças que neles há. E de cada um deles vos direi o destino que Ele estabeleceu na expansão do
Universo. Porque, além da importância do destino estabelecido, eles serão Reis Companheiros no
Primeiro Salvador da Primeira Voz do Tesouro da Luz, que estará na Região das Almas daqueles que
receberam o «primeiro mistério» do Primeiro Mistério.”
“E a Virgem de Luz e o Admirável Guia do Meio, a quem os Regentes dos Aeons normalmente chamam
«Grande Jeú» depois do Magno Regente que está na sua Região, Ele, a Virgem de Luz e os Doze
Ministros, de quem vós haveis recebido a vossa forma e o vosso poder, todos eles serão Reis com o
Primeiro Salvador da Primeira Voz na Região das Almas que receberão o «primeiro mistério» do Primeiro
Mistério nas Heranças da Luz.
E os Quinze Auxiliares das Sete Virgens da Luz que estão no Meio, estender-se-ão, eles próprios, nas
Regiões dos Doze Salvadores e os restantes Anjos do Meio, cada um conforme a sua glória, governarão
comigo nas Heranças da Luz e Eu governarei sobre todos eles nas Heranças da Luz.”
“Tudo isto que vos tenho dito não será realizado agora, mas na Consumação do Aeon, quer dizer, na
Ascensão do Universo que é a sua dissolução e na total ascensão do número das Almas Perfeitas, nas
Heranças da Luz.
Antes da Consumação, por conseguinte, isto que vos disse não se realizará, porque cada um estará na sua
própria região, na que Ele estabeleceu desde o Princípio até que o número da Colheita das Almas
Perfeitas esteja completo.
As Sete Vozes, as Cinco Árvores, os Três Amens, o Salvador Gémeo, os Nove Guardiões, os Doze
Salvadores, os da Região da Direita e os da região do Meio, cada um, permanecerá na Região na qual foi
estabelecido, até que o Número das Almas Perfeitas das Heranças da Luz sejam, todas juntas, erguidas. E
também todos os Regentes que se tenham arrependido, permanecerão na região na qual foram
estabelecidos, até que Número das Almas da Luz sejam, conjuntamente, erguidas.”
“Todas as Almas virão, no momento em que Ele receberá os Mistérios e todos os Arcontes que se
arrependeram passarão e virão à região do Meio.
E os do Meio baptizá-los-ão e lhes darão a Unção Espiritual e os selarão com os Selos dos seus Mistérios.
E eles passarão através de todos os da região do Meio e da região da Direita e do interior da região dos
Nove Guardiões e do interior da região do Salvador Gémeo e do interior da região dos Três Amens e dos
Doze Salvadores e do interior das Cinco Árvores e das Sete Vozes.
Cada um lhes dará o Selo do seu Mistério e passarão ao interior de todos eles e irão à região das Heranças
da Luz e cada um ficará na região na qual recebeu os Mistérios nas Heranças da Luz. Numa palavra,
todas as Almas dos Homens que receberão os Mistérios da Luz precederão os Arcontes que se arrependeram
e estes precederão aqueles da região do Meio e aqueles da região completa do Tesouro da Luz. Numa
palavra, eles precederão todos aqueles da Região do Tesouro e precederão todos aqueles das Regiões do
Primeiro Mandamento e passarão ao interior de todos aqueles e entrarão na Herança da Luz até à Região
do seu Mistério. E cada um permanecerá na Região na qual recebeu os Mistérios.
E os da região do Meio e os da Direita e os da Região Completa do Tesouro, cada um permanecerá na
região da ordem para a qual foi designado desde o Princípio até que o universo seja elevado.
E cada um deles completará a sua economia, na qual foi colocado, relativamente à Colheita das Almas
que receberam os Mistérios, em relação com esta economia para que possam selar todas as Almas que
receberão os Mistérios e que passarão através do seu interior para a Herança da Luz. Portanto Maria, esta
é a palavra relacionada com as tuas interrogações cheias de exactidão e certeza. O que tenha ouvidos para
ouvir, que oiça.”
Sucedeu então, quando Jesus acabou de pronunciar estas palavras, que Maria Magdalena se adiantou e
disse:
“Meu Senhor, o meu Morador de Luz tem ouvidos e compreende cada palavra que pronunciaste. Por
conseguinte, meu Senhor, com respeito à palavra sobre a qual disseste: «Todas as Almas das raças dos
homens que receberão os Mistérios da Luz, irão à Herança da Luz antes de todos os Regentes que se
arrependam e antes dos de toda a Região da Direita e antes dos de toda a Região do Tesouro da Luz».
Por este motivo, meu Senhor, Tu nos disseste, anteriormente:
«Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros», quer dizer, os últimos são todas as raças
dos homens que entrarão no Reino da Luz mais rapidamente do que todos os da Região das Alturas, que
são os «primeiros».
Portanto, meu Senhor, Tu nos disseste: «O que tenha ouvidos para ouvir, que oiça». É o vosso desejo de
saber se compreendemos cada palavra do que disseste. Isto, por conseguinte, é a palavra, meu Senhor.”
E sucedeu, quando Maria finalizou estas palavras, que o Salvador se assombrou grandemente pelas
definições das palavras que ela proferiu porque se havia convertido completamente em Espírito Puro.
Jesus respondeu-lhe, novamente, dizendo:
“Bem o disseste, Pura e Espiritual Maria, esta é a solução da palavra.”
Sucedeu então, depois de todas estas palavras, que Jesus continuou no Seu discurso dizendo aos Seus
discípulos:
“Escutai com atenção que devo falar convosco da Glória dos das Alturas e como eles são, com a forma
como vos falei, este dia.”
“Agora, portanto, se vos conduzo à Região do Último Auxiliar que rodeia o Tesouro da Luz e se vos
conduzo à Região desse Último Auxiliar vereis a glória na qual Ele se encontra. Então, a Região da
Herança da Luz será considerada por vós do singular tamanho de uma cidade do mundo, devido à grandeza
em que está o Último Auxiliar e à Grande Luz na qual se encontra.
E depois disso falar-vos-ei também da glória do Auxiliar que está acima do Pequeno Auxiliar. Porém, não
me será possível falar-vos das regiões daqueles que estão acima de todos os Auxiliares, porque não existe
ninguém neste mundo que possa descrevê-los, uma vez que não há nada que lhes seja igual ou
comparável em Grandeza e Luz. E não só neste mundo. Também não têm qualquer semelhança com os
das Alturas de Justiça da sua região para cima.
Por este motivo, não existe forma neste mundo que os possa descrever devido à grande glória d’Aqueles
da Altura e pela sua desmesurada Grandeza. Assim, não existe forma, neste mundo, capaz de os
descrever”.
Sucedeu então, quando Jesus acabou de dizer isto aos Seus discípulos, que Maria Magdalena se adiantou
e Lhe disse: “Meu Senhor, não Te desgostes comigo se Te interrogo e causo problemas repetidamente.
Assim, pois, meu Senhor não Te aborreças comigo se Te interrogo com exactidão e certeza, porque os
meus irmãos proclamarão isto entre as raças dos homens para que possam ouvi-lo, se arrependam e sejam
salvos dos violentos juízos dos malignos Regentes para irem à Altura, a fim de herdar o Reino da Luz.
Porque, meu Senhor, nós não somos compassivos só conosco próprios, mas também com todas as raças
dos homens, para que eles se libertem dos violentos regentes das trevas e sejam salvos das mãos dos
violentos receptores das Trevas mais profundas”.
E aconteceu que, quando Jesus ouviu Maria dizer estas palavras, lhe respondeu com grande Compaixão
dizendo-lhe:
“Pergunta o que desejes que Eu vo-lo revelarei com exactidão e certeza e sem qualquer analogia “.
Sucedeu então que, quando Maria ouviu o Salvador dizer estas palavras, se regozijou com grande júbilo
e, com enorme alegria, disse a Jesus: “Meu Senhor! Qual é a grandeza do Segundo Auxiliar em relação ao
Primeiro? A que distância está um do outro ou, dizendo melhor, quantas vezes brilha um mais que o
outro?”
Jesus respondeu a Maria, no meio dos Seus discípulos:
“Amén, Amén vos digo: o Segundo Auxiliar está afastado do Primeiro, a desmesurada distância, de
acordo com a altura de cima e a profundidade de baixo e o comprimento e a largura, porque ele está
excessivamente distante do Primeiro, a grande e desmesurada distância, graças aos Anjos e a todos os
Arcanjos e graças aos Deuses e a todos os Invisíveis. E é consideravelmente maior que o Primeiro, num
incalculável grau, graças aos Anjos e Arcanjos e graças aos Deuses e a todos os Invisíveis. E brilha mais
do que o Primeiro, numa dimensão totalmente incalculável, de modo que não há medida para a Luz na
qual se encontra, nem medida para Ele graças aos Anjos e Arcanjos e graças aos Deuses e a todos os
Invisíveis, tal como vos disse em anterior ocasião.”
“Também, da mesma forma, o Terceiro, o Quarto e o Quinto Auxiliares são, cada um, maior que o outro e
brilham mais do que o anterior e estão afastados uns dos outros a grande e desmesurada distância graças
aos Anjos e Arcanjos e graças aos Deuses e a todos os Invisíveis, tal como vos disse em ocasião anterior.
Também vos falarei da Região de cada um deles na sua expansão.”
Sucedeu então, quando Jesus concluiu estas palavras, que Maria Magdalena se adiantou de novo e disse a
Jesus: “Meu Senhor! Em que região estarão os que receberam o Mistério da Luz do Meio, do Ultimo
Auxiliar?”.
E Jesus, rodeado pelos discípulos, respondeu dizendo a Maria: “Aqueles que receberam o Mistério da
Luz, emanaram do corpo de matéria dos Regentes e cada um estará na sua ordem de acordo com o
Mistério que recebeu. Aqueles que receberam os Mistérios mais elevados permanecerão numa ordem
mais elevada; Aqueles que receberam Mistérios Menores permanecerão nas ordens mais baixas, até à
região da qual cada um recebeu os Mistérios e ali permanecerão, na sua ordem, na Herança da Luz.
Por tal motivo vos disse anteriormente: «Onde o vosso coração estiver, estará o vosso Tesouro», quer
dizer, de acordo com a Região em que recebeu os seus Mistérios estará cada um.”
Aconteceu que, quando Jesus acabou de pronunciar estas palavras, João se adiantou e Lhe disse:
“Meu Senhor e Salvador, dá-me o Teu consentimento para falar e não Te desgostes se Te interrogo em
relação a tudo isto, com exactidão e certeza, porque Tu, meu Senhor, me prometeste revelar-nos tudo
sobre o que Te interroguemos. Portanto, meu Senhor, nada nos ocultes sobre o que Te interrogamos.
E Jesus respondeu a João com grande compaixão, dizendo-lhe:
“A ti também Bem-Aventurado e Amado João, Eu ordeno que expresses a questão que te compraza que
Eu revelarei frontalmente, sem nenhuma analogia e dir-te-ei tudo acerca do que Me perguntares, com
exactidão e certeza.”
E João respondeu, dizendo a Jesus: “Meu Senhor, permanecerá, então, cada um na região até onde haja
recebido os Mistérios e não terá poder para ir às Ordens que estão acima dele?”
E Jesus respondeu dizendo a João: “Realmente tudo o que perguntas tem precisão e certeza. Porém,
escuta com atenção João, que posso falar contigo. O que haja recebido Mistérios da Luz, permanecerá na
Região em que os tenha recebido e não terá o poder de ir à Altura, às Ordens que estão acima dele.”
“Assim, pois, o que recebeu Mistérios no Primeiro Mandamento tem o poder de ir às Ordens que estão
abaixo dele, quer dizer, a todas as Ordens do Terceiro Espaço. Contudo, não tem o poder de ir à Altura, às
Ordens que estão acima dele. E o que receba os Mistérios do Primeiro Mistério — que é o Vigésimo
Quarto Mistério de fora e a cabeça do Primeiro Espaço que está fora — tem o poder de ir a todas as
ordens que não estão com ele exceptuando o de ir às Regiões que estão acima dele ou que passam por
elas.”
“E aqueles que receberam os Mistérios nas Ordens dos Vinte e Quatro Mistérios irão, cada um, à Região
na qual receberam Mistérios e terão poder de passar por todas as Ordens e Espaços que não estão com ele.
Contudo, não terão o poder de ir às Ordens mais elevadas que estão acima dele ou que passam por elas.”
“E aquele que recebeu os Mistérios nas Ordens do Primeiro Mistério que está no Terceiro Espaço tem o
poder de ir a todas as Ordens mais baixas, que estão abaixo dele e passar por elas. Porém, não tem o
poder de ir às Regiões que estão acima dele ou de passar por elas.”
“E aquele que recebeu os Mistérios do «Primeiro Três Vezes Espiritual» — que governa sobre todos os
Vinte e Quatro Mistérios, os quais governam sobre o Espaço do Primeiro Mistério, a Região da Extensão
do Universo de quem vos falarei—esse, portanto, que recebeu o Mistério do Três Vezes Espiritual, tem o
poder de ir abaixo, isto é, a todas as Ordens que estão abaixo dele. Contudo, não tem o poder de ir às
Alturas das Qrdens que estão acima dele, quer dizer, a todas as Ordens do Espaço Inefável.”
“E aquele que recebeu o Mistério do «Segundo Três Vezes Espiritual», tem o poder de ir às Ordens do
Primeiro Três Vezes Espiritual e passar por todas elas e por todas as Ordens que nelas estão. Porém, não
tem o poder de ir às Ordens mais elevadas do «Terceiro Três Vezes Espiritual».”
“E aquele que recebeu o Mistério do «Terceiro Três Vezes Espiritual» que governa sobre os «Três Vezes
Espirituais» e os «Três Espaços» do Primeiro Mistério conjuntamente, tem o poder de ir às Ordens que
estão abaixo dele. Contudo, não tem o poder de ir à Altura das Ordens que estão acima, quer dizer, às
Ordens do Espaço do Inefável.”
“E aquele que recebeu o Mistério «Maior» do Primeiro Mistério do Inefável, quer dizer, os Doze
Mistérios do Primeiro Mistério, todos juntos, que governam sobre todos os Espaços do Primeiro Mistério,
esse que recebeu o Mistério, tem o poder de passar por todas as Ordens dos Espaços dos Três Vezes
Espirituais e dos Três Espaços do Primeiro Mistério e todas as suas Ordens. Tem ainda, o poder de passar
por todas as Ordens das Heranças da Luz, de passá-las de fora para dentro e de dentro para fora, assim
como de cima para baixo e de baixo para cima, da Altura até à profundidade e da profundidade à Altura,
do comprimento à largura e da largura ao comprimento. Numa palavra, ele tem o poder de permanecer na
Região que lhe agrade, na Herança do Reino da Luz.
E Amén vos digo: esse Homem, ao dissolver-se o Mundo, será Rei sobre todas as Ordens da Herança da
Luz e o que recebe esse Mistério do Inefável o qual «Eu Sou».”
“Esse Mistério sabe porque é que as Trevas se levantaram e a Luz apareceu.
“E esse Mistério conhece porque é que as Trevas das Trevas se levantaram e a Luz das Luzes surgiu.
“E esse Mistério sabe porque é que o Caos surgiu e o Tesouro da Luz sobreveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que os juízos apareceram e a Terra da Luz e a Região das Heranças da Luz
surgiram.
“E esse Mistério sabe porque é que os ímpios surgiram e os mansos se puseram de pé.”
“E esse Mistério conhece porque é que os castigos e juízos surgiram e todas as Emanações da Luz
ressuscitaram.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Fogo do Castigo surgiu e porque é que os Selos da Luz, para que o
fogo não os prejudique, apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que a ira apareceu e a Paz surgiu.”
“E esse Mistério sabe porque é que a calúnia surgiu e os Cânticos da Luz apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que as Preces da Luz apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que a perversidade surgiu e o engano apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a maldição surgiu e a Benção apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que o crime surgiu e a vivificação das Almas apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que o adultério e a fornicação surgiram e a Castidade apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que o trato sexual surgiu e a Continência apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a insolência e a ostentação surgiram e porque é que a Humildade e a
Mansidão se levantaram.”
“E esse Mistério sabe porque é que o pranto foi originado e o riso foi suscitado.”
“E esse Mistério sabe porque é que a calúnia se levantou e porque o bom esclarecimento apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a apreciação surgiu e o desprezo sobreveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que a murmuração surgiu e a Inocência e a Humildade sobrevieram.”
“E esse Mistério sabe porque é que o pecado apareceu e a Pureza sobreveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que a Força surgiu e debilidade se apresentou.”
“E esse Mistério sabe porque é que o movimento do corpo surgiu e a sua utilidade sobreveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que a pobreza foi originada e a riqueza foi suscitada.”
“E esse Mistério sabe porque é que a Liberdade do Mundo apareceu e a escravidão sobreveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que a morte surgiu e a vida sobreveio.”
Sucedeu então que, quando Jesus concluiu estas palavras, os Seus discípulos, ao ouvi-lO, se regozijaram
com grande júbilo e alegria.
E Jesus continuou com a Sua “prática” dizendo-lhes:
“Prestai ainda mais atenção agora, oh Meus discípulos! Para que vos fale da Gnose Completa do Mistério
do Inefável.”
“Esse Mistério do Inefável sabe porque é que a falta de misericórdia surgiu e a Misericórdia apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a ruína apareceu e o Eterno Deus surgiu.”
“E esse Mistério sabe porque é que os répteis apareceram e porque serão destruídos.”
“E esse Mistério sabe porque é que os animais selvagens surgiram e porque serão destruídos.”
“E esse Mistério sabe porque é que o gado sobreveio e os pássaros apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que as montanhas se elevaram e pedras preciosas apareceram nelas.”
“E esse Mistério sabe porque é que a matéria do ouro foi originada e a matéria da prata apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a matéria do cobre apareceu e a matéria do ferro foi originada.”
“E esse Mistério sabe porque é que a matéria do chumbo surgiu.”
“E esse Mistério sabe porque é que a matéria do vidro surgiu e a matéria da cera apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que as ervas, quer dizer, os vegetais surgiram e todas as substâncias
apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que as águas da Terra e todas as coisas que nela há, surgiram e a Terra
apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que os mares e as águas surgiram e os animais selvagens marinhos
apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que a matéria do Mundo surgiu e o Mundo será rapidamente destruído.”
Jesus continuou, dizendo aos Seus discípulos:
“E ainda mais, oh Meus discípulos e Irmãos! Sede simples com o Espírito que reside em vós, que entende
e compreende todas as palavras que vos direi porque, de agora em diante, fa/ar-vos-ei sobre toda a Gnose
do Inefável.”
“Esse Mistério sabe porque é que o Oeste surgiu e o Este se elevou.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Sul surgiu e o Norte se levantou.
“Ainda mais Meus discípulos, escutai com atenção e mantende a vossa sobriedade para que escuteis a
Gnose Total do Mistério do Inefável.”
“Esse Mistério sabe porque é que os demónios apareceram e o género humano surgiu.”
“E esse Mistério sabe porque é que o calor foi suscitado e o bom tempo sobreveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que as estrelas surgiram e as nuvens apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que a Terra se aprofundou e a água dela proveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que a carestia surgiu e a miséria apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a branca geada surgiu e o saudável orvalho apareceu.”
“E esse Mistério sabe porque é que a Terra secou e a água escorre sobre ela.”
“E esse Mistério sabe porque é que o pó surgiu e a deliciosa frescura apareceu.”
“E esse Mistério sabe porque é que o granizo surgiu e a agradável neve apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que o vento do oeste surgiu e o vento do este apareceu.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Fogo da Altura surgiu e as águas apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que o vento do este surgiu.”
“E esse Mistério sabe porque é que o vento do sul surgiu e o vento do norte apareceu.”
“E esse Mistério sabe porque é que as estrelas dos céus e os discos dos Veedores de Luz surgiram e o
Firmamento, com todos os seus véus, apareceu.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Arcontes das Esferas surgiram e a Esfera, com todas as suas
Regiões, apareceu.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Arcontes dos Aeons surgiram e os Aeons, com os véus,
apareceram.”
“E esse Mistério sabe porque é que os tiranos Arcontes dos Aeons surgiram e os Arcontes arrependidos
apareceram.”
“E esse Mistério sabe porque é que os servos surgiram e os Decanos apareceram.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Anjos surgiram e os Arcanjos apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que os Amos surgiram e os Deuses apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que os Céus, na Altura, surgiram e a Concórdia apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que o ódio surgiu e o Amor apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a discórdia surgiu e a Concórdia apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a avareza e o desejo de posse apareceram e a Renúncia a tudo surgiu.”
“E esse Mistério sabe porque é que a voracidade surgiu e a saciedade foi suscitada.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Pares surgiram e os Ímpares apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que a falta de religiosidade se originou e o temor a Deus surgiu.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Veedores de Luz e as Centelhas surgiram.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Três Vezes Poderoso surgiu e os Invisíveis apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que os Ancestrais surgiram e os puritanos apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que o Grande Obstinado surgiu e a sua fidelidade sobreveio.”
“E esse Mistério sabe porque é que o grande Tríplice-Poder surgiu e o grande Invisível Ancestral
apareceu.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Décimo Terceiro Aeon surgiu e a Região dos do Meio apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que os Receptores do Meio surgiram e as Virgens da Luz apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que os Ministros do Meio surgiram e os Anjos do Meio apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que a Terra de Luz surgiu e o Grande Receptor da Luz apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que os Guardiões da Região da Direita surgiram e os seus condutores
apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que a Porta da Vida surgiu e Sabaoth, o Digno, apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que a Região da Direita e a Terra de Luz, que é o Tesouro da Luz,
apareceu.
“E esse Mistério sabe porque é que as Emanações da Luz surgiram e os Doze Salvadores apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que as Três Portas do Tesouro da Luz surgiram e os Nove Guardiões
apareceram.
“E esse Mistério sabe porque é que o Salvador Gémeo surgiu e os Três Amens apareceram.”
“E esse Mistério sabe porque é que as Cinco Árvores surgiram e os Sete Amens apareceram.”
“E esse Mistério sabe porque é que a Mescla, que não existia, surgiu e se purificou.”
E Jesus continuou dizendo aos Seus discípulos:
“Ainda mais, oh Meus discípulos! Sede simples e trazei, cada um de vós, até aqui, a Força de sentir a Luz
diante dele, pois podeis percepcioná-la com segurança porque, de agora em diante, falar-vos-ei com
verdade de toda a Região do Inefável e de como ela é.”
Sucedeu então que, quando os discípulos ouviram Jesus pronunciar estas palavras, cederam,
completamente desanimados.
Então, Maria Magdalena, adiantou-se arrojando-se aos pés de Jesus, beijou-os e lamentando-se disse:
“Tem misericórdia de mim Senhor, porque os meus irmãos, ao escutar as palavras que pronunciaste,
desanimaram. Portanto, meu Senhor, relativamente à Gnose de todas as coisas que expressaste a fim de
que eles estejam no Mistério do Inefável, ouvi que me disseste: «De agora em diante iniciarei os Meus
sermões convosco, sobre a Gnose Total do Mistério do Inefável». Estas palavras que pronunciaste ante
nós, não as mencionaste para que sejam completadas. Por este motivo, os meus irmãos escutaram e não
compreenderam o modo como lhes falaste, relativamente às palavras que pronunciaste, meu Senhor!
Se a Gnose de tudo isto está nesse Mistério, onde está o Homem que está no Mundo e tem a capacidade
de entender este Mistério em toda a sua Gnose e o símbolo de todas essas palavras que expressaste?”
E sucedeu que, quando Jesus ouviu Maria dizer estas palavras e se deu conta de que os discípulos haviam
começado a perder o seu ânimo, os alentou dizendo-lhes:
“Não vos aflijais mais, Meus discípulos, pelo Mistério do Inefável, crendo que não o entendereis. Amén
vos digo:
Esse Mistério é vosso e de todo aquele que vos oiça para que, deste modo, renunciem a todas as coisas
deste mundo e a toda a matéria que nele está e renunciem também a todos os pensamentos perversos e a
todas as preocupações deste Aeon.”
“Agora, por conseguinte, vos digo: Para aquele que renuncie ao mundo e a tudo o que nele há e se
submeta a si próprio à Divindade, esse Mistério estará mais próximo do que todos os Mistérios do Reino
da Luz e entendê-lo-á mais rapidamente e mais facilmente do que todos os outros. O que alcance a Gnose
desse Mistério renunciará a este mundo e às coisas que nele há.”
“Por este motivo vos disse, anteriormente: «Todos aqueles para quem seja pesada a carga, venham até
Mim, que Eu vos darei a Vida porque a Minha carga é leve e o Meu jugo, suave».
Agora, portanto, o que receba esse Mistério terá de renunciar ao Mundo e às coisas que há nele. Por esta
razão, Meus discípulos, não vos aflijais, acreditando que não entendereis esse Mistério. Amén vos digo:
«Esse Mistério é compreendido de modo mais rápido do que todos os Mistérios». Amén vos digo: «Esse
Mistério é vosso e de todo aquele que renuncie ao Mundo e às coisas que há nele».”
“Escutai agora com atenção, Meus discípulos, Companheiros e Irmãos, porque devo impulsionar-vos para
a Gnose do Mistério do Inefável em relação com o que tenho discorrido convosco. Na realidade, Eu
cheguei até onde posso falar-vos acerca da Gnose Completa na expansão do Universo, visto que a
expansão do Universo é a sua Gnose.”
“Porém, agora prestai atenção, porque posso falar-vos progressivamente sobre a Gnose desse Mistério.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Cinco Auxiliares se separaram a si próprios e apareceram dos
Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que a Grande Luz das Luzes se separou a si própria e apareceu dos Órfãos
de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Primeiro Mandamento se separou a si próprio e se dividiu nos Sete
Mistérios e porque é que é chamado Primeiro Mandamento e apareceu dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que a Grande Luz das Impressões da Luz se separou a si própria e se
exaltou a si mesma sem emanações e porque é que apareceu dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Primeiro Mistério, quer dizer, o Vigésimo Quarto Mistério de fora,
se separou a si próprio e, em si mesmo, imitou os Doze Mistérios, de acordo com o número (quantidade)
da numeração dos Incontidos e Ilimitados e porque é que apareceu dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Doze Inamovíveis se separaram e se estabeleceram a si próprios,
com todas as suas ordens e porque é que apareceram dos Orfãos de Pai.
“E esse Mistério sabe porque é que os Empreendedores se separaram e se estabeleceram a si próprios,
dividindo-se em Doze Ordens e porque é que apareceram dos Órfãos de Pai, que pertencem às Ordens do
Espaço do Inefável.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Incompreensíveis, que pertencem ao Segundo Espaço do Inefável,
se separaram a si próprios e porque é que emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Doze Sinceros se separaram e estabeleceram a si próprios, depois
de todas as Ordens dos Não-Designados, sendo por si mesmos Incontidos e Ilimitados e porque é que
emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que esses Não-Designados se separaram a si próprios, não se designaram a
si mesmos nem se deram a conhecer de acordo com a Economia do «Um» e «Único», o Inefável e porque
é que emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Super-Profundos se separaram e se distribuíram a si próprios,
sendo uma só Ordem e porque e que emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que as Doze Ordens dos Inefáveis se separaram e se dividiram a si
próprias em Três Partes e porque é que emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que todos os Imperecíveis, sendo Doze Ordens, se separaram e
estabeleceram a si próprias, tendo-se estendido numa só Ordem e porque é que se dividiram a si mesmas,
formando diferentes Ordens, sendo Incontíveis e Ilimitadas e por que é que emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Insuperáveis se separaram e se exaltaram a si próprios, sendo Doze
Espaços Ilimitados e se estabeleceram a si mesmos, sendo Três Ordens de Espaços de acordo com a
Economia do « Um e Único», o Inefável e porque é que emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Doze Incontidos que residem nas Ordens do «Um e Único», o
Inefável, se separaram a si próprios e porque é que emanaram dos Órfãos de Pai, até que fossem levados
ao Espaço do Primeiro Mistério que é o Segundo Espaço.”
“E esse Mistério sabe porque é que as Vinte e Quatro Miríades dos que entoam louvores se separaram e se
dilataram a si próprias para fora do Véu do Primeiro Mistério, que é o Mistério-Gémeo, que vê por dentro
e por fora do « Um e Único», o Inefável e porque é que emanaram dos Orfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que todos os Incontidos se separaram a si próprios, aqueles que
recentemente nomeei, que estão nas Regiões do Segundo Espaço do Inefável, que é o Espaço do Primeiro
Mistério e porque é que esses Incontidos e Ilimitados emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Vinte e Quatro Mistérios do Primeiro Três Vezes Espiritual se
separaram a si próprios e porque é que são chamados os Vinte e Quatro Espaços do Primeiro Três Vezes
Espiritual e emanaram do Segundo Três Vezes Espiritual.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Vinte e Quatro Mistérios do Segundo Três Vezes Espiritual se
separaram e emanaram do Terceiro Três Vezes Espiritual.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Vinte e Quatro Mistérios do Terceiro Três Vezes Espiritual, quer
dizer, os Vinte e Quatro Espaços do Terceiro Três Vezes Espiritual, se separaram a si próprios e emanaram
dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que as Cinco Árvores do Primeiro Três Vezes Espiritual se separaram e se
dilataram a si próprias, imóveis, uma após outra e limitadas uma com outra e com todas as suas Ordens e
porque é que emanaram dos Órfãos de Pai.
“E esse Mistério sabe porque é que as Cinco Árvores do Segundo Três Vezes Espiritual se separaram a si
próprias e emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que as Cinco Árvores do Terceiro Três Vezes Espiritual se separaram a si
próprias e emanaram dos Orfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Inabarcáveis do Primeiro Três Vezes Espiritual se separaram a si
próprios e emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Inabarcáveis do Segundo Três Vezes Espiritual se separaram a si
próprios e emanaram dos Orfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que os Inabarcáveis do Terceiro Três Vezes Espiritual se separaram a si
próprios e emanaram dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Primeiro Três Vezes Espiritual da região de baixo dos que residem
nas Ordens do «Um e Único», o Inefável, se separou a si próprio e emanou do Segundo Três Vezes
Espiritual.”
“E esse Mistério sabe porque é que o Terceiro Três Vezes Espiritual, quer dizer, o Primeiro Três Vezes
Espiritual de cima se separou a si próprio e emanou do Décimo Segundo Pró-Três Vezes Espiritual, que
está na última região dos Órfãos de Pai.”
“E esse Mistério sabe porque é que todas as regiões que estão no Espaço do Inefável e todos os que nelas
estão se estenderam a si próprias e emanaram da Última Margem do Inefável.”
“E esse Mistério sabe, por si mesmo, porque é que se separaram a si próprios para emanar do Inefável,
quer dizer, d’Aquele que a todos governa e que os expande de acordo com as suas Ordens.”
“Falar-vos-ei de tudo isto na expansão do Universo, numa palavra, de todos aqueles de quem vos tenho
falado: aqueles que surgiram e os que hão-de vir, aqueles que emanam e os que aparecem, aqueles que
estão exteriormente sobre eles e os que neles estão implantados, aqueles que conterão a Região do
Primeiro Mistério e aqueles que estão no Espaço do Inefável — deles vos falarei, porque os revelarei a
vós e falar-vos-ei deles, de acordo com cada Região e com cada Ordem, na expansão do Universo.
E revelar-vos-ei todos os Mistérios que governam sobre todos eles, os seus Pró-Três Vezes Espirituais e
os seus Super-Três Vezes Espirituais que governam sobre os seus Mistérios e as suas Ordens.”
“Agora, portanto, o Mistério do Inefável e através do qual todos estes surgiram, sabe porque é que
surgiram todos estes de quem vos tenho falado abertamente.
Este é o Mistério que está contido em todos eles e é a saída, a ascensão e a exaltação de todos eles.”
“E o Mistério do Inefável é o Mistério que está contido em todos estes de quem vos tenho falado e de
quem vos falarei na expansão do Universo.
E este é o Mistério que está contido em todos eles, é o Único Mistério do Inefável e da Gnose de todos
estes de quem vos falei, de quem vos falarei e de quem ainda não vos falei. Destes, falar-vos-ei na
expansão do Universo e da sua Gnose Completa, uma com outra e porque é que surgiram.
Esta é a Única Palavra do Inefável.”
“E falar-vos-ei da expansão de todos os Mistérios e o tipo de cada um deles e o modo de ser da sua
consumação em todas as suas formas. E vos direi o Mistério do Um e Único, o Inefável e todos os seus
tipos, todas as suas formas e a sua economia completa e porque é que apareceram da Última Margem do
Inefável. E porque é que esse Mistério é a exaltação de todos eles.”
“E esse Mistério do Inefável é Uma e Única Palavra que existe no Verbo do Inefável e este é a Economia
da solução de todas as palavras que vos tenho falado.”
“E aquele que receba a «Uma e Única» Palavra desse Mistério do qual agora vos falarei, assim como
todos os seus tipos e todas as suas formas e o modo de realizar o seu Mistério, vós porque sois Perfeitos e
completamente Perfeitos realizareis toda a Gnose desse Mistério com toda a sua economia, já que a vós
foram confiados todos os Mistérios.
Agora, escutai com atenção, porque posso revelar-vos esse Mistério, que é (........?).”
“Por conseguinte, o que receba a Uma e Única Palavra desse Mistério do qual vos tenho falado, se
provém do corpo de matéria dos Arcontes e se os Receptores Retribuintes vêm libertá-lo do corpo de
matéria dos Arcontes — os Receptores que libertam do corpo, todas as Almas que partem — logo que os
Receptores Retribuintes libertam a Alma daquele que recebeu este Um e Único Mistério do Inefável, de
que recentemente vos falei, imediatamente, se está liberto do corpo de matéria, se converte numa grande
corrente de Luz no meio desses Receptores e estes sentir-se-ão terrivelmente atemorizados pela Luz dessa
Alma e serão tornados impotentes e cairão, desistindo em conjunto, por temor à grande Luz que acabaram
de ver.”
“E a Alma que recebe o Mistério do Inefável elevar-se-á de novo à Altura, convertida numa grande
corrente de Luz e os Receptores não poderão compreendê-la e não saberão como é constituído o caminho
sobre o qual irá. Porque, convertida numa grande corrente de Luz, elevar-se-á à Altura e nenhuma força
será capaz de a deter nem aproximar-se dela.”
“Contudo, passará através de todas as Regiões dos Arcontes e de todas as Emanações da Luz e não dará
respostas em nenhuma Região, nem desculpas, nem sinais e nenhuma força dos Arcontes, nem qualquer
força das Emanações da Luz, será capaz de se aproximar dessa Alma. Porém, todas as Regiões dos
Arcontes e todas as Regiões das Emanações da Luz, lhe cantarão louvores nas suas regiões por temor à
Luz da corrente que a envolve, até que tenha passado por todas elas e se dirija à Região da Herança do
Mistério que recebeu, o Mistério do « Um e Único», o Inefável e se converta em « Um» com os seus
Membros.
Amén vos digo: estará em todas as Regiões tão rapidamente como uma flecha disparada “.
“Agora, portanto, Amén vos digo: o que receba esse Mistério do Inefável e o realize em todos os seus
tipos e formas é um Homem no mundo.
Contudo, sobressairá mais do que todos os Anjos e destacar-se-á ainda mais do que todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Arcanjos e destacar-se-á mais do
que todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Tiranos e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Amos e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Deuses e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Veedores de Luz e erguer-se-á,
por si próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Santos e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos Poderes-Triplos e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Órfãos de Pai e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os Invisíveis e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles “.
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que o Grande Invisível Órfão de Pai e erguerse-
á, por si próprio, sobre ele.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que todos os do Meio e erguer-se-á, por si
próprio, sobre todos eles.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que as Emanações do Tesouro da Luz e erguerse-
á, por si próprio, sobre todas elas.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que a Mescla e erguer-se-á, por si próprio e
completamente, sobre ela.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, sobressairá mais do que toda a Região do Tesouro e erguer-se-á,
por si próprio e de modo completo, sobre ele.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, governará comigo no Meu Reino.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, é Rei na Luz.”
“Ele é um Homem no mundo. Porém, não é deste mundo.”
“E Amén vos digo: esse Homem sou Eu e Eu sou esse Homem.”
“E na dissolução do Mundo, quer dizer, quando o Universo fôr elevado e quando o Número de Almas
Perfeitas fôr concebido, todas elas juntas e quando Eu fôr Rei no meio do Último Auxiliar, sendo Rei
sobre todas as Emanações da Luz e Rei sobre os Sete Amens, as Cinco Árvores, os Três Amens e os Nove
Guardiães e sendo Rei sobre o Filho do Filho, quer dizer, o Salvador Gémeo e sendo Rei sobre os Doze
Salvadores e sobre todo o Número das Almas Perfeitas que receberão os Mistérios da Luz, então todos os
Homens que tenham recebido os Mistérios no Inefável, serão Reis-Companheiros comigo e sentar-se-ão à
Minha Direita e à Minha Esquerda no Meu Reino.”
“E Amén vos digo: esses Homens sou Eu e Eu sou esses Homens.”
“Por este motivo vos disse, anteriormente: «Sentar-vos-eis nos vossos Tronos, à Direita e à Esquerda do
Meu trono e governareis comigo».”
“Por este motivo, não titubeei nem Me envergonhei de vos chamar Meus Irmãos e Companheiros porque
sereis Reis-Companheiros comigo, no Meu Reino. Por isso, vos digo isto, sabendo que Eu vos darei o
Mistério do Inefável, isto é, «Esse Mistério sou Eu e Eu sou esse Mistério».”
“Agora, portanto, não somente vós reinareis comigo no Meu Reino sendo Reis-Companheiros, como
todos Aqueles que recebam o Mistério do Inefável. «Eu sou eles e eles sou Eu». Porém, o Meu Trono
sobressairá sobre eles. Padecereis aflições no mundo, mais do que todos os homens, até que proclameis
todos os Ensinamentos que vos dei. E os vossos Tronos unir-se-ão ao Meu, no Reino.”
“Por este motivo, anteriormente vos disse: «Onde Eu esteja ali estarão também os Meus Doze Ministros».
Porém, Maria Magdalena e João, «o Virginal», sobressairão de todos os Meus discípulos e de todos os
que recebam os Mistérios no Inefável. E estarão à Minha Direita e à Minha Esquerda e «Eu sou eles e
eles sou Eu».”
“E eles serão como vós em todas as coisas excepto que os vossos Tronos sobressairão dos deles e o Meu
Trono sobressairá dos vossos.
“E todo o Homem que encontre a Palavra do Inefável - Amén vos digo: os Homens que conheçam essa
Palavra, conhecerão a Gnose de todos estes Ensinamentos que vos tenho dado. Os Ensinamentos que
estão em baixo e os que estão em cima, os que se estendem para diante e para os lados, numa palavra,
todo o Homem conhecerá a Gnose de todos estes Ensinamentos que vos dei e dos que ainda não vos falei
mas de que vos falarei, Região por Região e Ordem por Ordem na expansão do Universo.”
“E Amén vos digo: eles conhecerão de que forma o Mundo está estabelecido e conhecerão de que forma
todos Aqueles da Altura estão estabelecidos e conhecerão de que terra surgiu o Universo.”
Quando o Salvador disse isto, Maria Magdalena adiantou-se e disse: “Meu Senhor, tem paciência e não
Te desgostes comigo se Te interrogo sobre todas as coisas com exactidão e certeza. Portanto, meu Senhor,
é então outra a Palavra do Mistério do Inefável e outra a Palavra de «Toda» a Gnose?”
O Salvador respondeu dizendo-lhe: “Sim. Outro é o Mistério do Inefável e outra a Palavra de «Toda» a
Gnose “.
E Maria acrescentou, dizendo ao Salvador: “Meu Senhor, tem paciência se Te interrogo e não Te
desgostes comigo. Portanto, meu Senhor, a menos que Vivamos e Conheçamos a Gnose da Palavra
Íntegra do Inefável, não seremos capazes de herdar o Reino da Luz?”
E o Salvador respondeu dizendo a Maria: “Seguramente, cada um que receba um Mistério do Reino da
Luz, irá e herdará até à Região na qual recebeu Mistérios. Porém, não conhecerá a Gnose do Universo e
porque é que tudo isto surgiu a menos que conheça a Una e Única Palavra do Inefável que é a Gnose do
Universo.
E de novo vos digo abertamente: «Eu sou a Gnose do Universo».
E, além disso, é impossível conhecer a Una e Única Palavra da Gnose, a menos que primeiro se receba o
Mistério do Inefável. Mas todos os que receberem os Mistérios na Luz irão e herdarão até à Região na
qual receberam Mistérios.”
“Por esta razão vos disse anteriormente: «O que tenha Fé num Profeta receberá a recompensa de um
Profeta e o que tenha Fé num Homem Justo, receberá a recompensa de um Homem Justo». Quer dizer,
cada um irá até à Região na qual recebeu Mistérios. O que receba um Mistério Menor, herdará um
Mistério Menor e o que receber um Mistério Maior, herdará as Regiões Mais Altas.
E cada um morará na sua Região na Luz do Meu Reino e cada um terá Poder sobre as Ordens que estão
abaixo dele, mas não terá o poder de ir às Ordens que estão acima. Morará na Região da Herança da Luz
do Meu Reino, sendo uma grande e desmesurada Luz para os Deuses e todos os Invisíveis e estará em
grande júbilo e grande regozijo.”
“Agora, portanto, escutai com atenção, porque posso falar-vos da grandeza d’Aqueles que receberam os
«Mistérios» do Primeiro Mistério.”
“Consequentemente, o que recebeu o «Primeiro Mistério» do Primeiro Mistério e se encontra no
momento em que sai do corpo de matéria dos Arcontes, os Receptores-Retributivos virão logo em seguida
e conduzirão a sua Alma fora do corpo. E essa Alma converter-se-á numa grande corrente de Luz nas
mãos dos Receptores-Retributivos. E tais Receptores terão temor à Luz dessa Alma.
Essa Alma irá para cima e passará através de todas as Regiões dos Arcontes e de todas as Regiões das
Emanações da Luz. E não dará soluções, nem justificações, nem sinais em nenhuma Região da Luz, nem
em qualquer Região dos Arcontes. Contudo, passará por todas as Regiões e cruzá-las-á de modo a que
chegue e governe sobre todas as Regiões do Primeiro Salvador.”
“De igual forma o que receba o «Segundo Mistério» do Primeiro Mistério e o «Terceiro» e o «Quarto» até
receber o «Décimo Segundo Mistério» do Primeiro Mistério, se está no momento de sair do corpo da
matéria dos Arcontes, os Receptores-Retributivos chegarão de seguida e conduzirão a sua Alma fora do
corpo de matéria.
E essas Almas converter-se-ão em grandes correntes de Luz nas mãos dos Receptores-Retributivos. Esses
Receptores terão temor à Luz dessas Almas, sentir-se-ão impotentes e cairão.
E, imediatamente, essas Almas elevar-se-ão de novo para o Alto e cruzarão todas as Regiões dos Arcontes
e todas as Regiões das Emanações da Luz. E não darão soluções, nem justificações, nem sinais em
nenhuma Região. Contudo, passarão por todas as Regiões e cruzá-las-ão e governarão sobre todas as
Regiões dos Doze Salvadores. Assim, aqueles que receberem o «Segundo Mistério» do Primeiro Mistério,
governarão sobre todas as Regiões do Segundo Salvador, nas Heranças da Luz.”
“De igual modo, aqueles que receberem o «Terceiro Mistério» do Primeiro Mistério e o «Quarto» e o
«Quinto» e o «Sexto» até ao «Décimo Segundo», governarão sobre todas as Regiões do Salvador, até ao
Mistério que tenham recebido.”
“E o que receber, sucessivamente, os Mistérios até ao «Décimo Segundo Mistério» do Primeiro Mistério,
isto é, o Mistério Principal em relação ao qual vos tenho falado e, portanto, o que receber os Doze
Mistérios que pertencem ao Primeiro Mistério, se abandona o mundo, passará através de todas as Regiões
dos Regentes e todas as Regiões da Luz, convertido numa grande corrente de Luz e governará sobre todas
as Regiões dos Doze Salvadores, mas não será como os que recebem o «Uno e Único Mistério do
Inefável». Contudo, o que receber esses Mistérios morará nessas Ordens, onde todos são exaltados e
permanecerá nas Ordens dos Doze Salvadores.”
Sucedeu, quando Jesus acabou de falar aos Seus discípulos, que Maria Magdalena se adiantou e beijando-
Lhe os pés disse:
“Meu Senhor, tem paciência comigo e não Te aborreças se Te interrogo. Mostra-nos a Tua Misericórdia,
meu Senhor, e revela-nos todas as coisas que Te perguntamos. Agora, portanto, meu Senhor, porque é que
o Primeiro Mistério possui Doze Mistérios e o Inefável somente Um e Único Mistério?”
E Jesus respondeu-lhe, dizendo: “Na verdade, Este possui um Uno e Único Mistério, não obstante
constituir «Três Mistérios» embora este seja o Um e Único Mistério. Contudo, o símbolo de cada um
deles é diferente.
Assim, estes «Cinco Mistérios» são semelhantes uns aos outros no Mistério do Reino, nas Heranças da
Luz, porém, a forma de cada um deles é diferente.
E o seu Reino é mais elevado e exaltado do que todo o Reino dos Doze Mistérios do Primeiro Mistério
juntos, embora não sejam semelhantes ao Um e Único Mistério no Reino do Primeiro Mistério, no Reino
da Luz.”
“De igual modo, também os Três Mistérios não são semelhantes no Reino da Luz, porém a forma de cada
um deles é diferente.
E também não são semelhantes a si mesmos no Reino, ao Um e Único Mistério do Primeiro Mistério, no
Reino da Luz e a forma de cada um dos Três e a configuração de cada um deles é diferente de um para
outro.”
“O «Primeiro Mistério» do Primeiro Mistério, se realizardes o seu Mistério inteiramente e perseverardes
cumprindo-o subtilmente em todas as suas formas, então saireis imediatamente do vosso corpo,
convertidos numa grande corrente de Luz que passará através de todas as Regiões dos Arcontes ou
Regentes e através de todas as Regiões da Luz. Todos temerão essa Alma até que chegue à Região do seu
Reino.”
“O «Segundo Mistério» do Primeiro Mistério, por outro lado - se o realizais subtilmente, em todas as
suas formas — o Homem que realize o seu Mistério, se falar desse Mistério sem contar com qualquer
Homem que tenha saído fora do corpo e lhe falar dele secretamente, se na realidade o Homem que saiu
fora do seu corpo recebeu Mistérios pela Segunda Vez e está compartilhando a Palavra da Verdade, Amén
vos digo: se Aquele Homem saiu fora do seu corpo material, a sua Alma então converter-se-á numa
grande corrente de Luz e passará através de todas as Regiões até que chegue ao Reino desse Mistério.”
“Porém, se aquele Homem não recebeu Mistérios e não está compartilhando as Palavras de Verdade, se
ele, que exercitou tal Mistério, falar dele sem contar com um Homem que tenha saído fora do seu corpo e
não tenha recebido os Mistérios da Luz e não compartilhe as Palavras da Verdade, Amén vos digo: esse
Homem, se apareceu fora do seu corpo, não será julgado em nenhuma Região dos Arcontes ou Regentes
nem pode ser corrigido ou melhorado em nenhuma Região, absolutamente e nem sequer o fogo lhe
tocará, pelo Grande Mistério do lnefável que com ele está!”
“E eles apressá-lo-ão, colocando-o no seu turno, de um ao outro e guiá-lo-ão de Região em Região e de
Ordem em Ordem até que o levam ante a Virgem da Luz. Entretanto, todas as Regiões estarão com temor
do Mistério e do Sinal do Reino do Inefável que com ele está.”
“E se o levam ante a Virgem da Luz, Ela verá o sinal do Mistério do Reino do Inefável que está com ele: a
Virgem da Luz o admirará e examiná-lo-á. Porém, eles sofrerão por não o levar à Luz até que realize a
total cidadania da Luz desse Mistério, isto é, as Purificações da Renúncia ao Mundo e à matéria total que
nele existe.”
“A Virgem da Luz selá-lo-á com um Selo mais elevado que este (.......?) e permitir-lhe-á, nesse mês em
que saia do seu corpo de matéria, repousar num corpo que seja justo e que encontrará a Essência Divina
da Verdade e os Elevados Mistérios para que os Herde e Herde a Luz Eterna que é o Dom do «Segundo
Mistério» do Primeiro Mistério do Inefável.”
“O Terceiro Mistério do Inefável, por outro lado, o Homem que realize esse Mistério e saia, por si
mesmo, do seu corpo, não só herdará o Reino do Mistério mas, se completa tal Mistério e o realiza em
todas as suas formas, isto é, se passa esse Mistério e o exercita subtilmente e pronuncia o Nome desse
Mistério ante um Homem que saia do seu corpo e conheça tal Mistério — deixa ao primeiro que se tenha
demorado ou, de preferência, que não se tenha demorado — um que esteja no horrendo castigo dos
Arcontes ou Regentes e nos seus espantosos juízos e múltiplos fogos, Amén vos digo:
O Homem que tenha saído do seu corpo, se o Nome desse Mistério é pronunciado em seu benefício, eles
precipitar-se-ão para trazê-lo e levá-lo de um ao outro, até que o levam ante a Virgem da Luz.
E Ela selá-lo-á com um Selo maior do que este (......?) e, nesse mês, deixá-lo-á repousar no corpo justo
que encontrará a Essência Divina na Verdade e no Mistério mais elevado, para que Herde o Reino da Luz.
Isto portanto, é o Dom do Terceiro Mistério do Inefável.”
“Por conseguinte, o que receba Um dos Cinco Mistérios do Inefável, se sai do seu corpo e herda até à
Região desse Mistério, em seguida, é o Reino desses Cinco Mistérios, mais elevado do que o Reino dos
«Doze Mistérios» do Primeiro Mistério e mais elevado do que todos os Mistérios que estão abaixo deles.
Porém, esses Cinco Mistérios do Inefável são semelhantes um ao outro no seu Reino, mas não são
semelhantes aos Três Mistérios do Inefável.”
“O que recebeu os Três Mistérios do Inefável, por outro lado, se sai do corpo, herdará até ao Reino desse
Mistério. E esses Três Mistérios são semelhantes um ao outro no Reino e são mais elevados e mais
exaltados do que os Cinco Mistérios do Inefável, no Reino. Contudo, não são semelhantes com o « Um e
Único» Mistério do Inefável.”
“O que recebeu o «Um e Único» Mistério do Inefável, por outro lado, herdará a Região do Reino
Completo, de acordo com a sua inteira glória, como já vos havia dito noutra ocasião. E cada um receberá
o Mistério que está no Espaço do Universo do Inefável e todos os Mistérios que estão unidos nos
«Limbos» do Inefável, a respeito dos quais todavia ainda não vos falei, assim como acerca da sua
extensão, configuração e tipo de cada um. Como é e porque razão é chamado «o Inefável» ou porque
motivo permanece expandido com todos os Seus Limbos. Quantos Limbos estão n ‘Ele e todos os Seus
desígnios divinos, dos quais por agora não vos falarei, mas apenas quando chegar à expansão do
Universo. Então dir-vos-ei tudo, individualmente, isto é, as suas expansões e descrições, como são e o
Conjunto (?) de todos os Seus Limbos, que pertencem ao desígnio divino do Um e Único, o Inacessível
Deus de Verdade, até que Região cada um receberá os Mistérios no Espaço do Inefável e até que Região
herdará do que recebeu.
E àqueles da Região Completa do Espaço do Inefável não dará resposta nessa Região, não lhes dará
desculpas e não lhes dará sinais nem símbolos já que estão sem eles e não têm Receptores. Contudo,
passarão através de todas as Regiões até que cheguem à Região do Reino do Mistério que receberam.”
“De igual modo, também aqueles que recebam Mistérios no Segundo Espaço não têm respostas nem
desculpas, já que estão sem sinais nesse mundo que é o Espaço do «Primeiro Mistério» do Primeiro
Mistério.”
“E aqueles do Terceiro Espaço, que está fora, que é o «Terceiro Espaço de fora» (dentro?); cada Região,
nesse Espaço, tem os seus Receptores, as suas explicações e os seus símbolos, dos quais um dia vos
falarei, quando vier a falar de tal Mistério, isto é, quando vos falar da expansão do Universo.
“Não obstante, na dissolução do Universo, isto é, quando o Número de Almas Perfeitas estiver completo e
o Mistério (através) do qual o Universo surgiu se tenha completado, Eu passarei Mil Anos, conforme os
Anos da Luz, sendo Rei sobre todas as Emanações da Luz e sobre o Número Completo das Almas
Perfeitas que hajam recebido todos os Mistérios.”
Sucedeu, quando Jesus acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos que Maria Magdalena se
adiantou e disse: “Meu Senhor! Quantos anos, dos anos do mundo físico perfazem um Ano da Luz?”
Jesus respondeu a Maria dizendo-lhe: “Um Dia da Luz equivale a mil anos do mundo físico, pelo que
trinta e seis miríades e meia de anos do mundo físico equivalem a um só Ano da Luz”.
“Portanto, Eu passarei Mil Anos da Luz sendo Rei no meio do Último Auxiliar e sobre todas as
Emanações da Luz e sobre o Número Total de Almas Perfeitas que tenham recebido os Mistérios da Luz.”
“E vós, Meus discípulos e todo o que receber o Mistério do Inefável, morará à Minha Direita e à Minha
Esquerda, sendo Reis comigo, no Meu Reino.”
“E todos os que tenham recebido os Três Mistérios do Inefável serão Reis-Companheiros convosco no
Reino da Luz, mas não serão semelhantes a vós nem àqueles que receberam os Mistérios do Inefável.
Pelo contrário, sendo Reis morarão por detrás de vós.”
“E os que receberem os Cinco Mistérios do Inefável, também morarão por detrás dos Três Mistérios,
sendo Reis, também.”
“E, além disso, os que receberem o «Décimo Segundo Mistério» do Primeiro Mistério também morarão
por detrás dos Cinco Mistérios do Inefável, sendo também Reis de acordo com a Ordem de cada um
deles.”
“E todos os que receberem os Mistérios em todas as Regiões do Espaço do Inefável também serão Reis e
morarão diante daqueles que receberam o Mistério do Primeiro Mistério estendendo-se de acordo com a
glória de cada um deles. Assim, os que receberem os maiores Mistérios, morarão nas Regiões mais
elevadas e os que receberem os Mistérios menores, morarão nas Regiões menores, sendo Reis na Luz do
Meu Reino.”
“Estes são apenas uma parte do Reino do Primeiro Espaço do Inefável.”
“Por outro lado, os que receberam os Mistérios do Segundo Espaço, quer dizer, do Espaço do Primeiro
Mistério, morarão na Luz do Meu Reino, estendendo-se de acordo com a glória de cada um deles e cada
um estará no Mistério até ao qual tenha recebido.
E os que tenham recebido os maiores Mistérios também morarão nas Regiões mais elevadas e os que
recebam os menores Mistérios morarão nas menores Regiões na Luz do Meu Reino.”
“Esta é a parte do segundo Rei para os que receberam o Mistério do Segundo Espaço do Primeiro
Mistério.”
“Por outro lado, os que receberem o Mistério do Terceiro Espaço, quer dizer, do Primeiro Espaço de Fora,
morarão por detrás do segundo Rei, estendendo-se na Luz do Meu Reino de acordo com a glória de cada
um deles e cada um morará na Região até à qual tenha recebido Mistérios. Assim, aqueles que tenham
recebido os maiores Mistérios morarão nas Regiões mais elevadas e os que receberem os menores
Mistérios morarão nas menores Regiões.”
“Estas são as Três Partes do Reino da Luz.”
“Os Mistérios destas Três Partes da Luz são excessivamente numerosos. Encontrá-los-eis nos Dois
Grandes Livros de «Jeú». Contudo, dar-vos-ei e revelarei os Grandes Mistérios de cada Parte, que está
mais elevada do que cada Região, quer dizer, os Fundamentos, de acordo com cada Região e de acordo
com cada Ordem que guiará toda a Raça Humana para as Regiões mais elevadas de acordo com o Espaço
de Herança.”
“O restante dos Mistérios menores, não vos é necessário porque o encontrareis nos Dois Livros de Jeú, os
quais Enoch escreveu enquanto conversávamos acerca da Árvore da Gnose e da Árvore da Vida no
Paraíso de Adão.”
“Agora, portanto quando vos explicar a Extensão Completa, dar-vos-ei e revelarei os Grandes Mistérios
das Três Partes do Meu Reino, que são Fundamento dos Mistérios que vos darei e revelarei em todas as
suas formas, símbolos e as suas chaves e selos do Último Espaço, quer dizer, o Primeiro Espaço de Fora.
E revelar-vos-ei as soluções e as apologias e os sinais desse Espaço.”
“O Segundo Espaço que está «dentro» não possui soluções, nem apologias, nem sinais, nem chaves, nem
selos. Somente possui símbolos e formas.”
Quando o Salvador acabou de dizer tudo isto aos Seus discípulos, André adiantou-se e disse: “Meu
Senhor, não Te desgostes comigo e tem misericórdia de mim. Peço-Te que me reveles o Mistério do que
Te perguntarei, porque me tem sido difícil Compreendê-lo.”
O Salvador respondeu, dizendo-lhe: “Pergunta o que desejas perguntar, porque vo-lo revelarei, frente a
frente e sem analogias “.
E André respondeu, dizendo: “Meu Senhor, estou assombrado e sumamente deslumbrado de como os
homens deste mundo com corpo de matéria, mesmo quando provenham do mundo, poderão passar
através destes Firmamentos, dos Arcontes, de todos os Senhores e de todos os Deuses, de todos os Invisíveis
e de todos os da Região Completa da Direita e de todos os Grandes das Emanações da Luz e
poderão entrar em todas elas herdando o Reino da Luz. Isto não compreendo!”
Quando André disse isto o Espírito do Salvador despertou n ‘Ele e, exclamando, disse-lhe: “Por quanto
tempo terei de suportar-te? Por quanto tempo serei indulgente contigo? Então não entendeste e
permaneces na ignorância? Não compreendeste ainda que vós e todos os Anjos e todos os Arcanjos, os
Deuses e os Senhores e todos os da Região Completa da Direita e todos os Grandes das Emanações da
Luz e toda a sua Glória, são todos Um com Outro de uma e a mesma textura, da mesma matéria e da
mesma substância e que todos vós sois da mesma Mescla?”
“Por Mandato do Primeiro Mistério, a Mescla foi forçada até que todos os Grandes das Emanações da
Luz e toda a sua Glória se Purificassem a si próprios e até se Purificarem a si mesmos, da Mescla. Eles
não se haviam Purificado a si próprios, por si mesmos, mas tinham-se Purificado a si próprios por
necessidade, de acordo com a Economia do Um e Único, o Inefável.”
‘‘Realmente eles não haviam sofrido nenhum padecimento, nem se haviam transformado a si próprios nas
Regiões, nem se tinham desdobrado a si mesmos, nem vertido por si mesmos em corpos de diferente
classe de um a outro, nem haviam tido qualquer aflição.”
“Vós, em particular, sois o resíduo do Tesouro e sois o resíduo da Região da Direita e sois o resíduo da
Região dos do Meio e sois o resíduo de todos os Invisíveis e de todos os Regentes. Numa palavra, vós
sois o resíduo de todos estes. E estais com grandes padecimentos e aflições em vosso Ser, vertidos de um
a outro em distintas classes de corpos físicos. E depois de todos estes padecimentos haveis lutado e combatido
convosco próprios, tendo renunciado a todas as coisas do mundo e o que nele há. Não haveis
deixado de buscar até encontrar os Mistérios do Reino da Luz que vos Purificaram e conduziram para a
Luz mais Purificada, sumamente Depurada, que vos converteu em Luz Purificada.”
“Por esta razão, vos disse anteriormente: «O que procura encontra».”
“E vos disse: «Buscai os Mistérios da Luz que purificam o corpo de matéria e o convertem em luz
depurada, sumamente purificada».”
“Amén vos digo: «Por Amor à Raça Humana, pois esta é material, Eu me desdobrei a Mim mesmo e lhes
trouxe todos os Mistérios da Luz para que sejam purificados, já que eles são o resíduo de toda a matéria
da sua matéria. Mas não seria salva uma só Alma da Raça Humana nem estaria capacitada para Herdar o
Reino da Luz, se não lhes trouxesse os Mistérios que Purificam».”
“As Emanações da Luz não necessitam dos Mistérios já que elas estão purificadas porém, a Raça
Humana, sim necessita deles, porque toda ela não é mais do que resíduos materiais. Por isso, vos disse
noutras ocasiões: «O homem são não necessita do médico, apenas o enfermo», quer dizer: Aqueles que
moram na Luz não necessitam dos Mistérios porque são Luzes Purificadas. Porém a Raça Humana, sim
necessita deles, por ser resíduo.”
“Portanto divulgai a todos, dizendo que não desanimem, procurando dia e noite até encontrarem os
Mistérios que Purificam, que renunciem às coisas do Mundo e ao que nele há. Porque o que compra e
vende neste mundo e o que come e bebe da sua matéria e o que vive dos seus interesses e associações
acumula outras coisas ao resto da sua matéria, já que todo este mundo e tudo o que nele há e todas as suas
associações são resíduos materiais, que serão investigados sobre a sua pureza.
“Por esta razão vos disse, anteriormente: «Renunciai às coisas deste mundo e ao que existe nele para que
não acumuleis outras coisas além das que já possuís. Apregoai por isso, a toda a Raça Humana, dizendo
que renunciem a tudo no mundo e às suas associações para que não acumulem outras coisas além das que
já têm e acrescentai que não cessem de buscar, dia e noite, os Mistérios que Purificam e não se
apresentem até os ter encontrado já que estes purificá-los-ão e levá-los-ão até à Luz Depurada para que
cheguem à Altura e Herdem a Luz do Meu Reino».”
“Agora, portanto, André, com os teus irmãos e condiscípulos, devido às vossas renúncias e aos
padecimentos que haveis suportado em cada Região e pelas vossas mudanças, obtidas em cada Região
pelos vossos Seres vertidos de um a outro corpo de diferente classe e por todas as vossas aflições e
porque depois de tudo isto haveis recebido os Mistérios que Purificam e vos haveis convertido em Luz
Depurada sumamente Purificada, chegareis, por esta razão, à Altura e penetrareis em todas as Regiões das
grandes Emanações da Luz e sereis Reis no Reino da Luz, para sempre.
“Mas, se provindo do corpo de matéria chegais mais acima, alcançando a Região dos Arcontes, então,
estes surpreender-se-ão envergonhados diante de vós, devido a que, embora sendo resíduo da sua matéria,
vos haveis convertido em Luz mais Purificada do que todos eles. E se chegais à Região do Grande
Invisível e à Região dos do Meio e dos da Direita e às Regiões de todas as grandes Emanações da Luz
sereis então venerados entre todos eles, devido a que, apesar de serdes resíduo da sua matéria, vos haveis
convertido em Luz mais Purificada do que todos eles. E todas as Regiões vos louvarão até que entreis na
Região do Reino.”
“Esta é a resposta à pergunta que fizeste.
Agora, portanto, André! Ainda duvidas e desconheces?”
Quando o Salvador disse isto, André entendeu claramente e não só ele, mas todos os discípulos
compreenderam com exactidão que Herdariam o Reino da Luz. E arrojaram-se aos pés de Jesus clamando
em alta voz e lamentando-se, suplicantes, ante o Salvador e disseram-Lhe:
“Senhor! Perdoa ao nosso irmão o pecado de duvidar”. Salvador respondeu-lhes dizendo:
“Perdoo-o e perdoarei. Para isso me enviou o Primeiro Mistério, para que perdoe os pecados de todos.”
A CONCLUSÃO DE OUTRO LIVRO
“E aos que merecem os Mistérios que residem no Inefável, os quais não se conhecem pois estes existem
antes do Primeiro Mistério, direi, usando algo semelhante e parecido para que possam entender, são como
os membros do Corpo do Inefável. E cada um existe de acordo com a dignidade da sua Glória. a Cabeça
de acordo com a dignidade da cabeça e os Olhos de acordo com a dignidade dos olhos e os Ouvidos de
acordo com a dignidade dos ouvidos e o resto dos membros do corpo (de igual modo) para que a matéria
seja manifestada. Há pois uma multidão de membros, porém, um só corpo.
Realmente, falo disto sob a forma de analogia, modelo e semelhança e não na forma de Verdade, nem
revelei a Palavra na Verdade, mas o Mistério (Único) do Inefável.”
“E todos os membros que estão n ‘Ele (de acordo com a palavra com a qual O comparei), quer dizer, os
que moram no Mistério do Inefável e os que moram n ‘Ele, assim como os Três Espaços que estão depois
deles, de acordo com os Mistérios, de todos estes, na realidade, verdadeiramente, Eu Sou o Tesouro,
semelhante ao qual não há outro Tesouro no mundo. Contudo, ainda há mais Palavras e Mistérios e outras
Regiões.”
“Agora, portanto, Bem-Aventurado é aquele que encontrou as Palavras do Primeiro Espaço que está Fora
porque será um Deus que encontrou estas Palavras dos Mistérios do Segundo Espaço que está no Meio. E
é um Salvador e um Incontido que encontrou as Palavras dos Mistérios do Terceiro Espaço que está
Dentro e sobressairá mais do que o Universo e os que estão no Terceiro Espaço, porque encontrou o
Mistério em que eles estão e no qual permanecem. Portanto ele é como eles.
Por outro lado, o que encontrou as Palavras dos Mistérios que vos descrevi, de acordo com a analogia dos
membros do Corpo do Inefável, Amén, vos digo:
Esse Homem encontrou as Palavras destes Mistérios na Verdade Divina, é o Primeiro na Verdade e é
como Ele (o Primeiro, o Inefável) porque através dessas Palavras e Mistérios ... e o Universo em si
mesmo, permanece por causa do Primeiro.
Por esta razão, o que encontrou as Palavras desses Mistérios é como o Primeiro porque é a Gnose da
Gnose do Inefável em relação ao que falámos no dia de Hoje.”
III
Jesus continuou no Seu discurso e disse aos Seus discípulos:
“Quando Eu tenha regressado à Luz, proclamai então ao Mundo, dizendo: Não cesseis, dia e noite, na
vossa busca e não desfaleçais até que tenhais encontrado os Mistérios do Reino da Luz, os quais vos
purificarão e vos converterão em Luz Purificada e vos conduzirão ao Reino da Luz.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao mundo e à matéria que nele há, a todos os interesses e a todos os seus pecados,
numa palavra a todas as associações que há nele, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e salvos de
todos os castigos que há nos juízos.”
“Dizei-lhes: Renunciai à murmuração, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e salvos do fogo do
rosto de cão.”
“Dizei-lhes: Renunciai a escutar as conversações alheias, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e
salvos dos juízos do rosto de cão.”
“Dizei-lhes: Renunciai à vossa inclinação ao litígio, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais
salvos dos castigos de Ariel.”
“Dizei-lhes: Renunciai à calúnia para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos rios de
fogo do rosto de cão.”
“Dizei-lhes: Renunciai aos falsos testemunhos, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e possais
escapar e ser salvos dos rios de fogo do rosto de cão.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao orgulho e à arrogância, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais
salvos dos abismos de fogo de Ariel.”
“Dizei-lhes: Renunciai à gula, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos juízos do
Amenti.”
“Dizei-lhes: Renunciai à indiscrição, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos fogos
do Amenti.”
“Dizei-lhes: Renunciai à astúcia, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos castigos
que há no Amenti.”
“Dizei-lhes: Renunciai à avareza, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos rios de
fogo do rosto de cão.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao amor terreno, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos das
capas de fogo do rosto de cão.”
“Dizei-lhes: Renunciai à pilhagem, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos rios de
fogo de Ariel.”
“Dizei-lhes: Renunciai à maledicência, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos
castigos dos rios de fogo.”
“Dizei-lhes: Renunciai à iniquidade, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos mares
de fogo de Ariel.”
“Dizei-lhes: Renunciaí à falta de misericórdia, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos
dos juízos do rosto de dragão.”
“Dizei-lhes: Renunciai à cólera, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos rios de
fogo dos rostos de dragão.”
“Dizei-lhes: Renunciai às maldições, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos
mares de fogo dos rostos de dragão.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao furto, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos agitados
mares dos rostos de dragão.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao roubo, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos de
Yaldabaoth.”
“Dizei-lhes: Renunciai à calúnia, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos rios de
fogo do rosto de leão.”
“Dizei-lhes: Renunciai à luta e à rivalidade, para que sejais dignos dos Misténios da Luz e sejais salvos
dos ferventes rios de Yaldabaoth.”
“Dizei-lhes: Renunciai à ignorância, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos
servos de Yaldabaoth e dos seus mares de fogo.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao mal, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos demónios
de Yaldabaoth e de todos os seus juízos.”
“Dizei-lhes: Renunciai à negligência, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos
ferventes mares de breu de Yaldabaoth.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao adultério, para que sejais dignos dos Mistérios do Reino da Luz e sejais salvos
dos mares sulfurosos e de breu do rosto de leão.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao assassinato, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos do
Regente rosto de crocodilo, esse que está no frio e que é a primeira câmara das Trevas exteriores.”
“Dizei-lhes: Renunciai ao ateísmo, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos do choro e
ranger de dentes.”
“Dizei-lhes: Renunciai à falta de misericórdia e à impiedade, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz
e sejais salvos dos Regentes das Trevas exteriores.”
“Dizei-lhes: Renunciai às posições (mágicas), para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos
do grande frio e granizo das Trevas exteriores.”
“Dizei-lhes: Renunciai à blasfémia, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos do grande
dragão das Trevas exteriores.”
“Dizei-lhes: Renunciai às falsas doutrinas, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e sejais salvos dos
castigos do grande dragão das Trevas exteriores.”
“Dizei àqueles que ensinam as falsas doutrinas e a cada um dos que nelas são instruídos: Ai de vós! Pois
se não vos arrependeis e não abandonais o vosso erro sofrereis os castigos do grande dragão e das Trevas
exteriores, que são sumamente cruéis e jamais sereis lançados no mundo, mas, ao contrário, ficareis sem
existência até ao final.”
“Dizei àqueles que abandonam as verdadeiras Doutrinas do Primeiro Mistério: Ai de vós! O vosso castigo
é triste, comparado com o de todos os homens. Permanecereis no grande frio, gelo e granizo no meio do
dragão e da obscuridade exterior e jamais sereis trazidos ao mundo desde esse momento. Ao contrário,
congelar-vos-eis nessa região, perecereis na dissolução do Universo e deixareis de existir para sempre.
“Dizei, prioritariamente, aos homens do mundo: Sede Pacientes, para que possais receber os Mistérios da
Luz e elevar-vos ao Reino da Luz.”
“Dizei-lhes: Amai a Humanidade, para que sejais dignos dos Mistérios da Luz e vos eleveis ao Reino da
Luz.”
“Dizei-lhes: Sede Bondosos, para que recebais os Mistérios da Luz e vos eleveis ao Reino da Luz.”
“Dizei-lhes: Sede Pacíficos, para que possais receber os Mistérios da Luz e possais elevar-vos ao Reino
da Luz.”
“Dizei-lhes: Sede Misericordiosos, para que possais receber os Mistérios da Luz e elevar-vos ao Reino da
Luz.”
“Dizei-lhes: Praticai a Caridade, para que recebais os Mistérios da Luz e vos eleveis ao Reino da Luz.”
“Dizei-lhes: Assisti ao pobre e ao enfermo e ao aflito, para que recebais os Mistérios da Luz e vos eleveis
ao Reino da Luz.”
“Dizei-lhes: Amai a Deus, para que recebais os Mistérios da Luz e vos eleveis ao Reino da Luz.”
“Dizei-lhes: Sede Virtuosos, para que possais receber os Mistérios da Luz e elevar-vos ao Reino da Luz.
“Dizei-lhes: Sede Dignos, para que recebais os Mistérios da Luz e vos eleveis ao Reino da Luz.”
“Dizei-lhes: Renunciai a tudo, para que recebais os Mistérios da Luz e vos eleveis ao Reino da Luz.”
“Estes são os «limites dos caminhos» pana Aqueles que são Dignos dos Mistérios da Luz.”
“Portanto, Àqueles que renunciaram (nesta «Renunciação»), dai os Mistérios da Luz e não os oculteis
mesmo que sejam pecadores e tenham cometido todos os pecados e todas as iniquidades do mundo, as
quais referi detalhadamente para que possam voltar a arrepender-se e obedecer ao que vos disse. Dai-lhes
os Mistérios do Reino da Luz e não os oculteis deles, pois é precisamente por causa do pecado que trouxe
os «Mistérios» ao Mundo. Eu posso Perdoar todos os pecados que sejam cometidos desde o princípio.”
“Por este motivo, disse-vos anteriormente:
«Não vim para chamar os Virtuosos».
Agora e portanto, trouxe os «Mistérios» para que os seus pecados sejam todos perdoados e eles sejam
todos recebidos no Reino da Luz.
Os «Mistérios» são uma «dádiva» do Primeiro Mistério, porque Ele pode apagar os pecados e as
iniquidades de todos os pecadones.”
E sucedeu então, quando Jesus acabou de dizer estas palavras aos Seus discípulos, que Maria se adiantou
e disse ao Salvador: “Meu Senhor, então um Homem Virtuoso e que é perfeito na Virtude, um Homem
que jamais pecou, será atormentado pelos castigos e os juízos, ou não? Será esse Homem levado ao Reino
dos Céus, ou não?”
E o Salvador respondeu a Maria: “Um Homem Virtuoso que se Aperfeiçoou em toda a Virtude e que
jamais cometeu pecado algum, que nunca tenha recebido os Mistérios da Luz, quando chegue o momento
propício para que deixe o seu corpo, os Receptores de um dos Triplos Poderes — entre os quais há um
elevado — virão directamente arrebatar a Alma desse Homem das mãos dos Receptores-Retributivos e
passarão três dias circulando com ela por todas as criaturas do mundo.
Depois de três dias conduzi-la-ão ao Caos para levá-la a todos os «castigos» dos Juízos e enviá-la a todos
os Juízos. Os fogos do Caos não a molestarão grandemente, mas só em parte e durante breve tempo.
Rapidamente se compadecerão dela, retirá-la-ão do Caos e conduzi-la-ão pelo Caminho do «Meio»,
através de todos os Arcontes. E eles (os Arcontes) não a castigarão com Juízos severos e fogo das suas
regiões molestá-la-á parcialmente.
E se é levada à região de Yachthanabas, o Inmisericordioso, não será ele capaz de castigá-la realmente
com os seus malignos juízos, mas apenas a reterá um breve tempo enquanto o fogo dos seus castigos, só
parcialmente, a molestará.”
“Imediatamente se compadecerão dela e conduzi-la-ão às suas próprias regiões. Não a levarão aos Aeons
e os Arcontes dos Aeons não a levarão à força. Trazê-la-ão para a «Senda do Sol» e ante a «Virgem da
Luz».

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